Autor Tópico: Avaliando a habilidade científica de pensar  (Lida 96328 vezes)

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Offline DDV

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Re: Avaliando a habilidade científica de pensar
« Resposta #250 Online: 30 de Maio de 2010, 11:54:40 »
Como o tópico se desenvolveu devido ao engano já mostrado, parece que ele se encerrou com a apresentação desse engano. Pararam de postar.  :lol:
Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

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Offline Geotecton

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Re: Avaliando a habilidade científica de pensar
« Resposta #251 Online: 30 de Maio de 2010, 12:05:49 »
Como o tópico se desenvolveu devido ao engano já mostrado, parece que ele se encerrou com a apresentação desse engano. Pararam de postar.  :lol:

Não provoque o Cientista! :biglol:
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Offline Tex Willer

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Re: Avaliando a habilidade científica de pensar
« Resposta #252 Online: 30 de Maio de 2010, 15:16:35 »
Tex, primeiro vamos ao disparate, por você cometido, que mencionei:
corpos de diferentes densidades caindo em velocidades diferentes. E não é "só" a pena.
Mas é uma 'pena' que diga coisas assim para passar vergonha. Corpos de *diferentes* densidades caem com velocidades *iguais* (imersos no mesmo meio fluido) *e de forma (seguem uma trajetória) igual*: duas esferas volumetricamente iguais, uma de ósmio e outra de... isopor. Corpos de *iguais* densidades caem com velocidades *diferentes* (imersos no mesmo meio fluido) *e de forma (seguem uma trajetória) diferente*: uma folha de papel esticada e outra (igual) amassada em bolinha. Você deveria ter dito "corpos com diferentes *FORMAS* caindo em velocidades diferentes" mas, provavelmente, quis parecer mais "científico" ou "catedrático" e fez feio, muito feio. Parece insinuar que compreende a influência aerodinâmica na queda mas acabou de demonstrar que não sabe *NADA* a respeito. E ainda expõe a pretensão de possuir condições de debater o assunto comigo (ou com quem quer que seja).


Bom, não há necessidade de comentar isso além do que já foi dito pelo Angelo Melo. Se eu estou passando vergonha por aqui ela é alheia.

E o pior, Cientista, você não percebeu que minha afirmação foi ESTRITAMENTE esta: "corpos de diferentes densidades caindo em velocidades diferentes"? Eu nem mesmo disse que eles caiam diferentemente POR CAUSA DA DENSIDADE. E nem que eles eram iguais [edit: na forma]. VOCÊ estabeleceu a relação causal! Nota alguma ironia nisso tudo?

Existem muitos outros objetos comparativamente maiores e mais leves (tais como uma tampa de...isopor) que outros (como uma pequena bola de...gude), além das pequenas penas, folhas, plumas, confetes, que podem cair em velocidades diferentes levando a uma conclusão "aristotélica" (mais peso/mais velocidade). Nem sempre é a comparação da queda da jaca com as pequenas folhas.

Daí, você cedeu "magicamente" a sua vontade de me taxar de discípulo maluco de Aristóteles e o tiro saiu pela culatra.

O resto eu comento depois, se eu achar que "vale a pena..." :teehee:
« Última modificação: 30 de Maio de 2010, 16:08:25 por Tex Willer »
"A velhacaria e a idiotice humanas são fenômenos tão correntes, que eu antes acreditaria que os acontecimentos mais extraordinários nascem do seu concurso, ao invés de admitir uma inverossímil violação das leis da natureza".  - Hume

Offline Moro

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Re: Avaliando a habilidade científica de pensar
« Resposta #253 Online: 30 de Maio de 2010, 15:23:15 »
eu tenho a impressão que já discuti com o cientista, mas em outra vida. Não é o dionisio [impronunciavel] ou algo assim??

Ao menos o papo de "estou aqui ajudando vocês" e "eu em toda a minha gloria", e a citação de filósofos é exatamente a mesma
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Offline Derfel

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Re: Avaliando a habilidade científica de pensar
« Resposta #254 Online: 30 de Maio de 2010, 16:39:41 »
Como o tópico se desenvolveu devido ao engano já mostrado, parece que ele se encerrou com a apresentação desse engano. Pararam de postar.  :lol:
Na verdade o tópico se desenvolveu a partir do pensamento de um único forista, como ele deu uma sumida, então o tópico deu uma esfriada.

Offline Derfel

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Re: Avaliando a habilidade científica de pensar
« Resposta #255 Online: 30 de Maio de 2010, 16:43:37 »
eu tenho a impressão que já discuti com o cientista, mas em outra vida. Não é o dionisio [impronunciavel] ou algo assim??

Ao menos o papo de "estou aqui ajudando vocês" e "eu em toda a minha gloria", e a citação de filósofos é exatamente a mesma

Bem, esse dionísio não sei quem é, mas o cientista disse que todos sabiam quem ele realmente era a partir de um link para outra discussão em outro fórum, em uma resposta ao Adriano. Eu, da minha parte, continuei sem saber.

Offline Hold the Door

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Re: Avaliando a habilidade científica de pensar
« Resposta #256 Online: 30 de Maio de 2010, 17:10:32 »
eu tenho a impressão que já discuti com o cientista, mas em outra vida. Não é o dionisio [impronunciavel] ou algo assim??

Ao menos o papo de "estou aqui ajudando vocês" e "eu em toda a minha gloria", e a citação de filósofos é exatamente a mesma

Bem, esse dionísio não sei quem é, mas o cientista disse que todos sabiam quem ele realmente era a partir de um link para outra discussão em outro fórum, em uma resposta ao Adriano. Eu, da minha parte, continuei sem saber.
O Agnóstico está falando do Dionisokolox, a reencarnação do Blue Pill, um antigo forista daqui. Mas não é ele, apesar de terem em comum a convicção de estar trazendo a verdade aos pobres mortais e retirando-lhes o véu da ignorância.

Postem esse link para a outra discussão, procurei nas respostas dele para o Adriano e não achei.
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Offline Derfel

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Re: Avaliando a habilidade científica de pensar
« Resposta #257 Online: 30 de Maio de 2010, 18:12:19 »
Foi aqui:
Adriano, para deixar bem claro o que penso a respeito de filosofia, de modo amplo, franco e definitivo, aponto comentários que fiz aqui:
http://ateusdobrasil.com.br/1463/comment-page-1/#comments
Sendo você um cultuador da filosofia, peço, encarecidamente, que não se choque.
Ser anônimo? Não vistes meu verdadeiro nome lá no "fórum xulo"(sic) que te indiquei? Por que ainda me acusas de anonimato?

Realmente... tenho que concordar que um nome não é a pessoa. Mas a mórula de equinodermo que "comanda" aquele "fórum" não parecia entender isso, também.

Como disse, não entendi.

Offline Feynman

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Re: Avaliando a habilidade científica de pensar
« Resposta #258 Online: 01 de Junho de 2010, 15:17:28 »
Já que o Cientista anda sumido...

Ora, a postura de Feyerabend é de louco. Seria como um alguém escrevendo e dando pitaco em medicina dizendo que o tratamento/cura das doenças não é o objetivo principal da mesma.

Primeiramente, lembremo-nos que Feyerabend era doutor em física e, de louco, tinha pouco. Era extremamente versado em literatura clássica mundial, coisa que só sua companheira Grazie (também física e, ao contrário de Feyerabend, "cientista praticante"  :D) deixou claro depois da morte de Feyerabend. Seu livro, que gerou toda uma horda de ataques contra sua epistemologia (algumas procedentes, mas muitas outras asininas), era um esboço proposital de ataque à suposta racionalidade positivista da ciência. Seu interlocutar seria Lakatos, que morreu antes que o debate verdadeiro pudesse acontecer de fato. Lembrando suas palavras iniciais, no Contra o Método:

Citar
Este ensaio é a primeira parte de um livro a propósito do anarquismo que seria escrito por Lakatos e por mim. Cabia-me atacar a posição racionalista; Lakatos, por seu turno, reformularia essa posição, para defendê-la e, de passagem, reduzir meus argumentos a nada. Juntas, as duas partes deviam retratar nossos longos debates em torno desse tema — debates que tiveram início em 1964, prosseguiram em cartas, aulas, chamadas telefônicas, artigos, até quase o último dia de vida de Imre, e se transformaram em parte de minha rotina diária. A origem do ensaio explica o seu estilo: trata-se de uma carta, longa e muito íntima, escrita para Imre e cada frase perversa que contém foi escrita antecipando frase ainda mais ferina de meu companheiro. Também é claro que o livro, como se apresenta, está lamentavelmente truncado. Falta-lhe a parte mais importante, a réplica da pessoa para quem foi elaborado. Publico-o, entretanto, como testemunho da forte e estimulante influência que Imre Lakatos exerceu sobre todos nós.

EVIDENTEMENTE o livro foi escrito com o propósito de estabelecer uma maiêutica com Lakatos em relação à racionalidade científica, que geraria um imenso cabedal de questões a serem estudadas pelos epistemólogos. Desgraçadamente Lakatos morreu, deixando apenas a primeira parte para o público. O que me incomoda é que me parece que seus maiores críticos não souberam sopesar as intenções da obra. E, para os fins desejados, Contra o Método ultrapassa sua prerrogativa precípua provocadora e alcança níveis energéticos profícuos. Boa parte do livro, destinado à exegese de Galileu, acerta em muitos pontos. O desconhecimento das propriedades óticas do telescópio tornavam totalmente fundadas as primeiras críticas a respeito de seu uso para meios etéreos, como era o caso do firmamento aristotélico de então. Praticamente todas as justificativas corretas de Galileu só se tornaram como tais a posteriori, quando Galileu já tinha convencido seus pares por meios propagandistas, como Feyerabend coloca.

Citar
Galileu tinha reduzidíssimo conhecimento da teoria ótica de seu tempo. Seu telescópio alcançou resultados surpreendentes na Terra e esses resultados foram procedentemente exaltados. Dificuldades logo surgiram: o telescópio fez emergirem fenômenos espúrios e contraditórios e alguns dos resultados a que levou poderiam ser refutados por um simples lançar de olhos desajudados de qualquer auxílio. Somente uma nova teoria da visão telescópica poderia trazer ordem ao caos (que havia de ser ainda maior, devido aos diferentes fenômenos percebidos àquele tempo, mesmo a olho desarmado), distinguindo a aparência da realidade. Essa teoria foi elaborada por Kepler, inicialmente em 1604 e novamente em 161148. (Feyerabend, 1977, p. 200).

O fato é que a propaganda coercitiva de Galileu foi extremamente benéfica para a ciência, pois chamou a atenção de pensadores para questões que não se tinham, então, clareza. Os métodos desenvolvidos pouco mais tarde por Kepler, e finalmente por Newton (até reformulações relativísticas) coroaram os estudos de Galileu. Coisa que não aconteceu com os estudos de Galileu! Ou seja, o desbravadorismo de Galileu só foi tido como tal posteriormente, com mais e novos aportes para se compreender o que ele tinha feito (desde a inércia circular, prelúdio da inércia newtoniana, até o Heliocentrismo). Como toda reconstrução racional, a ciência galileana se apresenta como uma sequência de maravilhosas representações de uma suposta metodologia científica moderna. Mas as descobertas, sabemos, estão em meio muito mais arenoso do que gostaríamos de prontamente admitir.

Gostaria de deixar claro que não sou propriamente um anarquista epistemológico à moda de Feyerabend (ou, mais correto, à moda de seu Contra o Método). Mas vejo que seu ataque (forjado, não nos esqueçamos) foi bastante oportuno para mostrar procedentes facetas heterodoxas da ciência. Naturalmente, em seu ataque proposital à racionalidade encontraremos pérolas de irracionalidade aberta que, infelizmente, se tornaram apanágio da epistemologia de Feyereband. É esclarecedor como, segundo o próprio Feyerabend em sua excelente autobiografia, "Matando o Tempo", muitas críticas se originaram de um simples reductio ad absurdum,  e muitas outras em um total desconhecimento das intenções do livro. Simplesmente não entenderam a piada (mas que era - ainda é - séria). Acredito que, uma das coisas mais menos ditas ( :)) a respeito de Feyerabend, além de que era doutor em física, é que ele conheceu de perto a maioria dos grandes cientistas e filósofos de sua época, e que suas duras críticas, de Contra o Método, a respeito da racionalidade científica, escondem uma mensagem que deveria ser clara para quem lê suas páginas com uma constante lanterna epistemológica devidamente alimentada com os olhos do presente: a de que a ciência sobrevive não exatamente por seus métodos, mas por seus resultados. Querem aprender astrologia? Maravilha... aprendam, portanto. E decidam quem é mais profícuo (em se tratando de educação infantil, estes pontos exigem uma análise mais criteriosa, naturalmente).

Para algumas questões interessantes sobre Feyerabend e educação, sugiro dar uma olhada em Terra, 2002.


TERRA, P. S. O ensino de ciências e o professor anarquista epistemológico. Caderno
Brasileiro de Ensino de Física, v. 19, n.2: p.208-218, ago. 2002.

FEYERABEND, P. Contra o método. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977.
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Offline DDV

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Re: Avaliando a habilidade científica de pensar
« Resposta #259 Online: 01 de Junho de 2010, 17:30:20 »
Sem se esquecerem de darem também uma olhada nas refutações feitas a Feyerabend, em especial a de Gunnar Anderson.

Andersson, Gunnar, (1991), "Feyerabend on Falsifications, Galileo, and Lady Reason"

(Não consegui um e-book  :()


Uma questão que acho interessante é o fato de Feyerabend ter escolhido como alvo de críticas abrangentes sobre a ciência justamente a PRIMEIRA pessoa cujo comportamento investigativo pode ser chamado de "científico" no sentido moderno do termo. Na época de Galileu, ainda não existia um "método científico" formalizado e estabelecido, e nem publicações específicas sobre o mesmo (se eu não me engano). Não existia também uma "comunidade científica". Como vocês podem perceber, as brigas e disputas com Galileu não era com outros cientistas, mas com metafísicos porra-loucas e com uma Igreja opressora, dogmática e poderosa.

Mesmo que as alegações de Feyerabend sobre o comportamento de Galileu fossem corretas (o que não é o caso), poder-se-ia alegar com razão que antes de Galileu não havia nenhuma "teoria científica" a ser batida, mas apenas crenças metafísicas e religiosas mantidas na base da tradição, propaganda e coerção. Logo, se Galileu usou propaganda em algum momento, seria mais para neutralizar as idéias irracionais que mantinham essas crenças de pé ("limpando o terreno" para a argumentação racional-científica) do que para impor irracionalmente suas idéias.    





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Re: Avaliando a habilidade científica de pensar
« Resposta #260 Online: 01 de Junho de 2010, 17:43:06 »
Citação de: Feymann
Primeiramente, lembremo-nos que Feyerabend era doutor em física e, de louco, tinha pouco.

Não consigo imaginar outro adjetivo para alguém que afirme que o objetivo da ciência (ciência mesmo, não "tecnologia") é "promover a felicidade humana", e também de uma pessoa que diga que "honestidade intelectual" é um termo usado por Popper e demais "raciomaníacos" (!) para intimidar opositores pusilânimes, demovendo-os de questionar se a "verdade" é algo realmente desejável.

Consegue imaginar outro adjetivo?




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Re: Avaliando a habilidade científica de pensar
« Resposta #261 Online: 01 de Junho de 2010, 17:47:26 »
Uma pessoa participando do ramo epistemológico questionando se a verdade é mesmo desejável é como um executivo em uma empresa questionando se o lucro é mesmo desejável, ou um médico questionando se a cura do paciente é desejável, ou um general questionando se a vitória do seu exército é mesmo desejável.

Coisa de louco mesmo.



 
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Re: Avaliando a habilidade científica de pensar
« Resposta #262 Online: 01 de Junho de 2010, 20:58:46 »
Este tema, sobre Galileu, pode ser tudo, menos simples e auto-evidente. Para evitar transcrever maiores e melhores argumentações que as minhas, indico o artigo do grande professor Arden: "Galileu - um cientista e várias versões".

http://www.periodicos.ufsc.br//fisica/article/viewFile/10073/9298

DDV, já lestes o "Matando o Tempo"?
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Re: Avaliando a habilidade científica de pensar
« Resposta #263 Online: 01 de Junho de 2010, 21:01:47 »
Citação de: DDV
ou um médico questionando se a cura do paciente é desejável

Para House, só o puzzle importa.  :biglol:
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Offline DDV

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Re: Avaliando a habilidade científica de pensar
« Resposta #264 Online: 01 de Junho de 2010, 21:15:31 »
Este tema, sobre Galileu, pode ser tudo, menos simples e auto-evidente. Para evitar transcrever maiores e melhores argumentações que as minhas, indico o artigo do grande professor Arden: "Galileu - um cientista e várias versões".

http://www.periodicos.ufsc.br//fisica/article/viewFile/10073/9298

DDV, já lestes o "Matando o Tempo"?

Não li.

O artigo que você linkou apenas repete o que já foi dito. Feyerabend escolheu Galileu como alvo porque Galileu foi o primeiro dos cientistas, e enfrentava metafísicos porra-loucas e religiosos, ao invés de outros cientistas, e isso numa época onde não existia nenhum esboço de "método científico" e muito menos uma "comunidade científica".

Percebe-se nas frases de Feyerabend o uso intenso da expressão "errada conforme as crenças da época". Ora, as crenças da época não tinham apoio empírico maior do que as teorias de Galileu, e Feyerabend estranhamente joga total ônus em Galileu e nenhum nas "crenças da época" (Ex: a crença de que o céu era governado por leis diferentes da terra).

No mais, os poucos exemplos citados já mostram como os argumentos de Feyerabend contra Galileu são pueris, para dizer o mínimo.

Refutações a Feyerabend => Gunnar Anderson.




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Re: Avaliando a habilidade científica de pensar
« Resposta #265 Online: 01 de Junho de 2010, 21:18:56 »
Considerando que praticamente NADA das idéias físicas anteriores a Galileu foi preservada (ao contrário do que ocorreria posteriormente nos avanços teóricos da Física), conclui-se que Galileu teve que começar praticamente do zero. Não havia uma teoria física antes da dele que poderia ser chamada de "científica" no sentido moderno do termo.

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Re: Avaliando a habilidade científica de pensar
« Resposta #266 Online: 01 de Junho de 2010, 21:19:42 »
Este tema, sobre Galileu, pode ser tudo, menos simples e auto-evidente. Para evitar transcrever maiores e melhores argumentações que as minhas, indico o artigo do grande professor Arden: "Galileu - um cientista e várias versões".

http://www.periodicos.ufsc.br//fisica/article/viewFile/10073/9298

DDV, já lestes o "Matando o Tempo"?

Não li.

O artigo que você linkou apenas repete o que já foi dito. Feyerabend escolheu Galileu como alvo porque Galileu foi o primeiro dos cientistas, e enfrentava metafísicos porra-loucas e religiosos, ao invés de outros cientistas, e isso numa época onde não existia nenhum esboço de "método científico" e muito menos uma "comunidade científica".

Percebe-se nas frases de Feyerabend o uso intenso da expressão "errada conforme as crenças da época". Ora, as crenças da época não tinham apoio empírico maior do que as teorias de Galileu, e Feyerabend estranhamente joga total ônus em Galileu e nenhum nas "crenças da época" (Ex: a crença de que o céu era governado por leis diferentes da terra).

No mais, os poucos exemplos citados já mostram como os argumentos de Feyerabend contra Galileu são pueris, para dizer o mínimo.

Refutações a Feyerabend => Gunnar Anderson.


DDV

Voce pode me passar a referência (livro) do Anderson?
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Re: Avaliando a habilidade científica de pensar
« Resposta #269 Online: 02 de Junho de 2010, 00:33:30 »
No mais, os poucos exemplos citados já mostram como os argumentos de Feyerabend contra Galileu são pueris, para dizer o mínimo.

DDV, Matando o Tempo mostra as intenções e idiossincrasias do autor. Acredite (ou, melhor, confira!): Feyerabend posuia um gênio singular e uma clareza de raciocínio impecáveis (além de doutor em física, era doutor honoris causa em literatura e humanidades), e a análise de Galileu (não tem nada de "contra" aqui, DDV... é uma análise!) NÃO resume sua contribuição à epistemologia. Feyerabend estava em um meio cultural que enaltecia a ciência de modo inadivertido, e suas análises deram origem a outras mais bem fundamentadas que as positivistas do iníco do séc. XX. A propósito, e ainda sobre Galileu, é bom lembrar que as afirmações fantásticas, à época, necessitavam de evidências fantásticas que ele não deu. Isso deve soar muito estranho para ti, DDV, mas isso é comum quando se está com uma visão privilegiada de quem observa do presente, com os conhecimentos atuais. É claro que Galileu estava (mais) certo em relação aos seus detratores. É claro que seu sistema era melhor que o ptolomaico. É claro que seu telescópio funcionava suficientemente bem para afirmar as novas características até então desconhecidas do orbes celestes. E é claro que sua metodologia se mostrou superior, ao conseguir tudo isso. E não muda o fato de que, ao desconhecer ótica, Galileu não tinha como convencer seus céticos de que as imagens produzidas por seu artefato demoníaco eram reais (ou representações de coisas reais). E é claro que isso era esperado (aos olhos de hoje), para uma ciência incipiente. Feyerabend mostrou como a suposta metodologia galileana não era tão metódica assim, e abriu caminho para a fundamentação de uma filosofia da ciência mais compromissada com o fazer científico, e menos com a prescrição do quê a ciência deveria ser. Parece-me que estás com uma visão unilateral e acrítica das críticas à Feyerabend, e com falta de vontade de conhecer um pouco mais de perto uma pessoa altamente respeitada por Lakatos e Kuhn. Repito: existe flagrantes rompantes de irracionalidade na obra de Feyerabend, e não sou feyerabendiano neste sentido. Mas por tudo o que li dele, parece-me, no mínimo, injusto chamá-lo de louco. Porque será que Lakatos já não tinha feito isso? Porque Popper não o desmascarou? Simples... não há o que ser desmascarado.

A propósito: sabe porque não tenho receio de um ataque à ciência? Simples: porque ciência funciona!!!!!!!! E o que gerar resultados permanecerá (era o que dizia Feyerabend!!!).


Edit: Em tempo: DDV, como você vê o fato de que Feyerabend é analisado, por Gunnar Andersson, junto a nomes como Popper, Kuhn e Lakatos? Para você, Feyerabend é apenas um contra-exemplo? Não é, de modo algum, o tom usado por Andersson. Reitero, se já não deixei claro: apenas estou tentando mostrar que Feyerabend não era louco. Percebe-se isto facilmente lendo sua autobiografia e seu artigo "Consolando o Especialista" (In: Lakatos, I & Musgrave, A. A crítica e o desenvolvimento do conhecimento. São Paulo: Editora Cultrix/Editora da Universidade de São Paulo, 1979). É evidente que muitos aspectos são discutíveis... mas Kuhn, que era amigo próximo de Feyerabend, certamente torceria o nariz para sua acusação de loucura. Se as teses feyerabendianas caem muito mal no estômago, é porque conseguiram boa parte de suas intenções. Ataques pueris à ciência existem vários, e temos aí os crentes para mostrar isso. O "ataque" de Feyerabend é de uma natureza muito mais sutil. Ou você acha que Andersson perderia seu tempo com um mentecapto?
« Última modificação: 02 de Junho de 2010, 14:47:42 por Feynman »
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Offline DDV

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Re: Avaliando a habilidade científica de pensar
« Resposta #270 Online: 02 de Junho de 2010, 18:37:21 »
No mais, os poucos exemplos citados já mostram como os argumentos de Feyerabend contra Galileu são pueris, para dizer o mínimo.

DDV, Matando o Tempo mostra as intenções e idiossincrasias do autor. Acredite (ou, melhor, confira!): Feyerabend posuia um gênio singular e uma clareza de raciocínio impecáveis (além de doutor em física, era doutor honoris causa em literatura e humanidades), e a análise de Galileu (não tem nada de "contra" aqui, DDV... é uma análise!) NÃO resume sua contribuição à epistemologia.

Se ainda acha que Feyerabend tinha alguma intenção "construtiva" com relação à ciência, leia o último capítulo de Contra o Método e veja ele soltando a franga de vez, confessando seu horror/ódio à ciência (na falta de termos melhores).

Formação superior não impede ninguém de falar loucuras (isso todos já sabem).

Literatura é uma das últimas coisas que eu imaginaria contribuindo para a filosofia da ciência (você consegue imaginar?!)


Citação de: Feymann
Feyerabend estava em um meio cultural que enaltecia a ciência de modo inadivertido, e suas análises deram origem a outras mais bem fundamentadas que as positivistas do iníco do séc. XX. A propósito, e ainda sobre Galileu, é bom lembrar que as afirmações fantásticas, à época, necessitavam de evidências fantásticas que ele não deu. Isso deve soar muito estranho para ti, DDV, mas isso é comum quando se está com uma visão privilegiada de quem observa do presente, com os conhecimentos atuais. É claro que Galileu estava (mais) certo em relação aos seus detratores. É claro que seu sistema era melhor que o ptolomaico. É claro que seu telescópio funcionava suficientemente bem para afirmar as novas características até então desconhecidas do orbes celestes. E é claro que sua metodologia se mostrou superior, ao conseguir tudo isso. E não muda o fato de que, ao desconhecer ótica, Galileu não tinha como convencer seus céticos de que as imagens produzidas por seu artefato demoníaco eram reais (ou representações de coisas reais). E é claro que isso era esperado (aos olhos de hoje), para uma ciência incipiente. Feyerabend mostrou como a suposta metodologia galileana não era tão metódica assim, e abriu caminho para a fundamentação de uma filosofia da ciência mais compromissada com o fazer científico, e menos com a prescrição do quê a ciência deveria ser. Parece-me que estás com uma visão unilateral e acrítica das críticas à Feyerabend, e com falta de vontade de conhecer um pouco mais de perto uma pessoa altamente respeitada por Lakatos e Kuhn. Repito: existe flagrantes rompantes de irracionalidade na obra de Feyerabend, e não sou feyerabendiano neste sentido. Mas por tudo o que li dele, parece-me, no mínimo, injusto chamá-lo de louco. Porque será que Lakatos já não tinha feito isso? Porque Popper não o desmascarou? Simples... não há o que ser desmascarado.


Não lembro de Popper respondendo a Feyerabend. Feyerabend foi refutado por outros filósofos. Talvez Popper não achou que valesse o seu tempo (:)). Thommas Kuhn, por outro lado, foi respondido por Popper e demais filósofos da linha racionalista. Embora as teses mais radicais de Kuhn fossem demonstradas erradas (como a incomensurabilidade) e embora suas descrições históricas não contradizessem o falsificacionismo (a não ser uma versão ingênua do falsificacionismo que o próprio Kuhn carregava), as análises de Kuhn foram úteis, valiosas, esclarecedoras em alguns pontos e deram o que pensar.

Feyerabend, por outro lado, não mostra a mesma "utilidade" e contribuição dada por Kuhn. A maioria de suas teses é bem Pueril. Foram facilmente refutadas por filósofos menos famosos (como Andersson).

E mesmo se fôssemos considerar as análises de Galileu feitas por Feyerabend (o livro inteiro dele fala de Galileu apenas) como corretas (o que não é o caso, para deixar claro), Feyerabend não estaria refutando o método científico, mas apenas a cientificidade de Galileu. Seu livro seria mais adequadamente chamado de "Contra a cientificidade de Galileu", e não "Contra o Método".

Galileu, como já vimos, NÃO se debatia com cientistas, mas com metafísicos e religiosos. E mesmo assim as alegações de Feyerabend não se sustentam segundo Andersson e outros filósofos da linha racionalista. É algo que eu acho particularmente curioso o fato de Feyerabend ter escolhido logo Galileu, o primeiro dos cientistas, ao invés de escolher para analisar algum outro que estivesse inserido dentro de uma comunidade científica e debatesse com cientistas dentro de um método científico já estabelecido.


Citação de: Feymann

A propósito: sabe porque não tenho receio de um ataque à ciência? Simples: porque ciência funciona!!!!!!!! E o que gerar resultados permanecerá (era o que dizia Feyerabend!!!).

E o interessante é que Feyerabend não consegue explicar o PORQUÊ da ciência funcionar sem nenhum método ou regra, enquanto as demais áreas ligadas ao conhecimento humano (metafísica, religião, magia negra, etc) não funcionem. Por que os deuses resolveram abençoar apenas a ciência pós-Galileu com essa boa sorte e nenhuma outra área?! Feyerabend não explica, ainda mais quando o próprio Feyerabend fala que a ciência não é em nada melhor do que a magia negra e a astrologia, e defende completa falta de regras no processo de estabelecimento de teorias.

Utilizando o proprio critério dele (o de "funcionar"), já podemos concluir que sua alegação de que a ciência não é em nada melhor do que a magia negra é falsa. :)

Coisa de louco.


Citação de: Feymann
Edit: Em tempo: DDV, como você vê o fato de que Feyerabend é analisado, por Gunnar Andersson, junto a nomes como Popper, Kuhn e Lakatos? Para você, Feyerabend é apenas um contra-exemplo? Não é, de modo algum, o tom usado por Andersson. Reitero, se já não deixei claro: apenas estou tentando mostrar que Feyerabend não era louco. Percebe-se isto facilmente lendo sua autobiografia e seu artigo "Consolando o Especialista" (In: Lakatos, I & Musgrave, A. A crítica e o desenvolvimento do conhecimento. São Paulo: Editora Cultrix/Editora da Universidade de São Paulo, 1979). É evidente que muitos aspectos são discutíveis... mas Kuhn, que era amigo próximo de Feyerabend, certamente torceria o nariz para sua acusação de loucura. Se as teses feyerabendianas caem muito mal no estômago, é porque conseguiram boa parte de suas intenções. Ataques pueris à ciência existem vários, e temos aí os crentes para mostrar isso. O "ataque" de Feyerabend é de uma natureza muito mais sutil. Ou você acha que Andersson perderia seu tempo com um mentecapto?


Mentecaptos existem muito piores. Vide os pós-modernos.

Obviamente, Feyerabend é superior aos chamados "pós-modernos". Esses pós-modernos, que chegam a ser bem piores e a falarem coisas ainda mais sem nexo do que o Feyerabend, são exaltados em várias áreas de humanidades!

Ou seja, fama e consideração não quer dizer absolutamemente nada em termos de pertinência e racionalidade de idéias. Motivos outros (inclusive políticos) movem essas áreas, conforme demonstrado por Sokal em seu "imposturas intelectuais".

« Última modificação: 02 de Junho de 2010, 18:39:37 por DDV »
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Offline Feynman

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Re: Avaliando a habilidade científica de pensar
« Resposta #271 Online: 02 de Junho de 2010, 19:00:09 »
Bem, já deixamos claro nossas posições. Que fique registrado, apenas, que sou um racionalista no sentido de que sigo preceitos baseados em heurísticas grávidas de excesso de conteúdo corroborado com alto grau de correlação empírica. Apenas, por ter lido com muito gosto a autobiografia de Feyerabend (que recomendo a todos, para vermos como pensa um "louco"), e percebido elementos outros que sua epistemologia dadaísta. Nas questões epistemológicas, é claro que, se Feyerabend fosse referência generalizada (como foi o caso de Popper), não estaríamos tendo este debate. Quem sabe, na hora em que eu tiver um pouco mais de tempo, abro um tópico comentando diretamente transcrições de Feyerabend, com o único propósito de lapidar nossas argumentações. Em frente.
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Offline Geotecton

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Re: Avaliando a habilidade científica de pensar
« Resposta #272 Online: 02 de Junho de 2010, 21:49:54 »
Bem, já deixamos claro nossas posições. Que fique registrado, apenas, que sou um racionalista no sentido de que sigo preceitos baseados em heurísticas grávidas de excesso de conteúdo corroborado com alto grau de correlação empírica. Apenas, por ter lido com muito gosto a autobiografia de Feyerabend (que recomendo a todos, para vermos como pensa um "louco"), e percebido elementos outros que sua epistemologia dadaísta. Nas questões epistemológicas, é claro que, se Feyerabend fosse referência generalizada (como foi o caso de Popper), não estaríamos tendo este debate. Quem sabe, na hora em que eu tiver um pouco mais de tempo, abro um tópico comentando diretamente transcrições de Feyerabend, com o único propósito de lapidar nossas argumentações. Em frente.

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Aguardo com interesse especial por este tópico de Feyerabend.
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Offline DDV

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Re: Avaliando a habilidade científica de pensar
« Resposta #273 Online: 02 de Junho de 2010, 22:56:18 »
Ao contrário do que foi insinuado aqui, Feyerabend não foi um filósofo epistemólogo como qualquer outro, interessado apenas em informar e aperfeiçoar o método científico. Na verdade, ele era anti-cientista por convicção pessoal, e atacava a ciência baseado mais em crenças de cunho moral-metafísicas à la Nietchze e Kiekeggard. Ele dizia que o método científico era uma outra forma de religião e de escravidão.

Aqui vai trechos do último capítulo de "Contra o Método":



"A idéia de que a ciência pode e deve ser elaborada com obediência a regras fixas e universais é, a um tempo,
quimérica e perniciosa. É quimérica pois implica visão demasiado simplista das capacidades do homem e das circunstâncias que lhes estimulam ou provocam o desenvolvimento. E é perniciosa porque a tentativa de emprestar vigência às regras conduz a acentuar nossas qualificações profissionais em detrimento de nossa humanidade. Além disso, a idéia é prejudicial à ciência, pois leva a ignorar as complexas condições físicas e históricas que exercem influência sobre a evolução científica. Torna a ciência menos plástica e mais dogmática:
cada qual das regras metodológicas se vê associada a pressupostos cosmológicos, de modo que, recorrendo à regra, damos por admitido que os pressupostos sejam corretos. O falseamentismo ingênuo dá por admitido que as leis da natureza se apresentem de maneira clara e não oculta por perturbações de magnitude considerável, O empirismo aceita que a experiência sensória seja melhor espelho do mundo que o pensamento. O culto do argumento tem como certo que os manipuladores da Razão oferecem resultados melhores que os do jogo incerto de nossas emoções. Talvez que esses pressupostos sejam plausíveis e até mesmo verdadeiros. Não obstante, convém, de tempos em tempos, submete-los a exame. Submetê-los a exame significa deixar de utilizar a metodologia a ele associada, passar a praticar a ciência de maneira diversa e verificar o que vem a ocorrer. Casos específicos, tais como os relatados nos capítulos anteriores, mostram que os exames referidos se estão continuamente realizando e que falam contra a validez universal de qualquer regra. Todas as metodologias têm limitações e só a ‘regra’ do ‘tudo vale’ é capaz de manter-se.

A alteração da perspectiva decorrente dessas descobertas conduz, uma vez mais, ao longamente esquecido problema do mérito da ciência. A ele conduz pela primeira vez na história moderna, pois que a ciência moderna se impôs a seus oponentes, não os convenceu. A ciência dominou pela força, não através de argumentos (isso é especialmente verdadeiro no que se refere às primeiras colônias, onde a ciência e a religião do amor fraternal foram introduzidas como algo natural, sem consulta aos habitantes e sem lhes ouvir argumentos). Hoje, damo-nos conta de que o racionalismo, inclinando-se para a ciência, não pode ser de qualquer valia em face
da pendência entre ciência e mito e damo-nos conta, ainda, graças a investigações de caráter inteiramente diverso, que os mitos são muito mais válidos do que os racionalistas têm ousado admitir1. Somos, assim, forçados a suscitar a questão do mérito da ciência. Exame do assunto revela que ciência e mito se superpõem sob
muitos aspectos, que diferenças aparentemente perceptíveis são, com freqüência, fenômenos localizados que, em outros pontos, se transformam em similaridades e que as discrepâncias fundamentais resultam antes de propósitos diversos do que de métodos diferentes a tentarem alcançar um único e mesmo fim ‘racional’ (como
‘progresso’, ou ‘aumento de conteúdo’, ou ‘crescimento’).

Para colocar em evidência as surpreendentes similaridades entre o mito e a ciência, examiuarei, de maneira breve, o interessante artigo de Robin Horton, intitulado ‘African Traditional Thought and Western Science’2. Horton estuda a mitologia africana e aponta as seguintes características: a busca de teoria é busca da unidade subjacente à complexidade que se percebe. A teoria dispõe as coisas em um contexto causal mais amplo que o contexto causal propiciado pelo senso comum: tanto a ciência quanto o mito recobrem o senso comum de uma superestrutura teorética. Há teorias de diferentes graus de abstração e elas são utilizadas de acordo com os diferentes requisitos de explicação que se colocam. A construção de teoria consiste em partir os objetos do senso comum para reunir os fragmentos de maneira diversa. Os modelos teoréticos nascem da analogia, mas gradualmente se distanciam do padrão em que a analogia se apoiava. E assim por diante. Essas características, definidas a partir do estudo de casos, levado a efeito de modo não menos cuidadoso e pormenorizado que o de Lakatos, refutam a idéia de que a ciência e o mito obedeçam a diferentes princípios de formação (Cassirer), que o mito se instaura sem reflexão (Dardel) ou especulação (Frankfort, ocasionalmente).

Nem cabe acolher a idéia, defendida por Malinowski e também por eruditos clássicos, tais como Harrison e Cornford, de que o mito exerce função essencialmente pragmática ou se baseia em ritual. O mito está muito mais próximo da ciência do que se poderia esperar com base em uma discussão filosófica. Está mais próximo da ciência do que o próprio Horton se inclinaria a admitir.Para percebê-lo, consideremos algumas das diferenças acentuadas por Horton. Segundo ele, as idéias centrais do mito são vistas como sagradas. Teme-se que sofram ameaças. ‘Quase nunca se depara com uma confissão de ignorância’ e eventos ‘que fogem fortemente às linhas de classificação admitidas pela cultura em que ocorrem’ despertam a ‘reação do tabu’4. As crenças básicas são protegidas por essa reação e também pelo artifício das ‘elaborações secundárias’5 que, em nossos tempos, são séries de hipóteses ad hoc. A ciência, de outra parte, se caracteriza por um ‘ceticismo essencial’6; ‘quando as falhas se acumulam rapidamente, a defesa da teoria se transforma inexoravelmente em ataquè a ela’7. Isso é possível devido à ‘abertura’ do empreendimento científico, devido ao pluralismo das idéias que encerra e também devido a que ‘tudo quando escapa ou deixa de amoldar-se ao estabelecido sistema de categorias não é visto como aterrador, como algo a ser isolado e repudiado. É, pelo contrário, um ‘fenômeno’ intrigante — ponto de partida e desafio para a criação de novas classificações e de novas teorias’8 . Vê-se que Horton absorveu bem as lições de Popper9. Um estudo de campo a propósito da ciência leva-nos a descortinar quadro muito diverso. Revela esse estudo que, embora alguns cientistas possam agir segundo o esquema descrito, a grande maioria segue trilha diferente. O ceticismo é mínimo; dirige-se contra a maneira de ver dos oponentes e contra ramificações secundárias das idéias fundamentais que se defende, mas nunca se levanta contra as próprias
idéias básicas10.

Atacar idéias básicas desperta reações de tabu que não são menos intensas do que as reações de tabu nas chamadas sociedades primitivas11. As crenças básicas são protegidas por essa reação e, como vimos, por elaborações secundárias; e tudo quanto deixa de acomodar-se ao estabelecido sistema de categorias é declarado
incompatível com tal sistema ou é encarado como algo escandaloso ou, mais freqüentemente, é simplesmente considerado como não-existente. A ciência não está preparada para fazer do pluralismo teorético o fundamento da pesquisa. Newton dominou por mais de 150 anos; Einstein introduziu, por curto espaço de tempo, um ponto de vista mais liberal, mas viu-se sucedido pela Interpretação de Copenhague. As semelhanças entre ciência e mito são inegavelmente de espantar. Os campos estão, entretanto, ainda mais estreitamente relacionados. O dogmatismo pesado a que fiz alusão não é apenas um fato, mas desempenha também importantíssima função.
Sem ele seria impossível a ciência12. Pensadores ‘primitivos’ mostraram maior percepção da natureza do conhecimento do que seus ‘esclarecidos’ rivais filosóficos.

Torna-se necessário, pois, reexaminar nossa atitude em face do mito, da religião, da magia, da feitiçaria e em face de todas aquelas idéias que os racionalistas gostariam de ver para sempre afastadas da superfície da Terra
(sem ter-lhes prestado maior atenção — típica reação de tabu). Há outra razão para que o reexame se torne urgentemente necessário. O surgimento da ciência moderna coincide com a supressão das tribos não-ocidentais pelos invasores ocidentais. As tribos não são apenas fisicamente suprimidas, mas perdem a independência
intelectual e se vêem forçadas a adotar a sangüinária religião do amor fraternal — o Cristianismo. Os membros mais inteligentes conseguem uma vantagem adicional: são iniciados nos mistérios do Racionalismo Ocidental e no que é sua culminância — a ciência ocidental. Por vezes, isso conduz a um quase intolerável conflito com a tradição (Haiti). Na maioria dos casos, a tradição desaparece sem deixar o traço de um argumento e as pessoas
simplesmente se tornam escravas, de corpo e espírito. Hoje, esse desenvolvimento sofre gradual inversão — há grande relutância, indubitavelmente, mas a inversão se processa. Volta-se a ganhar liberdade, as velhas tradições são redescobertas, quer pelas minorias dos países ocidentais, quer pelas grandes populações de
países não-ocidentais. Contudo, a ciência continua a reinar soberana. Reina soberana porque seus praticantes são incapazes de compreender e não se dispõem a tolerar ideologias diferentes, porque têm força para impor seus desejos e porque usam essa força como seus ancestrais usaram a força de que eles dispunham para impor o cristianismo aos povos que iam encontrando em suas conquistas. Assim, embora um norte-americano possa, agora, abraçar a religião de seu gosto, não lhe é permitido pedir que, na escola, seus filhos aprendam mágica e não a ciência. Existe separação entre Estado e Igreja, não existe separação entre Estado e ciência.

 Contudo, a ciência não tem autoridade maior que a de qualquer outra forma de vida. Seus objetivos não são, por certo, mais importantes que os propósitos orientadores de uma comunidade religiosa ou de uma tribo que se mantém unida graças a um mito. De qualquer modo, não há por que esses objetivos possam restringir as vidas, os pensamentos, a educação dos integrantes de uma sociedade livre, onde cada qual deve ter a possibilidade de
decidir por si próprio e de viver de acordo com as crenças sociais que tenha por mais aceitáveis. A separação entre Estado e Igreja deve, portanto, ser complementada pela separação entre Estado e ciência. Não há a temer que tal separação leve a um colapso da tecnologia. Sempre haverá pessoas que preferirão ser cientistas a ser
donos de seus destinos e que se submeterão alegremente à mais desprezível forma de escravidão (intelectual e institucional), contanto que se vejam bem pagas e que tenham em torno de si quem lhes examine o trabalho e lhes cante louvores. A Grécia se desenvolveu e progrediu porque pôde contar com os serviços de escravos,
a essa condição involuntariamente reduzidos. Nós nos desenvolveremos e progrediremos com o auxílio de numerosos escravos voluntários, a trabalhar em universidades e laboratórios e a nos proporcionar pílulas, gás, eletricidade, bombas atômicas, refeições congeladas e, ocasionalmente, uns poucos e interessantes contos
de fadas. Trataremos bem esses escravos, chegaremos a dar-lhes ouvidos, pois, vez por outra, terão relatos interessantes a fazer,mas não lhes permitiremos impor a própria ideologia a nossos filhos, sob o disfarce de teorias ‘progressistas’ de educação13. Não lhes permitiremos que ensinem as fantasias da ciência como se
fossem enunciados factuais de realidade. Talvez a separação entre Estado e ciência constitua a única oportunidade que teremos de sobrepujar o barbarismo febril de nossa era técnico-científica, atingindo a humanidade que está a nosso alcance, mas que jamais concretizamos inteiramente14. Reexaminemos, para concluir, os argumentos que podem ser aduzidos em prol de tal procedimento.

No espírito de cientistas e de leigos, a imagem da ciência do século XX é decorrência de milagres tecnológicos, tais como a televisão em cores, as viagens à Lua, o forno a raios infravermelhos e de informações vagas, mas nem por isso de menor força — algo como histórias fantasiosas — a propósito de como surgem tais milagres.
Segundo essas histórias fantasiosas, o êxito da ciência é o resultado de combinação sutil, mas cuidadosamente dosada, de inventividade e controle. Os cientistas têm idéias e dispõem de métodos especiais para desenvolvê-las. As teorias da ciência foram aprovadas no teste do método. Proporcionam melhor visão do
mundo que idéias não passadas pelo crivo desse teste. A história fantasiosa explica por que a sociedade moderna
dá à ciência tratamento especial e por que lhe concede privilégios que não beneficiam outras instituições.
Idealmente, o Estado moderno é ideologicamente neutro. A religião, o mito, os preconceitos exercem influência, mas tão somente de forma indireta, através de partidos politicamente atuantes. Princípios ideológicos podem ingressar na estrutura governamental, mas apenas por meio de um voto majoritário e após longa discussão das possíveis conseqüências. Em nossas escolas, as principais religiões são ensinadas em termos de fenômenos históricos. São ensinadas como parte da verdade, na dependência de os pais insistirem em mais direta forma de instrução. A eles cabe decidir quanto à educação religiosa dos filhos. O apoio financeiro às ideologias não excede o apoio financeiro dado a partidos e a grupos privados. Estado e ideologia, Estado e Igreja, Estado e mito
estão cuidadosamente separados. Estado e ciência, entretanto, atuam em estreita ligação. Somas imensas são gastas no desenvolvimento de idéias científicas. Disciplinas espúrias, como a filosofia da ciência, que não
têm a seu crédito qualquer descoberta, beneficiam-se do crescimento explosivo das ciências. Até as relações humanas são tratadas de maneira científica, tal como evidenciam os projetos de educação, as propostas de reforma penitenciária e assim por diante. Quase todos os assuntos científicos são matérias obrigatórias em nossas escolas. Se os pais de uma criança de seis anos podem decidir se ela receberá rudimentos de protestantismo ou de judaísmo ou se não terá instrução religiosa alguma, não gozam esses pais da mesma liberdade no que respeita à ciência. Física, Astronomia, História devem ser estudadas. Não podem ser substituídas
por mágica, astrologia ou por um estudo das lendas.

E nem basta uma apresentação apenas histórica dos fatos e princípios físicos (astronômicos, históricos, etc.). Não se diz algumas pessoas acreditam que a Terra se move em torno do Sol, enquanto outras consideram que a Terra é uma esfera oca, onde se contêm o Sol, os planetas, as estrelas fixas. Diz-se: a Terra gira em
torno do Sol — e tudo o mais é pura idiotia. A maneira como aceitamos ou rejeitamos idéias científicas é, por fim, radicalmente diversa dos processos de decisão democrática.Aceitamos leis científicas e fatos científicos, ensinamo-los nas escolas, tornamo-los a base de importantes decisões políticas, sem, contudo, havê-los submetido a votação. Os cientistas não os submetem a votação — ou, pelo menos, assim dizem proceder —
e os leigos por certo que não os submetem a voto. Propostas concretas são, por vezes, objeto de debate e sugere-se votação. Todavia, o processo não se aplica a teorias gerais e a fatos científicos. A sociedade moderna é ‘copernicana’, mas não porque a doutrina de Copérnico haja sido posta em causa, submetida a um debate democrático e então aprovada por maioria simples; é ‘copernicana’ porque os cientistas são copernicanos e porque lhes aceitamos a cosmologia tão acriticamente quanto, no passado, se aceitou a cosmologia de bispos e cardeais.

Até mesmo pensadores audazes e revolucionários se curvam ao juízo da ciência. Kropotkin deseja destruir todas as instituições existentes — ma não toca na ciência. Ibsen aprofunda-se no desmascarar as condições da humanidade contemporânea — mas - conserva a ciência, em que vê medida da verdade. Evans-Pritchard, Lévi-Strauss e outros reconheceram que o ‘Pensamento Ocidental’, longe de ser um pico isolado no desenvolvimento da humanidade, é perturbado por problemas que não estão presentes em outras ideologias — mas excluem a ciência da relativização das formas de pensamento. Para eles, a ciência é uma estrutura neutra,
encerrando conhecimento positivo, que é independente de cultura, ideologiaou preconceito.

A razão desse tratamento especial está, sem dúvida, em nosso pequeno conto de fadas: se a ciência encontrou método que transforma concepções ideologicamente contaminadas em teorias verdadeiras e úteis, a ciência não é mera ideologia, porém medida objetiva de todas as ideologias. Não cabe, portanto, a exigência de separação entre Estado e ideologia. Contudo, o conto de fadas é, como vimos, falso. Não há método especial que assegure o êxito ou o torne provável. Os cientistas não resolvem os problemas por possuírem uma varinha de condão — a metodologia ou uma teoria da racionalidade —mas porque estudaram o problema por longo tempo e conhecem
bem a situação, porque não são tolos (embora caiba duvidar disso hoje em dia, quando quase qualquer pessoa pode tomar-se um cientista) e porque os excessos de uma escola científica são quase sempre contrabalançados pelos excessos de alguma outra escola.(Além disso, os cientistas só muito raramente resolvem os problemas,
cometem erros numerosos e oferecem, freqüentemente, soluções impraticáveis.) No fundo, pouquíssima diferença há entre o processo que leva ao anúncio de uma nova lei científica e o processo de promulgação de uma nova lei jurídica: informa-se a todos os cidadãos ou aos imediatamente envolvidos, faz-se a coleta de ‘fatos’ e preconceitos, discute-se o assunto e, finalmente, vota-se. Sem embargo, enquanto uma democracia faz algum esforço para esclarecer o processo, de sorte que todos o entendam, a ciência ou o esconde ou o distorce, para que ele se Amolde a seus sectários interesses.



Texto grande. Continua na próxima postagem. 





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Offline DDV

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Re: Avaliando a habilidade científica de pensar
« Resposta #274 Online: 02 de Junho de 2010, 23:02:25 »
Nenhum cientista admitirá que votar tenha sentido na matéria a que se dedica. Só os fatos, a lógica e a metodologia decidem — é o que nos diz o conto de fadas. Mas como decidem os fatos? Que função desempenham no avanço do conhecimento? Não podemos fazer nossas teorias deles derivarem. Não podemos
apresentar um critério negativo, dizendo, por exemplo, que as boas teorias são as teorias passíveis de refutação, mas não contraditadas pelos fatos. Um princípio de falseamento que afasta as teorias porque não se acomodam aos fatos teria de afastar a totalidade da ciência (ou teria de admitir que grandes porções da ciência são irrefutáveis). A sugestão de que uma boa teoria explica mais que suas oponentes também não é admissível. Certo: novas teorias predizem, com freqüência, coisas novas — mas quase sempre a expensas de coisas já conhecidas. Voltando-nos para a lógica, damo-nos conta de que nem mesmo seus mais simples requisitos
são satisfeitos pela prática científica e não poderiam ser satisfeitos, em razão da complexidade do material. As idéias de que os cientistas costumam valer-se para apresentar o conhecido e avançar rumo ao desconhecido raramente estão em estrita concordância com as injunções da lógica ou da matemática pura e a tentativa que se fizesse para levá-las a essa concordância roubaria da ciência a flexibilidade sem a qual é impossível alcançar progresso. Anotemos: só os fatos não bastam para levar-nos a aceitar ou rejeitar teorias científicas, pois a margem que deixam ao pensamento é demasiado ampla; a lógica e a metodologia eliminam demais, são demasiado acanhadas. Entre esses extremos situa-se o sempre cambiante domínio das idéias e dos desejos humanos.
Mais pormenorizada análise dos lances de êxito no jogo da ciência (‘de êxito’ do ponto de vista dos próprios cientistas) mostra, indubitavelmente que há uma larga faixa de liberdade a pedir multiplicidade de idéias e a permitir a aplicação de processos democráticos (apresentação-discussão-voto), mas que está obstruída pela
política e pela propaganda do poder. Esse o ponto em que o conto de ladas do método especial assume sua função decisiva. Oculta a liberdade de decisão que os cientistas criadores e o público em geral têm, mesmo
no que se refere às mais sólidas e avançadas partes da ciência, antepondo-lhes a repetição dos critérios ‘objetivos’ e assim protegendo os grandes nomes (os Prêmio Nobel; os chefes de laboratórios de organizações como a Associação Médica Americana, de escolas especiais; os ‘educadores’, etc.) contra as massas (os leigos;
os especialistas em campos não-científicos; os especialistas em outros ramos da ciência): só importam os cidadãos que foram expostos às pressões das instituições científicas (sofreram longo processo de educação), que sucumbiram a essas pressões (foram aprovados no exame) e que estão, agora, firmemente convencidos da
verdade do conto de fadas.

Dessa maneira os cientistas se iludiram a si próprios e aos demais com respeito à tarefa a que se dedicam,
sem, contudo, virem a sofrer qualquer real desvantagem: dispõem de mais dinheiro, mais autoridade e exercem maior atração do que merecem — e os mais estúpidos processos e mais risíveis resultados que alcançam em sua esfera de atuação vêm rodeados de uma aura de excelência. É tempo de reduzi-los às devidas proporções e
de atribuir-lhes mais modesta posição na sociedade. Essa advertência, que apenas alguns dos contemporâneos
mais bem preparados têm condições de aceitar, parece entrar em conflito com certos fatos simples e amplamente conhecidos. Não é certo que um médico disponha de melhores recursos para diagnosticar e curar uma enfermidade do que um leigo ou o feiticeiro de uma sociedade primitiva? Não é certo que as epidemias
e as doenças graves só desapareceram após a implantação da medicina moderna? Não temos de admitir que a tecnologia conseguiu enormes avanços após o surgimento da ciência moderna? E não são as viagens à Lua a prova mais impressionante e inconteste de sua excelência? Aí estão algumas das questões lançadas ao desafiador
impudente que ousa criticar a especial posição das ciências.

As questões só atingem o polêmico objetivo a que se dirigem se for presumido que os resultados da ciência, por ninguém negados, surgiram sem recurso a elementos não-científicos e que não podem ser aperfeiçoados sem interferência de tais elementos. Processos ‘não-científicos’, tais como o conhecimento de ervas, próprio
dos feiticeiros e curandeiros, a astronomia dos místicos, o tratamento de doenças em sociedades primitivas, são totalmente destituídos de mérito. Só a ciência nos oferece uma astronomia útil, a medicina eficaz, uma tecnologia digna de confiança. Importa admitir, ainda, que a ciência deve seu êxito a método correto e não a
um acidente feliz. Não foi uma afortunada antevisão cosmológica a responsável pelo progresso e sim manipulação cosmologicamente neutra de dados existentes. Tais os supostos que devemos admitir para emprestar às questões o vigor polêmico supostamente por ela englobado. Nenhum & tais supostos resiste a verificação mais.
cuidadosa.

A astronomia moderna surgiu com a tentativa, feita por Copérnico, de adaptar as velhas idéias de Filolau às necessidades das predições astronômicas. Filolau não era um cientista preocupado com a precisão; era, como vimos (capítulo V, nota 25), um pitagórico desorientado e as conseqüências de suas doutrinas foram consideradas ‘incrivelmente ridículas’ por um astrônomo profissional como Ptolomeu (capítulo IV, nota 4).Mesmo Galileu, que se defrontou com a aperfeiçoada versão copernicana da doutrina de Filolau, diz: ‘Não tem limites meu
espanto quanto percebo que Aristarco e Copérnico foram capazes de fazer com que a razão dominasse os sentidos, de sorte que, em detrimento destes, a razão se tornasse a orientadora de suas convicções’ (Dialogue, 328). ‘Sentidos’, aqui, refere-se às experiências a que recorreram Aristóteles e outros, para mostrar que a Terra se encontrava em repouso. A ‘razão’, oposta por Copérnico a tais argumentos, é a mística razão de Filolau,
associada a uma fé igualmente mística (‘mística’ do ponto de vista dos racionalistas de hoje) no caráter fundamental do movimento circular. Mostrei que a astronomia moderna e a dinâmica moderna não poderiam ter progredido sem recorrer a essas idéias antediluvianas.

Enquanto a astronomia se beneficiou do pitagorismo e do amor de Platão pelos círculos, a medicina se beneficiou do uso de ervas, da psicologia, da metafísica, da fisiologia de feiticeiros, parteiras, curandeiros, boticários errantes. Sabe-se muito bem que a medicina dos séculos XVI e XVII, embora teoricamente hipertrofiada sentia-se inútil em face da doença (e assim permaneceu por longo tempo, após a ‘revolução científica’). Inovadores como Paracelso voltaram a idéias primitivas e aprimoraram a medicina. Em todos os pontos, a ciência se vê enriquecida por métodos nãocientíficos e resultados não-científicos, enquanto processos freqüentemente
vistos como partes essenciais da ciência foram abandonados ou contornados. O processo não se restringe à história inicial da ciência moderna. Está longe de ser simples conseqüência do primitivo estágio das ciências, nos séculos XVI e XVII. Ainda hoje, a ciência pode tirar e tira vantagem da consideração de elementos nãocientíficos.
Exemplo examinado acima, no capítulo IV, é a revivescência da medicina tradicional na China comunista. Quando
os comunistas, na década de 1950, forçaram os hospitais e escolas de medicina a transmitir as idéias e métodos registrados no Manual de Medicina interna do imperador Amarelo e a aplicá-las no tratamento dos pacientes, muitos especialistas ocidentais (entre eles, Eccles, um dos ‘Cavaleiros de Popper’) se horrorizaram e predisseram a derrocada da medicina chinesa. Ocorreu exatamente o oposto. A acupuntura, a moxa, o diagnóstico pelo pulso
conduziram a novas percepções, novos métodos de tratamento e colocaram novos problemas, tanto para o médico ocidental quanto para o chinês. E os que não apreciam ver o Estado imiscuir-se em questões científicas devem lembrar-se do acentuado chauvinismo da ciência: para a maioria dos dentistas, a frase ‘liberdade
para a ciência’ significa liberdade para doutrinar não apenas os que resolveram acompanhá-los, mas também resto da sociedade.

Claro está que nem toda combinação de elementos científicos e não científicos alcança êxito (exemplo: Lysenko). Todavia, também a ciência nem sempre é bem sucedida. Se importa evitar as misturas porque às vezes falham, também a ciência pura (se é que ela existe) há de ser evitada. (No caso Lysenko, o condenável não
é a interterência do Estado, mas a interferência totalitária, que destrói o oponente em vez de permitir-lhe seguir o próprio caminho.) Combinando essa observação com a percepção de que a ciência não dispõe de método especial, chegamos à conclusão de que a separação entre ciência e não-ciência não é apenas artificial, mas perniciosa para o avanço do saber. Se desejamos compreender a natureza, se desejamos dominar a circunstância física, devemos recorrer a todas as idéias, todos os métodos e não apenas a reduzido número deles. Assim, a
asserção de que não há conhecimento fora da ciência — extra scientiam nulla salus — nada mais é que outro e convenientíssimo conto de fadas. As tribos primitivas faziam classificações de animais e plantas mais minuciosas que as da zoologia e da botânica de nosso tempo; conheciam remédios cuja eficácia espanta os médicos (e a indústria farmacêutica já aqui fareja uma nova fonte de lucros); dispunham de meios de influir sobre os membros do grupo que a ciência por longo tempo considerou inexistentes (vodu); resolviam difíceis problemas por meios ainda não perfeitamente entendidos (construção de pirâmides, viagem dos polinésios). Havia, na Idade da Pedra, uma astronomia altamente desenvolvida e internacionalmente conhecida, astronomia que era factualmente
adequada e emocionalmente satisfatória, dando solução a problemas tanto sociais quanto físicos (o mesmo não se
pode dizer a respeito da astronomia moderna) e que foi submetida a testes por meios muito simples e engenhosos
(observatórios de pedra na Inglaterra e no Pacifico Sul; escolas astronômicas na Polinésia). (Para tratamento mais aprofundado e referências mais precisas, no que toca a todas essas afirmativas, cf. meu Einjührung in die Naturphilosophie.)





Continua...

Espero que estejam se divertindo como eu.  :)
Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

"O maior vício do capitalismo é a distribuição desigual das benesses. A maior virtude do socialismo é a distribuição igual da miséria." (W. Churchill)

 

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