na visão clássica, a frugalidade alimenta o emprego e consumo produtivo.
Não. A frugalidade alimenta os
investimentos, que são atividades que produzem bens de capital, ou seja, bens que não se destinam ao consumo, mas sim à produção ulterior de mais bens.
Se as pessoas consumissem 100% de toda a renda que recebem, ou seja, se a taxa de poupança fosse zero, não haveria investimentos e consequentemente crescimento da economia.
Por outro lado, se as pessoas pouparem
demais, uma parte dos bens produzidos deixarão de ser comprados/vendidos. Consequentemente, uma parte das pessoas deixará de ter receitas/lucros/empregos.
A tendência teórica é haver um equilíbrio: se as pessoas consomem 80% do que ganham, os 20% restantes da produção deixariam de ser comprados/vendidos SE forem bens de consumo. Mas na verdade, esses 20% representam
bens de capital, que não serão usados para consumo imediato, e as pessoas envolvidas na produção desses bens serão remuneradas com dinheiro oriundo dos 20% de poupança que a sociedade fez.
Até aqui é consenso. A separação entre os clássicos e Keynes começa a partir daqui:
Para os clássicos, nunca haverá um "hiato" entre a produção total (100%) e o consumo+investimento total (80% +20%), ou seja, a economia automaticamente se equilibra em uma situação em que
toda a produção feita, seja a quantidade que for e em qualquer circunstância, será integralmente comprada pelas pessoas, seja para consumo (80%), seja para investimento (20%). Eles se amparam na chamada Lei de Say, que afirma: "A oferta cria sua própria procura". Em resumo: nunca haverá superprodução ou subprodução.
Para Keynes, poderá surgir um hiato entre a produção total (100%) e o consumo+investimento totais (80% +20%) a medida que a economia cresce. Segundoi Keynes, quanto maior a renda das pessoas, mais elas tendem a poupar, ou seja, à medida que a economia cresce e as necessidades mais básicas das pessoas vão sendo satisfeitas, mais elas tendem a destinar quantidades progressivamente maiores de suas rendas para a poupança. Paralelamente ao aumento da poupança, há um aumento dos investimentos (se a taxa de poupança subir para 30%, a produção se ajustará de modo que 30% dela será de bens de capital).
Porém, esse aumento dos investimentos não continua ocorrendo indefinidamente e pode não acompanhar o aumento da poupança. Por quê? Por que à medida que aumenta a quantidade de bens de capital (máquinas, equipamentos, etc), a expectativa de lucratividade dos empreendedores vai diminuindo, afinal, maior quantidade de bens de capital concorrendo na economia implicarão em margens de lucro progressivemente menores.
Assim, enquanto a poupança aumenta e o investimento não aumenta na mesma proporção para "comprar" essa percentagem da produção que não será destinada ao consumo, surge enfim um "hiato" entre produção e cunsumo/investimento:
uma parte da produção não será comprada por ninguém!. O que acontece? Todos os fatores envolvidos nessa produção não-comprada são desempregados. Essas pessoas deixarão de ter salários/lucros/dividendos. Elas então deixarão de comprar outros bens, ajudando a aumentar o hiato, mais produçãi deixará de ser comprada, mais fatopres desempregados, menos consumo, mais produção não-comprada, mais desemprego, menos consumo, mais produção não-comprada, mais desemprego... => Recessão.
Quais as "receitas" de Keynes para retardar a chegada ou acelerar a saída de uma recessão (ele aparentemente não acreditava que a recessão poderia ser completamente evitada)?
1- Consumir, consumir, consumir: quanto maior a porcentagem da renda que as pessoas destinam ao consumo, mais demorará para surgir e aumentar um hiato entre produção e consumo/investimento. A poupança é necessária para financiar investimentos, mas é necessário que REALMENTE existam esses investimentos. Se não houver consumo ou investimento que compre integralmente a produção, o hiato aparecerá e crescerá.
Quanto mais as pessoas torrarem seu dinheiro em bens "não-produtivos", como carros de luxo, palácios, pirâmides, foguetes, mísseis, etc, menos a chance de aparecer um hiato, com a vantagem adicional desses bens não "concorrerem" com os bens futuramente produzidos.
Um exemplo: Um míssel é totalmente destruído após ser usado, logo, serão necessários mais mísseis no futuro => o emprego dos fatores envolvidos na produção de mísseis fica garantido. Um ótimo bem para a economia.
Uma casa: uma casa não será destruída, quanto mais casas houverem, menos casas precisarão ser construídas no futuro=>menos pessoas serão necesárias para construir casas. Um bom bem para a economia, pois apesar de "sobreviver" a um ciclo econmômico e concorrer com a produçao futura, não afeta muitoa expectativa geral de lucratividade dos empreendedores que investem em bens de capital.
Uma máquina: uma máquina não é destruída, quanto mais máquinas hpouveram, menos precisarão ser construídas no futuro. Até aqui igual a uma casa. Mas há algo mais que o torna um bem meio "perigoso" para a economia: como é um bem de capital, o seu excesso tende a afetar negativamente a expectativa de lucratividade (lucratividade é a percentagem de lucro em relação aos custos) dos empreendedores que pensam em investir em mais bens de capital. Essa dimininuição possível dos investimentos á uma das causas mais importantes para gerar e aumentar o hiato entre produção e consumo/investimento.