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front oceânico no norte da África? As hordas eurasianas ainda são uma ameaça?
Bom, hora de eu aproveitar a relativa calma do tópico e ir respondendo às "pontas" que deixei soltas...
Eu trabalho em uma empresa de economia mista, onde o maior acionista é o estado aqui do ES. E pela minha experiência, embora seja uma evidência anedota (é anedota ou anedótica?), a maioria dos funcionários é comprometida e tenta fazer um bom trabalho... eu inclusive modestamente me incluo nesta categoria, já que antes de entrar para esta empresa sempre trabalhei na iniciativa privada e não vejo lógica em não procurar prestar o melhor serviço possível para quem, afinal de contas, paga meu salário. Mas a proporção de parasitas é grande, gente que não está nem aí para o contribuinte. Numa empresa privada, estes parasitas já teriam sido descartados há um bom tempo, mas em uma empresa pública eles viram um encosto que onera e sobrecarrega quem efetivamente quer trabalhar. E o próprio sistema de trabalho trava o desempenho de quem quer trabalhar. O excesso de burocracia, a ação dos parasitas que demoram a executar (quando executam) tudo que depende deles, as regulamentações excessivas e absurdas, tudo isso faz com que a imagem dos funcionários públicos seja péssima, e o pior é que, em grade parte dos casos, esta imagem negativa seja a mais pura verdade.
A evidência é anedótica, mas bem plausível... bom, a gente sabe que é assim que o Estado
brasileiro funciona.
E embora eu seja comunista e vocês não, acho que a gente concorda que o Estado é necessário (discordamos em
quanto) e precisa ser mais eficiente.
Então, pergunto:
1. Como fazer o funcionarismo público ser mais eficiente?
2. Para a mesma oferta de serviços, sob a mesma economia, como fazer a burocracia ser reduzida ao mínimo necessário?
(Não sei as respostas. Por isso mesmo estou perguntando.)
Post do Geotecton, que respondi pela metade.
Voce também ignora o fato de que nos estados capitalistas, a maior parte da educação e da ciência é atribuição histórica do Estado, antes mesmos de se constituírem em sociedades capitalistas formais.
Não, meu caro. Não ignoro.
Grosseiramente falando, a educação e a ciência como conhecemos hoje surgiram nos Estados Papais na Idade Média... (a primeira universidade é de lá - ano 800 EC).
Mas não é só por causa de tradição histórica que o ensino e a ciência públicas são "melhores" que os privadas, e sim por objetivos.
O objetivo da educação e ciência públicas é, primariamente, servir à sociedade.
O objetivo da educação e ciência privadas é, primariamente, maximização de lucros.
Há diversas situações nas quais ambas as coisas são incompatíveis. Dando um exemplo bem bobinho: diabetes tipo I.
Se o objetivo for servir à sociedade, procura-se uma
cura - seja por implante, células-tronco, etc.
Se o objetivo for o lucro, a cura é indesejada, pois o lucro líquido com a venda mensal de insulina é maior.
Entende onde quero chegar? O meu exemplo é em ciência, mas pode ser facilmente extendido para a educação.
(Inclusive, até aonde eu saiba, as
escolas públicas brasileiras eram melhores que as privadas até os anos 70. A educação privada se manteve mais ou menos no mesmo patamar, mas a pública decaiu muito. Motivo? Cof cof milicos...)
Não. Não é, porque a população não tem condições de decidir sobre questões técnicas. E no seu modelo, quem vai decidir é a Nomenklatura e não o “povo”, que nestes casos, não passa de um ente abstrato.
Para a população, ter uma Nomenklatura decidindo ou um corpo empresarial decidindo dá, efetivamente, na mesma coisa.
Pra mim, nem uma coisa nem a outra são desejáveis.
O que podemos fazer é treinar a população para que saiba escolher o que é mais interessante pra ela mesmo com poucos conhecimentos técnicos do assunto em questão, sabendo reconhecer argumentos válidos e inválidos vindos de quem tem maior conhecimento.
Leia-se... embutir ceticismo na população como parte do sistema social.
Pelo amor de Odim, entrem em uma repartição publica e solicitem um serviço... os caras te atendem como se tivessem fazendo um favor, cheios de má vontade, cheios de entraves... o serviço publico do Brasil é uma MERDA, sejamos francos por favor.
Não estou dizendo que não existam pessoas sérias e comprometidas, existem, mas estas são uma minoria, infelizmente.
Enquanto não encararmos a realidade e ficarmos criando mundinhos paralelos para acomodarem nossas confortáveis fantasias, tudo só irá para pior neste país.
Ô fi'o, é por isso mesmo que eu falo que, pra tentar mudar o sistema econômico brasileiro, a gente precisaria
primeiro tacar uma boa faxina por aqui
Eu já comentei algo do tipo, inclusive:
E tá, ninguém perguntou, mas vou falando de um caso em específico chamado Brasil.
Mudar o sistema econômico aqui seria realmente interessante, e tudo, mas... antes disso, há algumas coisas que são necessárias, como:
1. Uma boa reforma jurídica,
2. Mudança cultural quanto à corrupção,
3. Maior efetividade do Estado (especialmente se for pela via fabianista)...
Caso se tentasse mudar o sistema econômico brasileiro agora, ia provavelmente dar em merda e as coisas continuariam mais ou menos como estão.
E eu acho que isso é meio-que proposta de consenso... é algo que tanto vocês (que defendem economia de mercado) quanto eu (que defendo economia estatal) concordamos.
Como eu escrevi antes, você está especulando com modelos hipotéticos de marxismo, pois eles não foram operacionalizados em nenhum lugar.
Mas quando analisamos os regimes marxistas que foram instalados desde 1917 até o final dos anos 70, observa-se que todos foram centralizadores, burocráticos e repressores de seus povos.
A gente pode usar isso pra fazer um experimento mental interessante - ver o que esses Estados tinham de similares.
E especialmente, compará-los com regimes centralizadores, burocráticos e repressores de seus povos
mas que tinham economias diferentes.
A Rússia Tsarista possuía ilhas de excelência em termos de cultura e conhecimento científico, bastando lembrar os nomes de Pietr Tchaikovsky e Konstantin Tsiolkovsky. Um dos principais motivos que a tornava menos eficiente e pujante, em termos econômicos, era a ausência de uma burguesia que conecta-se a população campesina e operária com a cúpula imperial.
A URSS também era bastante aclamada culturalmente. Ballet e xadrez são o que me vêm à cabeça.
A literatura e a música decaíram muito, mas por causa da ditadura e não do sistema econômico.
(Nesse ponto, nós brasileiros temos sorte que estivemos sob uma ditadura de imbecis...)
Mas, quanto à ciência... discordo. A Rússia tsarista era bastante atrasada em relação à Península Européia. Pense em Mendelejev como exceção e não como regra.
E falando da população campesina, aqui vem uma questão interessante. Pelo pensamento de Marx quando mais novo, espera-se a proletarização do campesinato
dentro do próprio capitalismo. Depois, com o tempo, Marx mudou de idéia e incluiu a possibilidade de revolução mesmo em um país com a população majoritariamente campesina, como na Rússia.
Só que isso deu em merda.
Com algumas exceções, a população rural normalmente é menos culturalizada e consciente politicamente do que a população urbana. São mais fáceis de manipular por causa disso.
O expurgo stalinista afetou o potencial de crescimento da URSS sem dúvida, mas a maior parte dos atingidos estava no setor de humanas e não no setor de exatas ou biológicas. Um scholar do tipo sociólogo causava muito mais estragos que um PhD em Matemática.
Penso que o atraso tecnológico soviético, excluindo os setores militares e espacial, ocorreu em função da natureza do sistema produtivo e econômico e não pela falta de mão-de-obra com qualificação.
Todos os países socialistas foram, em diferentes graus, dependentes de Moscou, seja por admiração, seja por dependência financeira, seja por intimidação militar.
Sim... e com isso, as características dos sistemas político e econômico soviéticos iam sendo passadas para os outros países.
Se a URSS tivesse dado certo, eles provavelmente dariam certo também.
Como a URSS deu errado, eles deram errado junto...
A simples criação de centenas ou milhares de unidades político-administrativas já demandaria despesas elevadas, pois seria necessária uma estrutura organizacional mínima em cada uma destas unidades, incluindo setores equivalentes aos atuais: executivo, legislativo e judiciário.
E para se calcular os custos com grande precisão seria necessário definir exatamente o tipo de organização de sociedade que se deseja.
Mas já há milhares de unidades político-administrativas, meu caro. Chamam-se cidades
Minha idéia é mais ou menos assim: ao invés de haver Estados e cidades, haver uma coisa só que valha por ambos. E aproveitar o que for possível da estrutura organizacional já existente de ambos.
Usando Paraná como exemplo... haver uma "prefeitura" da região metropolitana como um todo - englobando Curitiba, Araucária, Pinhais, Sanju, etc. Outra englobando Ponta Grossa, Lapa, Campo Largo, etc. Mas tanto essas cidades como o estado do Paraná,
como divisões administrativas, deixariam de existir.
Quanto a cálculos, não seria com grande precisão, mas só saber a ordem de grandeza dos custos já seria interessante...
Mas note que isso é uma idéia adicional, que eu vejo como ampliando a democracia. Não é sumamente necessária.
Eu sinceramente não deixaria que a população pudesse decidir sobre certos temas, em especial aqueles que demandam um maior conhecimento tecno-científico.
Talvez, deixar a população escolher seus representantes
para esses temas? Ainda seria democracia representativa e não direta, mas a participação popular seria maior.
O que você acha?
Eu não conheço aquela comunidade, mas o ponto que eu quero insistir é que não há nenhuma evidência de que eles vivam sem interagir com as comunidades de entorno que não seguem aquele modelo e nem que eles vivam sem as vantagens obtidas pelo capitalismo nativo.
O lugar é pequeno e, pelas fontes que li, apresenta diversos problemas.
Mas é interessante como um caso de uma comunidade anarquista que dura há quarenta anos.
Enfim, Christiania pode ser exemplo fraco, mas ainda assim, é um exemplo...
Se você deixar a população decidir, é provável que se mantenham praticamente intactos os atuais conceitos vigentes nas democracias representativas capitalistas.
Então fatalmente, para que o padrão mude para os moldes que você deseja, esta decisão deverá caber ao Estado socialista, que em todos os casos conhecidos sempre foi manipulado pela Nomenklatura.
Aparentemente não há como escapar disto.
Eu ia ficar meio puto da vida, mas prefiro que a população decida contra mim do que simplesmente não decida.
Ou seja, o deus-Estado seria o detentor de quase tudo. Mas, apenas por curiosidade, as casas teriam algum tipo de padrão e ou limite?
Menos, meu caro. Não xingue o Estado de "deus".
No caso de moradias, obviamente teriam normas. Já há normas - normas de onde construir, normas de como construir...
Fora isso, como vejo casas como algo essencialmente pessoal [e portanto, privado], não acho que deva haver muita norma. Pessoas diferentes têm estilos de vida diferentes, e isso exige moradias diferentes.
Sob a sua ótica marxista, qualquer coisa pode ser considerado um bem de produção. E porque você acha preferível que a casa seja um bem privado e não do Estado?
Só que não sou marxista puro
como eu disse, tenho muita influência de um lado pelos anarquistas e, do outro pelos fabianos.
E quanto à casa ser um bem privado, acabei respondendo acima...
Lerdinho, lerdinho, mas vou respondendo