O capitalismo é um sistema baseado no acúmulo de capital
Não. É um sistema baseado na propriedade privada e na liberdade econômica.
Bom, discordo desta caracterização porque liberdade econômica e propiedade privada não são características exclusivas do modo de produção capitalista.
Discordo. Na verdade, o que chamamosde "capitalismo" é o que emerge naturalmente e espontaneamente quando há 1-Garantia do direito de propriedade, 2-Liberdade para dispor dessa propriedade como bem entender e 3-Ausência completa de vínculos legais de dominação/subordinação entre as pessoas. Havendo essas 3 coisas, haverá necessariamente o que chamamos de "capitalismo".
A característica essencial de um modo de produção ( aliás de qualquer modo de produção) é dada pela forma como se distribui a propiedade dos dois componentes fundamentais de todos eles: os meios de produção e a força de trabalho.
É uma forma de classificação meio redundante e inespecífica, mas mesmo usando-a, podemos classificar o que chamamos de “capitalismo” da seguinte forma:
1- Meios de Produção – Pertencem a qualquer um que os adquirir de forma legal, são transferíveis, e seus proprietários podem dispor dos mesmos como bem entenderem.
2- Força de Trabalho – Ausência completa de qualquer vínculo legal de dominação ou subordinação entre as pessoas. As pessoas podem dispor de si mesmas como bem entenderem.
Essasa são as características do que chamamos de “capitalismo”.
No caso do capitalismo , o empresário possui os meios de produção e o trabalhador a força de trabalho , vendendo esta para aquele por um tempo estipulado em troca de um salário.
Correto.
Não se esquecendo, claro, que as posições de “empresário” e “trabalhador” não são fixas, imutáveis, auto-excludentes e possuem muitas gradações, de forma que podem haver muitos trabalhadores que obtêm rendas maiores do que muitos empresários.
As características sociais , políticas , ideológicas que este modo de produção assumirá em cada caso específico não mudam o fato de continuar sendo capitalismo.
Correto.
Quanto a desigualdade social:
Do ponto de vista histórico o surgimento de uma diferenciação social dentro de uma comunidade humana se inicia - até onde os achados arqueológicos e observações etnológicas permitem inferir - a partir da revolução neolítica , com o desenvolvimento da agricultura. Isto representou um enorme avanço para a humanidade: o fato de alguns indivíduos poderem se dedicar `a tarefas específicas ( artesanais , religiosas, etc...) permitiu que a cultura humana se desenvolvesse e se tornasse cada vez mais complexa. Portanto a desigualdade social , ou para falar em outros termos , a divisão da sociedade humana em classes representou um fenômeno histórico altamente progressista. Até este ponto , é a interpretação de Marx ( com a qual concordo).
Eu acho que a origem das desigualdades podem ser buscadas bem mais longe. Provavelmente surgiu quando a primeira tribo foi dominada por outra.
Um surgimento
endógeno de desigualdades foi provocado pelo aumento da população (que por sua vez, se deve à revolução agrícola). É inevitável, em uma sociedade grande onde as pessoas deixam de se conhecer pessoalmente, como numa família, que as diferenças de produtividade, força e sorte passem a se refletir em diferenças sociais.
A questão é que, para Marx , com o modo de produção capitalista atingimos o ápice do que uma sociedade dividida em classes sociais pode atingir ;
O ápice de quê, especificamente?
o seu própio sucesso se torna sua nêmesis e as forças produtivas que conjura se voltam contra ele na forma de crises recorrentes e destruição periódica das própia forças produtivas (1).
Crises periódicas de super ou sub produção ocorrem até na natureza, se você observar (Ex: população de presas e predadores). Por que com a economia humana seria diferente?
A produção no capitalismo já é social ( nos conglomerados industriais ) mas a apropiação do sobreproduto gerado continua sendo pelos capitalistas como classe ;
Não entendi essa parte.
Quando você fala em produção ser “social”, está se referindo a quê? À trivialidade de que várias pessoas participam do processo produtivo?
O produto não é “apropriado” apenas pelos empresários, ele é distribuído entre todos os fatores envolvidos na produção(trabalhadores, manutenção, insumos, administração, etc). Já olhou uma planilha de custos de uma empresa?
TODOS as pessoas direta ou indiretamente envolvidas no processo de produção são remuneradas por isso. Por que com o empresário seria diferente? (Digo, por que você exige que o empresário seja “voluntário”?)
esta característica é que levaria às crises sistêmicas periódicas.
Não vejo relação causal nenhuma aí.
Keynes, que foi um dos economistas que mais trataram de crises econômicas, disse que não entendia como uma teoria econômica tão obtusa como a marxista conseguiu ter a influência que teve.
A decorrência seria que os trabalhadores , que só tem como propiedade a própia força de trabalho , tornam-se uma classe puramente humana , a primeira classe cujos interesses própios pela primeira vez na história se confundem com os interesses da humanidade
O que dizer então dos escravos e servos, que nem mesmo a sua força de trabalho possuíam? Eles também não eram “puramente humanos”? (não entendi bulhufas do que você quer dizer com isso, mas vá lá...) Seus interesses também não eram “da humanidade”?
Que metafísica tosca é essa?
Além disso, você parece partir do pressuposto de que todo e qualquer trabalhador necessariamante terá renda menor do que todo e qualquer empresário, ou ao menos que levará uma vida de sofrimento e privações. Você não está dizendo que isso pode ocorrer, está dizendo que isso
necessariamente ocorrerá, como uma necessidade lógica.
( 2). A passagem da propiedade dos meios de produção para os que já possuiam a força de trabalho criaria uma sociedade de produtores associados , eliminaria a divisão da sociedade em classes (já que todos seriam propietários) e permitiria a manutenção da evolução econômica e social em outro patamar , suprimindo as crises periódicas e o desperdicio do trabalho humano.
Dêem uma lida com bastante atenção nessa frase: “a passagem dos meios de produção para os que já possuíam a força de trabalho...”.
O que ele implicitamente pressupõe?
Pressupõe que os “meios de produção” são estáticos, não aumentam e nem diminuem, que existe uma quantidade fixa e determinada deles, que está inapropriadamente nas mãos dos empresários, e que basta pegarmos esses meios de produção e passarmos para os trabalhadores que todos os problemas se resolvem.
Pergunta-se: como os “meios de produção” são adquiridos? Como seria esse mesmo processo em uma sociedade onde é proibido investir seu dinheiro ou bens?
Quem quiser ver mais detalhes, dê uma olhada no tópico “Alguém salve a juventude brasileira”, na seção Laicismo e Política.
As observações de Marx sobre o socialismo são absolutamente genéricas , mas em alguns textos tardios ele se permite imaginar que a sociedade continuaria a ter divisões internas , mas não pela existência de classes e sim por diferenças em concepções de vida e de gestão da sociedade.
A única forma possível de evitar qualquer diferença de renda entre as pessoas terá que necessariamente ser brecando vigorosamente a economia. E todos aqui sabem ao que economias brecadas levam.
Quanto à mais-valia:
Todo mundo - que não é marxista
- taca pedra em Marx por ter postulado a mais-valia como fonte do ganho do capitalista. Sinceramente não vejo porque.
Todo modo de produção tem que ter a criação de mais valor no produto do que aquela que foi investida nos insumos da produção. Se isso não ocorresse teriamos com o comércio ( tirando a hipótese de fraude ou roubo) apenas a circulação de valores mas não a criação de novos , nem desenvolvimento e aumento da complexidade econômica.
Ou seja, não se pode ter lucros no comércio?!
Ninguém investe para produzir algo para comerciar que não lhe traga um lucro , simples assim.
A nível social é a geração de um valor excedente na produção que vai permitir que a diferenciação social que referi acima surja e se complexifique , uma sociedade que não gerasse sobreproduto permaneceria estagnada , vegetando a nível da subsistência e pereceria ( como talvez muitas na pré história).
A questão é que Marx coloca que - como em todo e qualquer modo de produção - no capitalismo este sobreproduto também é gerado , a despeito do trabalhador receber um salário , já que os produtos que ele cria com seu trabalho tem um valor maior que o dos insumos que foram utilizados ( incluo o salário nos insumos).
Ninguém pode ter lucro com uma empresa 100% automatizada?! Ou trabalhando sozinho?!
Quanto mais automatizada for uma empresa, menos lucro terá?!
Quanto menos gente uma empresa emprega, menos lucro terá?!
Por que existe desemprego, dado que os trabalhadores são os únicos capazes de “gerar valor novo” para os empresários? Por que esse desperdício sem tamanho de oportunidades de lucros?!
Se não fosse para ter maior valor nos produtos do que gastou para produzi-los ninguém abriria uma empresa (simples assim II).
E se apenas o trabalhador humanos fosse a única ou maior fonte de lucros, não haveria desemprego, ninguém automatizaria empresas ou se dedicaria ao comércio.
Ainda que se instaurasse o socialismo nos moldes aventados por Marx, o trabalhador continuaria a ter parte do valor por ele produzido não pago.
Muito pelo contrário.
Excetuando-se algumas atividades primárias, ou em épocas e locais sem leis trabalhistas atuantes,
os trabalhadores desfrutam de muito mais bens e serviços do que seriam capazes de produzir por si mesmos.
Pelo que Luis Souto fala aqui, um trabalhador sozinho, tendo apenas a natureza à sua disposição, conseguiria produzir muito mais produtos e serviços por mês do que os que ele consome com o seu salário.
Baseado nessa idéia de que o trabalhador sempre recebe menos do que o que efetivamente produz, alguém poderia me explicar como se dá o desemprego, já que qualquer contratação de trabalhador necessariamente seria vantajosa para o empresário?
Se não fosse assim , como dar conta dos gastos com o desenvolvimento e crescimento da produção , com os gastos em atividades necessárias á sociedade como um todo ( saúde educação , etc...) ? A questão é que , como esta seria uma sociedade de produtores associados . a mais-valia produzida socialmente ( como no capitalismo) seria apropiada também socialmente.
Já comentado acima.
Resumindo: existe um pressuposto de que um trabalhador é o único responsável pela produção e criação de bens, e que sozinho, com a natureza à sua disposição, conseguiria produzir muito mais bens e serviços do que os que ele consome com o seu salário.
È claro que a concepção de Marx quanto ao socialismo , mesmo na forma genérica que ele faz nos seus escritos , se mostrou problemática. A maior prova disto é que mesmo organizações políticas que tomaram o poder para implantá-lo acabaram por gerar sistemas que simplesmente se tornaram contrários ao que ele propunha.
Ora, com um monte de erros toscos e primários de economia como estes, e com essa quantidade de pressupostos irrealistas, o que se podia esperar de diferente?