Forças militares paralelas já existiram, na Europa e Japão medievais, por exemplo, e o resultado disso foi guerras locais.
Nos períodos medievais eram forças aristocráticas (não tinham clientes, mas servos/vassalos, e sua propriedade fora adquirida com base na monarquia e não com base no uso e/ou trabalho)
Você acha POSSÍVEL adquirir e manter propriedades sem o uso (ou a ameaça de uso) da força, na ausência de um poder central com monopólio legal sobre a mesma?
Não só acho possível, como já ocorreu em diversos períodos da história. Como eu já falei, ocorreu no velho oeste, Islândia (ausência de poder central exercendo a coercibilidade, e não anarquia), etc...
Em nenhum momento foi necessário usar a força? Ou seja, ninguém atacou ou violou propriedade de ninguém?
O uso da força, pelas forças de mercado (ou melhor, "mercado branco"), só foram usadas para defesa da propriedade. Os grupos criminosos não fazem parte do mercado (ou melhor, fazem parte do mercado vermelho, ou mercado criminoso).
E você disse ao longo do post que eram necessárias empresas de segurança para proteger as pessoas, ou seja, que é necessário o uso da força para garantir os direitos individuais.
Não confunda defesa com ataque e dissuasão com coerção. Não é necessário iniciar agressão ou coagir para proteger vidas e suas respectivas propriedades, mas sim uma boa capacidade dissuasória e uma boa defesa.
eu estava querendo dizer sobre as forças militares de mercado. Basicamente, seria uma empresa de segurança que venderia seu serviço para um indivíduo e/ou comunidade.
Isso só funcionaria se estas "empresas" não tiverem NENHUMA condição de impôr livremente a sua vontade, sem nenhuma outra força maior limitando-as (Ex: o estado).
Como ocorreu no velho oeste, se uma empresa/grupo tentasse exercer sua força arbitrária a outrem, outras empresas/grupos poderiam tentar socorrer o último.
Depende de quem seja o socorrido e de todas as forças envolvidas na disputa. Ao que eu saiba, o velho Oeste estava sujeito a intervenção de tropas da União sempre que necessário, e isso contava (e muito) nas ações das pessoas e grupos.
No Velho Oeste pré-Destino Manifesto, as tropas da União não tinham jurisdição para fazer isso (é claro, houve exceções). Então os fazendeiros, mineiros e comerciantes passaram a contratar/reunir forças não estatais de defesa.
http://mises.org/journals/jls/3_1/3_1_2.pdfQuando uma "empresa" agride pessoas ou grupos, a troco de quê outro grupo viria socorrer estes últimos?
1°-Legitimidade. A empresa X poderia adquirir bens de outro grupo sem sofrer retaliação, pois a grande maioria das pessoas seria a favor da ação.
2°-Prevenção. Se as empresas criminosas crescerem muito, não irá tardar para que elas ataquem os clientes da empresa X.
Dinheiro não seria, pois a "empresa" que faz o socorro poderia obter mais facilmente saqueando pessoas desprotegidas ao invés de enfrentar outro grupo armado em troca de uma parcela pequena da riqueza do socorrido.
Isso só poderia ocorrer aonde há mais e/ou melhores empresas de agressão do que de proteção. Como a tendência natural é o contrário, pois a grande maioria das pessoas iriam negociar com empresas de proteção, ou seja, haverá uma predominância da última. Como haverá mais empresas de segurança, será bem mais difícil iniciar agressão, pois seria custoso (seria beem difícil adquirir um financiamento) e sujeito à retaliação.
Aliás, ela (empresa de segurança) não poderia adquirir apenas uma pequena parcela do socorrido, mas também poderia subtrair os "custos operacionais" da empresa agressora.
Na ausência completa de um poder maior e sua ameaça pairando na região* (como a União lá no Velho Oeste), as únicas garantias que alguém teria para ser socorrido seriam ligações de cunho pessoal que tivesse com grupos armados.
Como eu disse, a União não se fazia presente no "velho velho oeste"(principalmente antes da conquista do Texas).
* O Velho Oeste ainda tinha um outro poder pairando sobre todos, talvez até mais forte do que o estatal: o espiritual.
A influência da religião cristã protestante na vida e nas ações de todos era profunda.
Ok.
Há uma maior probabilidade do Estado impôr livremente sua vontade (aliás, ele impõe) do que empresas/grupos de mercado (aliás, nunca, até aonde eu sei, conseguiram impor).
Empresas e grupos de mercado não impoem à força a sua vontade porque existe o estado para impedí-las.
Eu estava falando de empresas dentro de uma sociedade que formou um mercado de segurança não-estatal. Como o Velho Oeste, Cataluña Revolucionária, tribos ameríndias como Comanche e Hopi, direito marítimo em muitos períodos, etc...
Na ausência do estado (anarquia), qualquer grupo armado pode impôr livremente a sua vontade sobre qualquer localidade, com extensão e duração de seu domínio sendo proporcional à sua força.
Ou seja, o maior perigo da anarquia é a formação do Estado.

Falando sério, na história isso nunca aconteceu, até onde eu sei.
O que impediria que as empresas iniciassem agressão contra alguém?
Seria muito custoso iniciar agressão com que já possui uma empresa,
Depende da força da "empresa" alvo. E supondo que os "donos de empresas" (chefes de bandos, warlords, senhores feudais, etc) sejam uma minoria, a esmagadora maioria da população (que "não teria empresa") estaria subordinada à vontade dos mesmos.
Dificilmente um conglomerado de empresas conseguiriam tanto poder, a ponto de se tornar um Estado.
Na anarquia, essas "empresas" fariam o papel do estado, e absolutamente nada impede que elas cresçam e atinjam o tamanho normal de um estado.
Como eu já falei diversas vezes, outras empresas impediriam isso.
Há dois modo disso ocorrer:
-Crescimento pelo mercado. Ex: "X empresa/grupo de segurança faz um grande sucesso e conquista 90% dos consumidores."
Para isso, ela teria que derrotar ou absorver (via alianças ou fusões) todos os grupos armados concorrentes.
Sim
Problemas: Economicamente, muito dificilmente uma empresa conseguiria atingir algo próximo de tal patamar. Há problemas como a alocação de recursos e informação, atender um vasto número de "necessidades pessoais", etc...
Naturalmente, ela irá cobrar taxas* das pessoas que viverem em seus domínios ou sob sua proteção. isso não seria problema.
Não, eu quis dizer que o problema de uma empresa atingir altos níveis de desenvolvimento é o mesmo das economias estatizadas, indicadas por Hayek e Mises.
*Cobrar taxas seria a melhor das situações. A depender das idiossincracias dos grupos dominantes e da conjuntura, poderia haver até servidão coletiva.
Como em muitos Estados de nossa história?
Duvido muito que possa se estabelecer um monopólio natural de segurança.
É só olhar para o mundo e ver.
Me fale pelo menos um monopólio de segurança que tenha advindo da competição de mercado.
-Crescimento pela coerção. Ex:"X empresa/grupo consegue um grande número de consumidores através da coerção". Isso ocorreu na formação de muitos Estados, como quando o clã dos normandos invadiu a Inglaterra.
Problemas: Dificilmente uma empresas conseguiria tal proeza em um ambiente com livre competição.
Basta apenas ela derrotar ou absorver (via alianças e fusões) todos os seus concorrentes. Ponto.
Toda a dificuldade reside apenas nisso.
Sim, para o Uruguai dominar o mundo basta apenas ela derrotar ou absorver (via alianças e fusões) todos os demais países. Simples.
que buscariam diminuir a concorrência e adquirir algum lucro detendo essa companhia agressora.
Não precisa ser uma companhia "agressora" pra ser atacada. Na verdade, o que determinará a disposição em atacar é a FORÇA (ou melhor, a confiança na própria força) da "empresa" que resolver fazê-lo.
Companhias agressoras estariam bem mais propensas a serem atacadas. Por vários motivos, que vão do receio das outras empresas de serem atacadas até a legitimidade que é dada para a empresa que atacar a agressora.
Grupos agressores normalmente são mais fortes (para se dar ao luxo de fazer ofensivas, é necessário ter a retaguarda protegida e mais recursos). Os demais grupos só atacarão a mesma com sucesso se conseguirem forjar uma aliança.
Grupos agressores medem seus ataques baseados em expectativas futuras, não são, necessariamente, mais ricos/fortes. Os grupos de defesa terão, certamente, mais consumidores e maior legitimidade, não vejo como eles podem, necessariamente, serem mais pobres/fracos.
É bem provável que estes bandos se unam em alianças ou federações. No longo prazo, existe uma tendência de reunificação de todas as milícias existentes no território, recriando um estado.
Federações/alianças poderiam ser formadas para repelir os agressores e a formação do Estado.
As federações/alianças já seriam estados na prática. Você fala do "estado" como se fosse uma coisa externa que aparece ameaçando todos, e todos se unem para combater.
Acho que não. Concordo com a afirmação de Locke e Hobbes, que o Estado é a entidade que detém o monopólio da agressão/coerção (logo, divirjo da noção de Estado Civil de Rousseau).
Federações/aliança seriam apenas federações/alianças. A partir do momento que elas passarem a iniciar agressão de maneira monopolística elas serão forças estatais. Do contrário, serão apenas forças voluntárias que mantém um contrato social.
O estado na verdade é a própria união interna quando consolidada de forma permanente.
Errado. O Estado é a entidade que detém o monopólio da agressão/coerção. A união interna em torno de um contrato social formam sociedades civis, como na Cataluña revolucionária e colônias anarquistas.
Aliás, isso é o mais provável, já que a grande maioria da população iria preferir se aliar aos não-agressores.
A população em geral não teria muita escolha. O máximo que poderiam fazer é TENTAR migrar para territórios controlados por grupos menos opressores.
Ou poderiam contratar uma empresa de segurança, como ocorreu nas sociedades sem Estado.

É claro que pode surgir da população líderes que organizem grupos para derrubarem as "empresas" que lhe dominam e criarem um estado mais livre. Mas isso ocorre pouco. Geralmente são os "senhores da guerra" e suas disputas que determinam os rumos.
Empresas dominando são Estados. A derrubada delas para conseguir liberdade é anarquia.
Fora que uma empresa que prestasse ajuda para um criminoso sofreria ostracismo comercial.
Se os clientes conseguirem* fugir, com todos os seus bens, para longe das garras dessa "empresa"....talvez.
*Ou quiserem, ou for mais conveniente.
Isso só poderia ocorrer em cidades com protetores pré-definidos, já que a empresa teria uma zona de atuação fixa.
É inevitável a delimitação de territórios e zonas de atuação para grupos armados.
Na ausência dessa delimitação, a quantidade de atritos e choques seria insuportável, elas se digladiariam até uma delas ser derrotada ou abandonar o território.
Protetores não escaramuçam entre si, apenas protegem.

Ademais, isso não impede que outra empresa entre na tal zona de atuação.
Se outra "empresa" entrar, leva chumbo.
Se ela for mais forte, não.
No geral, as empresas de segurança teriam uma estrutura comercial mais próxima das companhias de telefonia do que das companhias elétricas/de água.
Na verdade, seria mais próximo das companhias de fornecimento de drogas.
Como se, ao menos, elas fossem uniformes.
Para que estas convivam entrelaçadas em territórios diferentes (como as companhias de telefone), é preciso que haja uma força maior dominando o local e impondo a ordem.
Ou não.
Para não prolongar muito a discussão e isso ficar (mais) cansativo, vou resumir a discussão em alguns pontos.
-Esta discussão está se baseando em suposições, meras suposições, distópicas e utópicas. Seria melhor, para haver uma discussão mais objetiva, se focar em exemplos históricos, como o supracitado Velho Oeste americano, Cataluña Revolucionária, etc...
Simples, houve exemplos anárquicos com amplo grau de paz? Se sim, refuta a suposição que anarquia leva, necessariamente, para a opressão. Se não, a tal proposição continua válida.
http://mises.org/journals/jls/3_1/3_1_2.pdf-Até agora, não vi um argumento que mostre que ter o Estado é, necessariamente, melhor que a ausência dele. O máximo que foi dito que a anarquia levaria a formação de Estados.