Ola Felipe e a todos !
Eu estava pesquisando sobre Libet e achei este topico.
Vou colocar aqui, para apreciação, um artigo que escrevi em 2001:
==============================
O Livre-Arbitrio segundo Jocax
================================
Joao Carlos Holland de Barcellos Marco/2001
-Introducao
O Livre Arbitrio (LA) eh um conceito abstrato e interessante.
A importancia do LA relaciona-se nao somente aa etica, via
responsabilidade, mas tambem ao nosso proprio sentimento de
que estamos no controle de nossas acoes ( seriam estes
sentimentos simples alucinacoes? ).
Costuma se dizer que se temos o LA somos responsaveis pelos
nossos atos e, portanto, passiveis de sermos julgados e punidos
por eles. Eh pre-requisito do LA a liberdade de escolha ou de
acao pois, sem esta liberdade, nao existe possibilidade de
escolha e portanto o LA nao poderia se manifestar.
O LA costuma estar associado aa consciencia, e a ausencia
da ultima implicaria a falta da primeira.
Como o conceito de LA esta intrinsecamente relacionado aa
liberdade, como condicao necessaria, entao o estudo da
liberdade seria uma possivel forma de delimitar ou
mesmo refutar a existencia do LA.
O Filosofo David Hume dizia sobre o LA :
"Ou nossas acaoes sao predeterminadas, caso em que nao
somos responsaveis por elas, ou bem resultam de eventos
aleatorios, caso em que tambem nao somos responsaveis
por elas".
E como consequencia estariamos livres das penas que nos
sao impostas pelo julgamento de nossos atos ?
Nao necessariamente, pois poderiamos arguir que nossa
sociedade, ou o tribunal, tambem estaria predeterminado
a fazer o julgamento e a condenacao ou, da mesma forma,
que fenomenos aleatorios poderiam levar a cabo o julgamento
e a pena.
Quero dizer que a inexistencia do LA nao absolvera o reu
de sua pena, pois as razoes que levaram o reu a praticar o
ato poderiam ser as mesmas que levariam a sociedade a
imputar-lhe a pena.
-O Universo
Antes do advento da mecanica quantica pensava-se que de posse
das leis fisicas e do estado inicial do universo poderia se
predizer todo o comportamento futuro do universo. Isto eh
o universo era intrinsecamente determinista : o Universo
Laplaciano.
Devemos observar que neste modelo tudo ja estaria previamente
determinado a acontecer pois as leis fisicas, que acreditava-se
vedadeiras na epoca, eram deterministas e bastaria um hipotetico
super-computador para que pudessemos prever o futuro de tudo,
e ateh mesmo o que cada ser humano estaria pensando em qualquer
instante. Como disse o Joao Miranda neste contexto :"As coisas
sao como sao porque nao poderiam ser diferentes".
Este determinismo implicaria na existencia do destino.
O destino seria entao a predeterminacao total, nao soh da vida
das pessoas mas tambem de todo o universo.
Eh importante notar que mesmo que nao dispusessemos de uma
maquina capaz de realizar tais operacoes, esta impossibilidade
pratica nao significaria a existencia da liberdade e sim
que esta, filosoficamente, nao existiria.
Isto quer dizer que no modelo de Universo Laplaciano a
liberdade eh uma ilusao e o LA definitivamente nao poderia
existir.
- Indeterminismo
Com o advento da mecanica quantica (MQ) e o Principio da
Incerteza ( Heisemberg-1926), que estabelece a impossibilidade
da determinacao da posicao e velocidade de uma particula num dado
instante com precisao arbitraria, todo o modelo do Universo
determinista cai por terra e o universo volta a nao ser
determinista. Poderiamos pensar que a propria MQ poderia
ser refutada no futuro e o universo pudesse voltar a ser
determinista mas jocax mostrou ( 2001) , usando o teorema
da incompletude de godel, que, independente das leis
fisicas vigentes, o universo sempre sera nao determinista.
Se o LA nao pode mais ser refutado pela impossibilidade do
determinismo universal, isso nao significa que ele exista.
Se eh impossivel determinar o estado futuro do universo
nao significa que nao possamos predeterminar a orbita da
lua. Embora as leis fisicas nao sejam 'perfeitas' no sentido classico,
isso nao significa que nao sejam uteis ou
que nao se viabilize previsoes sobre o estado futuro de
pequenos sistemas com precisao suficiente.
O LA esta associado a mente e a consciencia que sao
produtos do processamento cerebral. Mas como o cerebro eh
um sistema fisico poderemos razoar que pelo menos parte de
nosso LA possa ser predeterminado por certas condicoes de
contorno ou condicoes iniciais de modo que nao poderiamos
escapar de certas escolhas.
E aqui entra um ponto importante : Embora sentimos e pensamos
que temos LA para uma livre escolha de opcoes isso na verdade
pode nao passar de uma ilusao : "a ilusao do livre arbitrio".
Se tivessemos o conhecimento do funcionamento do cerebro
e o que nele esta armazenado nele, poderiamos prever quais reacoes
seriam tomadas (outputs) para um dado estimulo (input).
Mas estas previsoes estariam limitadas pela precisao teorica
de nossas leis fisicas e, quanto mais dependente de fenomenos
quanticos fossem os processos cerebrais menor seria nossa
certeza na previsibilidade do comportamento.
Uma pergunta poderia surgir naturalmente : Se o determinismo
implica nao refutacao do LA, seu inverso, a aleatoriedade,
deveria implicar da sua existencia?
Embora o determinismo total implique na refutacao do LA,
seu oposto, a aleatoriedade, nao implica necessariamente
na existencia dele. A aleatoriedade deveria sim implicar
na falta de controle sobre nossas escolhas.
- Conclusoes
E finalmente chegamos num ponto importante: A capacidade
do cerebro de escolher pode ser decomposta em duas partes:
Uma parte determinada pela sucessao de causas e efeitos
governadas em ultima instancia pelas leis da fisica.
Outra parte, de menor peso, seria devido a aleatoriedade
inerente aos processos eletroquimicos ou quanticos da
maquinaria cerebral.
Como parte macroscopica do processo determinista do processamento
cerebral podemos citar as conexoes neuronais predeterminadas
geneticamente que por sua vez sintetizam nossos impulsos instintivos e
as regras epigeneticas.
As informacoes aleatorias que impressionam nossos orgaos
sensoriais nao podem ser creditados aa parte aleatoria do
processo cerebral uma vez que esta nao faz parte de nosso ser.
Podemos concluir entao que o livre arbitrio nao eh uma entidade
real e sim um pseudo-conceito. Uma revisao deste conceito
deveria propor que devemos encarar nossa capacidade de escolha como
fruto da complexidade neurologica cerebral, em grande parte
pre-determinada geneticamente, como dos dados nele armazenados no
decorrer da vida.
Se o LA nao existe no sentido estrito do termo isso nao significa que
nao somos responsaveis pelos nossos atos.
Se o cerebro pode aprender e armazenar conceitos ele pode ser
programado para usa-los, entende-los, e saber que pode existir
uma punicao para determinadas escolhas e recompensa para outras.
Fazer estimativas de recompensa com base nas possibilidades
existentes eh possuir o mesmo LA que um computador enxadrista
tem para escolher entre um lance e outro.
[]s
jocax
===============================
Extraido de:
http://groups.yahoo.com/group/Genismo/message/211