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Como a ciência funciona?

Indução
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10 (34.5%)
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3 (10.3%)

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Autor Tópico: Como a ciência funciona?  (Lida 13686 vezes)

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Offline gilberto

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Re: Como a ciência funciona?
« Resposta #50 Online: 01 de Setembro de 2011, 20:59:08 »
Eu não to falando especificamente daqui do fórum (apesar de já ter criticado citarem o trabalho dele aqui), mas vejo que muita gente dá muito valor ao trabalho dele. Claro que ele merece um devido reconhecimento por ser um trabalho importante na sua área (fundamentos e estrutura da matemática, acho).
Mas eu critico a importância do trabalho dele como extensão para outros trabalhos ou discussões científicas. Digo isso pq pelo o que eu sei, o trabalho dele não tem basicamente nenhuma aplicação, não gerou quase nada de trabalhos derivados, e principalmente não proporcionou nenhum progresso para qualquer setor da ciência. Talvez no futuro isso possa ocorrer, mas até agora ... nada (que eu saiba).

Outros trabalhos e cientistas que já renderam muito mais não são tão "cultuados" em discussões amadoras, como Hebb (primeiro a propor um mecanismo de aprendizado e plasticidade neural), Turing, Newman (propôs a arquitetura hardware-software).

Offline Feynman

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Re: Como a ciência funciona?
« Resposta #51 Online: 01 de Setembro de 2011, 21:29:20 »
Pelo pouquíssimo que sei, toda importância do principal teorema de Godel reside em ter trazido um gole de humildade nos então quase divinos círculos matemáticos positivistas de então. Ao limitar as possibilidades almejadas por David Hilbert, parece-me que Goedel instituiu um norte que ajudou a escolher melhor os problemas a se pensar a partir de então. Então, mais uma vez, não avaliemos este trabalho por sua aplicação utilitária. A propósito, e seria legal que tivéssemos um matemático no fórum, acredito que se produz muito ferramental útil, na matemática, ao se demonstrar as coisas mais abstratas, como no patente caso do teorema de Fermat, resolvido pelo Andrew Wiles.

Ah, faltou o John Bardeen na sua listinha de exemplos.   :-)
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Offline gilberto

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Re: Como a ciência funciona?
« Resposta #52 Online: 01 de Setembro de 2011, 22:17:29 »
Tb gostaria de conversar com matematicos sobre o assunto. Agora, nem um "NORTE" para o assunto eu suponho que o trabalho de Godel chegue, pois como já disse, não ouço falar de desdobramentos ou de uso efetivo do Teorema dele para outros trabalhos.

Eu como amador, me parece que o trabalho dele é um interessante indício de limitações da matemática formal. É realmente um trabalho importante pois foi o primeiro nesse sentido, acho. Mas não me parece que seja a ser um "NORTE" na área.

Mas claro, eu não critico o trabalho dele, mas o uso do trabalho dele para tentar justificar qualquer tipo de argumentação que possa ser associada com idéias genéricas de imcompleteza, dubiedade, dualidade, etc. Vejo que é uma tentativa de impressionar com um ar de "mistério científico" desconhecido.
« Última modificação: 01 de Setembro de 2011, 22:22:19 por gilberto »

Offline Geotecton

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Re: Como a ciência funciona?
« Resposta #53 Online: 02 de Setembro de 2011, 00:02:21 »
[...]
Mas claro, eu não critico o trabalho dele, mas o uso do trabalho dele para tentar justificar qualquer tipo de argumentação que possa ser associada com idéias genéricas de imcompleteza, dubiedade, dualidade, etc. Vejo que é uma tentativa de impressionar com um ar de "mistério científico" desconhecido.

Ou seja, fazer um uso (abusivo) fora do contexto em que foi elaborado.

Concordo.
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Offline Adriano

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Re: Como a ciência funciona?
« Resposta #54 Online: 02 de Setembro de 2011, 02:13:16 »
Pela minhas leituras nessa área, posso afirmar sem medo de errar que pelo menos 90% dos defensores e simpatizantes do anarquismo epistemológico possuem alguma ligação com alguma área considerada fajuta na ciência (na melhor das hipóteses) ou com alguma pseudociência. O próprio Feyerabend, na parte final de "Contra o Método", deixa escapar alguma "solidariedade" pelo criacionismo.

Eu postei o último capítulo de "Contra o Método" em um tópico, não lembro qual.


É neste aqui: ../forum/topic=22839.250.html#msg527763
Curiosamente, logo após a exposição de divergências de opiniões entre você e o Feynman sobre Feyerabend, como volta a se repetir.

Momentos memoráveis, foi um tópico iniciado pelo cientista e que terminou com Contra o Método  :lol:
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Offline DDV

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Re: Como a ciência funciona?
« Resposta #55 Online: 02 de Setembro de 2011, 10:35:26 »
Eu concordo em parte com a posição do Feynman: que o Feyerabend não é nenhum louco e tem ótimas credenciais, todos sabem. O que discordo fortemente é com suas idéias sobre a ciência. O simples fato dele dizer que a ciência não é em nada melhor do que o mito já mostra que suas idéias não correspondem aos fatos reais.

Considerar uma idéia baboseira não é considerar o autor louco ou negar sua erudição ou mesmo genialidade. Platão foi um gênio, mas o platonismo é uma merda (em minha opinião). Pode-se dizer algo parecido com Marx.

Por último, é normal e inevitável que em meio a todas as suas idéias, alguma contribuição verdadeira apareça. É loucura pensar o contrário e negar 100% de sua obra. Mas pode-se dizer sem medo que a maior parte dela não corresponde à realidade, e a sua proposta para a ciência a destruiria completamente (como se ele se importasse...). Não precisa ser um filósofo de renome para refutá-lo: um Gunnar Anderson da vida já resolve.

 


Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

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Offline DDV

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Re: Como a ciência funciona?
« Resposta #56 Online: 02 de Setembro de 2011, 10:39:18 »
Pela minhas leituras nessa área, posso afirmar sem medo de errar que pelo menos 90% dos defensores e simpatizantes do anarquismo epistemológico possuem alguma ligação com alguma área considerada fajuta na ciência (na melhor das hipóteses) ou com alguma pseudociência. O próprio Feyerabend, na parte final de "Contra o Método", deixa escapar alguma "solidariedade" pelo criacionismo.

Eu postei o último capítulo de "Contra o Método" em um tópico, não lembro qual.
Proponho uma situação mais extrema.
Vamos supor que 100% dos defensores do anarquismo epistemológico sejam criacionistas, Terra-Jovem, dos que acham que Jesus existiu mesmo e que vai voltar assim que terminar de comer o sanduíche dele.

Isso diria algo a respeito do anarquismo epistemológico em si? Não.

Portanto, se isso foi um argumento... FAIL.

E concordo com praticamente tudo que o Feynman disse acima.

Não foi um argumento contra o anarquismo epistemológico: ele sozinho se destrói. O que eu disse foi apenas uma curiosidade interessante: a de que quase todas as pessoas que defendem o anarquismo epistemológico possuem alguma ligação com alguma área fajuta da ciência ou com alguma pseudociência.

E não é de se espantar. Uma tese que afirme que a ciência não tem nada melhor do que a magia e que "tudo vale" é a perfeição da conveniência para pseudociências.
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Offline Feynman

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Re: Como a ciência funciona?
« Resposta #57 Online: 02 de Setembro de 2011, 11:29:33 »
...o uso do trabalho dele para tentar justificar qualquer tipo de argumentação que possa ser associada com idéias genéricas de imcompleteza, dubiedade, dualidade, etc. Vejo que é uma tentativa de impressionar com um ar de "mistério científico" desconhecido.

Aqui estamos totalmente de acordo. Godel acaba sendo um prato cheio para as "imposturas intelectuais".
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Offline Feynman

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Re: Como a ciência funciona?
« Resposta #58 Online: 02 de Setembro de 2011, 11:45:07 »
Uma tese que afirme que a ciência não tem nada melhor do que a magia e que "tudo vale" é a perfeição da conveniência para pseudociências.

Concordo totalmente. Mas porque os que convenientemente o adotam em geral não conhecem o devido contexto, que acabaria matando sua própria pseudociência, ao apontar que a ciência trabalhando no "tudo vale", ainda assim, DEVE GERAR RESULTADOS para se firmar, para fazer "tornar forte o argumento fraco[...], garantindo assim o movimento do todo" (1977, p.40-41). E, neste processo, todos sabemos que a ciência sairá sempre na frente.

Ainda, lembre-se que o conceito de incomensurabilidade foi por muito tempo criticado em Kuhn, quando ELE MESMO já tinha superado isso, com sua noção de "matrizes disciplinares", termo com uma re-significação mais branda de sua tese inicial sobre a incomensurabilidade das teorias. Do mesmo modo, Feyerabend cresceu em pontos específicos, embora seu ponto de vista inicial (como a posição de não-destaque da ciência em relação a outras formas de conhecimento) tenha continuado a ser criticado mesmo quando ele já tinha re-significado melhor estas coisas, como bem podes perceber em minha citação lá em cima. Mais um trecho de edições mais atuais, que mostra isso:


"... filosofias simples, sejam de um tipo dogmático ou mais liberal,
têm seus limites. Não há soluções gerais. Um alargado liberalismo
na definição de fato pode ter graves conseqüências, enquanto faz
um excelente sentido a idéia de que a verdade é ocultada e mesmo
pervertida pelos processos destinados a estabelecê-la. Eu,
conseqüentemente, novamente alerto o leitor quanto a que não
tenho a intenção de substituir princípios velhos e dogmáticos por
outros novos e mais libertários . Por exemplo, não sou nem um
populista para quem o apelo ao povo é a base de todo o
conhecimento, nem um relativista para quem não há verdades
enquanto tais , mas apenas verdades para este ou aquele grupo e /
ou indivíduo. Tudo o que digo é que os não-especialistas
freqüentemente sabem mais que os especialistas e devem,
conseqüentemente, ser consultados, e que os profetas da verdade
(incluindo aqueles que fazem uso de argumentos), mais freqüente
que raramente, são levados por uma visão que colide com os
próprios eventos que essa visão deve explorar". (Feyerabend, 1993
: p.XIII)


Edit: só acrescentei o  "que mostra isso".
« Última modificação: 02 de Setembro de 2011, 15:27:12 por Feynman »
"Poetas dizem que a Ciência tira toda a beleza das estrelas - meros globos de átomos de gases. Eu também posso ver estrelas em uma noite limpa e sentí-las. Mas eu vejo mais ou menos que eles?" - Richard Feynman

Offline Eremita

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Re: Como a ciência funciona?
« Resposta #59 Online: 02 de Setembro de 2011, 22:59:44 »
Não foi um argumento contra o anarquismo epistemológico: ele sozinho se destrói. O que eu disse foi apenas uma curiosidade interessante: a de que quase todas as pessoas que defendem o anarquismo epistemológico possuem alguma ligação com alguma área fajuta da ciência ou com alguma pseudociência.

E não é de se espantar. Uma tese que afirme que a ciência não tem nada melhor do que a magia e que "tudo vale" é a perfeição da conveniência para pseudociências.
Realmente, você precisa ler de novo o Feyrabend. Ou eu - já que não lembro direito do que ele disse...

Mas até onde eu lembro, o que ele disse:
*NÃO foi que vale "TUDO", e sim que MUITAS coisas valem. Ou seja, que não existe UM método científico, mas vários, e a gente usa o que funcionar pra aquilo que está se estudando
*também NÃO foi que ciência e mágica funcionam igualmente. Você fala isso provavelmente por causa do treco das demarcações; dizer "não existe fronteira entre ciência e pseudociência" não é o mesmo que dizer "ciência e pseudociência são a mesma coisa".
(Esse problema das demarcações, pra mim, é suficientemente resolvido usando uma lógica quantitativa e não qualitativa - algo pode ser 0% ciência, 23,789634% ciência ou 100% ciência.)

Enfim, eu considero o anarquismo epistemológico como um avanço em relação aos positivistas e a Popper como descrição da ciência; entretanto, não defendo o método científico que ele propõe - mesmo porque ele não propõe nenhum.
Latebra optima insania est.

Offline Cientista

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Re: Como a ciência funciona?
« Resposta #60 Online: 03 de Setembro de 2011, 01:49:28 »
Ai ai ai, Feynman... faça-me o favor! "Todas menos a primeira"? "O indutivismo, na ciência, já está morto."? ("*na ciência*"??) Isso vindo de você que mostra-se sempre tão prudente me faz pensar que deve ser para mim; para me alfinetar. Mas é claro que NENHUMA delas, com exceção da primeira, com as devidas ressalvas que já expus mais de uma vez aqui. Primeiro, porque ciência não é um mecanismo para ter um modo de funcionamento, para ter um funcionamento descritível. Segundo, porque não é esta a pergunta que tem qualquer valor, mas 'como funciona a mente de um cientista?'. Esta sim é a pergunta válida e que tem alguma boa chance de ser respondida em breve. O fenômeno do pensamento científico e a degeneração linguística tão comum e frequente da filosofia -- o pensamento mágico -- devem ser passíveis de descrição em não muito tempo de agora.

Contudo, Feynman, você é ótimo. Digo-o porque o sei; percebo as pessoas e suas naturezas com facilidade. És um humano díspar, apesar de teres se deixado enredar na teia dos filosofismos vazios. Mas sei que precisaste, sei que era o teu caminho possível, viável e seguiste por ele corretamente, como devias. Agora, tens a chance de olhar em volta. Embora tenha me causado algumas decepções pequenas e uma maior no outro tópico sobre o LHC, não pretendo desistir de você tão fácil. E como valorizo suas avalições, estou certo de que, ao contrário do que sugere o DDV, o Feyerabend não deve ter dito que ciência e mito têm o mesmo valor ou mesma veracidade, confiabilidade, mas que *supostos métodos* tanto para uma quanto para outra coisa têm  mesmo valor, a mesma confiabilidade. Porque métodos são doutrinas e doutrinas exigem doutrinados e ciência é ausência de doutrina. Os mitos são a própria doutrina em si, porque além dela nada mais há. E há mitos de que há doutrinas para ciência. Não há nada além desses também, porque ciência não mantém relação alguma com nada disso; ciência é só o que faz o cientista. Eu sei bem que isto não é o bastante para quem quer mais, para quem quer o que não pode obter, o que conduz, invariavelmente, à ilusão (na verdade, a ilusão é prévia nesse processo); como a ilusão do crente que não aceita a morte e inventa alguma utopia para fugir dessa realidade. Mas não há resposta para "como a ciência funciona", lamento. Assim como também não há "vida após a morte".

Toda investigação em "busca" de algo deve culminar, em algum momento, no confronto com a necessidade da aceitação de alguma realidade. E este remate demanda algo que é inerente à natureza do investigador. Não há método para isso, não há método para integridade intelectual, para honestidade. É no porvir após este remate que o humano comum pode ter a chance de discernir, não exatamente a diferença entre ciência e mito, mas entre cientista e místico, pensador científico e pensador mágico, filosófico. Mas há um problema crucial que não pode ser desprezado: infelizmente, o início da "busca" também demanda a mesma característica única. O humano comum jamais torna-se capaz de perceber a diferença entre ciência e mito pois para este esta diferença, em essência, não existe. O que existe para ele são as utilidades e os ídolos, sejam deuses, sacerdotes, cientistas ou inventores, tudo é sempre mágica. Tudo o que importa é saber qual mágica funciona ou funciona melhor e, ainda mais que isso, qual mágico é o melhor. Nesta situação encontram-se também todos os estudantes doutrinados em "ciência" (na verdade, em filosofias espúrias). São doutrinados em o que pensar e não em como pensar, se bem que como pensar jamais é uma doutrina e não sei se pode ser ensinado na nossa presente conjuntura.

Por ora, reitero que não desisti de você Feynman. Meu tempo livre tem sido muito escasso mas acho que você vale um pouco dele. Você me fez ter que tirar do fundo do baú um velho livro de Einstein que tenho aqui em que o próprio faz declarações de muitos dos seus pensamentos. Vou me espremer um pouco em meu tempo para reler e encontrar os trechos que contextualizam corretamente o que ele quis, de fato, dizer com aquela frase que insistes em repetir. E que história é essa de que o programa de Bohr progrediu sobre elementos inconsistentes, Feynman? Ai ai ai mais uma vez, Feynman. Será que VOCÊ já não foi capaz de captar que ele era o realista e não Einstein? De onde provém essa suposta "inconsistência" que reivindicas? Seria de um suposto não realismo, Feynman? Você também ainda acredita que mesmo não havendo variáveis ocultas não há determinismo em escala quântica? Além disso, procurarei prestar outros esclarecimentos. Também darei continuidade aos nossos assuntos atrasados.

Até a próxima.
« Última modificação: 03 de Setembro de 2011, 01:57:23 por Cientista »

Offline Feynman

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Re: Como a ciência funciona?
« Resposta #61 Online: 03 de Setembro de 2011, 13:41:18 »
O Cientista-mor dá as caras! Sempre imagino em que altura irás aparecer, para fazer valer sua visão singular do funcionamento da ciência. E, para minha quase surpresa, seus pontos de vista são extremamente próximos aos do referido epistemólogo (ou detrator deste). Algumas frases suas como "não há resposta para "como a ciência funciona"" são totalmente feyerabendianas! Você, Cientista, tem naturalmente um faro para coisas fedorentas no ramo da cognição assintoticamente objetiva (pois que nunca é, de fato), e pena, pena mesmo, que não tenhas dado o devido valor a pessoas que tiveram este faro muito antes de você e, pelo tempo investido nestas questões, resolveram confusões que você agora faz. Como mesmo me dissestes, talvez seja este o seu caminho possível. Mas continuemos, portanto... ao longo da semana terei mais tempo para investir aqui.
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Offline Feynman

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Re: Como a ciência funciona?
« Resposta #62 Online: 05 de Setembro de 2011, 09:47:02 »
...nem um "NORTE" para o assunto eu suponho que o trabalho de Godel chegue, pois como já disse, não ouço falar de desdobramentos ou de uso efetivo do Teorema dele para outros trabalhos.

Refiro-me a um norte neste exato contexto, ou seja, o de limitar tentativas pueris de se levar provas matemáticas a um nível absoluto de consistência e completude. Referi-me, ainda, às ferramentas produzidas no processo, e não exatamente o teorema em si. Citei anteriormente aquele teorema de Fermat, para ilustrar isso, ou seja, não é propriamente a prova per si que é uma potencial fonte de desdobramentos (embora certamente possa ser o caso), e sim o ferramental produzido para tal. Repito, estou totalmente de acordo com seu alerta referente às "imposturas intelectuais" que o adotam como elemento de argumentação.
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Offline Feynman

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Re: Como a ciência funciona?
« Resposta #63 Online: 05 de Setembro de 2011, 10:10:08 »
O humano comum jamais torna-se capaz de perceber a diferença entre ciência e mito pois para este esta diferença, em essência, não existe. O que existe para ele são as utilidades e os ídolos, sejam deuses, sacerdotes, cientistas ou inventores, tudo é sempre mágica. Tudo o que importa é saber qual mágica funciona ou funciona melhor e, ainda mais que isso, qual mágico é o melhor. Nesta situação encontram-se também todos os estudantes doutrinados em "ciência" (na verdade, em filosofias espúrias).

Muy bueno, é muito do que penso, e parte de eu respeitá-lo, assim como respeito Feyerabend. Mais uma vez, demonstras um perfil epistemológico de outros farejadores antes de ti.


E que história é essa de que o programa de Bohr progrediu sobre elementos inconsistentes, Feynman?[...]De onde provém essa suposta "inconsistência" que reivindicas?

Calma, menino. Sempre com o machado por sobre os ombros, não? (embora não manifeste isto tanto quanto você, também costumo proceder assim). Ora, apenas o faço no contexto muitas vezes inevitável de elementos inconsistentes provisórios, mas que permitem o progresso ainda assim. Eu poderia transcrever alguns trechos mais relevantes de um artigo aqui, mas considero pertinente e adequado um leitura do mesmo em sua devida narrativa, para além de minhas citações potencialmente depauperantes de um todo mais conciso, para aumentar os subsunçores de nossa conversa:
http://www.fsc.ufsc.br/cbef/port/20-3/artpdf/a2.pdf
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Offline Irracionalista

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Re: Como a ciência funciona?
« Resposta #64 Online: 07 de Setembro de 2011, 14:41:57 »
Invertendo um pouco o tópico, e talvez levando a algo onde presumo que haja menos discordância:

Como a Ciência não funciona? Que tipo de fatores (sejam eles mentais, como enfatiza o Cientista e o seu arquétipo salvador ubermenschiano do "Cientista", sejam sociais, individuais ou metodológicos) fazem com que o desenvolvimento científico não ocorra?
"Make Money, Not War."

Offline Cientista

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Re: Como a ciência funciona?
« Resposta #65 Online: 07 de Setembro de 2011, 23:05:08 »
Na verdade, Irracionalista, nem mesmo essa inversão permite resposta. A questão que vejo como pertinente seria, no caso, quando, como e, principalmente, por que (quando se trata da mente humana, essa terceira questão existe!) houve o retrocesso, isto é, o retorno ao filosofismo prebaconiano e o vilipêndio da indução. Observa-se que, como ciência é algo que se vive antes de ser construída, então, como uma excessão plena de ressalvas, apenas o primeiro aqui apontado como expoente metodológico, chegou próximo do que seria viver ciência (e não por acaso...); todos os outros, de acordo com meu conhecimento, não tiveram destaque científico (CIENTÍFICO). Falaram (e tanto; tagarelaram mesmo) sobre algo que, na realidade, nunca chegaram a conhecer realmente. Tinham problemas estritamente pessoais com a questão e criaram formalizações espúrias para supostas metodologias científicas e obtiveram sucesso por um fenômeno típico de um processo muito comum, que podemos observar em qualquer religião: os seguidores padecem dos mesmos problemas pessoais e encontram naquelas formalizações um oásis de fuga de si mesmos. Quando, como e *por que* a indução "passou a não ser mais suficiente"? De novo? Eis a questão.

Já falei aqui antes sobre a semelhança hierárquica que há entre, de um lado, indução e dedução e, de outro, catolicismo e protestantismo (sim, comparo indução, aqui, ao catolicismo; já disse mais de uma vez que pensadores científicos não induzem por formalização, no máximo, o fazem, se o fazem, espontaneamente por intrínseca natureza cognitiva mas indução é a única via fisicamente possível para um pensador não científico produzir algo que se possa chamar ciência). O protestantismo, simplesmente, não existe sem o catolicismo o que não faz seus seguidores arrefecerem tamanha típica presunção.

Offline Cientista

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Re: Como a ciência funciona?
« Resposta #66 Online: 07 de Setembro de 2011, 23:31:12 »
Quanto a você, Feynman, sim, sempre com o machado em prontidão. E, nesse caso, sinto tanto, mas terei que descê-lo a muito mais que g. Passei rápido a vista sobre as 24 páginas fazendo força para manter o machado ao alto, mas está pesando demais; vou ter que descê-lo violentamente. Não se preocupe, não vai doer nada. Você não vai nem sentir...

Mas, pelo santo Proteus, é isso que tens para a "contrarrefutação"?

Eu vou fazer uma simplificação bem sintética (como não me é de costume) porque me estalou que isso não ficou absolutamente transparente ainda. Claro que eu terei que expandir depois (como me é de costume) mas, fundamentalmente, sua possibilidade de contraponto a mim, resume-se no seguinte: você tem que evidenciar para mim que existe um fantasma na máquina criando teorizações e que não há apenas uma máquina, com uma arbitrável fronteira sistêmica interagindo com o ambiente.

Este trabalho que você apresentou, até filosoficamente, é extremamente tendencioso, desrespeitoso e medíocre. Eivado de dramas e complexos pessoais do autor. Vou lê-lo mais atentamente para destacar os pontos mais absurdos (se isto for possível!). De pronto, posso ressaltar que "ideia luminosa de estados estacionários"?, SANTO!!!!...         ...mas vamos com calma.

Offline Feynman

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Re: Como a ciência funciona?
« Resposta #67 Online: 08 de Setembro de 2011, 12:25:42 »
Bem Cientista, só deixando claro que, caso venhas a querer ver sangue ao sentar seu machado (que não é o de Assis, mas bem poderia ter castrado Alves), este certamente não será o meu. Ou acreditas  ingenuamente que sempre me coloco no centro de minhas próprias argumentações? Sei bem onde está meu centro de massa, e te garanto que ele está longe desta conversa. Mas, isto posto, guardo apenas sentimentos de simpatia em relação a algumas idéias que, embora sempre possam cair por terra, divertem-me enquanto a queda não vem (a queda é uma coisa boa, inclusive... se devidamente inevitável, como bens sabe em relação à evolução dos conceitos científicos). E, entre estes sentimentos, está o essencial do posto ali, no referido artigo.

Sabe, vou lançar mão de uma falácia agora, uma de minhas preferidas (que, como falácia, não afirma nada peremptoriamente de forma justa, mas é potencialmente ilustrativa): o apelo à autoridade. Sabe, deves bem conhecer o autor daquele. Pois bem, ele é mestre em física pelo  Instituto de Física "Gleb Wataghin", e doutor pelo Instituto de Física Teórica da ETH, sim, lá mesmo onde Einstein estudou. Some-se a isso sua vasta experiência na área (http://lattes.cnpq.br/5357464861909269), e temos uma situação que me leva, infelizmente, a duvidar totalmente de SEU Know How (embora desejoso, sinceramente, de eu estar errado) para chamar seu trabalho de medíocre [EDIT: chamar este trabalho de medíocre].

Repito mais uma vez novamente de novo, meu centro de massa não está aqui (afinal nem sou feyerabendiano). E seu machado não irá me acertar, embora certamente possa me instruir. Então que me seja didático e palatável, permitindo-me uma prazerosa massagem para endireitar minha coluna para então, quem sabe, usar seus argumentos como referência, na próxima vez que me disserem que a ciência pode progredir sobre elementos inconsistentes. Aguardo.
« Última modificação: 08 de Setembro de 2011, 12:30:02 por Feynman »
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« Resposta #68 Online: 15 de Setembro de 2011, 17:27:45 »
A propósito, não confundamos atos ubíquos a toda perscrutação, e sistema filosófico denotado pelos mesmos. Naturalmente nos valemos da indução (nos moldes indicados em meu primeiro post neste tópico). Mas o indutivismo, que propus estar morto, é algo distinto. É um sistema filosófico de elementos incipientes de boa intenção, mas já devidamente superados. Dito da mesma de outra forma, o empirismo ingênuo já foi devidamente enterrado. O que não significa que não sejamos empiristas em um sentido latu sensu, não denotando um sistema filosófico que o adota como elemento de decisão peremptória a respeito de teorias.
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Re: Como a ciência funciona?
« Resposta #69 Online: 18 de Setembro de 2011, 14:51:50 »
DDV - escreveu:

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Considerar uma idéia baboseira não é considerar o autor louco ou negar sua erudição ou mesmo genialidade. Platão foi um gênio, mas o platonismo é uma merda (em minha opinião). Pode-se dizer algo parecido com Marx.

Claro,,, na sua opinião... :)

artur
Vamos a ver se é desta vez que eu acerto, na compreensão do sistema.

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Offline Adriano

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Re: Como a ciência funciona?
« Resposta #70 Online: 18 de Setembro de 2011, 14:57:40 »
Popper muito foi muito influenciado pelo platonismo.
Mas também a ideologia do merdismo é também muito interessante   :)
Princípio da descrença.        Nem o idealismo de Goswami e nem o relativismo de Vieira. Realismo monista.

Offline lusitano

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Re: Como a ciência funciona?
« Resposta #71 Online: 18 de Setembro de 2011, 15:29:25 »
Feynman - escreveu:

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de : The Dark Adonis

Não há a menor garantia que a ciência continue "funcionando".

Assim como não há garantias de que o Sol nascerá amanhã. Mas ele nasce. Inexoravelmente.

Já se passaram mais ou menos trezentos anos, depois que um filósofo eminente (David Hume) enunciou algo muito semelhante, como uma dúvida razoável a propôr, tal & qual você faz agora... Na sua opnião, que hipóteses plausíveis, existem para o Sol colapsar dentro dos próximos segundos, ou explodir numa supernova, por exemplo? :|

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Offline lusitano

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Re: Como a ciência funciona?
« Resposta #72 Online: 18 de Setembro de 2011, 15:39:20 »

Adriano - escreveu:

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Popper muito foi muito influenciado pelo platonismo.

Mas também a ideologia do merdismo é também muito interessante  :)

Tão interessante - que você considera que perdeu imenso tempo - a estudar projecção de consciência... :idea:

artur
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Offline Adriano

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Re: Como a ciência funciona?
« Resposta #73 Online: 18 de Setembro de 2011, 15:56:06 »
Feynman - escreveu:

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de : The Dark Adonis

Não há a menor garantia que a ciência continue "funcionando".

Assim como não há garantias de que o Sol nascerá amanhã. Mas ele nasce. Inexoravelmente.

Já se passaram mais ou menos trezentos anos, depois que um filósofo eminente (David Hume) enunciou algo muito semelhante, como uma dúvida razoável a propôr, tal & qual você faz agora... Na sua opnião, que hipóteses plausíveis, existem para o Sol colapsar dentro dos próximos segundos, ou explodir numa supernova, por exemplo? :|

artur
Um problema da física é querer ser uma teoria de tudo. Assim pretendem que tudo faz parte do universo físico. Mas isso é devido a apropriação da cosmologia pela física, que tem a astronomia como base. Esta é desenvolvida através da tecnologia necessária para sondar o espaço sideral. Assim como ocorreu com a invenção dos telescópios e as respectivas lentes.


Adriano - escreveu:

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Popper muito foi muito influenciado pelo platonismo.

Mas também a ideologia do merdismo é também muito interessante  :)

Tão interessante - que você considera que perdeu imenso tempo - a estudar projecção de consciência... :idea:

artur
É que eu relacionei a minha piora psiquiátrica com a consciênciologia. Mas sei que não tem muito a ver  :?
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Offline TMAG

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Re: Como a ciência funciona?
« Resposta #74 Online: 18 de Setembro de 2011, 22:42:08 »
Porque todos os tópicos que o Lusitano posta invariavelmente acabam se degringolando para discussões surreais e completamente desprovidas de sentido?

EDIT: Não que isso seja necessariamente ruim.
« Última modificação: 18 de Setembro de 2011, 22:47:04 por Telefonista Mágico da Arquidiocese Galáctica »
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