Autor Tópico: Revisitando o Experimento de Libet  (Lida 19077 vezes)

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Offline Feliperj

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Revisitando o Experimento de Libet
« Online: 01 de Março de 2011, 09:26:50 »
Pessoal,

Segue uma análise que fiz do experimento de Libet. Gostaria dos comentários de vcs.

Abs
Felipe
================================================================================================================================
1 - O Experimento de Libet(Wikipédia)

1.1 Equipamentos

Para avaliar a relação entre o potencial de prontidão inconsciente e sentimentos subjetivos de vontade e ação, Libet necessitou de um método objetivo de marcar a experiência subjetiva consciente da vontade de executar uma ação no tempo, e depois comparar essas informações com dados de registro da atividade elétrica do cérebro durante este mesmo intervalo. Para isso, Libet necessitou de equipamentos especializados.

O primeiro deles foi o osciloscópio de raios catódicos, um instrumento tipicamente usado para o gráfico da amplitude e freqüência de sinais elétricos. Com alguns ajustes, entretanto, o osciloscópio pode ser feito para funcionar como um cronômetro: em vez de exibir uma série de ondas, a saída foi um único ponto que poderia ser feito para viajar em um movimento circular, similar aos movimentos de um segundo mão em torno de um relógio. Este timer foi ajustado para que o tempo que levou para o ponto de viajar entre os intervalos marcados no osciloscópio fosse de aproximadamente quarenta e três milésimos de segundo. Como a velocidade angular do ponto permanecia constante, qualquer mudança na distância poderia facilmente ser convertida em tempo gasto para percorrer essa distância.

Para monitorar a atividade cerebral durante o mesmo período, Libet utilizado um eletro-encefalograma (EEG). O EEG usa pequenos eletrodos colocados em vários pontos no couro cabeludo que medem a atividade neuronal no córtex, a parte exterior do cérebro, que está associado com maior potência. A transmissão de sinais elétricos em todas as regiões do córtex causas diferenças na tensão medida entre os eletrodos de EEG. Estas diferenças de tensão refletem mudanças na atividade neuronal em áreas específicas do córtex.

Para medir o tempo real do ato motor voluntário, um eletromiógrafo (EMG) registrou o movimento do músculo através de eletrodos na pele sobre o músculo do antebraço ativado. O tempo de EMG foi tomado como tempo zero em relação à qual todas os outros tempos foram calculados.

1.2 Metodologia

Pesquisadores que realizarem o experimento de Libet deverão pedir a cada participante que se sentem em uma mesa na frente do timer osciloscópio. Eles deverão fixar os eletrodos de EEG no couro cabeludo do participante, e, então, instruir os indivíduos para realizarem alguns pequenos e simples movimentos, como pressionar um botão, ou flexionar um dedo ou o pulso, dentro de um determinado período de tempo. O número de movimentos que os indivíduos deverão realizar neste intervalo de tempo não necessita ser limitado.

Durante o experimento, o indivíduo voltará a ser convidado a observar a posição do ponto no timer osciloscópio quando "ele / ela ficaram, pela primeira vez, ciente do desejo ou vontade de agir" (ensaios de controle com o equipamento de Libet demonstram uma confortável margem de erro de apenas -50 milissegundos). Pressionando o botão, também se registra a posição do ponto sobre o oscilador, desta vez por via electrónica. Ao comparar a hora marcada do botão de empurrar e da decisão consciente do sujeito para agir, os pesquisadores conseguirão calcular o tempo total do ensaio da vontade inicial do indivíduo através da ação resultante. Em média, cerca de duas centenas de milissegundos decorrem entre a primeira aparição de vontade consciente para pressionar o botão e o ato de pressioná-lo. A partir de 2008, o resultado próximo de uma decisão pode ser encontrada no estudo da atividade cerebral no córtex frontal e parietal até 7 segundos antes que o indivíduo tornava-se ciente da sua decisão [5].

Os pesquisadores também analisaram as gravações de EEG para cada ensaio em relação a cronologia da ação. Notou-se que a atividade do cérebro envolvida na iniciação da ação, centrada principalmente no córtex motor secundário, ocorreu, em média, cerca de cinco centenas de milissegundos antes do desejo em realizar o movimento, que terminou com o pressionar do botão. Ou seja, os pesquisadores registraram a atividade cerebral de da área motor, inconsciente, três milésimos de segundo antes dos indivíduos relatarem a primeira percepção consciente da vontade de agir. Em outras palavras, as decisões aparentemente consciente de agir foram precedidos por acúmulo de carga elétrica no cérebro, na área inconsciente(motora) - esse acúmulo veio a ser chamado potencial Bereitschaftspotential ou potencial de prontidão.

2 – Conclusões do Experimento(Wikipédia)

Os experimentos de Libet sugerem que os processos inconscientes do cérebro são os verdadeiros “iniciadores” dos atos volitivos e, o livre-arbítrio, portanto, não desempenha nenhum papel no seu início. Se o cérebro já tomou medidas para iniciar uma ação antes que nós estejamos cientes de vontade de realizá-la, o papel causal da consciência na vontade é totalmente eliminada.

Libet considera que vontade consciente é exercida sob a forma de "poder de veto" (às vezes chamado livre-não); Tornar-se consciente do movimento é necessário para permitir que o acúmulo inconsciente do potencial de prontidão possa ser “transformado” em um movimento. Enquanto a consciência não desempenha nenhum papel na instigação de atos volitivos, ele mantém um papel a desempenhar na forma de supressão ou recusa de determinados actos instigado pelo inconsciente. Segundo Libet, todo mundo já experimentou a retenção de realizar um desejo inconsciente. Uma vez que a experiência subjetiva da vontade consciente de agir precedeu a ação de apenas 200 milissegundos, isto deixa apenas a consciência 100-150 milissegundos para vetar uma ação (isto é porque o final de 50 milissegundos antes de um ato são ocupados pela ativação da medula neurônios motores do córtex motor primário, e a margem de erro é indicado por testes utilizando o oscilador também devem ser considerados).

A interpretação de Susan Blackmore's,, que é o  senso comum, é "que a experiência consciente demora algum tempo a construir e é muito lenta para ser responsável por fazer as coisas acontecerem." 


3 - Analise da Modelagem Utilizada para as Conclusões

Para a análise dos resultados do experimento e conclusões, foi considerado somente o momento da realização do experimento. Ou seja, a medição obtida nos momentos em que os movimentos eram realizados. Com isso, resumidamente, obtiveram a seguinte relação causal-temporal :
                                                               EXPERIMENTO

                                                  MEDIÇÃO                  EFEITO

                                                   CM → CC         →          MF


                                            CM : centro motor;
                                            CC : centro consciente;
                                            MF: movimento físico

Com esta modelagem do problema, fica clara a não participação da consciência na realização do movimento. Porém, como o próprio Libet inferiu, ainda existe tempo para que o o movimento seja “bloqueado” pela consciência, o que resultaria, no que Libet denominou, Livre-Veto, uma espécie de livre arbítrio limitado.

Esta modelagem do problema gerou todo o debate em torno da questão de livre-arbítrio e consciência, sendo, inclusive, estas conclusões, consideradas evidências a favor da visão materialista da consciência e livre-arbítrio, visão esta que considera a consciência como um  epifenômeno do cérebro, e tanto a consciência como o livre-arbítrio, meras ilusões.

A seguir, iremos revisitar o problema e propor uma modelagem mais abrangente para o mesmo, baseada não em suposições, mas em fatos que não foram considerados na análise do experimento.




5 – Remodelando o Problema

Analisando a cronologia do experimento, temos que existe um tempo anterior à medição realizada que, como mostraremos, é fundamental para a construção de qualquer interpretação com relação aos resultados deste experimento.

Este tempo anterior refere-se ao tempo em que os indivíduos são convidados a participar doe experimento, são orientados sobre o que fazer no experimento (ação) e decidem, conscientemente, a agir desta forma.
 
Este momento foi desconsiderado. Porém, é exatamente neste momento, que ocorre a tomada de decisão consciente, para realização das atividades de atenção sustentada, solicitadas no experimento.

Assim, a nova modelagem do problema ficaria conforme figura abaixo :

                           Antes                   Experimento(Medição)                  Efeito
                         IF → CC                          CM  → CC                     →        MF
                                           
                         Medindo a situação antes, muito provavelmente iremos detectar um "brilho" reluzente na área         responsável por nossa consciência.


Neste novo modelo, temos que, antes da medição do experimento em si, os indivíduos são convocados para a realização do experimento, e instruídos a como proceder (IF). Com base nas informações e instruções (e isto é importante, pois neste momento, já se tem consciência do que se deve fazer), o indivíduo decide participar do experimento e fazer certos movimentos(CC) – isto é um fato. Especulo até mesmo que o indivíduo já visualize o experimento e a execução dos movimentos, quando recebe as instruções sobre o mesmo. Esta informação deve ser, de alguma maneira, passada para o centro motor(CM) – hipótese.

Deste momento, até a realização do experimento, considero que a decisão anteriormente tomada, ficou em estado de latência no sistema nervoso destes indivíduos até o momento do experimento, que também é conscientemente reconhecido pelos indivíduos – isto, também é um fato. Assim, neste modelo, iremos supor que este reconhecimento (ao estímulo) “alerta” novamente ao centro motor, sobre a realização do que foi anteriormente instruído/visualizado.

Na realização do experimento, temos uma situação de atenção sustentada, com o cérebro realizando movimentos que já estava consciente que deveria realizar e que já tinha decidido realizar. Ou seja, este comportamento de atividade com atenção sustentada só surgiu após o indivíduo decidir, conscientemente, participar do experimento. Após decidir que iria realizar alguns movimentos simples.
 
(Argumento Takta)Pode-se argumentar que, mesmo assim, ou seja, mesmo que uma ação potencial já estivesse instalada no cérebro a questão do “quando” este potencial se transformaria em ação ainda seria determinado pelo centro motor. Porém, não podemos nos esquecer de que, além desta ação potencial, o próprio Libet sugeriu o que ele chamou de Livre-Veto, ou seja, atividades nos centros motores que não se transformam em movimento, pois aparentemente, os indivíduos, conscientemente, decidiram não realizá-las. (Quantos de nós já não tivemos na eminência de fazer algo-um movimento físico, por exemplo, e decidimos parar).

Vale lembrar que o movimento físico em si, conforme medido no experimento, ou seja, a ação, só ocorre após o aparecimento do desejo consciente de se fazer algo, caso contrário a reconheceríamos como um ato-reflexo, e não um movimento consciente.

Ou seja, mesmo no caso onde o centro motor “assume” o comando, sendo ativado antes da vontade para a realização do movimento, a opção de não se fazer nada poderá bloquear a "ação" do centro motor, inibindo a realização física do movimento. Dessa forma, a consciência inicia e finaliza o processo de movimento físico: inicia, quando decide conscientemente fazer algo, quando planeja esta ação (no caso, quando decidiu participar e seguir as instruções do experimento)  e finaliza, ao deixar ou não, em dado momento, que o "comando consciente" inicial, vindo agora do centro motor, seja concretizado em ação, movimento físico.

6 – Outro Experimento que Contraria as Conclusões de Libet(Fernanda)

Trevena e Miller realizaram um outro experimento, para testar novamente a questão de decisão consciente e livre-arbítrio. Nestes experimentos, eles incluíram condições controle em que o participante precisa decidir se ira ou não apertar o botão a cada tentativa, que é sinalizada por um tom auditivo.

Alguns sujeitos eram instruídos a apertar o botão cada vez que o tom era ouvido, já outros indivíduos eram instruídos a apertar o botão mais ou menos metade das vezes, mas eram livres para decidir em quais tentativas apertariam ou não o botão.

Temos, então, duas condições distintas: uma em que o sujeito toma uma decisão sobre apertar ou não o botão, e outra em que ele simplesmente aperta o botão toda vez que escuta o som(similar ao experimento de Libet). Qualquer conclusão do experimento se refere “apenas” a essa diferença entre uma condição em que o sujeito decide quando apertar o botão e uma condição em que ele não toma uma decisão a respeito.

Trevena e Miller chegaram à conclusão de que a atividade prévia observada por Libet (e outros estudos que chegavam a usar a marca de 7 segundos, inclusive, para a "decisão inconsciente do movimento") na verdade é uma atividade mais relacionada a processos de atenção sustentada, originados pelo fato de se estar realizando uma tarefa, e não exatamente pela “decisão consciente” de realizar um movimento.


6 - Conclusões

As conclusões do experimento de Libet são constantemente utilizadas para reforçar o paradigma materialista da consciência e livre-arbítrio, segundo o qual, em última análise, tanto a consciência como o livre arbítrio são ilusões, sendo esta a visão mais comum entre os neurocientistas atuais. Porém, como procurei mostrado neste artigo, o modelo utilizado para a análise dos resultados do experimento de Libet é falho, pois negligencia exatamente a etapa (fatos) em que uma decisão consciente é tomada.

Quando este momento de tomada de decisão é levado em consideração, como no experimento de Trevena e Miller, ou na modelagem proposta neste artigo, para análise do próprio experimento de Libet (que poderia sevir, também, para o grupo controle do experimento de Trevena e Miller), vimos que as conclusões são contrárias às conclusões originais.

Um questionamento que surge, diretamente deste artigo é: como a informação do centro consciente (a decisão tomada) é passada para o centro motor? Em que momento isto ocorre?

As pesquisas atuais estão indicando que a atividade “basal” do cérebro, responsável por cerca de 90% de toda a atividade cerebral e, que está sempre presente, pode ser a grande coordenadora das diferentes áreas do cérebro, assim como estar relacionada com a própria consciência. Creio que esta atividade é uma candidata para ser a ‘integradora” do centro motor e do cento consciente.

"Bibliografia"
http://www.consciousentities.com/?p=233
http://en.wikipedia.org/wiki/Benjamin_Libet
sciam - " A Energia Escura do Cérebro"

Offline Dbohr

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Re: Revisitando o Experimento de Libet
« Resposta #1 Online: 01 de Março de 2011, 15:24:19 »
Interessante, não conhecia o experimento.

Quando eu comecei aqui no fCC tomei um certo "choque" ao ver que muita gente descontava o tal livre-arbítrio. Para ser franco, porém, sempre achei que era mais uma questão semântica do que outra coisa. Este experimento de Libet é o primeiro argumento concreto que vejo contra a definição usual de livre-arbítrio -- e vai ao encontro de questões interessantes dentro da patologia e criminalística, imagino. Porém, não posso deixar de imaginar que o "livre-não" não deixa de ser uma expressão da nossa vontade consciente e, portanto, do nosso livre-arbítrio redefinido.

Claro que aí sou eu a entrar na semântica :-)

Offline Feliperj

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Re: Revisitando o Experimento de Libet
« Resposta #2 Online: 01 de Março de 2011, 16:00:36 »
Ola Dbohr,

Este experimento fez a coisa ferver em sua época (acho que foi em 1980) e até hj. Com relação ao conceito de livre-arbítrio, creio que o mesmo é um pouco equivocado, pois nossa opções são sempre limitadas. Então, temos finitas possiblidade de escolha para nossas ações, o que o torna livre, porém dentro de um conjunto finito e, no final, restrito.

Com relação ao experimento em si, a minha crítica é com relação ao desenho do mesmo, que levou a interpretação, ao meu ver, equivocada. Só se preocuparam em fazer a medição na execução do mesmo, esquecendo-se que a fase anterior é importante para definição de estar ou não consciênte do que vai se fazer e decidir se irá fazê-lo ou nao (utilizando uma  analogia de um colega de lista meu, mas modificada : a consciência liga a televisão, o centro motor fica mandando sinal para a troca de canais, e a consciência, no final, decide qual canal irá assistir - ou seja, participa do início ao fim).

Considero que temos uma otimização para atividades de atenção sustentada, onde a consciência tem papel secundário. Porém, existem ações que são decorrentes de pré-planejamento. Nestes casos, a cosnciência e o livre-arbítrio estão a salvo, em minha opinião.

A pergunta que eu tenho é : como a informação de apertar o botão passa do centro consciente, para o centro motor ? Creio que a fase da instrução tem um papel crucial nisto, qdo tomamos ciência e visualisamos o que será feito.

Fica complicado acreditar que ao chegar perto de qqer coisa com botão, o centro motor comece a disparar repetidadmente para apertarmos esse botão ::)).

Abs
Felipe

Offline Dbohr

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Re: Revisitando o Experimento de Libet
« Resposta #3 Online: 01 de Março de 2011, 17:50:12 »
Pois é, um negócio que eu nunca entendi é a limitação que se faz ao conceito de livre-arbítrio. Por exemplo, é óbvio que eu não posso visitar a Lua amanhã por mais que eu queira. Mas isso não é livre-arbítrio, pô, é fantasia :-)

Agora, dentro das minhas possibilidades limitadas, sejam as ações disparadas por processos inconscientes ou não, em algum nível a minha consciência toma parte; logo, acho razoável chamar isso de livre-arbítrio.

Offline Moro

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Re: Revisitando o Experimento de Libet
« Resposta #4 Online: 01 de Março de 2011, 18:36:52 »
Sem dúvida e para qualquer fins práticos fora da masturbação mental voce esta correto.
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Re: Revisitando o Experimento de Libet
« Resposta #5 Online: 02 de Março de 2011, 10:09:36 »
Acho que se pode fazer uma objeção razoável se lembrarmos que a nossa consciência, nossa ética, valores morais etc. são condicionados ao funcionamento "normal" do cérebro. Qualquer alteração na química cerebral, seja ela induzida por abuso de substâncias, doenças degenerativas, ou por trauma físico pode alterar tudo aquilo que gostamos de afirmar sobre nós mesmos.

Offline Feliperj

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Re: Revisitando o Experimento de Libet
« Resposta #6 Online: 02 de Março de 2011, 11:18:00 »
Mas esta pessoa "com defeito", apesar de sua nova personalidade, terá livre-abitrio dentro de seu novo modo de pensar, de ver a vida.

Offline Feliperj

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Re: Revisitando o Experimento de Libet
« Resposta #7 Online: 02 de Março de 2011, 13:19:09 »
Creio que esta visão de livre arbítrio agrade muito ao pessoal da memética, pois possibilita a inversão interpretativa que fazem, isto é : a experiência seria uma "evidência" de que os memes usam o cérebro para operarem/multiplicarem, e não o contrário.

Abs
Felipe

Offline Moro

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Re: Revisitando o Experimento de Libet
« Resposta #8 Online: 02 de Março de 2011, 13:24:31 »
Acho que se pode fazer uma objeção razoável se lembrarmos que a nossa consciência, nossa ética, valores morais etc. são condicionados ao funcionamento "normal" do cérebro. Qualquer alteração na química cerebral, seja ela induzida por abuso de substâncias, doenças degenerativas, ou por trauma físico pode alterar tudo aquilo que gostamos de afirmar sobre nós mesmos.

Mas nosso cérebro é exatamente o eu. Caso ele esteja em mal funcionamento, o eu continua tomando a decisão. Alias, em alguma medida nosso cérebro sempre possui um mal funcionamento
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Offline Feliperj

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Re: Revisitando o Experimento de Libet
« Resposta #9 Online: 02 de Março de 2011, 13:27:23 »
Em alguns mais, em outros menos..rs

Offline Feliperj

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Re: Revisitando o Experimento de Libet
« Resposta #10 Online: 02 de Março de 2011, 13:30:02 »
Apenas uma discordância : o nosso cérebro não é o nosso  eu, assim como o computador não é o software. Dentro de uma visão materialista, o eu está mais para o processo que ocorre em nosso cérebro, decorrente da interação com o meio e de seus processamentos internos, dentro de uma visão dualista, o eu(consciência do eu, no caso) está mais para o software que foi "baixado" para a máquina.

Abs
Felipe

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Re: Revisitando o Experimento de Libet
« Resposta #11 Online: 02 de Março de 2011, 13:40:15 »
Para simplificar voce pode dizer que nosso cerebro se adapta e se modifica de acordo com as interações com o meio em que vive. Querer dizer que o cérebro não é o eu é gerar um monte de problema metafísico desnecessário.
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Offline Feliperj

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Re: Revisitando o Experimento de Libet
« Resposta #12 Online: 02 de Março de 2011, 16:56:35 »
A questão não é essa......O eu emerge (= não sabemos como. Explicação das lacunas, a famosa emergência) da dinâmica cerebral. Ele não está localizado em um lugar determinado do cérebro(tipo teatro cartesiano). Neste sentido o cérebro não é o eu, mas sua dinâmica e interação com o ambiente gera o eu.

abs
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Offline Luiz F.

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Re: Revisitando o Experimento de Libet
« Resposta #13 Online: 02 de Março de 2011, 17:21:31 »
E qual é a definição de EU?
"Você realmente não entende algo se não consegue explicá-lo para sua avó."
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Offline Moro

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Re: Revisitando o Experimento de Libet
« Resposta #14 Online: 02 de Março de 2011, 21:52:05 »
A questão não é essa......O eu emerge (= não sabemos como. Explicação das lacunas, a famosa emergência) da dinâmica cerebral. Ele não está localizado em um lugar determinado do cérebro(tipo teatro cartesiano). Neste sentido o cérebro não é o eu, mas sua dinâmica e interação com o ambiente gera o eu.

abs
Felipe

Cara juro que não consigo nem entender o problema. Eu sou uma besta metafísica, meu cérebro ignora qualquer metafísica..

Dinãmica no cérebro fica no cérebro. É óbvio que o meio em que o cérebro esta lhe fornece informações que fazem com que gere novas conexões e conhecimentos, o que muda suas características. E é óbvio que não está em um lugar específico, ele é todo ele.
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Offline Adriano

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Re: Revisitando o Experimento de Libet
« Resposta #15 Online: 02 de Março de 2011, 22:34:38 »
E qual é a definição de EU?
Eu vejo como uma característica de individuação mais marcante na atuação dos cérebros (indivíduos) humanos, apesar de acontecer em outras espécies mas com menor complexidade devido a limitação da linguagem e a consequente menor complexidade social em que atuam.
Princípio da descrença.        Nem o idealismo de Goswami e nem o relativismo de Vieira. Realismo monista.

Offline _tiago

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Re: Revisitando o Experimento de Libet
« Resposta #16 Online: 02 de Março de 2011, 23:31:10 »
O cérebro teria alguma função randômica, quando, por exemplo, pra escolher os 6 números da mega-sena entre 60? Penso que sim...
Meio do nada essa pergunta minha, mas é por causa dessa afirmação do Hume,
" ou nossas ações são determinadas, e nesse caso não somos responsáveis por elas, ou são resultado de eventos aleatórios, e nesse caso não somos responsáveis por elas.
E desse texto acima, que vai de encontro com um vídeo do Gigaview. Só que lá, consideraram 8 segundos ao invés de 7.

Livre-arbítrio pleno eu acho difícil, mas alguma coisa há!

Offline Moro

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Re: Revisitando o Experimento de Libet
« Resposta #17 Online: 02 de Março de 2011, 23:57:22 »
falsa dicotomia, não?

Nossas ações são determinadas e portanto somos responsáveis por elas
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Offline _tiago

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Re: Revisitando o Experimento de Libet
« Resposta #18 Online: 02 de Março de 2011, 23:59:37 »
Não é falsa dicotomia pois, em ambos os casos, ele afirma "que não somos responsáveis por nossas ações... Mas, ainda sim, acho que é um erro.

Offline Moro

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Re: Revisitando o Experimento de Libet
« Resposta #19 Online: 03 de Março de 2011, 00:10:09 »
a falsa dicotomia seria causada pelo "OU" na frase e não em uma diferenciação das conclusões.

Eu acho que existe uma mania de desassociar o "eu" do cérebro, daí vem essas bobajadas de problemas duros, dúvidas sobre livre-arbítrio, etc..
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Offline _tiago

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Re: Revisitando o Experimento de Libet
« Resposta #20 Online: 03 de Março de 2011, 00:17:44 »
a falsa dicotomia seria causada pelo "OU" na frase e não em uma diferenciação das conclusões.

Viajei... Li a sua afirmação sem pensar. :P

Offline Geotecton

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Re: Revisitando o Experimento de Libet
« Resposta #21 Online: 03 de Março de 2011, 00:26:50 »
Eu também acho que não importa que o "eu" não possa ser localizado em algum ponto específico do cérebro, pois não há como desassociar o "eu" do cérebro.

Em outras palavras: Sem cérebro, sem "eu".
Foto USGS

Offline Moro

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Re: Revisitando o Experimento de Libet
« Resposta #22 Online: 03 de Março de 2011, 00:28:09 »
e acabou-se o hard problem..
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"To claim that someone is not motivated by what they say is motivating them, means you know what motivates them better than they do."

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Offline Pregador

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Re: Revisitando o Experimento de Libet
« Resposta #23 Online: 03 de Março de 2011, 09:49:42 »
Eu também acho que não importa que o "eu" não possa ser localizado em algum ponto específico do cérebro, pois não há como desassociar o "eu" do cérebro.

Em outras palavras: Sem cérebro, sem "eu".

Será? e essas pessoas que tem vida vegetativa, em que o cérebro apenas controla o batimento cardíaco, funcionamento de pulmões, etc? Neste caso, aparentemente, não há "eu".

Em minha opinião, um chute total, a consciência é como um "cluster", depende de um conjunto, não existindo uma única "peça" onde esteja o "eu".

Não acho também que esta discussão seja masturbação mental, pois se isso fosse desvendado e explicado, a criação de inteligência artificial seria mais viável.
"O crime é contagioso. Se o governo quebra a lei, o povo passa a menosprezar a lei". (Lois D. Brandeis).

Offline Feliperj

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Re: Revisitando o Experimento de Libet
« Resposta #24 Online: 03 de Março de 2011, 11:01:55 »
"Sem cérebro, sem eu...acabou-se o hard problem."

Acho que não, pois o hard problem é explicar como o cérebro gera o eu, a consciência.

O que faz com que "impulsos elétricos" gerem a consciência.

Vamos imaginar que conseguíssemos construir uma rede de fios tão complexa qto o cérebro, representando exatamente as interconexões e a estrutura cerebral,  e fizessemos passar corrente elétrica da mesma maneira que ocorre no cérebro, seguindo os mesmos padrões cerebrais de ativação: Seria este sistema cosnciente ?

Eu tenho uma opinião, na verdade uma aposta: acho que na abordagem da neurociência atual, não conseguiremos dar este salto(de impulsos, pra consciência), sem recorrer a emergência para o preenchimento de lacunas(não sabemos como, mas acontece - eplicação das lacunas::)). Chuto que o desenvolvimento da teoria da informação será crucial para esta empreitada. E o sucesso nela nos dará uma nova visão sobre nosso universo.

Com relação ao livre-arbítrio, creio que o importante é separarmos ações de atenção sustentadas e atos reflexos, de ações planejadas(as açõe que são determinadas....mas por nós mesmos).
 
Abs
Felipe

 

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