Como é evidente as minhas observações sobre este tema assentam todas em obras de especialistas conceituados...
Não vou acusa-lo de uso da falácia da autoridade, por enquanto. Antes eu desejo que voce apresente as crítica da Academia sobre os autores ou sobre os livros
1421 e
Science and Civilisation in China pois eu não as conheço.
não pretendo ter inventado nada. A questão do não regresso a um estado de desconhecimento geográfico é importante... ou há um novo mundo sem retorno ou então não se pode falar de globalização de facto.
A "globalização" tem a mesma importância histórica que o "fim-da-história" de Fukuyama: Nenhuma, sem for considerado o sentido que a mídia de massas deu.
Qual foi mesmo a guerra anterior travada simultaneamente em 5 continentes e 3 oceanos?
Cinco continentes? Voce citou quatro (África, América, Ásia e Europa). Qual é o quinto? A Oceania? Ou voce subdividiu a América?
A propósito. Qual foi a escala de combate que ocorreu nos continentes e nos oceanos? Deve ter sido épico!
O que isso de imperialismo (no marxismo) sem revolução industrial? puro anacronismo.
O que é isso de "globalização" sem um sistema financeiro internacional e sem a migração das indústrias dos países centrais para os países periféricos? Puro 'wishful thinking'.
Quais são mesmo os povos não europeus onde se desenvolveu historigrafia própria científica? A visão europeia é de facto a visão histórica... pois só nesse continente se pode falar de verdadeira historiografia.
Sem dúvida que os textos europeus da época "primam" por uma historiografia científica. Vejamos um exemplo, um trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha, de maio de 1500:
Senhor,
posto que o Capitão-mor desta Vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a notícia do achamento desta Vossa terra nova, que se agora nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que -- para o bem contar e falar -- o saiba pior que todos fazer!
Todavia tome Vossa Alteza minha ignorância por boa vontade, a qual bem certo creia que, para aformosentar nem afear, aqui não há de pôr mais do que aquilo que vi e me pareceu.
Da marinhagem e das singraduras do caminho não darei aqui conta a Vossa Alteza -- porque o não saberei fazer -- e os pilotos devem ter este cuidado.
E portanto, Senhor, do que hei de falar começo:
E digo quê:
A partida de Belém foi -- como Vossa Alteza sabe, segunda-feira 9 de março. E sábado, 14 do dito mês, entre as 8 e 9 horas, nos achamos entre as Canárias, mais perto da Grande Canária. E ali andamos todo aquele dia em calma, à vista delas, obra de três a quatro léguas. E domingo, 22 do dito mês, às dez horas mais ou menos, houvemos vista das ilhas de Cabo Verde, a saber da ilha de São Nicolau, segundo o dito de Pero Escolar, piloto.
Na noite seguinte à segunda-feira amanheceu, se perdeu da frota Vasco de Ataíde com a sua nau, sem haver tempo forte ou contrário para poder ser!
Fez o capitão suas diligências para o achar, em umas e outras partes. Mas... não apareceu mais!
E assim seguimos nosso caminho, por este mar de longo, até que terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram 21 dias de abril, topamos alguns sinais de terra, estando da dita Ilha -- segundo os pilotos diziam, obra de 660 ou 670 léguas -- os quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho, e assim mesmo outras a que dão o nome de rabo-de-asno. E quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves a que chamam furabuchos.
Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! A saber, primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera Cruz!
Mandou lançar o prumo. Acharam vinte e cinco braças. E ao sol-posto umas seis léguas da terra, lançamos ancoras, em dezenove braças -- ancoragem limpa. Ali ficamo-nos toda aquela noite. E quinta-feira, pela manhã, fizemos vela e seguimos em direitura à terra, indo os navios pequenos diante -- por dezessete, dezesseis, quinze, catorze, doze, nove braças -- até meia légua da terra, onde todos lançamos ancoras, em frente da boca de um rio. E chegaríamos a esta ancoragem às dez horas, pouco mais ou menos.
E dali avistamos homens que andavam pela praia, uns sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos que chegaram primeiro.
Então lançamos fora os batéis e esquifes. E logo vieram todos os capitães das naus a esta nau do Capitão-mor. E ali falaram. E o Capitão mandou em terra a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou a ir-se para lá, acudiram pela praia homens aos dois e aos três, de maneira que, quando o batel chegou à boca do rio, já lá estavam dezoito ou vinte.
Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos, e suas setas. Vinham todos rijamente em direção ao batel. E Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os depuseram. Mas não pôde deles haver fala nem entendimento que aproveitasse, por o mar quebrar na costa. Somente arremessou-lhe um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça, e um sombreiro preto. E um deles lhe arremessou um sombreiro de penas de ave, compridas, com uma copazinha de penas vermelhas e pardas, como de papagaio. E outro lhe deu um ramal grande de continhas brancas, miúdas que querem parecer de aljôfar, as quais peças creio que o Capitão manda a Vossa Alteza.E com isto se volveu às naus por ser tarde e não poder haver deles mais fala, por causa do mar.
À noite seguinte ventou tanto sueste com chuvaceiros que fez caçar as naus. E especialmente a Capitanisol-postoa. E sexta pela manhã, às oito horas, pouco mais ou menos, por conselho dos pilotos, mandou o Capitão levantar ancoras e fazer vela. E fomos de longo da costa, com os batéis e esquifes amarrados na popa, em direção norte, para ver se achávamos alguma abrigada e bom pouso, onde nós ficássemos, para tomar água e lenha. Não por nos já minguar, mas por nos prevenirmos aqui. E quando fizemos vela estariam já na praia assentados perto do rio obra de sessenta ou setenta homens que se haviam juntado ali aos poucos. Fomos ao longo, e mandou o Capitão aos navios pequenos que fossem mais chegados à terra e, se achassem pouso seguro para as naus, que amainassem.
[...]
Os trechos destacados em negrito são "belos excertos" de um "magnífico" exemplar de historiografia científica, sem dúvida alguma.
Com todo respeito, isto está longe de um texto historiográfico científico moderno.
E não é um demérito, pois ele reflete o costume da época, com toda a sua carga de moralismo e subserviência aos poderes reais e clericais.
Onde estão as "outras visões" excepto nas mentes de homens de hoje?
Os historiadores modernos reconhecem que a China produziu bons trabalhos mesmo sob a ótica da historiografia européia, inclusive com sua propria cronologia.
Construção da história chinesa
A China já produzia sua História e métodos historiográficos próprios muito antes da chegada das concepções européias de ciências humanas no século XIX. E - diga-se de passagem - estes métodos eram tão bem articulados que os primeiros pesquisadores estrangeiros aceitaram, por diversas vezes, as versões chinesas sobre o seu próprio passado sem muito discutir (Watson, 1969: 11-6 e Gernet, 1979: 29-36).
A História chinesa começou a ser redigida tendo por mister resgatar uma idéia de passado que servisse de modelo para as gerações futuras. Assim sendo, os chineses começaram, desde cedo, a empreender a prática de registrar, analisar, recolher dados e fixar eventos como forma de referendar certas concepções de universo e sociedade nas quais se viam inseridos.
Os dois primeiros grandes historiadores chineses teriam sido Confúcio (Kong Fuzi), que teria vivido no século VI a.C. e que se tornou famoso pela escola de pensamento desenvolvida a partir de seus ensinamentos; e Sima Qian (século II-I a.C.), o “pai” da História chinesa, que desenvolveu os métodos de pesquisa empregados na redação dos registros dinásticos até o fim da era imperial. Isso não quer dizer que antes disso a China não houvesse produzido textos históricos; mas Confúcio foi o primeiro grande recuperador e editor destes conteúdos - como a sua produção comprova -, enquanto Sima Qian foi o organizador da primeira cronologia histórica “definitiva” das dinastias antigas, bem como biógrafo dos grandes nomes da história e do pensamento chinês.
Não há dúvida que o método historiográfico científico atual teve a sua principal contribuição proveniente do método europeu, mas negar o fato de que outros povos já documentaram sua história de modo tão ou mais eficiente é um absurdo.
Não estou a defender a "minha dama". Notem que os autralianos estão publicando livros relamente bem fundamentados sobre a descoberta da Austrália pelos portugueses e revelando mapas desse continente feitos pelos portugueses... E então?
Quais são os livros e seus respectivos autores?
Isso, a ser verdade (já li os dois livros mais fundamentados) é muito interessante e são viagens heróicas... mas descobrir é colocar no mapa mundial para sempre, nas rotas econónicas-comerciais, começar a colonização, criar uma nova entidade política e cultural... e isso foi Cook e os ingleses que fizeram... não os portugueses...é que eu sei distinguir o permanente do transitório... e é ao permanente que dou especial relevo.
Ninguém, em sã consciência, nega a importância das navegações européias iniciadas no final do século XV, inclusive para a formação das atuais sociedades americanas. Mas a História vem demonstrando nos últimos 100 anos que outros povos tiveram avanços em diversas áreas do conhecimento e da civilização em geral e que eram completamente ignorados pelo Ocidente.
A propósito. Uma "nova entidade política e cultural" somente pode ser feita às expensas da entidade anterior. Concorda ou não com esta assertiva?