Questão: será que a existência de dilemas morais em seja qual for a filosofia ética que você escolha não tem relação com o teorema da incompletude de Gödel? Correndo sério risco de falar besteira, mas até onde meu limitado intelecto me permite compreender, Kurt Gödel usou de paradoxos envolvendo autorreferência em para demonstrar que mesmo na matemática um conjunto de axiomas não pode ser ao mesmo tempo completo e coerente: ou ele contém todas as verdades, mas leva algumas mentiras junto; ou ele não contém nenhuma mentira, mas também carece de algumas verdades. Não seria o mesmo com as filosofias morais? Um dilema não deixa de ser um tipo de paradoxo, afinal, e o fato de qualquer ética levar a eles talvez não seja apenas uma pequena dificuldade contornável, mas uma limitação inerente a qualquer tentativa de abordagem desse tipo de problema. Se mesmo na matemática somos forçados a aceitar certas premissas sem demonstração, escolher um sistema ético talvez também implique num salto de fé.
Não é à tôa que os teístas se indagam sobre como é possível haver uma ética secular, é o que eu compreendo mal, porca e provavelmente equivocadamente como a "náusea" dos existencialistas, mas eu chamaria mais de vertigem, a sensação de estar na beirada de um precipício, olhar para baixo e não ver nada além do vazio. Eles têm um chão que acreditam ser firme, as normas morais ditadas por Deus, prontas e inquestionáveis; nós trocamos o Deus que eles imaginam ser concreto por um valor abstrato: o dever, o bem estar, a virtude. Mas esses valores, de certa forma, parecem bem mais incertos, bem mais intangíveis do que uma lista fechada de 10 coisas que você não pode fazer, além de uma décima primeira implícita: "Não farás perguntas." Mas nós, seculares, precisamos fazer perguntas e frequentemente caímos em perguntas que simplesmente não têm resposta! Maldito Gödel!!! E maldito Sartre também, estamos condenados a ser livres e ser livre não é tão fácil quanto obedecer.