Olá,
Anarquia é um assunto difícil de se discutir, então vamos do começo.
A falácia ou erro de raciocínio mais comum em discussões como essa é conhecida como inversão do ônus da prova.
Esse erro de raciocínio costuma impedir a maioria das discussões sobre anarquia, então vamos começar entendendo o raciocínio falacioso para então evita-lo.
O estado se organiza através de um determinado modelo de sistema político.
Diversos modelos já foram testados em milhões de diferentes configurações por estadistas de varias épocas por todo o globo, e, como tal, seus defensores necessitam demonstrar os resultados satisfatórios dessa forma de organização política.
Os anarquistas são em geral pessoas que entendem que esse modelo de organização não apresenta funcionalidade ou necessidade, que ao contrario, ele em geral agrava os problemas a que propõe resolver e se baseia na coerção e no roubo.
Quando se discute anarquia, se discute o modelo apresentado pelos estadistas como forma ideal de sistema político, não qualquer sistema que poderia vir a substitui-lo.
Vejamos um exemplo para entendermos melhor o motivo disso:
Suponhamos que estadistas propõem que, para iluminar a cidade, devemos espalhar varas de pesca pelas ruas com sapatos amarrados nas pontas. Muito se discute sobre a cor de sapato mais adequada, alguns acham que os sapatos deveriam ser vermelhos, outros que deveriam ser amarelos. Eles ainda dizem que devem ter o monopólio da iluminação publica, eles e somente eles podem ficar ali tentando os diferentes tipos de sapatos, sendo proibida qualquer tentativa paralela de iluminação publica.
O anarquista é aquele que evidencia o óbvio fato de que aquilo não vai funcionar nem em um bilhão de anos, o anarquista não precisa apresentar uma proposta concreta sobre como iluminar a cidade para saber que aquilo ali não vai funcionar nem demonstrar isso. O anarquista apenas refuta a idéia de que varas e sapatos estejam dando qualquer resultado, e ainda lembra que o monopólio impede que uma possível solução do problema venha pela tentativa de outras pessoas com idéias melhores que "varas" e "sapatos".
Cabe aos defensores do estado provar que aquilo funciona de algum modo. Não é o anarquista quem tem que provar que aquilo não funciona, nem apresentar algo que funcione.
Digamos que um anarquista proponha que para iluminar a cidade devemos colocar peixes em lugar de sapatos, muito embora isso seja ridículo e também não funcione, a falta de funcionalidade da proposta “peixes”, não faz a proposta “sapatos” funcionar, nem a torna de qualquer forma menos imbecil que antes.
Com isso se conclui que refutar propostas de anarquistas não demonstra funcionalidade do modelo estatal. É esse o motivo de ser inútil discutir qualquer possível modelo anarquista, ele nada diz sobre o modelo estatal.
A conclusão então é: Aos defensores do estado cabe citar os pontos que acreditam demonstrar sua funcionalidade e necessidade, ou seja, os estadistas devem justificar a necessidade da existência da instituição monopolista e demonstrar que ela funciona de algum modo ao que se propõe, e, mais do que isso, demonstrar que o estado é insubstituível na solução do problema.
A discussão então deverá se dar através da refutação desses pontos, onde discutiremos o estado e não qualquer suposto modelo anarquista.