Segundo Kant há três tipos de julgamento epistemológico (modalidades epistêmicas de Kant) :
Conhecimento: um julgamento suficiente objetiva e subjetivamente.
Crença: um julgamento suficiente subjetivamente, mas não objetivamente.
Opinião: um julgamento insuficiente tanto subjetivamente quanto objetivamente.
(Fonte: http://www.ozsl.uu.nl/articles/schaar01.pdf - ver seção 5.d)
Explicando: o conhecimento é a única forma perfeita de julgamento, pois ele basta tanto objetivamente (isto é, ele é demonstravel) quanto subjetivamente (i. e., ele é convincente). O conhecimento está associado ao verbo saber, e por definição saber é um julgamento certificadamente verdadeiro. Eu não acredito e nem acho que 2+2=4, eu sei disso.
Tanto a crença quanto a opinião são formas de julgamento defectivas, pois não são demonstráveis. A diferença entre um e outro é que a crença tem valor subjetivo, ou seja está acompanhada por uma convicção; então, quem pratica o verbo crer, apesar de não ter base objetiva para comprová-lo, tem uma razão subjetiva para sua crença que é suficiente para ele do ponto de vista pessoal. Uma crença é suficiente para levar uma pessoa a agir: se eu acredito que há um assassino à espreita em uma moita eu vou evitar passar por perto dela - ainda que eu não tenha certeza disso e não queira arriscar demonstrar isso objetivamente
A opinião não tem base nem objetiva e nem base subjetiva, ou seja, uma opinião não basta para convencer uma pessoa, por isso uma opinião não basta para levar uma pessoa a agir. Por exemplo: na minha opinião o Vasco vai chegar às finais da Taça Rio este ano. Eu não posso demonstrar essa previsão objetivamente e também não me arriscaria a apostar uma grande quantia em dinheiro nisso, mas considerando-se que o Vasco tem um bom time eu acho que ele tem boas chances.
No livro "O Espírito do Ateísmo", André Comte-Sponville, baseado nas modalidades de Kant, classifica as diferentes formas de não-teísmo da seguinte maneira:
agnosticismo: ausência de opinião quanto à existência de Deus.
ateísmo não-dogmático: opinião quanto à não-existência de Deus.
ateísmo dogmático: crença na não-existência de Deus.
Nesse sentido, é incorreto dizer que o agnóstico e o ateu não-dogmático têm crença, o ateu não-dogmático tem somente uma opinião, ele acha que os argumentos contra a existência de Deus são melhores que os a favor ou acha que Deus é um ser muitíssimo improvável. Porém, quanto ao ateu-dogmático essa acusação procede, o dogmático está intimamente convencido de que Deus não existe, longe de não-acreditar em sua existência, ele vai além e acredita na sua não-existência. Pessoalmente, posso dizer que conheço pouquíssimos ateus dogmáticos, entretanto.
Beleza de post Uili!
Na minha opinião, penso que mesmo a convicção do ateu dogmático é diferente da fé religiosa.
É como já foi dito aqui. A convicção do ateu dogmático, diferentemente da fé religiosa, tem sua base em fatos e evidências. A convicção do ateu não é uma convicção atoa,
como querem fazer parecer os religiosos.
Aquela velha estorinha do "Dragão na garagem" é bem apropriada neste caso. É só nos perguntarmos quem tem mais fé, o dono da garagem que afirma possuir um dragão invisível morando lá, ou o cético que nega (mesmo sem poder provar) essa afirmação? Podemos dizer que a fé de ambos são equivalentes?
Veja como o "salto" de fé que um religioso dá ao afirma que deus existe é infinitamente maior do que o do ateu ao afirmar o contrário.
Ps.: Antes que alguém diga que a comparação entre deus(es) e dragões invisíveis é indevida, esclareço que não é. Deuses e dragões invisíveis, como o da estorinha do Sagan, possuem muito em comum. Mas para quem ainda não estiver satisfeito, pode considerar que o dono da garante jura de pé junto que o seu dragão invisível é todo poderoso e criou todo o universo com uma simples baforada de seu hálito cáustico.