Me ocorreu uma ideia enquanto pesquisava sobre linguas dificeis e gostaria de compartilha-la com voces e saber a sua opiniao.
Reparei que muitas das linguas mais complexas sao encontradas em povos em estagio 'pre-tecnologico' (na falta de termo melhor), as vezes ate mesmo em grupos de cacadores-coletores.
Basta apenas citar dois exemplos: as linguas da familia Khoisan, da qual faz parte a lingua do povo !Kung (mostrados no filme "Os deuses devem estar loucos") e uma das que citei no post anterior de povos indigenas da america do norte.
Mandarim parece brincadeira de crianca quando comparado a estas linguas e sua riqueza fonologica faz o Portugues e o Ingles (que tem numero razoavel de fonemas) parecerem linguas com fonetica bem pobre.
Tambem ja pesquisei alguma coisa sobre QI e inteligencia e sei que ha um campo de pesquisa que tem apresentado resultados um tanto polemicos: que grupos em estagio 'pre-tecnologico', iletrados tendem a obter escores bem baixos em testes considerados culture-fair. De fato, estes escores (medias populacionais!) nao raro se aproximam do extremo superior do que se considera retardamento...
Para se ter uma ideia melhor do que significa isto, uma media populacional neste nivel, implicaria, grosso modo, em apenas 1 em cada 50 individuos com inteligencia normal ou acima...
Ora, os psicometristas que aceitam estes resultados, alegam que, justamente, por terem baixa inteligencia, estes povos nao progrediram e acabaram sendo dizimados ou dominados por outros tecnologicamente mais avancados (consequentemente mais inteligentes).
Nao e necessario dizer que este tipo de conclusao gera replicas bem inflamadas...
Haja vista o exemplo recente do premio Nobel James Watson ter declarado que Negros sao menos inteligentes que os Brancos.
Pesquisadores que endossam esta hipotese, como Arthur Jensen, alegam que suas conclusoes se baseam em fatos e evidencias e nao estao poluidas por ideologia ou racismo. Outros, como Stephen Ceci e Howard Gardner contestam estes dados e interpretam as diferencas de forma diferente atribuindo a causa a fatores ambientais e socio-economico-culturais.
Recentemente andei lendo Armas, Germes e Aco do Jared Diamond onde se discute o porque das diferencas tecnologicas e culturais entre os povos ditos 'civilizados' e os considerados 'nao-civilizados'. Quem leu o livro percebeu que Jared nao apoiaria a hipotese de Jensen ou de Watson e suas explicacoes parecem bem convincentes.
De acordo com Jared, as diferencas entre estes povos se deveriam a diferencas ambientais e nao geneticas e que os mesmos seriam, na media, tao inteligentes como qualquer outro Homo sapiens 'civilizado'.
Quem ja leu 'Enterrem meu Coracao na Curva do Rio' tambem percebeu que os indigenas norte-americanos, passado o choque inicial do contato, estavam bem cientes do que queria o homem branco. Eles nao eram bobalhoes, muito pelo contrario e expressavam suas opinioes com uma eloquencia digna de quem conhece bem a arte da retorica.
Acredito que os indigenas 'menos evoluidos' ditos cacadores-coletores como os 'nossos' indios, tambem sejam tao inteligentes quantos seus primos do norte e certamente o mesmo se aplica as tribos da africa e da polinesia. Jared da mostras claras disso em seu livro.
Imagino que se se colocasse um homem 'urbano' em seu ambiente e o pedissem para que se virasse sozinho fora de seu ambiente, qualquer indigena pensaria estar diante de alguem bem estupido.
Outros exemplos que me ocorrem sao a historia de superacao de Frederick Douglas (relatado no mundo assombrado pelos demonios, de Carl Sagan) e da linguagem Cherokee, inventada por Sequoyah (relatada no livro de Jared Diamond). Ora, diriam, mas estes sao individuos isolados e estamos falando de medias populacionais!
Eu retrucaria dizendo que encontrar individuos obviamente altamente inteligentes em populacoes em que a media se aproxime de retardo seria em evento estatisticamente bem raro.
E o que isto tem a ver com linguas?
Simples, me ocorreu que pareceria um absurdo supor que formas de comunicacao tao complexas fossem desenvolvidas entre individuos cuja inteligencia media(!) se encontra pouca coisa acima do nivel de retardo! Quem tem algum parente ou amigo com sindrome de down deve saber a
dificuldade que estas pessoas enfrentam no seu dia-a-dia ( ja ouvi falar de casos fantasticos de superacao ). Minha esposa tem um irmao que, embora nao seja portador da s. de Down, tem a cognicao comprometida devido provavelmente a problemas no parto. Minha esposa acompanhou de perto a luta dele para que se alfabetizasse, infelizmente sem sucesso.
Entao, pergunto de novo: como esperar que pessoas com cognicao inferior desenvolvam e sejam capazes de se comunicar em linguas como a do povo !kung?
Pensei tambem se esta hipotese seria algum NonSequitur, do tipo do DI, que todos aqui conhecem bem: 'se o universo é complexo, logo foi criado por um designer' -->
'se !Xõõ e uma lingua complexa, logo quem a criou tem que ser altamente inteligente'
Nao sei. Ainda penso que deve ter algo a ver e que a visao que o 'homem civilizado medio' tem destes povos esta bem equivocada.
Provavelmente os tais testes nao sao culture-fair como se pensa (é o que alegam varios pesquisadores) ou então que o que eles medem não constutui a totalidade do que se entende por inteligencia (como sugere Howard Gardner e Robert Sternberg).
Pensei se a hipotese de Sapir-Worf teria alguma coisa a ver com a primeira divagacao. Se a forma como pensamos é influenciada pela linguagem, seria absurdo supor que testes desenvolvidos para medir a capacidade verbal (testes de QI medem o raciocinio logico-matematico, espacial e verbal) de povos oriundos de culturas baseadas principalmente em linguas da familia das
linguas Indo-europeias sejam culture-fair, quando aplicados a populacoes de grupos linguisticos com caracteristicas radicalmente distintas. Divagando ainda mais, talvez mesmo a parte logico-matematica e espacial destes testes tenha um viés cultural.
Alguns retrucariam dizendo que Judeus, Hungaros, Arabes, Japoneses e Chineses nao pertencem ao grupo linguistico Indo-Europeu e nao obstante, obtem escores altos em testes.
Eu responderia afirmando que Judeus, Arabes e Hungaros ja estao suficientemente familiarizados com o mundo Indo-Europeu para se sentirem a vontade com suas demandas (Ad Hoc?).
No caso dos Japoneses e Chineses, penso que minha explicacao nao seria satisfatoria e pesariam outros fatores do tipo que Jared examinou em seu livro.
Ha que se considerar que as diferencas tecnologicas entre os povos devem ser algo 'poli-memetico' se por 'meme' eu puder entender alguma caracteristica cultural que se propaga a maneira dos genes
(nao li nada sobre memes), portanto nao proponho que diferencas linguisticas sejam o unico fator, mas sim mais um fator a se considerar em todos os estudos onde se comparam variaveis como inteligencia e grau tecnologico entre povos culturalmente diferentes.
Me ocorreu uma ideia enquanto pesquisava sobre linguas dificeis e gostaria de compartilha-la com voces e saber a sua opiniao.
(extraido do meu post no CC:)
Ja me perguntei sobre qual seria a lingua mais dificil de aprender.
Parece haver uma unanimidade quanto ao Mandarim, mas tenho minhas duvidas.
Acho que seria mais dificil aprender uma lingua pouco conhecida, de familia, gramatica e pronuncia diferentes da sua lingua nativa (ate ai o mandarim esta OK), porem com poucos falantes, isolada geograficamente, provavelmente com pouco ou nenhum material disponivel, seja didatico ou nao (certamente nao em Portugues) e com ninguem com quem conversar, treinar a pronuncia, etc.
Nas minhas pesquisas na net, tive a impresao que as linguas do caucaso sao particularmente dificeis:
do idioma da Georgia:
CitarThe language contains some formidable consonant clusters, as may be seen in words like გვფრცქვნი gvprckvni ("You peel us") and მწვრთნელი mc'vrtneli ("trainer").
http://en.wikipedia.org/wiki/Northeast_Caucasian_languages
Citar...Tabasaran was once thought to be the language with the largest number of grammatical cases at 54, which could – depending on the analysis – as well be the Tsez language with 64)
Estas sao campeas
CitarAn alphabet is a set of characters used to represent the basic sounds of a language, technically known as phonemes. Languages vary "in the number of these basic sounds, from around 20 for Hawaiian and Japanese, to about 40 for English, and over 60 for several languages spoken in the Caucasus. One of the largest number of phonemes is found in the language spoken by a branch of the Southeast Asian people variously known as Hmong or Miao or Meo. The White Meo language has no fewer than 80 phonemes - 57 consonants, 15 vowels, and 8 tones" [7] - The relative height of pitch that is a phoneme of a languages. Being a phoneme, a tone distinguishes meaning.
http://en.wikipedia.org/wiki/Hmong_language
http://en.wikipedia.org/wiki/Pahawh_Hmong_script
os 5 tons do Mandarim ja sao dose... imaginem 7!
Agora, em termos de pronuncia, acho que nada se compara a isto:
http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_%C7%83x%C3%B3%C3%B5
CitarBut if you want to know about Linguistically difficult languages you have to look outside the common ones, which are child's play to learn by comparison. Archi, a language of the Caucasus, has 1.6 million different forms for every single verb (there are about 30 different forms for each Russian verb). Pawnee, a language of the American plains, builds verbs that are up to 30 syllables long with as many as 20 different prefixes. The !Xoo language of South Africa has 125 different consonants, more than half of which are click sounds that are found in only a small number of languages of southern Africa. Many of the Australian languages divide their nouns up into a dozen different noun classes and each noun class uses a different set of common verbs, so that "to go" used with one noun class is a completely different verb than "to go" used with another noun class. Navajo and Apache have so many morphophonological processes that five prefixes at the beginning of a word might come out as only two or three syllables.
Reparei que muitas das linguas mais complexas sao encontradas em povos em estagio 'pre-tecnologico' (na falta de termo melhor), as vezes ate mesmo em grupos de cacadores-coletores.
Basta apenas citar dois exemplos: as linguas da familia Khoisan, da qual faz parte a lingua do povo !Kung (mostrados no filme "Os deuses devem estar loucos") e uma das que citei no post anterior de povos indigenas da america do norte.
Mandarim parece brincadeira de crianca quando comparado a estas linguas e sua riqueza fonologica faz o Portugues e o Ingles (que tem numero razoavel de fonemas) parecerem linguas com fonetica bem pobre.
Tambem ja pesquisei alguma coisa sobre QI e inteligencia e sei que ha um campo de pesquisa que tem apresentado resultados um tanto polemicos: que grupos em estagio 'pre-tecnologico', iletrados tendem a obter escores bem baixos em testes considerados culture-fair. De fato, estes escores (medias populacionais!) nao raro se aproximam do extremo superior do que se considera retardamento...
Para se ter uma ideia melhor do que significa isto, uma populacao media neste nivel implicaria em apenas 1 em cada 50 individuos com inteligencia normal ou acima...
Ora, os psicometristas que aceitam estes resultados, alegam que, justamente, por terem baixa inteligencia, estes povos nao progrediram e acabaram sendo dizimados ou dominados por outros tecnologicamente mais avancados (consequentemente mais inteligentes).
Nao e necessario dizer que este tipo de conclusao gera replicas bem inflamadas...
Haja vista o exemplo recente do premio Nobel James Watson ter declarado que Negros sao menos inteligentes que os Brancos.
Pesquisadores que endossam esta hipotese, como Arthur Jensen, alegam que suas conclusoes se baseam em fatos e evidencias e nao estao poluidas por ideologia ou racismo. Outros, como Stephen Ceci e Howard Gardner contestam estes dados e interpretam as diferencas de forma diferente atribuindo a causa a fatores ambientais e socio-economico-culturais.
Recentemente andei lendo Armas, Germes e Aco do Jared Diamond onde se discute o porque das diferencas tecnologicas e culturais entre os povos ditos 'civilizados' e os considerados 'nao-civilizados'. Quem leu o livro percebeu que Jared nao apoiaria a hipotese de Jensen ou de Watson e suas explicacoes parecem bem convincentes.
De acordo com Jared, as diferencas entre estes povos se deveriam a diferencas ambientais e nao geneticas e que os mesmos seriam, na media, tao inteligentes como qualquer outro Homo sapiens 'civilizado'.
Quem ja leu 'Enterrem meu Coracao na Curva do Rio' tambem percebeu que os indigenas norte-americanos, passado o choque inicial do contato, estavam bem cientes do que queria o homem branco. Eles nao eram bobalhoes, muito pelo contrario e expressavam suas opinioes com uma eloquencia digna de quem conhece bem a arte da retorica.
Acredito que os indigenas 'menos evoluidos' ditos cacadores-coletores como os 'nossos' indios, tambem sejam tao inteligentes quantos seus primos do norte e certamente o mesmo se aplica as tribos da africa e da polinesia. Jared da mostras claras disso em seu livro.
Imagino que se se colocasse um homem 'urbano' em seu ambiente e o pedissem para que se virasse sozinho fora de seu ambiente, qualquer indigena pensaria estar diante de alguem bem estupido.
Outros exemplos que me ocorrem sao a historia de superacao de Frederick Douglas (relatado no mundo assombrado pelos demonios, de Carl Sagan) e da linguagem Cherokee, inventada por Sequoyah (relatada no livro de Jared Diamond). Ora, diriam, mas estes sao individuos isolados e estamos falando de medias populacionais!
Eu retrucaria dizendo que encontrar individuos obviamente altamente inteligentes em populacoes em que a media se aproxime de retardo seria em evento estatisticamente bem raro.
E o que isto tem a ver com linguas?
Simples, me ocorreu que pareceria um absurdo supor que formas de comunicacao tao complexas fossem desenvolvidas entre individuos cuja inteligencia media(!) se encontra pouca coisa acima do nivel de retardo! Quem tem algum parente ou amigo com sindrome de down deve saber a
dificuldade que estas pessoas enfrentam no seu dia-a-dia ( ja ouvi falar de casos fantasticos de superacao ). Minha esposa tem um irmao que, embora nao seja portador da s. de Down, tem a cognicao comprometida devido provavelmente a problemas no parto. Minha esposa acompanhou de perto a luta dele para que se alfabetizasse, infelizmente sem sucesso.
Entao, pergunto de novo: como esperar que pessoas com cognicao inferior desenvolvam e sejam capazes de se comunicar em linguas como a do povo !kung?
Pensei tambem se esta hipotese seria algum NonSequitur, do tipo do DI, que todos aqui conhecem bem: 'se o universo é complexo, logo foi criado por um designer' -->
'se !Xõõ e uma lingua complexa, logo quem a criou tem que ser altamente inteligente'
Nao sei. Ainda penso que deve ter algo a ver e que a visao que o 'homem civilizado medio' tem destes povos esta bem equivocada.
Provavelmente os tais testes nao sao culture-fair como se pensa (é o que alegam varios pesquisadores) ou então que o que eles medem não constutui a totalidade do que se entende por inteligencia (como sugere Howard Gardner e Robert Sternberg).
Pensei se a hipotese de Sapir-Worf teria alguma coisa a ver com a primeira divagacao. Se a forma como pensamos é influenciada pela linguagem, seria absurdo supor que testes desenvolvidos para medir a capacidade verbal (testes de QI medem o raciocinio logico-matematico, espacial e verbal) de povos oriundos de culturas baseadas principalmente em linguas da familia das
linguas Indo-europeias sejam culture-fair, quando aplicados a populacoes de grupos linguisticos com caracteristicas radicalmente distintas. Divagando ainda mais, talvez mesmo a parte logico-matematica e espacial destes testes tenha um viés cultural.
Alguns retrucariam dizendo que Judeus, Hungaros, Arabes, Japoneses e Chineses nao pertencem ao grupo linguistico Indo-Europeu e nao obstante, obtem escores altos em testes.
Eu responderia afirmando que Judeus, Arabes e Hungaros ja estao suficientemente familiarizados com o mundo Indo-Europeu para se sentirem a vontade com suas demandas (Ad Hoc?).
No caso dos Japoneses e Chineses, penso que minha explicacao nao seria satisfatoria e pesariam outros fatores do tipo que Jared examinou em seu livro.
Ha que se considerar que as diferencas tecnologicas entre os povos devem ser algo 'poli-memetico' se por 'meme' eu puder entender alguma caracteristica cultural que se propaga a maneira dos genes
(nao li nada sobre memes), portanto nao proponho que diferencas linguisticas sejam o unico fator, mas sim mais um fator a se considerar em todos os estudos onde se comparam variaveis como inteligencia e grau tecnologico entre povos culturalmente diferentes.
(Sendo mais claro a respeito do meu uso do termo 'meme': pensei em 'meme' como sendo 'caracteristicas ambientais que se propagam entre geracoes' tal como podemos considerar genes mais ou menos como 'caracteristicas biologicas/fisiologicas que se propagam entre geracoes', ou seja o meme estaria para a influencia ambientais (fenotipo-genotipo) como o gene estaria para influencias geneticas (genotipo).
E assim como hoje os geneticistas comportamentais estudam a influencia da genetica na inteligencia posso imaginar um 'memeticista' comportamental fazendo o mesmo com relacao as influencias do ambiente na inteligencia!)