Gaúcho, ao contrário do pau brasil a corrupção não é um produto exclusivamente nacional.
Sem dúvida.
Mas aqui encontra 'pastos verdejantes' para se alimentar semelhantes apenas nas republiquetas que 'pululam' por aí.
Agora, meu caro Geo:
Sim?
Primeiro os "defeitos" listados não foram sérios e nem gravíssimos. Na maioria eram um punhado de bobagens, algumas afirmações que nem se sustentam, como problemas de fornecimento de energia elétrica. A menos que ela tenha tido o azar de de ter morado em algum lugar muito específico com esse problema.
Muito bem.
Agora você começou a analisar objetivamente a situação.
E, sim, eu concordo, que alguns problemas citados são insignificantes, mencionados apenas por questão de picuínha.
Mas basta conhecer alguns países mais bem estruturados econômica-social-culturalmente para perceber as graves deficiências que temos como país e como povo.
Segundo o complexo de vira-lata não está em reconhecer os problemas sérios e graves, mas em dar importância justamente a bobagens como estas, vindas de uma pessoa absolutamente anônima. E não, eu não vejo e nunca vi outros tópicos semelhantes, nem vejo as pessoas se importarem tanto com o que os paraguaios ou os bolivianos dizem do Brasil. Aí é que se torna patente o complexo de vira-lata.
O Paraguai e a Bolívia tem condições superiores sócio-econômica às nossas?
Agora, você me pede um exemplo...
Se você for na bela cidade de Petrópolis vai poder visitar o antigo palácio de verão do imperador, hoje transformado em museu. O acervo é bem pobre, se comparado com outros museus e palácios da Europa, mas há uma peça que chama atenção. Não pelo valor, mas talvez pelo significado.
Um badulaque em prata de lei, com símbolos de religiões e talismãs de religiões africanas que as escravas usavam na cintura em ocasiões festivas. Não é interessante? Não havia, no Império, separação entre religião e Estado, a religião católica era oficial. Com a Inquisição ainda em vigência o imperador recebia seus convivas, incluindo as autoridades eclesiásticas, que eram servidas por escravas adornadas com amuletos de sua própria religião.
Em que outro país se pode imaginar algo assim? Como as festas de largo de Salvador, que eram todas festas de negros, e em frente das igrejas.
O seu exemplo é perfeito para mostrar que no Brasil a segregação social sempre foi mais forte do que a religiosa ou a racial, embora esta também seja muito importante. Mas acho que a explicação é um pouco mais complexa do que a de uma "grande tolerância" proveniente dos 'brancos nobres'.
A maior parte da nobreza brasileira nunca se identificou com o Brasil, sendo que boa parte queria mesmo era ter uma vida nababesca na Europa. Então não se importavam com uma 'identidade nacional', como foi o caso dos estadunidenses, que a criaram com uma 'cara' branca, mesmo que custasse, naquele momento, a supressão ou diminução da influência de culturas menos poderosas. Elas só foram 'recuperadas' ao longo dos anos por causa de diversos fatores, incluindo o crescimento da tolerância e da aplicação da constituição.
Ainda com a escravidão em vigência o negro Machado de Assis já era considerado o maior escritor do Brasil, empregado em no jornal de maior prestígio da capital. Machado de Assis que cursou a Escola Politécnica, a principal e mais importante escola pública do Rio de Janeiro.
Isso, mais de cem anos antes da Guarda Nacional ter sido obrigada a intervir nos Estados Unidos para que meia dúzia de estudantes negros pudessem sentar numa sala de aula de uma universidade. E com o próprio governador do estado na porta tentando impedir!
Já existe um tópico para discutir sobre racismo e políticas afirmativas, por isto não vou entrar no mérito.
Mas você se equivoca ao comparar a situação singular de Machado de Assis com a questão social geral do EUA, especialmente da vigente nos estados do sul onde o segregacionismo foi admitidos até os anos de 1960.
O escritor supra foi uma exceção, honrosa sem dúvida, mas ainda assim uma exceção. A imensa maioria dos negros, em especial aqueles pobres, viviam em uma situação muito precária.
A situação dos negros no EUA, quando comparadas as regiões, era fortemente assimétrica porque os estados mais industrializados do Nordeste havia uma tolerância racial bem maior do que nos estados agro-pastoris do Sul. E mesmo assim, grandes escritores negros surgiram no Sul muito antes da existência de uma política federal de integração racial, como é o caso de Richard Wright.
Na segunda guerra, as tropas aliadas na Itália era um verdadeira legião estrangeira: americanos, ingleses, franceses, argelinos, africanos, poloneses... E brasileiros, claro. Mas há um jovem historiador italiano que se especializou na campanha da FEB, e o motivo foi ter crescido ouvindo as histórias que todos na aldeia contavam sobre os pracinhas brasileiros.
Ele mesmo diz: "Olha, quando se conversa com o pessoal daqui... bom, os brasileiros eram totalmente diferentes, deixaram uma admiração muito grande.";
Eu já ouvi estórias sobre isto.
Uma delas foi contada pelo meu tio-avó que participou (e foi ferido) da FEB em uma campanha na região de Castelnuovo em março de 1945. Pelo relato dele, alguns dos soldados brasileiros tiveram problemas com os superiores e os moradores locais por comportamento inadequado, especialmente furto.
Há muita coisa sim, de original, própria e positiva, basta ter a boa vontade de enxergar.
Sim, sem dúvida que há.