Agora, sim, vou ler decentemente o que vocês escreveram - e responder de acordo.
As premissas são erradas. Um monopolio estatal irá produzir trabants.. a população iria esperar 3 anos por um carro, e o carro usado seria mais caro que o novo. Já foi feito esse teste meu caro.
Kajsar, você pode estar ignorando o Agnóstico, mas aqui ele foi na mosca... Isso foi feito na URSS e resultou em produtos de péssima qualidade, o exemplo típico é o trabant. Aliás, com raras exceções, sempre que o Estado compete com a iniciativa privada, ele perde de goleada... Melhor termos várias montadoras gigantes como temos nos países capitalistas do que uma ultramegasupergigante estatal. É o tipo de coisa que na teoria parece ótimo, mas na prática não dá certo.
A Iniciativa privada pode ter (e tem) seus problemas, mas é muito melhor do que o monopólio estatal, em média.
Lada e Skoda eram soviéticos. Mas teu argumento se mantém, ambos são duas bostas
De qualquer forma...
1. É típico do stalinismo, e não de todas as correntes do marxismo uma excessiva burocracia. O trotskismo (por exemplo) é especialmente avesso a ela, e é ela quem causa toda a demora e dor-de-cabeça quando você quer algo do Estado. Mas o stalinismo foi implantado e o trotskismo não.
2. Há diversos exemplos de estatais ineficientes, sim. Mas, dê uma olhada
nesta pesquisa.
Ela compara a eficiência do sistema de distribuição de água por meios públicos e privados no Brasil, e segundo a pesquisa, a distribuição estatal é um pouco mais eficiente que a privada.
Claro, não dá pra generalizar ("se pra distribuição de água é mais eficiente, pro resto também"), mas ao menos demonstra que
sim, iniciativa estatal pode competir no mesmo nível que a iniciativa privada. E se você tem um Estado controlado pela população (controle real, não "no papel" cof cof Brasil), com isso, você tem um ganho considerável do poder da população como um todo.
3. Boa parte da ineficiência soviética é histórica:
a. Vamos e venhamos, o Império Russo que precedeu a URSS não era nenhum símbolo de eficiência. A URSS herdou isso por questão cultural;
b. Mais uma vez, questão política influindo na economia. É necessário inteligência, conhecimento e capacidade para se opor a algo efetivamente. Quem Stalin expurgou, matou e mandou pra Sibéria? Justamente as pessoas que se opunham a ele efetivamente. Na prática, ele burrificou toda uma geração.
c. No caso dos outros países, isso era feito ou pela ditadura local, ou a mando da ditadura soviética. Vassalo é assim mesmo...
No caso brasileiro eu vejo muitos complicadores para implementar uma democracia direta, entre os quais estão a vasta superfície, a população muito grande e uma tremenda heterogeneidade cultural e intelectual. Isto poderia ser resolvido com a fragmentação do país em centenas a milhares de unidades político-administrativas, como as cidades-estado gregas, mas que não poderiam funcionar nos mesmos moldes das atuais unidades devido ao custo operacional elevadíssimo.
Concordo que há muitos complicadores. Mas a tecnologia pode ajudar - e muito - nesse ponto.
E você não precisa obter uma democracia 100% direta para haver já melhorias... se aplicada de forma gradual, mesmo no começo já seriam vistas diversas melhorias.
Uma alternativa seria aplicar apenas no nível municipal e não federal. O que você acha? Isso reduziria boa parte da heterogeinedade e diminuiria em muito os custos.
Aliás, quanto aos custos, eu preciso tomar vergonha na cara e os calcular... mas acho que é menor do que você imagina.
(Curiosamente, essa idéia de fragmentar o país em centenas de unidades é bem parecida com a minha de transformar o Brasil em uma federação de cidades-Estado...)
A analogia dos sovietes me parece um tanto quanto fraca, porque cidades e países são muito mais complexos de controlar do que uma fábrica, principalmente se for levada em considerações fatores que eram deconhecidos ou ignorados naquela época, como os ambientais.
É um pouco fraca, sim. Mas já seria algum avanço.
Quanto àquela sociedade dinamarquesa, do pouco que sei, me parece mais uma "bizarrice" do que um modelo capaz de ser replicável para uma escala maior, como um estado, sem mencionar o fato de que seus habitantes vivem integralmente das benesses produzidas tanto pelo estado dinamarquês como pelo sistema capitalista nativo.
Talvez possamos simplesmente ir repetindo o que eles fizeram e deu certo e ir aprendendo com os erros deles.
Christiania não é o paraíso na Terra, mas também não é o inferno...
Todos os casos de "monopólio econômico estatal" resultaram em "monopólio econômico da Nomenklatura". Sem nenhuma exceção. Somente este fato já é motivo suficiente para abandonar esta idéia clássica do Marxismo.
Isso porque todas as implementações foram feitas em base do stalinismo, que tem como pilar "centralizar, centralizar e centralizar": centraliza-se o poder na URSS, centraliza-se o controle nas mãos do núcleo do Partido, centraliza-se até o papel higiênico na casa de uns e não de outros
não é à toa que Stalin mandou fechar os sovietes... foi coerente com a ideologia dele de centralização, mas foi uma merda retardada fazer isso.
E quem vai definir o que é uso “coletivo” e o que é “privado”? O Estado?
Isso precisa ser definido de antemão pela população como um todo. E não só pelo Estado. Na minha opinião, o seguinte esquema:
* Público - bens de produção [fábricas, fazendas], recursos minerais, água, eletricidade, sistema de educação, bibliotecas...
* Privado - pra simplificar: moradia e tudo que a gente usa dentro dela
Note que embora uma casa possa ser considerada também como um bem de produção, eu pessoalmente acho prefirível que fique nas mãos de quem mora nela, e não do Estado. E se a gente quiser evitar um 1984, é de suma importância que haja acesso e armazenamento da informação não só por meios públicos, mas também privados.
As empresas estatais que “funcionam” (que são competitivas) estão sob a égide administrativa e econômica do sistema capitalista OU são anomalias subvencionadas pelo Tesouro Nacional de cada país.
E em condições normais de funcionamento, uma empresa capitalista é infinitamente mais eficiente do que uma equivalente estatal, em qualquer setor da economia onde o lucro seja possível.
Não necessariamente - vide na minha resposta pro Fabrício um exemplo contrário...
Os defeitos da “forma como ela foi implantada” são inerentes à propriedade estatal. Ou seja, eles são o efeito e não a causa do seu fracasso.
De qualquer modo eu pergunto: De qual forma ela poderia ter sido implantada para que seu sucesso fosse garantido?
Sucesso 100% garantido? Esqueça, isso não existe...
Mas algumas coisas que teriam no mínimo aumentado as chances de sucesso:
* Melhor preparo do proletariado e campesinato russos
antes da Revolução. Esse é um dos poucos erros que não remonta a Stalin, mas a Lênin. As coisas foram muito precipitadas, o que abriu espaço para o Partido depois usar essas duas classes como massa de manobra, e não ao contrário [o Partido ser um instrumento da população]. As duas classes precisavam ser
educadas, e não doutrinadas;
* O Exército
deve estar em controle popular. Quando isso não ocorre, dá merda (independentemente do sistema econômico);
* Minimização da burocracia;
* Maior liberdade de expressão;
* Se você tenta extinguir uma classe, ela
obviamente fará luta de classes. A forma como Stalin tentou proletarizar o campesinato não foi só brutal e sanguinolenta - foi imbecil. Com um pouco mais de calma, isso poderia ter sido feito sem mortes através de impostos gradualmente mais altos sobre o uso da terra agrícola, depois passar
no papel as terras agrícolas pra mão do Estado, pra daí, depois de [digamos] 50 anos, você ter produção agrícola estatal sem ter queda na produtividade. Lênin não fez a NEP [Nova Política Econômica] porque achou bonitinha, foi exatamente por causa disso. Queda da produtividade agrícola = menos comida na mesa = população faminta = população burra. Ninguém pensa direito de barriga vazia, e esse simples erro do Stalin custou não só zilhões de mortos, mas também toda a União Soviética;
* Maior independência dos países comunistas uns dos outros. Leste Europeu e Cuba se foderam por causa disso - dependiam demais da URSS tanto política como economicamente;
* Permanência dos sovietes como entidades econômicas e políticas e menor centralização do poder político nas mãos do Partido, ou maior inclusão de pessoas no Partido [o que o faria deixar de ser um Partido, mas tudo bem...]
* Maior poder nas províncias e cidades - menor poder na federação;
Tinha mais coisa. Não lembro agora.