Famado, eu fui criado em um terreiro de umbanda e realmente entendo o que você está falando. Meu pai era uma espécie de braço direito da "entidade chefe" do terreiro. Quem incorporava era um de irmão de criação de meu pai.
Para quem está inserido no ambiente há tantas coisas mágicas e provas tão contundentes que realmente parece insanidade não acreditar nelas. Quando você disse que tem provas mas estas estão no âmbito de suas experiências pessoais, leve em consideração que por incrível que pareça, todas as milhões de provas de encarnação são do mesmo tipo da sua.
Então a discussão fica sendo algo como "é possível milhões de pessoas estarem se enganando, serem malucas, embusteiras ou ter uma cisão da personalidade?", este último como postulado pelo Luiz?
Vamos deixar de lado questões meramente técnicas como argumentos "ad populum" são uma falácia e não podem provar nada portanto, pronto, acabou a discussão. E quero também deixar de lado a real motivação de quem "incorpora" um espírito (discordo um pouco de Luiz mas nada relevante agora, e a explicação dele foi fantástica).
E por conhecer os médiuns do culto, posso dizer com razoável certeza de que esses não estavam mentindo, e com certeza de que não estavam enriquecendo (poderia dizer no máximo ajudando a sobreviver).
Meu ponto é: Quem aceita a existência do fenômeno, independentemente da motivação do médium, tem sua capacidade crítica afetada? todos esses milhões de pessoas?
Eu posso te contar algumas coisas maravilhosas: Não sei o porque eu passei um período de minha infância (talvez 10 aos 11 anos) acreditando que meu pai e minha mãe estavam juntos apenas para cumprir tabela. Juntando-se isso a outros problemas que tinha em casa, isso estava me gerando um comportamento cínico, algo niilista.
Em um sábado, no pós culto, Pai José me olhou, desenhou uns rabiscos no papel, e disse: "O amor de seu pai pela sua mãe é real e não duvide disso". Bingo, ele, então, me ajudou mais do que você pode imaginar a enfrentar esse problema.
Por duas outras oportunidades, uma talvez com 30 anos e outra com 35 (há dois anos), tive a oportunidade de contar para o meu pai e perguntar para ele se ele sabia, e ele surpreso, me jurou que não, que não havia dito nada.
Guarde esse ponto agora.
À época eu era (na verdade sou) extremamente curioso. E por se curioso , criança, e filho de seu braço direito, me dava ao luxo de fazer-lhe uma série de perguntas:
De onde vieram as músicas do culto? O que é o triângulo das bermudas? Onde você fica quando está incorporando? Qual a origem do universo? Já existe uma briga formal entre o bem e o mal, entre outras perguntas.
Algumas respostas:
1- As músicas vieram de minhas andanças pela áfrica no século XVII - Fato: as músicas estão no cancioneiro umbanda padrão e são um sincretismo de um monte de coisas, inclusive cristianismo.
2- Quando você for adulto te conto.
3- Fico aprendendo em uma escola de anjos - Fato: A escola não estava ensinando muito, o conteúdo do espírito era bem similar ao do meu tio, inclusive citações de telejornais.
4- Uma explosão de planetas - Fato: Sem comentários.
5- Quando você for adulto te conto.
E mais um sem número de coisas sem sentido que ele dizia, como meter o pau na jovem guarda (não sou tão velho cáspita mas ele encanva com isso), que éramos um grupo de escolhidos, que era para tomar banho com sabão de coco (lavar o cabelo também), o que quer dizer que passei a infância toda me ralando com essa merda e achando o máximo, e e mais diversas coisas absurdas.
Agora juntando os dois pontos: É meio improvável que alguém com uma capacidade mediúnica pode fazer um rabisco, interpretar a minha alma e dar esse diagnóstico avançado enquanto solta um conjunto de estultices dignas de um lesado. É improvável que o espirito esteja incorporado e, por uma razão do destino, tenha acesso aos mesmos conhecimentos que meu tio tinha. É improvável que, alguém a tanto tempo morto com acesso a tantas informações, seja tão ignorante a ponto de errar coisas tão básicas como ele fazia.
Outro ponto, por mais que ele tenha me ajudado, ele deixou de lado realmente os problemas que me assombravam e que foram purgados depois de muitos anos e de muito "sangue". Algo como tratar de uma unha em quem tem cancer.
O mais provável que aconteceu? Meu pai contou. Ou o médium inferiu a informação da maneira de como olhava para os dois.
Os tratamentos que ele fazia? Acredite, os remédios eram banais.
O ponto é que o mecanismo de crença funciona como um poderosíssimo "adequador" de realidades. Você encara um fato, mas não seus olhos que estão vendo. O que está vendo são seus olhos, sua crença, a experiência influenciada pela história dos outros, wishfull thinking. Você confirma as informações que encaixam com sua crença, e simplesmente ignora o que não convém.
É um mecanismo do cérebro, funcionamos assim, a mente tem que ser treinada para agir de maneira diferente. Por isso Famado, que o método científico, ao tentar contrapor verdades que aceitamos a fenômenos externos que são comprováveis por terceiros, é a única maneira de podermos admitir tais tipos de fenômeno como confiáveis. A mente humana não é confiável, temos que entender isso e as implicações disso.
Então a resposta é: Milhões e milhões de pessoas se enganam diariamente para viver sua vida de acordo com seu conjunto de crenças, e estão dispostas a defender isso até o último sopro de sua vida.
Tirar-lhes isso significa mudar/destruir sua vida. É muito sério para sua mente deixar passar sem tentar reagir.
Se eu assistisse aos mesmos cultos hoje, viria o absurdo de cara. À época, minha mente não permitiu.
Quanto aos estudos que você disse que queria ver: Acredite, tem muitos. Todos fracos e contestados.