Creio que não entendeu o cerne da crítica feita por Russell, ele não parte do pressuposto de que Nietzsche seria o tal Super-homem, e sim de que a forma que o mesmo adquiriu na obra de Nietzsche era uma mera projeção do pensamento pensamento do filósofo teutônico, ''impiedoso, ardiloso e cruel''. Outro ponto em que sua discordância a crítica de Russell falha é sobre o ''amor cristão''. Nietzsche não despreza o amor cristão por ser ''baseado no medo'', ele o condena porque Nietzsche é basicamente contra toda e qualquer forma de altruísmo, que na filosofia nietzscheana não passa de um sinal da decadência do ''homem superior''. Não por acaso Nietzsche atribuía a introdução do cristianismo e sua moral igualitarista e altruísta como principal fator a desencadear a queda do império romano. Lembre-se que Nietzsche foi uma das principais inspirações do fascismo, com suas ideias de domínio do forte sobre o fraco e de uma sociedade fortemente estratificada baseada em castas (quem leu O Anticristo sabe muito bem do que estou falando). Sobre o argumento ad hominem usado por Russell, devemos nos lembrar que esse vídeo é apenas um comentário geral e não uma análise acadêmica, que diga-se de passagem também foi feita pelo célebre filósofo galês em outras oportunidades. Nietzsche foi um grande escritor, um dos mestres da prosa em alemão, mas quando analisadas filosoficamente muitas de suas ideias (não todas, levando ainda em consideração fato de que em muitas passagens sua linguagem poética propicia diversas interpretações) se mostram incoerentes ou potencialmente danosas, fornecendo inspiração para movimentos totalitários.
Gostaria de saber em que trecho de que livro,Nietzsche diz que o altruismo é um sinal de decadência do homem superior? Tambem gostaria de saber em que trecho ele diz que os fortes devem usar da força bruta para oprimir os fracos,que deve ser a razão pela qual você o considera como um dos pensadores que mais causou mal à humanidade?
Está aí algo que eu também gostaria de saber. Reconhecer o processo seletivo da evolução é ser despótico, é incentivar a tirania e a opressão? Claro que os adeptos politicamente corretos do culturismo fogem dessa realidade como o diabo, se existisse, fugiria da cruz. Não querem reconhecer que há mais bem adaptados dentro da espécie humana. Mas demonstram desconhecer tanto os meandros insondabilíssimos da evolução que não percebem que os mais bem adaptados podem ser justamente aqueles que eles temem não ser. Essa me parece ser a mesma base falaciosa da argumentação de crentes contra Darwin de que ele, com sua teoria, teria dado aval ou mesmo incentivado atos de dominação como se ele pudesse ter criado alguma realidade. Os mais bem adaptados sobrevivem mais e melhor e há muitas formas de ser mais bem adaptado, como ser mais forte fisicamente, mais forte psicologicamente ou... mais forte altruisticamente. Mas, no processo altruístico, quem é o mais forte *evolutivamente*? Não é o "mais fraco" aparentemente? Como o processo evolutivo é complexíssimo, normalmente esquece-se de quem é o "mais forte", o mais bem adaptado no altruísmo. Nada muda, são só as ideias (realmente) preconcebidas e desviadas da realidade com tendências associativas de força e de fraqueza com paralelos que não correspondem ao que é real. A tendência para dominar pode ser um fator de fraqueza evolutiva, de seleção eliminatória. Pode desencadear sensos de culpa, arrependimento, piedade, defesa, nos próprios ou em outros, e quem se beneficia com isso? Como exemplo (e isto é um exemplo de finalidade estritamente científica; não tenho nenhum partido a tomar nisso; notando que só de eu perceber a necessidade de frisar já reforça o exemplo que estou apontando), quem se deu melhor, evolutivamente, os nazistas ou os judeus? Quem foi selecionado e quem foi eliminado? Isto é evolução em sociedade humana, qualquer que seja a ilusão a que se atribua o fato.
Mas como tudo o que li de Nietzsche foi só o que eu já disse, além de diversas citações esparsas, espero que alguém me aponte onde estaria a conclamação *direta e objetiva* à dominação e à barbárie contra fracos e oprimidos proclamada por ele. Do que eu li, só posso depreender que ele denunciava um tipo específico de dominação. Do que li, só posso entrever um discurso libertário, não opressor. Também não achei nem um pouco impressionante nem interessante o discurso dele. Qualquer realista pensa exatamente ou quase da mesma forma.
O ''fim da metafísica'' citado por Heidegger e interpretado por você como sendo uma eliminação de explicações sobrenaturais para o universo não procede, metafísica nesse contexto não se refere simplesmente a fenômenos sobrenaturais, na tradição continental de filosofia essa palavra não tem o mesmo sentido que é comumente usado em meios céticos/ateuzinhos da atualidade. A forma como esse termo é usado popularmente hoje em dia é com o sentido que os positivistas lógicos do início do século XX atribuíam ao termo, sendo sinônimo de asserções não-empíricas, não tratáveis cientificamente. Para Nietzsche e Heidegger, metafísica significa sobretudo uma estruturação última da realidade, o estabelecimento de ideias gerais que seriam um guia para os homens em sua existência (ou seja, nesse sentido o próprio racionalismo é um conceito metafísico para eles). Essa interpretação de Heidegger sobre a obra de Nietzsche é interessante, mas desemboca no niilismo e no relativismo.
Metafisica seria algo como o conjunto de ideias que a mente usa para determinar o que pertence a realidade e o que não pertencem,como a ideia de "penso,logo existo",por exemplo? Ademais,gostaria de saber qual o problema que teria da análise de Heidegger desembocar no niilismo e no relativismo e mais importante,qual seria o problema desses conceitos filosóficos?
E o que seria "estruturação última da realidade", "guia (perfeito? definitivo?) para homens e suas existências" senão pricípios mágicos, sobrenaturais, antropocêntricos de que há uma essencialidade, um absoluto na razão humana de existir? Ora, se ainda se dissesse que, para eles, metafísica significasse "a física como meta" (essa foi boa...). Os significados acima são tão mágicos, transcendentes ou sobrenaturais quanto qualquer um "outro" que os... como é mesmo?? céticos/ateuzinhos/positivistas lógicos (nossa, que palavrões feios! parece um xingamento e tanto...) do século XX e da atualidade tenham em mente quando do termo.
Se o racionalismo (e não falo aqui do filosófico, mas do estritamente científico mesmo) for interpretado como essa teoria última de tudo, estilo pleno de viver e de pensar, evoluído para uma singularidade absoluta no viver e no pensar, então, que se descarte no lixo esse tal racionalismo porque é metafisicamente sobrenatural, mágico, transcendente ou como se quiser chamar desde que se entenda claramente, sem polissemismos desvairados ou tergiversações tendenciosas, que é irreal, expressão irreal da realidade (tentativa de) e que não tem qualquer utilidade ou função para nada objetivo.