Existem vários problemas com o conceito de teste de QI (ou outro teste semelhante) como um sinalizador de castas intelectuais, como querem certos psicólogos. No livro do Robert Sternberg que citei é demonstrada algumas das razões...
1- Não é o DNA que cria o molde da inteligência para começo de conversa. Já foi demonstrado por Wayne Dennis, psicólogo americano em atividade no Irã, que crianças de certos orfanatos que não eram adotadas até os dois anos de idade eram, em grande parte, retardadas mentais, o que não acontecia às que eram adotadas (com diferença média de 50 pontos no QI!).
2- Mesmo que a genética tenha influência no QI, o próprio estímulo intelectual e a alimentação nos respectivos ambientes afetam a genética. Não existe influência genética independente da influência ambiental.
3- Muitos cientistas supuseram que o QI é uma entidade fixa ou altamente resistente à mudanças ao longo do tempo, mas ele pode ser aumentado, como mostrou o Projeto Odissey, instituído na Venezuela durante um período em que havia um Ministério de Desenvolmento da Inteligência.
4- Muitas pessoas podem melhorar seus resultados (e algumas de forma drástica!) em testes como SAT e GRE, ou qualquer outro teste de admissão, utilizando um livro ou fazendo um curso preparatório. Algumas pessoas não sabem dos cursos ou não podem pagar por eles, o que suscita dúvidas quanto à imparcialidade.
5- Apenas poucos testes são criados com base em uma teoria da inteligência. Sem uma teoria da inteligência, não se pode definir o que a inteligência é, a menos que se recorra à fraca e vaga definição "inteligência é o que o teste avalia".
6- A validade dos testes é questionada por muitos estudos. Um deles (de Robert Sternberg), mostrou que testes de inteligência como o GRE conseguem prever as notas do programa de pós-grauação do curso de psicologia no primeiro ano, e só (e não foi nada demais, no que se refere ao GRE verbal, quantitativo e analítico).
7- As editoras dos testes gostam de testes em que todas as questões em um determinado subteste avaliam mais ou menos a mesma coisa. Isso tem um preço. Quanto mais questões avaliarem a mesma coisa, menor a abragência do que está sendo avaliado. Assim, a coerência é geralmente obtida em detrimento da amplitude da avaliação. Por isso não surpreende o fato de os testes serem vistos por especialistas como medidas de apenas uma pequena parte da inteligência.
8- Correlação não indica direção de causalidade. Suponha que exista correlação entre inteligência avaliada e colocação no emprego. Vamos chamá-las de fator X e fator Y. Pode ser que o fator X cause Y; pode ser que o fator Y cause X; ou pode ser que um fator superior cause os dois.
9- Um pesquisador descobriu que o único melhor fator de previsão do QI adulto não é o QI dos pais, o nível de renda, a classe social ou qualquer das variáveis que se poderia esperar. Em vez disso, é o número de anos de educação formal, em especial a educação ocidental (e com as particularidades da cultura do país onde se fazem os testes; por exemplo, o teste de Matrizes Progressivas de Raven não leva em conta que nem todas as culturas foram igualmente expostas às figuras geométricas). Ou seja, a inteligência nos testes de QI é avaliada por meio das habilidades conquistadas. Isso explica porque já houve um caso de um pesquisador americano, Henry Goddard, chamar 79% dos imigrantes italianos nos EUA de "débeis mentais", antes que as gerações subsequentes de ítalo-americanos mostrassem um QI um pouco acima da média.
10- Testes de inteligências não medem as capacidades criativas e práticas, e estas mostram correlações fracas e desprezíveis com os testes convencionais. Essa é um das principais conclusões dos estudos empíricos acerca da validade da Teoria Triárquica da Inteligência de Robert Sternberg.
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