A manchete poderia ser "Evangélicos tentam no Congresso retirar privilégios concedidos a gays".
O Bolsonaro só faz o personagem dele como o Enéas fazia.
Não acho que dá pra chamar de privilégios. A lei só garante que eles sejam tratados como as demais pessoas. Tá certo que o ideal não é ficar criando uma lei pra cada minoria discriminada, mas já que parece o único jeito de as pessoas entenderem, que seja feito...
Sabe o que mais me incomoda nesta barreira evengélica à PLC122/06? É que como projeto de lei complementar ela não cria nennum novo ordenamento jurídico, só altera alguns já existentes: a CLT, a lei 7716 e (se não me engano) o CPP? E sabe em que pontos estas leis seriam mudadas? Em pontos que JÁ PRIVILEGIAM/PROTEGEM os religiosos.
Por exemplo: o artigo primeiro da lei 7716 que diz "Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional" passaria a dizer "Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião, procedência nacional gênero ou opção sexual".
Ou seja: todos os "direitos" que os homossexuais passariam a ter e que os religiosos consideram abusivos já são aplicados em benefício dos próprios religiosos e, olhe só que dilícia, eles não consideram abusivos quando se aplicam a eles.
Dito isto, eu concordo que o projeto de lei contenha muito mais privilegismo que igualitarismo: por exemplo, uma das alterações aumentaria a pena para quem, em uma discussão qualquer com um homossexual, acabe o xingando e usando o termo "bicha" no xingamento.
Eu já acho bizarro que pela legislação brasileira alguém possa ser preso por ter xingado outra pessoa em uma discussão. Acho bizarro porque pela universalidade e naturalidade do ato de xingar e pelo caráter subjetivo da ofensa, o que acontece é que todo mundo se xinga, várias vezes na vida, e que a existência da proibição acaba não tendo o sentido de coibir nenhum dano, mas acaba sendo uma ferramenta de abuso...
Sei que não estou conseguindo explicar, vou tentar: imaginem um estádio de futebol, um dos maiores do Brasil, lotado, jogão da Libertadores, 2000 torcedores argentinos, o resto brasileiros, os brasileiros cantam músicas que chamam os argentinos de viados, cornos, filhos da puta... os argentinos também capricham nas palabrotas... o juiz entra e a mãe dele é elogiada antes mesmo que ele dê o primeiro apito.... o gandula filho da puta que está prendendo a bola aprende umas novas expressões em castellano... de repente um argentino chama um brasileiro de macaquito e:
http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas/2005/04/14/ult59u92796.jhtm. É ridículo isto.
Pior ainda é que a ofensa verbal (que é subjetiva, portanto não pode ser pesada) contra determinados grupos seja considerada pior do que a outros: pela lei discutir com um evangélico e chingá-lo de crente retardado dá no até 3 anos de cadeia. Discutir com um gordo e chamá-lo de baleia fofa ou com um homossexual e chamá-lo de viado arrombado dá no máximo 6 meses.
O paradoxal é que talvez criar PLCs como a 122 seja a única forma de igualitarizar a história, ficar complementando até que o trambolho fique assim "Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião, procedência nacional gênero, opção sexual, biotipo, uso de barba, corte de cabelo, cor do esmalte, preferência futebolística, preferência gastronômica, opção alcolista (e mais duas páginas) "