Pessoal,
Segue uma análise que fiz do experimento de Libet. Gostaria dos comentários de vcs.
Abs
Felipe
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1 - O Experimento de Libet(Wikipédia)
1.1 Equipamentos
Para avaliar a relação entre o potencial de prontidão inconsciente e sentimentos subjetivos de vontade e ação, Libet necessitou de um método objetivo de marcar a experiência subjetiva consciente da vontade de executar uma ação no tempo, e depois comparar essas informações com dados de registro da atividade elétrica do cérebro durante este mesmo intervalo. Para isso, Libet necessitou de equipamentos especializados.
O primeiro deles foi o osciloscópio de raios catódicos, um instrumento tipicamente usado para o gráfico da amplitude e freqüência de sinais elétricos. Com alguns ajustes, entretanto, o osciloscópio pode ser feito para funcionar como um cronômetro: em vez de exibir uma série de ondas, a saída foi um único ponto que poderia ser feito para viajar em um movimento circular, similar aos movimentos de um segundo mão em torno de um relógio. Este timer foi ajustado para que o tempo que levou para o ponto de viajar entre os intervalos marcados no osciloscópio fosse de aproximadamente quarenta e três milésimos de segundo. Como a velocidade angular do ponto permanecia constante, qualquer mudança na distância poderia facilmente ser convertida em tempo gasto para percorrer essa distância.
Para monitorar a atividade cerebral durante o mesmo período, Libet utilizado um eletro-encefalograma (EEG). O EEG usa pequenos eletrodos colocados em vários pontos no couro cabeludo que medem a atividade neuronal no córtex, a parte exterior do cérebro, que está associado com maior potência. A transmissão de sinais elétricos em todas as regiões do córtex causas diferenças na tensão medida entre os eletrodos de EEG. Estas diferenças de tensão refletem mudanças na atividade neuronal em áreas específicas do córtex.
Para medir o tempo real do ato motor voluntário, um eletromiógrafo (EMG) registrou o movimento do músculo através de eletrodos na pele sobre o músculo do antebraço ativado. O tempo de EMG foi tomado como tempo zero em relação à qual todas os outros tempos foram calculados.
1.2 Metodologia
Pesquisadores que realizarem o experimento de Libet deverão pedir a cada participante que se sentem em uma mesa na frente do timer osciloscópio. Eles deverão fixar os eletrodos de EEG no couro cabeludo do participante, e, então, instruir os indivíduos para realizarem alguns pequenos e simples movimentos, como pressionar um botão, ou flexionar um dedo ou o pulso, dentro de um determinado período de tempo. O número de movimentos que os indivíduos deverão realizar neste intervalo de tempo não necessita ser limitado.
Durante o experimento, o indivíduo voltará a ser convidado a observar a posição do ponto no timer osciloscópio quando "ele / ela ficaram, pela primeira vez, ciente do desejo ou vontade de agir" (ensaios de controle com o equipamento de Libet demonstram uma confortável margem de erro de apenas -50 milissegundos). Pressionando o botão, também se registra a posição do ponto sobre o oscilador, desta vez por via electrónica. Ao comparar a hora marcada do botão de empurrar e da decisão consciente do sujeito para agir, os pesquisadores conseguirão calcular o tempo total do ensaio da vontade inicial do indivíduo através da ação resultante. Em média, cerca de duas centenas de milissegundos decorrem entre a primeira aparição de vontade consciente para pressionar o botão e o ato de pressioná-lo. A partir de 2008, o resultado próximo de uma decisão pode ser encontrada no estudo da atividade cerebral no córtex frontal e parietal até 7 segundos antes que o indivíduo tornava-se ciente da sua decisão [5].
Os pesquisadores também analisaram as gravações de EEG para cada ensaio em relação a cronologia da ação. Notou-se que a atividade do cérebro envolvida na iniciação da ação, centrada principalmente no córtex motor secundário, ocorreu, em média, cerca de cinco centenas de milissegundos antes do desejo em realizar o movimento, que terminou com o pressionar do botão. Ou seja, os pesquisadores registraram a atividade cerebral de da área motor, inconsciente, três milésimos de segundo antes dos indivíduos relatarem a primeira percepção consciente da vontade de agir. Em outras palavras, as decisões aparentemente consciente de agir foram precedidos por acúmulo de carga elétrica no cérebro, na área inconsciente(motora) - esse acúmulo veio a ser chamado potencial Bereitschaftspotential ou potencial de prontidão.
2 – Conclusões do Experimento(Wikipédia)
Os experimentos de Libet sugerem que os processos inconscientes do cérebro são os verdadeiros “iniciadores” dos atos volitivos e, o livre-arbítrio, portanto, não desempenha nenhum papel no seu início. Se o cérebro já tomou medidas para iniciar uma ação antes que nós estejamos cientes de vontade de realizá-la, o papel causal da consciência na vontade é totalmente eliminada.
Libet considera que vontade consciente é exercida sob a forma de "poder de veto" (às vezes chamado livre-não); Tornar-se consciente do movimento é necessário para permitir que o acúmulo inconsciente do potencial de prontidão possa ser “transformado” em um movimento. Enquanto a consciência não desempenha nenhum papel na instigação de atos volitivos, ele mantém um papel a desempenhar na forma de supressão ou recusa de determinados actos instigado pelo inconsciente. Segundo Libet, todo mundo já experimentou a retenção de realizar um desejo inconsciente. Uma vez que a experiência subjetiva da vontade consciente de agir precedeu a ação de apenas 200 milissegundos, isto deixa apenas a consciência 100-150 milissegundos para vetar uma ação (isto é porque o final de 50 milissegundos antes de um ato são ocupados pela ativação da medula neurônios motores do córtex motor primário, e a margem de erro é indicado por testes utilizando o oscilador também devem ser considerados).
A interpretação de Susan Blackmore's,, que é o senso comum, é "que a experiência consciente demora algum tempo a construir e é muito lenta para ser responsável por fazer as coisas acontecerem."
3 - Analise da Modelagem Utilizada para as Conclusões
Para a análise dos resultados do experimento e conclusões, foi considerado somente o momento da realização do experimento. Ou seja, a medição obtida nos momentos em que os movimentos eram realizados. Com isso, resumidamente, obtiveram a seguinte relação causal-temporal :
EXPERIMENTO
MEDIÇÃO EFEITO
CM → CC → MF
CM : centro motor;
CC : centro consciente;
MF: movimento físico
Com esta modelagem do problema, fica clara a não participação da consciência na realização do movimento. Porém, como o próprio Libet inferiu, ainda existe tempo para que o o movimento seja “bloqueado” pela consciência, o que resultaria, no que Libet denominou, Livre-Veto, uma espécie de livre arbítrio limitado.
Esta modelagem do problema gerou todo o debate em torno da questão de livre-arbítrio e consciência, sendo, inclusive, estas conclusões, consideradas evidências a favor da visão materialista da consciência e livre-arbítrio, visão esta que considera a consciência como um epifenômeno do cérebro, e tanto a consciência como o livre-arbítrio, meras ilusões.
A seguir, iremos revisitar o problema e propor uma modelagem mais abrangente para o mesmo, baseada não em suposições, mas em fatos que não foram considerados na análise do experimento.
5 – Remodelando o Problema
Analisando a cronologia do experimento, temos que existe um tempo anterior à medição realizada que, como mostraremos, é fundamental para a construção de qualquer interpretação com relação aos resultados deste experimento.
Este tempo anterior refere-se ao tempo em que os indivíduos são convidados a participar doe experimento, são orientados sobre o que fazer no experimento (ação) e decidem, conscientemente, a agir desta forma.
Este momento foi desconsiderado. Porém, é exatamente neste momento, que ocorre a tomada de decisão consciente, para realização das atividades de atenção sustentada, solicitadas no experimento.
Assim, a nova modelagem do problema ficaria conforme figura abaixo :
Antes Experimento(Medição) Efeito
IF → CC CM → CC → MF
Medindo a situação antes, muito provavelmente iremos detectar um "brilho" reluzente na área responsável por nossa consciência.
Neste novo modelo, temos que, antes da medição do experimento em si, os indivíduos são convocados para a realização do experimento, e instruídos a como proceder (IF). Com base nas informações e instruções (e isto é importante, pois neste momento, já se tem consciência do que se deve fazer), o indivíduo decide participar do experimento e fazer certos movimentos(CC) – isto é um fato. Especulo até mesmo que o indivíduo já visualize o experimento e a execução dos movimentos, quando recebe as instruções sobre o mesmo. Esta informação deve ser, de alguma maneira, passada para o centro motor(CM) – hipótese.
Deste momento, até a realização do experimento, considero que a decisão anteriormente tomada, ficou em estado de latência no sistema nervoso destes indivíduos até o momento do experimento, que também é conscientemente reconhecido pelos indivíduos – isto, também é um fato. Assim, neste modelo, iremos supor que este reconhecimento (ao estímulo) “alerta” novamente ao centro motor, sobre a realização do que foi anteriormente instruído/visualizado.
Na realização do experimento, temos uma situação de atenção sustentada, com o cérebro realizando movimentos que já estava consciente que deveria realizar e que já tinha decidido realizar. Ou seja, este comportamento de atividade com atenção sustentada só surgiu após o indivíduo decidir, conscientemente, participar do experimento. Após decidir que iria realizar alguns movimentos simples.
(Argumento Takta)Pode-se argumentar que, mesmo assim, ou seja, mesmo que uma ação potencial já estivesse instalada no cérebro a questão do “quando” este potencial se transformaria em ação ainda seria determinado pelo centro motor. Porém, não podemos nos esquecer de que, além desta ação potencial, o próprio Libet sugeriu o que ele chamou de Livre-Veto, ou seja, atividades nos centros motores que não se transformam em movimento, pois aparentemente, os indivíduos, conscientemente, decidiram não realizá-las. (Quantos de nós já não tivemos na eminência de fazer algo-um movimento físico, por exemplo, e decidimos parar).
Vale lembrar que o movimento físico em si, conforme medido no experimento, ou seja, a ação, só ocorre após o aparecimento do desejo consciente de se fazer algo, caso contrário a reconheceríamos como um ato-reflexo, e não um movimento consciente.
Ou seja, mesmo no caso onde o centro motor “assume” o comando, sendo ativado antes da vontade para a realização do movimento, a opção de não se fazer nada poderá bloquear a "ação" do centro motor, inibindo a realização física do movimento. Dessa forma, a consciência inicia e finaliza o processo de movimento físico: inicia, quando decide conscientemente fazer algo, quando planeja esta ação (no caso, quando decidiu participar e seguir as instruções do experimento) e finaliza, ao deixar ou não, em dado momento, que o "comando consciente" inicial, vindo agora do centro motor, seja concretizado em ação, movimento físico.
6 – Outro Experimento que Contraria as Conclusões de Libet(Fernanda)
Trevena e Miller realizaram um outro experimento, para testar novamente a questão de decisão consciente e livre-arbítrio. Nestes experimentos, eles incluíram condições controle em que o participante precisa decidir se ira ou não apertar o botão a cada tentativa, que é sinalizada por um tom auditivo.
Alguns sujeitos eram instruídos a apertar o botão cada vez que o tom era ouvido, já outros indivíduos eram instruídos a apertar o botão mais ou menos metade das vezes, mas eram livres para decidir em quais tentativas apertariam ou não o botão.
Temos, então, duas condições distintas: uma em que o sujeito toma uma decisão sobre apertar ou não o botão, e outra em que ele simplesmente aperta o botão toda vez que escuta o som(similar ao experimento de Libet). Qualquer conclusão do experimento se refere “apenas” a essa diferença entre uma condição em que o sujeito decide quando apertar o botão e uma condição em que ele não toma uma decisão a respeito.
Trevena e Miller chegaram à conclusão de que a atividade prévia observada por Libet (e outros estudos que chegavam a usar a marca de 7 segundos, inclusive, para a "decisão inconsciente do movimento") na verdade é uma atividade mais relacionada a processos de atenção sustentada, originados pelo fato de se estar realizando uma tarefa, e não exatamente pela “decisão consciente” de realizar um movimento.
6 - Conclusões
As conclusões do experimento de Libet são constantemente utilizadas para reforçar o paradigma materialista da consciência e livre-arbítrio, segundo o qual, em última análise, tanto a consciência como o livre arbítrio são ilusões, sendo esta a visão mais comum entre os neurocientistas atuais. Porém, como procurei mostrado neste artigo, o modelo utilizado para a análise dos resultados do experimento de Libet é falho, pois negligencia exatamente a etapa (fatos) em que uma decisão consciente é tomada.
Quando este momento de tomada de decisão é levado em consideração, como no experimento de Trevena e Miller, ou na modelagem proposta neste artigo, para análise do próprio experimento de Libet (que poderia sevir, também, para o grupo controle do experimento de Trevena e Miller), vimos que as conclusões são contrárias às conclusões originais.
Um questionamento que surge, diretamente deste artigo é: como a informação do centro consciente (a decisão tomada) é passada para o centro motor? Em que momento isto ocorre?
As pesquisas atuais estão indicando que a atividade “basal” do cérebro, responsável por cerca de 90% de toda a atividade cerebral e, que está sempre presente, pode ser a grande coordenadora das diferentes áreas do cérebro, assim como estar relacionada com a própria consciência. Creio que esta atividade é uma candidata para ser a ‘integradora” do centro motor e do cento consciente.
"Bibliografia"
http://www.consciousentities.com/?p=233http://en.wikipedia.org/wiki/Benjamin_Libetsciam - " A Energia Escura do Cérebro"