Outra coisa: o bandido não está obrigado a respeitar a dignidade alheia ou ser bonzinho com sua vítima, justamente por ser um bandido, está à margem da sociedade. Mas o Estado precisa sim respeitar TODOS seus cidadãos, independente se são marginais ou não.
Derfel, não está obrigado a respeitar, ninguém está, mas os que são feridos em sua dignidade ainda são obrigados a ouvir e ver criminosos serem tratados a pão de ló quando deveriam trabalhar para custear o que gastam. E nem estou defendendo práticas mais perversas, apenas trabalho para quem passa o dia inteiro arquitetando o que não deve.
Concordo com você, Lua. Também concordo que deveria haver trabalho dentro dos presídios, onde parte da rende deveria ser, inclusive, depositada em uma conta com o objetivo de facilitar a reintegração do ex-preso na sociedade. Mas daí a serem tratados a pão de ló? onde? a maioria dos presídios não passam de depósitos humanos sem a menor chance de reabilitação, talvez apenas uma pós-graduação no crime e a entrada em alguma das várias facções criminosas que dominam os presídios. Ter respeito pelos presos não é colocá-los em um hotel cinco estrelas ou não fazer com que paguem pelo seus crimes, mas reconhecê-los como seres humanos, ainda que alguns deles nos pareçam muito menos que isso. O papel do Estado no sistema carcerário não é somente de punição, mas principalmente de reabilitação desses presos e não me parece que tratar presos como dejetos humanos seja uma boa forma de reabilitar alguém. Todos os presos são passíveis de reabilitação? É claro que não, mas o fato de existirem alguns que não possam ser reabilitados e reinseridos na sociedade não impede que haja muitos outros que teriam uma vida diferente após o período prisional se tivessem uma chance para isso. Nem todos que estão presos, por exemplo, são assassinos sanguinários e estupradores, muitos estão presos por crimes menores, algumas vezes por um delito único.
E o Estado não nos respeita, isso é um fato. A saúde é de péssima qualidade, a educação, os salários, a segurança, tudo está mal colocado neste país. Mas alguém se insurge contra isso com a mesma convicção com que alguns gritam por direitos para presos? O que acho que falta neste país é bom senso mesmo, é compreensão de que ninguém está preso porque roubou um biscoito - sim, acredito em inocentes, mas eles são uma minoria.
O Estado nos respeita sim, quem não nos respeita são governos e alguns membros de governo. A saúde é de péssima qualidade? Em alguns lugares sim, em outros não e mesmo dentre os que possuem uma saúde péssima existe ilhas de excelência. Mas, apesar disso, a saúde não deixa de ser universal, o acesso pode não ser fácil em alguns lugares, mas mesmo assim existe. Existem alguns procedimentos, inclusive, que são mais fáceis você conseguir no SUS que nos planos de saúde, como no caso de transplantes, atendimento a politraumatizados, vacinação... A educação, da mesma forma, possui ilhas de excelência (as escolas federais tiveram desempenho acima de muitos países desenvolvidos no Pisa) e se ainda possui um nível lamentável, pelo menos garante a universalização. O que ocorre novamente são falhas nas políticas de governos (estaduais e municipais) e não falta de respeito de Estado. Talvez se houvesse políticas de estado para educação a situação poderia ser outra. Em segurança, a situação é como a educação, onde falta justamente uma política de estado para a área, e nos salários, a situação também é complexa, envolvendo as questões da previdência e a forma como os impostos estão organizados. Enfim, não é por conta da nossa insatisfação com os serviços prestados que podemos dizer que o Estado não nos respeita, na verdade é essa insatisfação que pode gerar as forças que podem influir nas melhorias dos serviços.
Aliás, outro dia vi um documentário sobre um presídio, no Espírito Santo. A reportagem tratava os presos - homicidas, estupradores, parricidas, matricidas, etc - como vítimas, simplesmente porque a refeição não era digna do Fasano... E eu acho divertidissimo quando vejo estes presos com aquela cara de piedade, de sofrimento, como se estivessem ali por engano. É de dar dó... no bolso dos contribuintes e das vítimas e suas famílias.
A tendência da maioria dessas reportagens de TV é o sensacionalismo mesmo. Quanto à comida, garanto que no Exército eu deveria comer pior que eles

O Jaf postou algo sobre as pessoas só verem os direitos e esquecerem dos deveres. Concordo com ele e acho que essa é mais uma distorção causada pelo período do Governo Militar aqui no Brasil, com a redemocratização os direitos que haviam sido suprimidos no período adquiriram uma importância muito grande, esquecendo-se dos deveres.
Em relação à tornozeleira, não há nada nela que seja contra a dignidade humana, de certa forma é até mesmo uma garantia ao preso. Quanto à saída dos presos em feriados ou indultos, o problema não reside na saída em si, mas nos critérios para selecionar quem pode usufruir desse direito.