Vamos reverter certos eufemismos?
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Renato T... O papel aceita tudo. É o caso do rapaz que se diz Assessor Adjunto de Processamento de Reprodução Gráfica da Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos de Longo Prazo, mas vai mesmo ver, ele é o "boy" que tira Xerox.
Não vou quotar o post inteiro por motivo de economia de espaço do tópico , mas suas observações podem ser respondidas com uma única palavra Zeichner: anacronismo.
As suas críticas se referem à concepção soviética do socialismo , que não tem nada a ver com a Comuna de Paris.
Para começar a Comuna foi uma revolta espontânea da população parisiense ( com grande participação das camadas pobres da população) com a crise instaurada pela invasão da França pelas tropas prussianas e derrota do exército francês , com a fuga do governo e da maioria dos industriais e propietários para Versalles em vista da iminente tomada de Paris. Os communards ressuscitaram a mobilização aos moldes jacobinos para a defesa de Paris , suas lideranças eram radicais do tipo jacobino e proudhonianos ; os elementos influenciados pelo marxismo eram inexpressivos na Comuna ( mesmo o representante da Internacional era ligado aos bakuninistas)*.
As fábricas e imóveis assumidas dirretamente pelos communards tinham sido abandonadas pelos seus propietários , a Comuna instaurou uma forma de governo direto por representantes eleitos nos arrondissement e o objetivo era realizar uma "economia de guerra" com medidas radicais e levantar as províncias para se unirem à capital contra a invasão.
Após 70 dias de controle a Comuna foi esmagada pelas forças de Versalles , com o beneplácito das tropas prussianas que as deixaram passar : os canhões que não conseguiram deter os prussianos serviram para matar os communards às dezenas de cada vez.Assumir o controle das fábricas era ,pois,um crime maior que a covardia e a incompetência numa guerra.
Ainda que Marx tenha usado a Comuna como exemplo do que seria um governo operário ela na verdade foi uma praça de guerra sitiada , uma situação anômala para servir de modelo.
* Aliás o marxismo teve pouca entrada na França até a dècada de 30 do séc.XX ( a despeito de lideranças como Jean Jaures) , nos meios operários a maior influência era dos anarquistas e anarco-sindicalistas ; o marxismo passa a se tornar preponderante a partir da experiência da Frente Popular em 1936 e pela sua atuação na Resistência.
Você sabe o motivo pelo qual Che Guevara acabou no méxico? Ele trabalhava na nicarágua, que na época estava passando por uma reforma social, reforma agrária e tudo mais, pacote completo. Infelizmente esse governante pisou no calo de uma multi-nacional americana e os EUA intervieram. Resultado? Ditadura.. Outro exemplo? Salvador Allende no Chile. Mesma coisa...
Na verdade Renato , foi na Guatemala , no governo de Jacobo Arbenz que foi derrubado por um golpe militar em 1954 com financiamento e planejamento da embaixada americana ( os documentos americanos relativos ao golpe se tornaram públicos e podem ser consultados).
Renato , a questão dos crimes dos regimes soviético , chinês , etc... ( que agrupo sob o rótulo de estalinistas , pela primazia de Stalin neste tipo de regime)
É uma questão central que deve ser encarada por quem tenha uma referência na esquerda em geral e no marxismo em particular.
Entender como uma concepção política libertária possa ter se tornado a justificativa ideológica para regimes que realizam o oposto que ela propunha é fundamental para compreender onde Marx errou , não se pode jogar esta questão para debaixo do tapete simplesmente atribuindo à "traição dos estalinistas" ( como fazem as correntes ligadas ao trotskismo) ou relativizando-a ao lembrar de genocídios ocorridos em países capitalistas ( só como exemplo , o genocídio nazista e o genocídio colonialista no Congo Belga).
Todos os regimes surgidos em revoluções que tinham como base político-ideológica o marxismo se tornaram ditaduras com um controle estatal monstruoso , no entanto a proposta marxista era que o Estado deveria desaparecer por se tornar supérfluo ; todos estes regimes se caracterizam pela censura e limitação da liberdade e no entanto para Marx as sociedades socialistas se caracterizariam pela liberdade de pensamento e expressão.
Este é um paradoxo que não pode ser menosprezado.