Autor Tópico: Para atriz global, traição pode ser necessária  (Lida 9170 vezes)

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Offline gavilan

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Re: Para atriz global, traição pode ser necessária
« Resposta #50 Online: 02 de Junho de 2011, 00:59:01 »
REPORTAGEM TIRADA DA REVISTA EPOCA. PARA REATIVAR A DISCUSSAO: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI234235-15230,00.html

Uma fábula moral, mas ao contrário
Ivan Martins
 
O celular tocou por volta das oito da noite. Quando vi quem era, soube do que se tratava mesmo antes de atender. “Eu estou jantando com você, tá?”, disse uma voz de mulher. Eu concordei sem fazer perguntas. Foi a única vez que uma amiga, não um amigo, ligou para pedir um álibi. Ela iria sair com um sujeito, era casada e, caso precisasse mentir em casa, queria usar meu nome. Não precisou.

Eu vinha acompanhando o caso há semanas.

A amiga estava às voltas com um sujeito que mexia com os sentimentos dela. Eles haviam se conhecido durante uma viagem de avião e estabeleceram nos meses seguintes uma relação de enorme intimidade. Conversavam por telefone várias vezes ao dia, almoçavam pelo menos uma vez por semana e trocavam emails, dezenas de emails, cheios de desejo sublimado. A cumplicidade só não incluía sexo.

No momento em que eu soube da história, a amiga já estava a ponto de ligar para ele, que também era casado, nas noites de sábado e domingo. O convívio com o marido estava se tornando difícil. Ela pensava no outro, desejava o outro, sentia falta do outro. Veio desabafar comigo, perguntou o que eu achava. Nós nos conhecíamos desde antes do casamento dela e eu sabia da sinceridade e da intensidade dos seus sentimentos. Aquela mulher não iria conviver com ambiguidades por muito tempo.

Para mim, a questão era óbvia: o desejo pelo outro estava arruinando o casamento dela. Ela disse que se sentia parte de uma relação sólida e feliz até conhecer o cara do avião. Agora já não tinha mais certeza. Àquela altura, me pareceu que havia três possibilidades.

A primeira era virar as costas para o desejo, cortar relações com o cara que o provocava, ater-se ao casamento e viver com as consequências emocionais dessa decisão, que não me pareciam promissoras. Pensei nisso como a solução heróica. A outra possibilidade era contar ao marido o que estava acontecendo e correr o risco óbvio de que ele, magoado, saísse de casa para não mais voltar. Era o sincericídio. A terceira, claro, era transar com o sujeito e descobrir o que vinha depois.

Na época me pareceu – e eu disse isso a ela – que a solução menos danosa era a terceira. Se toda aquela comoção fosse apenas luxúria, se todo aquele romance fosse só uma projeção do desejo, ela perceberia depois de transar. Sexo (ao menos para os homens) ajuda a dar dimensão real a sentimentos que, de outra forma, crescem até se tornarem fantasias asfixiantes. Era o que estava acontecendo com a minha amiga.

Havia também a possibilidade de que ela sentisse, depois de transar, que queria mesmo o tal sujeito – e, nesse caso, seria covardia fugir do sentimento, não? Em assuntos de tal gravidade, antes de ser leal a qualquer outra pessoa convém ser verdadeiro consigo mesmo, eu acho.

Enfim, ela e eu falamos algumas vezes sobre o impasse, mas a situação não parecia se resolver com palavras ou resoluções. Por isso eu entendi imediatamente quando o telefone tocou. Ela havia decidido correr o risco.

Essa história tem alguns anos, mas eu ainda consigo ver as sobrancelhas grossas da amiga, seu sorriso constrangido com a situação. Ela não era especialmente bonita, mas chamava a atenção em qualquer ambiente pela sensualidade e pela alegria. Tinha tido desde muito jovem uma vida afetiva e sexual intensa. Casara-se aos 30 e dizia estar pronta para o compromisso. Mas, cinco anos depois, no momento em que ela e o marido discutiam a possibilidade de ter filhos, apareceu o tal sujeito. Alto, falante e sedutor, segundo ela me disse, parecia o oposto do parceiro dela, que era reservado e irônico. Seria natural que ela achasse o contraste excitante, mas deixar-ser envolver daquele jeito... Enfim, nada mais fácil do que julgar os sentimentos dos outros.

Por uma semana depois daquele telefonema de cúmplice, minha amiga sumiu. Quando ligou de novo, era outra pessoa. Me chamou para almoçar e contou quase tudo.

Fiquei sabendo que a noite de infidelidade fora “boa”. Ela fizera reserva num hotel no centro da cidade e convocara o fulano. Quando ele chegou, havia no quarto champagne gelada e uma mulher nervosa, mas determinada. Sem me contar detalhes, disse que o sexo fora como ela imaginara. Melhor, até. Mas, cinco minutos depois, quando ela voltou do banheiro, ficou claro: a mágica tinha evaporado junto com o tesão. Resolvida a curiosidade física, ela sentiu que não tinha mais nada a fazer ali. Não estava apaixonada coisíssima nenhuma. Teve vergonha da própria nudez e da nudez do outro. Sentiu urgência de voltar para casa. Foi tomada por um medo terrível, quase pânico, de que o marido descobrisse. Só conseguia pensar – na verdade, ela me disse, tinha vontade de gritar – o quanto gostava do marido.

Se a vida fosse um filme americano ou uma parábola bíblica, sua transgressão teria sido punida com um flagrante ou um acidente terrível, que tornaria explícita a natureza abominável do seu ato – e a punição inevitável dos céus. Mas a vida foi melhor do que isso.

Ela voltou para casa apreensiva, mas sentia-se melhor do que antes. Deixara para trás uma dúvida capaz de envenenar seu casamento e seu espírito. Estava mais segura dos seus sentimentos. Nos dias seguintes, o sexo com o marido melhorou sem que ele entendesse por quê. O casal voltou a discutir a possibilidade de ter filhos. Isso aconteceu faz alguns anos e eu paro de contar por aqui.

Na semana passada eu tinha dito que a traição, às vezes, pode fazer bem. Neste caso, fez. Se a minha amiga descobrisse que amava o outro sujeito, teria sido bom também. A verdade é importante. Mais importante, em algumas situações, do que as regras que nós inventamos há milênios para nos proteger da dor e da solidão.
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Offline uiliníli

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Re: Para atriz global, traição pode ser necessária
« Resposta #51 Online: 02 de Junho de 2011, 01:54:39 »
A questão do adultério é bastante delicada porque mexe com alguns sentimentos bastante fortes, a dor de se descobrir traído, embora completamente irracional, pode ser avassaladora.

A ética utilitarista concorda com o que relata o texto do gavilan: a condição que maximiza a felicidade, assumindo que a traição não será descoberta e nem trará culpa ao adúltero, é experimentar. Ganham os amantes e o marido enganado, idealmente não perde nada; a mulher da história ainda conseguiu eliminar uma grande fonte de sofrimento que era a dúvida com relação aos seus sentimentos, o marido não descobriu, ela não sentiu culpa e ainda melhorou seu casamento, uma solução perfeita. Mas não acho que seria uma solução válida para mim, pois eu tenho certeza de que seria atormentado pela culpa e no fim contaria tudo para a minha parceira, porque por mais que eu me esforce para simpatizar com o utilitarismo, no fundo eu sei que eu nasci para ser da turma da deontologia.

A ética do dever me diz que a traição é reprovável em qualquer situação. Seja a regra de ouro ou o imperativo categórico, obedecendo à luxúria eu estarei agindo exatamente da forma como eu gostaria que minha parceira não agisse na mesma situação. Meu senso de justiça entraria em ebulição. Eu poderia até trair, mas a única forma de trazer a justiça de volta ao mundo seria contar a verdade depois e só o castigo de ter que contar a verdade já me faria pensar duas, três, quatro vezes antes de trair. Eu tenho o macete de considerar que tudo aquilo o que eu tenho medo ou vergonha de assumir é errado e eu devo viver segundo a norma de ou não fazer nada de que eu precise ter vergonha, ou não ter vergonha de assumir o que eu fiz.

Offline ReVo

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Re: Para atriz global, traição pode ser necessária
« Resposta #52 Online: 02 de Junho de 2011, 02:08:04 »
"A verdade é importante. Mais importante, em algumas situações, do que as regras que nós inventamos há milênios para nos proteger da dor e da solidão." Ivan Martins

Pois é, então, em nome da verdade, deve-se sentir a dor ao confessar a infidelidade e a solidão ao ver o parceiro ir embora.
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Offline uiliníli

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Re: Para atriz global, traição pode ser necessária
« Resposta #53 Online: 02 de Junho de 2011, 02:16:26 »
Mas não contar a verdade também causa dor. É difícil decidir se dói mais o cotovelo ou a consciência.

Offline Moro

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Re: Para atriz global, traição pode ser necessária
« Resposta #54 Online: 02 de Junho de 2011, 05:25:33 »
Eu já acho o texto perfeito, e é o que gostaria que minha companheira fizesse. Conheço caso onde uma mulher se separou por isso e depois se arrependeu.. destruiu um casamento a toa.

E Uili, acho que a deontologia tem um contexto associado, acho que talvez nisso você seja mais do "absolutismo moral"
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Offline uiliníli

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Re: Para atriz global, traição pode ser necessária
« Resposta #55 Online: 02 de Junho de 2011, 10:57:06 »
Que tipo de contexto?

Offline Gaúcho

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Re: Para atriz global, traição pode ser necessária
« Resposta #56 Online: 02 de Junho de 2011, 12:35:44 »
Eu concordo com o Uilinili. Eu não trairia porque é algo que eu não gostaria que minha parceira fizesse. No caso do texto, o meu ideal é terminar o relacionamento e, só depois disso, experimentar esse sentimento confuso com a outra pessoa. Se, no final, você descobrir que, na verdade, ama mesmo é sua parceira, sempre terá a chance de tentar uma reaproximação, sabendo que você foi sincero tanto com ela, quanto com você mesmo.
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Offline Diegojaf

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Re: Para atriz global, traição pode ser necessária
« Resposta #57 Online: 02 de Junho de 2011, 12:42:20 »
Mas não contar a verdade também causa dor. É difícil decidir se dói mais o cotovelo ou a consciência.
Aí já passamos à questão do caráter, na minha opinião.
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Offline gavilan

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Re: Para atriz global, traição pode ser necessária
« Resposta #58 Online: 02 de Junho de 2011, 13:20:47 »

(...)

Seja a regra de ouro ou o imperativo categórico, obedecendo à luxúria eu estarei agindo exatamente da forma como eu gostaria que minha parceira não agisse na mesma situação. Meu senso de justiça entraria em ebulição. Eu poderia até trair, mas a única forma de trazer a justiça de volta ao mundo seria contar a verdade depois e só o castigo de ter que contar a verdade já me faria pensar duas, três, quatro vezes antes de trair. Eu tenho o macete de considerar que tudo aquilo o que eu tenho medo ou vergonha de assumir é errado e eu devo viver segundo a norma de ou não fazer nada de que eu precise ter vergonha, ou não ter vergonha de assumir o que eu fiz.

Tenho o pensamento semelhante, porém muitas vezes me questiono se, viver de "serventia" a uma força maior que a nossa própria vontade é saudavel. Acredito que o importante ter um equilibrio. Em termos psquiatricos , diria que o ego não pode ser totalmente suprimido pelo Superego. Deve haver um equilibrio
 
Eu concordo com o Uilinili. Eu não trairia porque é algo que eu não gostaria que minha parceira fizesse. No caso do texto, o meu ideal é terminar o relacionamento e, só depois disso, experimentar esse sentimento confuso com a outra pessoa. Se, no final, você descobrir que, na verdade, ama mesmo é sua parceira, sempre terá a chance de tentar uma reaproximação, sabendo que você foi sincero tanto com ela, quanto com você mesmo.

Di gaucho, analizando friamente seu pensamento, considero esse ideal falho, pois nessa suposião, estás apenas ultilizando um recurso temporal para diminuir a sua culpa.
Exemplifico:
É a mesma coisa que o cara terminar com a namorada na sexta-feira, ir pra balada, pegar todas, e no domingo fazer as pazes.
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Offline uiliníli

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Re: Para atriz global, traição pode ser necessária
« Resposta #59 Online: 02 de Junho de 2011, 17:21:52 »
Eu concordo com o Uilinili. Eu não trairia porque é algo que eu não gostaria que minha parceira fizesse. No caso do texto, o meu ideal é terminar o relacionamento e, só depois disso, experimentar esse sentimento confuso com a outra pessoa. Se, no final, você descobrir que, na verdade, ama mesmo é sua parceira, sempre terá a chance de tentar uma reaproximação, sabendo que você foi sincero tanto com ela, quanto com você mesmo.

Eu já fiz exatamente isso. Não deu certo com a outra, mas eu fiquei com a consciência tranquila e mantive a amizade com a ex-namorada. E bastante tempo depois a gente estabeleceu uma "amizade colorida" informal que serve melhor a nós dois. Tanto eu quanto ela podemos sair com outras pessoas, mas saímos bastante juntos e fazemos as mesmas coisas da época em que namorávamos, só nos vemos com menos frequência e não perguntamos o que o outro fez no período entre uma visita e outra.

Tenho o pensamento semelhante, porém muitas vezes me questiono se, viver de "serventia" a uma força maior que a nossa própria vontade é saudavel. Acredito que o importante ter um equilibrio. Em termos psquiatricos , diria que o ego não pode ser totalmente suprimido pelo Superego. Deve haver um equilibrio

A questão é: qual é a nossa vontade? Às vezes temos mais de uma vontade e elas são contraditórias entre si, são esses os nossos momentos de crise moral e emocional. Como você puxou para a psicanálise, o ego quer uma coisa e o superego quer outra contraditória. Será que existe um ponto de equilíbrio? O único compromisso que eu vejo entre as duas vontade é contar a verdade para a sua parceira, antes ou depois do deslize.

A questão é que só vivemos com esse conflito por causa do modelo de relacionamento que nos propomos a seguir. Um relacionamento estritamente monogâmico sempre estará sujeito a esse tipo de contradição e se não estamos preparados para lidar com ela é porque o relacionamento monogâmico não é a escolha certa para nós. Será que não vale a pena ser honesto e procurar uma parceira que aceite um tipo de relacionamento diferente?

Offline gavilan

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Re: Para atriz global, traição pode ser necessária
« Resposta #60 Online: 02 de Junho de 2011, 18:32:11 »
Citar
A questão é que só vivemos com esse conflito por causa do modelo de relacionamento que nos propomos a seguir. Um relacionamento estritamente monogâmico sempre estará sujeito a esse tipo de contradição e se não estamos preparados para lidar com ela é porque o relacionamento monogâmico não é a escolha certa para nós. Será que não vale a pena ser honesto e procurar uma parceira que aceite um tipo de relacionamento diferente?

Feliz aquele que tem todas essas questões resolvidas na cabeça e sabe o que é vontade própria, e o que é adequação ao sistema imposto. Corajoso é largar da pessoa que ama pois ela não compartilha com você, 100% dos desejos.
As alternativas são poucas (além da monogâmia), e são vistas com preconceito.
Mais raro feliz  é aquele que consegue encontrar uma parceira que pense igual, e que seja disposta a fazer isso, e ainda que nao ligue para o preconceito que podem vir a sofrer, ou que nao ligue em esconder isso de todos.
Acho que ser honesto , como você sugeriu, não é tão simples assim.
Támbem não acho que o que propem o jornalista Ivan Martins e a atriz Carolina Dickmann seja a solução.


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Re: Para atriz global, traição pode ser necessária
« Resposta #61 Online: 02 de Junho de 2011, 18:55:57 »
Corajoso é largar da pessoa que ama pois ela não compartilha com você, 100% dos desejos.

Você não ama somente uma pessoa nem ama todas as pessoas do mesmo jeito. A própria existência desse conflito entre permanecer fiel a uma pessoa ou se aventurar com outra mostra que pelo menos em parte seu amor que deveria ser único está dividido, mesmo que o amor que você dedica a cada uma seja diferente. O amor é um sentimento complexo, felizes são os gregos que têm muito mais palavras para expressá-lo: agápe, éros, philia e storge. O dilema é que ele é tantos sentimentos e nos sentimos obrigados a dedicar todos eles a uma mesma pessoa, alguns com exclusividade. Temos que sentir agápe por uma pessoa e as convenções nos obrigam a só sentir éros por essa mesma pessoa. Na verdade essa é uma condição exigida de qualquer relacionamento tradicional, se você sente agápe por uma pessoa e éros por outra, meu amigo, você está ferrado.

Citar
As alternativas são poucas (além da monogâmia), e são vistas com preconceito.
Mais raro feliz  é aquele que consegue encontrar uma parceira que pense igual, e que seja disposta a fazer isso, e ainda que nao ligue para o preconceito que podem vir a sofrer, ou que nao ligue em esconder isso de todos.

Será tão raro ou será que somos nós que não procuramos o suficiente? Quantas vezes você vê um casal de pessoas que querem ficar juntas se sentarem para uma conversa franca e conversarem sobre quais deveriam ser as regras? O que acontece é que tanto o homem quanto a mulher (ou o homem e o homem ou a mulher e a mulher) morrem de medo do que o outro irá pensar se eles forem honestos e a relação cai naquele "défault" que pode não ser a melhor coisa nem para um e nem para o outro, você entra em um relacionamento que talvez acabará se deteriorando em desconfiança, culpa e sofrimento para ambos os lados.

Offline gavilan

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Re: Para atriz global, traição pode ser necessária
« Resposta #62 Online: 02 de Junho de 2011, 23:48:05 »
De fato, a falta de comunicação é um grande problema.

E é muito facil ser agradável de boca fechada. Você mesmo disse que nesse relacionamento com sua ex-namorada preferiam calar:

(...) .. só nos vemos com menos frequência e não perguntamos o que o outro fez no período entre uma visita e outra.

Com todo respeito, no meu ponto de vista, me parece que esse tipo de relação se resume ao Eros, e ela só é possivel porque se abdicou do restante.

Portanto, essa questão não se resume apenas a procurar incessavelmente pela parceira certa.
Poucos (e ainda não me incluo nesse grupo) têm o auto-conhecimento suficiente para compreender seus próprios sentimentos. Muito menos conseguem se fazer entender para o outro, e finalmente, entende-lo.



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Re: Para atriz global, traição pode ser necessária
« Resposta #63 Online: 02 de Junho de 2011, 23:55:34 »
Bom, quando a gente está junto não é só sexo, a gente tem muita amizade e cumplicidade também. Mas tá, é principalmente sexo :P Mas é o relacionamento certo para mim no momento, talvez futuramente eu queira outra coisa, mas por enquanto eu só quero isso, um relacionamento que não me traz nenhum stress, só as coisas boas. A gente sai também, a gente vai ao cinema, conversa, a gente tem momentos legais juntos que não tem nada a ver com sexo. Acho que é melhor hoje do que quando a gente namorava, há menos neura, zero culpa, não me importo se ela sai com outras pessoas e estou livre para sair com quem quiser também.

Mas como eu disse, eu não sei se eu vou querer esse tipo de relacionamento para sempre, ele funciona agora e funciona para mim, talvez não funcione para outras pessoas, cada um é diferente.

Offline Moro

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Re: Para atriz global, traição pode ser necessária
« Resposta #64 Online: 03 de Junho de 2011, 00:03:18 »
Uili por contexto citei o fato da mulher querer entender o que sentia antes de se separar, isto é, antes de falar "errado trair" eu vi como "puts não consigo me livrar do sentimento, pode ser passageiro mas agora não consigo lidar.. separo ou vejo o que rola"
Para mim, no contexto apresentado a decisão dela foi perfeita e todos ficaram felizes. Não consigo ver a questão "trair é errado e pronto" fora do contexto apresentado. A primeira reação é o absolutismo moral, que te citei.


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Offline uiliníli

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Re: Para atriz global, traição pode ser necessária
« Resposta #65 Online: 03 de Junho de 2011, 00:15:59 »
Uili por contexto citei o fato da mulher querer entender o que sentia antes de se separar, isto é, antes de falar "errado trair" eu vi como "puts não consigo me livrar do sentimento, pode ser passageiro mas agora não consigo lidar.. separo ou vejo o que rola"
Para mim, no contexto apresentado a decisão dela foi perfeita e todos ficaram felizes. Não consigo ver a questão "trair é errado e pronto" fora do contexto apresentado. A primeira reação é o absolutismo moral, que te citei.

É que eu não acho que o absolutismo moral seja necessariamente distinto da deontologia, para mim absolutismo moral é o contrário de relativismo moral. É a crença na existência de uma verdade moral, se essa verdade está na obediência ao dever, no cálculo dos resultados das ações ou na virtude é outra história.

Eu não sei até que ponto eu sou absolutista ou relativista. Por um lado eu acredito que existam morais melhores do que outras e até culturas melhores do que outras. Por outro lado, eu não ouso dizer que a mulher do exemplo agiu errado, eu só posso dizer que para mim a linha de ação dela não serviria, eu não ficaria satisfeito agindo assim. Provavelmente eu não sou nem absolutista e nem relativista, sou só uma pessoa confusa.

Offline gavilan

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Re: Para atriz global, traição pode ser necessária
« Resposta #66 Online: 03 de Junho de 2011, 00:31:40 »
Querendo resposta, consegui 4 situaçoes e nenhuma conclusão:

1) Trair faz bem.
2) É melhor correr o risco: terminar, curtir novas expêriencias e, se for o caso, reconquistar.  Pelo menos a conciência fica limpa
3) Melhor é se conformar, e suprimir a dúvida e os desejos.
4) Melhor é abrir o jogo, contar pra companheira e torcer para que reação dela seja positiva.

Acho que vou desistir desse clube cético...


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Re: Para atriz global, traição pode ser necessária
« Resposta #67 Online: 03 de Junho de 2011, 00:34:00 »
é Uili.. você pode estar correto de acordo com a fonte

Deontological ethics is commonly contrasted with consequentialist or teleological ethical theories, according to which the rightness of an action is determined by its consequences.[4] However, there is a difference between deontological ethics and moral absolutism.[5] Deontologists who are also moral absolutists believe that some actions are wrong no matter what consequences follow from them. Immanuel Kant, for example, argued that the only absolutely good thing is a good will, and so the single determining factor of whether an action is morally right is the will, or motive of the person doing it. If they are acting on a bad maxim, e.g. "I will lie", then their action is wrong, even if some good consequences come of it. Non-absolutist deontologists, such as W. D. Ross, hold that the consequences of an action such as lying may sometimes make lying the right thing to do. Kant's and Ross's theories are discussed in more detail below. Jonathan Baron and Mark Spranca use the term Protected Values when referring to values governed by deontological rules.

....

Immanuel Kant's theory of ethics is considered deontological for several different reasons.[9][10] First, Kant argues that to act in the morally right way, people must act from duty (deon).[11] Second, Kant argued that it was not the consequences of actions that make them right or wrong but the motives of the person who carries out the action.
Kant's argument that to act in the morally right way, one must act from duty, begins with an argument that the highest good must be both good in itself, and good without qualification.[12] Something is "good in itself" when it is intrinsically good, and "good without qualification", when the addition of that thing never makes a situation ethically worse. Kant then argues that those things that are usually thought to be good, such as intelligence, perseverance and pleasure, fail to be either intrinsically good or good without qualification. Pleasure, for example, appears to not be good without qualification, because when people take pleasure in watching someone suffering, this seems to make the situation ethically worse. He concludes that there is only one thing that is truly good:

Nothing in the world—indeed nothing even beyond the world—can possibly be conceived which could be called good without qualification except a good will.

http://en.wikipedia.org/wiki/Deontological_ethics

e...

Deontología (del griego δέον "debido" + λόγος "Tratado"; término introducido por Jeremy Bentham en su Deontology or the Science of Morality/Deontología o la ciencia de la moralidad, en 1889) hace referencia a la rama de la ética cuyo objeto de estudio son los fundamentos del deber y las normas morales. Se refiere a un conjunto ordenado de deberes y obligaciones morales que tienen los profesionales de una determinada materia. La deontología es conocida también bajo el nombre de "teoría del deber" y, al lado de la axiología, es una de las dos ramas principales de la ética normativa.
Trata, pues, del espacio de la libertad del hombre sólo sujeto a la responsabilidad que le impone su conciencia. Asimismo, Bentham considera que la base de la deontología se debe sustentar en los principios filosóficos de la libertad y el utilitarismo, lo cual significa que los actos buenos o malos de los hombres sólo se explican en función de la felicidad o bienestar que puedan proporcionar asuntos estos muy humanistas. Para Bentham la deontología se entiende a partir de sus fines (el mayor bienestar posible para la mayoría, y de la mejor forma posible)
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Re: Para atriz global, traição pode ser necessária
« Resposta #68 Online: 03 de Junho de 2011, 00:35:26 »
Querendo resposta, consegui 4 situaçoes e nenhuma conclusão:

1) Trair faz bem.
2) É melhor correr o risco: terminar, curtir novas expêriencias e, se for o caso, reconquistar.  Pelo menos a conciência fica limpa
3) Melhor é se conformar, e suprimir a dúvida e os desejos.
4) Melhor é abrir o jogo, contar pra companheira e torcer para que reação dela seja positiva.

Acho que vou desistir desse clube cético...


Just kidding  8-)

de onde veio o 1 a partir das discussões no tópico?
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I'm not convinced that faith can move mountains, but I've seen what it can do to skyscrapers."  --William Gascoyne

Offline gavilan

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Re: Para atriz global, traição pode ser necessária
« Resposta #69 Online: 03 de Junho de 2011, 00:37:47 »
veio apartir do texto que postei, coluna da revista época  http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI234235-15230,00.html

conciso?   com siso
prolixo?     pro lixo                 - José Paulo Paes

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Offline Geotecton

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Re: Para atriz global, traição pode ser necessária
« Resposta #70 Online: 03 de Junho de 2011, 00:43:35 »
É que eu não acho que o absolutismo moral seja necessariamente distinto da deontologia, para mim absolutismo moral é o contrário de relativismo moral. É a crença na existência de uma verdade moral, se essa verdade está na obediência ao dever, no cálculo dos resultados das ações ou na virtude é outra história.
[...]

Por isto mesmo que Kant coloca a razão prática como um de seus dois pilares morais, junto com a liberdade, aqui considerada no sentido de autonomia.
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Offline uiliníli

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Re: Para atriz global, traição pode ser necessária
« Resposta #71 Online: 03 de Junho de 2011, 23:42:20 »
Querendo resposta, consegui 4 situaçoes e nenhuma conclusão:

1) Trair faz bem.
2) É melhor correr o risco: terminar, curtir novas expêriencias e, se for o caso, reconquistar.  Pelo menos a conciência fica limpa
3) Melhor é se conformar, e suprimir a dúvida e os desejos.
4) Melhor é abrir o jogo, contar pra companheira e torcer para que reação dela seja positiva.

Acho que vou desistir desse clube cético...


Just kidding  8-)

Se eu fosse capaz de escolher, eu escolheria o 3. Como não sou, minha reação natural deveria ser 2 ou 4.

Offline Moro

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Re: Para atriz global, traição pode ser necessária
« Resposta #72 Online: 03 de Junho de 2011, 23:50:13 »
Jura Uili? Porque escolher a 3? Entenda.. ela estava em crise

Não acha que tem muito sentido o que ela fez? Não foi o melhor resultado possível?
“If an ideology is peaceful, we will see its extremists and literalists as the most peaceful people on earth, that's called common sense.”

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Offline uiliníli

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Re: Para atriz global, traição pode ser necessária
« Resposta #73 Online: 03 de Junho de 2011, 23:52:59 »
Jura Uili? Porque escolher a 3? Entenda.. ela estava em crise

Não acha que tem muito sentido o que ela fez? Não foi o melhor resultado possível?


Eu não estou falando dela, estou falando de mim. A mulher do texto se saiu muito bem, mas acho que o que funciona para uma pessoa não necessariamente funciona para outra. Eu me sentiria extremamente culpado após trair e acredito que eu acabaria contando, logo meus resultados seriam diferentes dos dela.

Offline Geotecton

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Re: Para atriz global, traição pode ser necessária
« Resposta #74 Online: 04 de Junho de 2011, 00:02:02 »
Querendo resposta, consegui 4 situaçoes e nenhuma conclusão:

1) Trair faz bem.
2) É melhor correr o risco: terminar, curtir novas expêriencias e, se for o caso, reconquistar.  Pelo menos a conciência fica limpa
3) Melhor é se conformar, e suprimir a dúvida e os desejos.
4) Melhor é abrir o jogo, contar pra companheira e torcer para que reação dela seja positiva.

Acho que vou desistir desse clube cético...


Just kidding  8-)

O melhor é cada um agir conforme a sua consciência.
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