Helder
O que você chama de operações de enxugamento de liquidez? E que tipo de operações internas são essas que você está criticando?
E em uma coisa concordamos: O Brasil poderia ser gerido de uma outra maneira. Mas o material de trabalho (nós mesmos) ainda tem que ser melhorado, e muito.
É a redução de dinheiro em circulação.
Após a implantação do Real, aumentou a entrada de capital estrangeiro no Brasil ( um dos fatores de atração desse capital foi a taxa de juros interna e a valorização do Real, que fazia com que um investimento em Real desse um ótimo retorno). Conforme a crença monetarista, deve-se evitar a todo custo a expansão da base monetária . Então para evitar essa expansão qual foi o brilhante método que a equipe econômica inventou ?
Foi o brilhante método da explosão do endividamento interno. Como ?
Ao entrar, digamos, 2 bilhões de doláres no Brasil, e conseqüentemente aumentar a quantidade de reais em circulação, o governo emitia e vendia títulos da dívida interna a juros atrativos ( que teve picos de até 70% a.a), isto diminuia a quantidade de reais em circulação ao mesmo tempo em que aumentava de modo galopante a dívida pública interna. E para acompanhar esse aumento houve o correspondente aumento da carga tributária, que passou de 25% do PIB para 36% .
Houve outros motivos para o governo emitir e vender títulos da dívida pública, como por exemplo o Proer , no qual foi emitido aproximadamente 50 bilhões em títulos de dívida pública .
Resultado: explosão da dívida interna em 164 vezes de 1993 a 2000.
Imagine se um presidente de de empresa multiplicar a dívida de uma empresa em 164 vezes em 8 anos, sem um aumento correspondente do patrimônio e renda da empresa.
Ele seria conhecido como um ótimo administrador ?
O que aconteceu no Plano Real foi a substituição de uma dívida por outra.
Até aquele momento, toda vez que o governo brasileiro precisava pagar uma conta, emitia papel moeda. Parece simples, porque permitia fazer dinheiro do nada pra pagar, usando dinheiro de verdade. Mas isto sempre teve um custo medonho da Inflação, porque o aumento de papel moeda em circulação causava sua diminuição de valor real.
Assim, o plano real atacou em duas frentes. Uma, foi tirar a cultura de que os preços aumentavam todos os dias, criando um indexador de preços, a URV, que depois de transformou no Real.
A outra foi acabar com a emissão de papel moeda sem o lastro dos dólares. Ou seja, para se emitir dinheiro, era preciso a entrada de recursos que cobrissem esta emissão, ou parte dela.
Em outras palavras, se substituiu a inflação pela emissão de títulos do governo.
A diferença é que os títulos são resgatados em 20, 30 anos, e podem ser renegociados. A inflação é paga diariamente, principalmente pela população mais pobre, que não tem como se socorrer no sistema bancário para preservar o valor real de seu salário.
Por isso que as classes C e D são as maiores beneficiárias das mudanças acontecidas com o real, que ocasionou a maior retirada de pessoas da linha da pobreza e também permitiu o crescimento de toda uma rede de serviços e varejista ( casas bahia é o maior exemplo ) voltadas para uma classe de renda que não pode pagar a vista, mas que tem salário e se planeja em pagar uma parcele por mês, nem que seja durante 5 anos ).
Então, a dívida pública já existia, mas era paga pela população. Agora será paga também pela população, mas através dos impostos, e não mais pela inflação.
Não se pode enxergar apenas a questão do aumento da dívida interna sem enxergar que este foi o preço a ser pago pelo fim da inflação.