Não disse que não é uma analogia. Mas pra mim não é uma analogia totalmente aplicável, pois propriedade intelectual não é exatamente propriedade privada. Propriedade privada é bem tangível nos que se refere ao direito de posse, é ser dono de algo e fim. A propriedade intelectual tem muito mais nuances legais e relações éticas distintas do que a propriedade privada. Por exemplo, Brasil e Índia quebraram patentes de remédios contra Aids para baratear os custos e promover um maciço programa de tratamento público. Alguém ousa contestar o caráter ético de tal empreitada?
É uma situação justificável, considerando que há vidas humanas em jogo, mas não deixa de ser ilegal, como disse o Geo. Brasil e Índia pesaram os prós e os contras e assumiram a responsabilidade pela quebra da patente em troca de salvar millhares de vidas.
Mas é uma situação totalmente diferente a dos softwares/filmes. Ninguém vai morrer só porque não tem a última versão do Office instalado ou porque deixou de assistir o último filme do Harry Potter. A única razão para a pirataria nesse caso é que o indivíduo quer ter o programa/filme, mas não pretende pagar por ele o que os seus autores acham justo.
Pois é, e eu concordo com você. Esta aí um dos porquês que a propriedade intelectual não é o mesmo do que a propriedade privada.
Ela é um tipo de propriedade, pois é um bem, um ente valorável. Não vejo como contestar isto.
Agora se a posse deste bem resulta em um desconforto ou é prejudicial, seja para um seja para muitos, é outro ponto, outra discussão. E neste caso eu não vejo nenhuma justificativa em poder quebrar uma patente de um remédio e não poder invadir uma fazenda.
Outra coisa, é que é muitíssimo difícil que alguém já não tenha quebrado os direitos de propriedade intelectual alguma vez, seja copiando um livro para estudos, seja gravando uma música na internet, seja usando um software pirata, ou de alguma outra pequena forma.
Sim, é plausível que ninguém passe incólume por um filtro legal desta magnitude.
Nem por isso, ou até por isso, ninguém sai chamando quem já cometeu um ato desses de criminoso, ou ladrão, em comparando com alguém que furtou uma carteira, por exemplo.
E ninguém aqui afirmou que contravenções com o mesmo grau de gravidade. Mas, ainda assim, eles se equivalem no fundamental: São atos ilegais!
Existe diferenças qualitativas importantes nesses atos, porque a propriedade intelectual lida com informação, muitas vezes barrando ela para quem precisa ou quer essa informação, o que é um limite ético importante para o desenvolvimento cultural, embora paradoxalmente eu também ache que é um estímulo à produção de informação.
Se for seguir o seu raciocínio
ipsis literis - e eu sei que há mais complexidade nele do que aparenta - a posse de terras com aquíferos por um país também pode justificar a violação da soberania deste se as populações dos países vizinhos, ou pelo menos do entorno, tiverem a necessidade da água para a sua sobrevivência.