Autor Tópico: Impostômetro alcança R$ 1 trilhão na 4ª feira  (Lida 8172 vezes)

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Offline -Huxley-

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Impostômetro alcança R$ 1 trilhão na 4ª feira
« Online: 29 de Agosto de 2012, 00:17:33 »


— Não tem jeito: vamos precisar da CPMF


Impostômetro alcançará R$ 1 trilhão na 4ª feira

A arrecadação de tributos federais, estaduais e municipais, pagos pelos brasileiros desde 1º de janeiro, chegará a 1 trilhão de reais na próxima quarta-feira, de acordo com previsão do Associação Comercial de São Paulo (ACSP). Com isso, a marca do chamado Impostômetro será atingida 15 dias antes de 2011.

Segundo o levantamento da ACSP, desde 1º de janeiro os moradores da cidade de São Paulo já pagaram mais de 21 bilhões de reais em tributos municipais, estaduais e federais. O cálculo, que também pode ser feito para a população de outros municípios, está disponível no portal Impostômetro.

A associação argumenta que, apesar de a crise mundial continuar ameaçando o desempenho da economia global, de as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) recuarem este ano e dos incentivos fiscais oferecidos pelo governo, como redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para manter as vendas de alguns setores produtivos específicos, a carga tributária brasileira continua em ritmo acelerado.

Contudo, a arrecadação federal tem apresentado trajetória de queda. Segundo dados da Receita Federal divulgados nesta segunda-feira,  o volume total de impostos e contribuições recolhidos apresentou em julho uma queda real de 7,36% em relação ao mesmo mês de 2011, para 87,94 bilhões de reais.

(Com Agência Estado)

Link: http://veja.abril.com.br/noticia/economia/impostometro-alcancara-r-1-tri-em-tributos-na-4a-feira

Offline -Huxley-

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Re:Impostômetro alcança R$ 1 trilhão na 4ª feira
« Resposta #1 Online: 29 de Agosto de 2012, 00:28:21 »
"A carga de impostos é alta, sim. Vamos baixá-la".




Offline Geotecton

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Re:Impostômetro alcança R$ 1 trilhão na 4ª feira
« Resposta #2 Online: 29 de Agosto de 2012, 00:56:46 »
E as despesas com custeio e a dívida pública não param de crescer, esta mesmo com a queda da taxa de juros.
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Offline Derfel

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Re:Impostômetro alcança R$ 1 trilhão na 4ª feira
« Resposta #3 Online: 29 de Agosto de 2012, 08:36:33 »
Até hoje não entendo o cálculo do impostômetro. Parece-me mais um chutômetro. Como pode dizer que alcançou a marca de 1 trilhão 15 dias antes que no ano passado se a receita informa queda na arrecadação?

Skorpios

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Re:Impostômetro alcança R$ 1 trilhão na 4ª feira
« Resposta #4 Online: 29 de Agosto de 2012, 08:45:14 »
Até hoje não entendo o cálculo do impostômetro. Parece-me mais um chutômetro. Como pode dizer que alcançou a marca de 1 trilhão 15 dias antes que no ano passado se a receita informa queda na arrecadação?

A Receita Federal. Esse valor é da arrecadação das 3 esferas. Dê uma olhada aqui .

Offline Geotecton

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Re:Impostômetro alcança R$ 1 trilhão na 4ª feira
« Resposta #5 Online: 29 de Agosto de 2012, 10:01:53 »
Até hoje não entendo o cálculo do impostômetro. Parece-me mais um chutômetro. Como pode dizer que alcançou a marca de 1 trilhão 15 dias antes que no ano passado se a receita informa queda na arrecadação?

Eu duvido muito mais das informações prestadas pelo Estado...
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Temma

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Re:Impostômetro alcança R$ 1 trilhão na 4ª feira
« Resposta #6 Online: 29 de Agosto de 2012, 14:39:55 »
A idéia de um impostometro contabilizando os tributos por si já é uma mentira. Como disse o Derfel, qual a metodologia? Nem a receita tem esses números. Acredito que o propósito é incutir no cidadão médio a idéia nada nova mas muito mal vista por aqui da necessidade de "enxugar o Estado". Não por acaso, a coisa é bem "for dummies".

Eu não acredito muito nessa conversa de corte de impostos. Um blog fez uma planilha com dados da fundação Heritage, e olha só.



Há outras imagens também, sobre o poder de compra e a renda em dólares, mas é melhor que vejam no original.

http://meiradarocha.jor.br/news/2010/04/07/a-impostura-do-impostometro/







Offline Price

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Re:Impostômetro alcança R$ 1 trilhão na 4ª feira
« Resposta #7 Online: 29 de Agosto de 2012, 15:15:04 »
A idéia de um impostometro contabilizando os tributos por si já é uma mentira. Como disse o Derfel, qual a metodologia? Nem a receita tem esses números. Acredito que o propósito é incutir no cidadão médio a idéia nada nova mas muito mal vista por aqui da necessidade de "enxugar o Estado". Não por acaso, a coisa é bem "for dummies".

Eu não acredito muito nessa conversa de corte de impostos. Um blog fez uma planilha com dados da fundação Heritage, e olha só.



Há outras imagens também, sobre o poder de compra e a renda em dólares, mas é melhor que vejam no original.

http://meiradarocha.jor.br/news/2010/04/07/a-impostura-do-impostometro/

Se o problema são as fontes, por quais motivos esse estudo da Heritage é mais confiavel que o impostômetro sendo que a fonte de dados de ambos é a mesma?
Se você aceitar algumas colocações minhas...
A única e verdadeira razão de eu fazer este comentário em resposta é deixar absolutamente claro que NÃO ACEITO "colocações" suas nem de quem quer que seja.

Temma

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Re:Impostômetro alcança R$ 1 trilhão na 4ª feira
« Resposta #8 Online: 29 de Agosto de 2012, 15:32:58 »
manipulação de dados?

Offline Geotecton

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Re:Impostômetro alcança R$ 1 trilhão na 4ª feira
« Resposta #9 Online: 29 de Agosto de 2012, 15:44:34 »
E quais dados foram manipulados?
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Offline _Juca_

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Re:Impostômetro alcança R$ 1 trilhão na 4ª feira
« Resposta #10 Online: 29 de Agosto de 2012, 16:03:16 »
Tem uma coisa que esse mapa revela, a quantidade de imposto em relação ao PIB não parece que é determinante no grau de desenvolvimento econômico dos países.

México tem uma relação de pouco menos de 10% e a renda percapita é a próxima à da Russia que tem 36,6%, quase igual ao Brasil. A Mongólia tem uma relação de pouco mais de 30% e uma renda percapita 10 vezes menor que da Austrália que tem uma relação Imposto/PIB parecida.

Por outro lado, os países da Europa, América do Norte, Austrália e Japão, mais desenvolvidos, tem impostos 2 ou 3 vezes maior que os países da América Latina, África e Ásia, com algumas exceções para baixo e para cima.


Temma

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Re:Impostômetro alcança R$ 1 trilhão na 4ª feira
« Resposta #11 Online: 29 de Agosto de 2012, 16:09:09 »
E quais dados foram manipulados?

Aqueles números rodando num painel ao estilo "placar eletrônico"? Os dados trimestrais da receita costumam ser tão alardeados e muitas vezes impactar a economia e as pressões sobre o governo acredito por serem de difícil predição. Tanto que o Derfel colocou a questão: Como pode o impostômetro registrar recorde se a receita diz que houve queda na arrecadação?

Além disso, essa manipulação serve para a idéia de que o que deve haver imediatamente é desoneração de impostos, quando os dados do gráfico mostram que os países ricos cobram em geral valores próximos aos nossos,  e quanto mais pobres, menos taxas. Também há que ser levado em conta os serviços, claro, assim como a produtividade. Aliás, creio que isso também seja importante: e sempre é ignorado. Vejam notícia recente do Estadão



Arrecadação de impostos per capita no Brasil é um terço da de países ricos


SÃO PAULO - Os impostos pagos no Brasil precisariam triplicar para que o Estado tivesse condições de oferecer à população um serviço público equivalente ao de países ricos, mostram dados da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico). Isso significa que a arrecadação de tributos deveria atingir 106% do PIB (produto interno bruto) - o que é impossível.

Juntos, os governos dos países do G-7 arrecadaram US$ 8,729 trilhões em 2010 em cima de uma economia que produziu conjuntamente US$ 29,320 trilhões. O resultado é uma carga tributária de 29,77% do PIB. Já no Brasil, os tributos equivaleram a 33,56% da economia, segundo a Receita Federal.

No entanto, no grupo dos sete países ricos, o PIB por habitante é de US$ 39.675, enquanto no Brasil é de apenas US$ 11.314. Considerando a carga tributária citada acima, o Estado brasileiro arrecadou naquele ano US$ 3.797 em impostos por habitante. Já os governos dos países do G-7 obtiveram US$ 11.811 para gastar com cada morador, mais que o triplo do verificado no Brasil.

Em outras palavras, para tentar oferecer serviço público equivalente ao dos países do G-7 sem mexer na arrecadação, o Estado brasileiro deveria ser pelo menos três vezes mais eficiente - por exemplo, deveria ser capaz de construir três hospitais com o dinheiro que as nações ricas erguem apenas um.

Esses cálculos levam em conta o tamanho da economia de cada país. Por exemplo, o PIB dos Estados Unidos equivale a 50% da economia total do G-7 e por isso sua carga tributária tem peso de 50% no cálculo da carga média.

Outra possibilidade é calcular a média simples, somando a arrecadação por habitante dos países do G-7 e dividindo o resultado por sete. Nesse caso, a receita de tribiutos por pessoa é de US$ 12.268. No Brasil, para atingir esse nível, seria preciso uma carga tributária de 108% do PIB.

A comparação usou os cálculos do FMI de paridade do poder de compra, que permitem uma comparação mais precisa considerando a diferença do poder de compra nos países.

http://economia.estadao.com.br/noticias/economia,arrecadacao-de-impostos-per-capita-no-brasil-e-um-terco-da-de-paises-ricos,123836,0.htm



Há um outro trecho da matéria que fala da ineficiência do Estado, mas sinceramente, não tem nenhuma correlação com o referido estudo, pareceu mais um "bate e assopra", uma vez que a notícia se opõe ao que a imprensa costuma atualmente defender em relação aos gastos com o Estado.


« Última modificação: 29 de Agosto de 2012, 16:14:19 por Temma »

Offline Price

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Re:Impostômetro alcança R$ 1 trilhão na 4ª feira
« Resposta #12 Online: 29 de Agosto de 2012, 17:01:58 »
E quais dados foram manipulados?

Tanto que o Derfel colocou a questão: Como pode o impostômetro registrar recorde se a receita diz que houve queda na arrecadação?
O impostômetro não é alimentado com dados em tempo real, mas sim com base na previsão que a Receita Federal tem sobre o recolhimento de tributos. Essa previsão é baseada no "relatório bimestral de revisão de receitas e despesas" do Governo do Fedério, e tal previsão pode ser modificada de acordo com o conteúdo desse relatório.
O total recolhido até agora é cerca de 7% menor que no ano passado, mas isso não quer dizer que é impossível haver aumento - até porque ano passado houveram alguns eventos anormais na arrecadação - logo a previsão ainda é plausível e válida como fonte de dados.

Além disso, essa manipulação serve para a idéia de que o que deve haver imediatamente é desoneração de impostos, quando os dados do gráfico mostram que os países ricos cobram em geral valores próximos aos nossos,  e quanto mais pobres, menos taxas.
Apresente provas.

Também há que ser levado em conta os serviços, claro, assim como a produtividade. Aliás, creio que isso também seja importante: e sempre é ignorado. Vejam notícia recente do Estadão
Quem compara os serviços do BR ao dos outros países exigindo equivalência ou proximidade em qualidade com a arrecadação atual não sabe como a macroeconomia funciona. O estudo do estadão está completamente correto.
Se você aceitar algumas colocações minhas...
A única e verdadeira razão de eu fazer este comentário em resposta é deixar absolutamente claro que NÃO ACEITO "colocações" suas nem de quem quer que seja.

Offline Geotecton

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Re:Impostômetro alcança R$ 1 trilhão na 4ª feira
« Resposta #13 Online: 29 de Agosto de 2012, 17:05:07 »
E quais dados foram manipulados?
Aqueles números rodando num painel ao estilo "placar eletrônico"?

E o que é que ele tem de "excepcional"?


Os dados trimestrais da receita costumam ser tão alardeados e muitas vezes impactar a economia e as pressões sobre o governo acredito por serem de difícil predição.

Os valores do "impostômetro" são apenas uma aproximação e duvido que qualquer número governamental neste país seja de real confiança.


Tanto que o Derfel colocou a questão: Como pode o impostômetro registrar recorde se a receita diz que houve queda na arrecadação?

Mesmo que a arrecadação tenha caído ela ainda assim pode ser maior no acumulado deste ano do que no mesmo período do ano passado.


Além disso, essa manipulação serve para a idéia de que o que deve haver imediatamente é desoneração de impostos,...

Não há nenhuma dúvida quanto a isto porque é mais fácil a sociedade pleitear uma redução na carga tributária do que aguardar uma melhora no serviço público, que depende da boa-vontade de políticos e 'barnabés', que sempre apresentam a desculpa "ahhh, não dá para fazer isto ou aquilo porque falta dinheiro".


quando os dados do gráfico mostram que os países ricos cobram em geral valores próximos aos nossos, e quanto mais pobres, menos taxas.

Eis um ponto nevrálgico. Os países ditos "ricos" cobram uma carga tributária do PIB próxima da nossa mas os serviços deles são muito melhores.

Então fica claro para a sociedade (pelo menos para aquela parte que paga a conta) que entre aguardar a melhora na eficiência do Estado e agir para uma redução de sua carga tributária, esta é muito melhor porque ela é garantida e de efetividade mais rápida.


Também há que ser levado em conta os serviços, claro, assim como a produtividade.

A qualidade dos serviços do Estado que eu utilizo é, na sua maioria, péssima.


Aliás, creio que isso também seja importante: e sempre é ignorado. Vejam notícia recente do Estadão

A qualidade nunca é ignorada, nem pela mídia e muito menos pela população.
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Offline -Huxley-

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Re:Impostômetro alcança R$ 1 trilhão na 4ª feira
« Resposta #14 Online: 29 de Agosto de 2012, 17:13:51 »
Eu fico pasmo quando vejo que ainda existem certas discussões sobre óbvios ululantes da vida...

O motor do desenvolvimento é o setor privado, e não o Estado. No caso específico do Brasil, aumento de carga tributária é quase certeza de peso morto. A tributação no Brasil parece especialmente planejada para atrapalhar a formação de capital, e ninguém mais acredita em promessa política de reforma tributária. Ademais, o gasto público social geralmente não tem eficiência sequer razoável em termos de custo/benefício (solicito que vejam o trabalho de Ricardo Paes de Barros, ex-Ipea, sobre esse assunto). Prova disso é que o Brasil tem altíssima carga tributária, e ainda assim, a saúde e a educação do setor público são umas bostas, mesmo para os padrões dos países emergentes.

Ah, mas ter carga tributária elevada não é tão ruim, um país desenvolvido típico também tem carga tributária comparável a nossa. Só que essa observação esquece de um detalhe. Dentre os países mais desenvolvidos que mais cresceram nos últimos anos, aqueles que têm carga tributária mais elevada tem sofrido mais com crescimento medíocre do PIB. O mesmo padrão se repete entre os países emergentes. Por outro lado, Coréia do Sul, Cingapura, Taiwan, Hong Kong, Malásia e Chile são paradigmas de bom ritmo de crescimento econômico e de carga fiscal moderada. Isso já foi discutido em papers de Economia e lembro de um artigo muito interessante publicado em 2006 sobre o assunto (vou publicá-lo no próximo post). 

Que bom seria se pudéssemos debater sobre o quão razoáveis seriam os limites para reduzir o tamanho do papel do Estado na economia, sem que isso implicasse em desordem social (como nos países ricos do Leste Asiático em que o desenvolvimento é equilibrado). O problema é que, aqui no Brasil, ainda se discute se a Terra é plana ou aproximadamente esférica. Esse me parece um caso análogo a se discutir se é razoável reclamar ou não do aumento da carga tributária do Brasil em tempos recentes.
« Última modificação: 29 de Agosto de 2012, 21:51:05 por -Huxley- »

Offline -Huxley-

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Re:Impostômetro alcança R$ 1 trilhão na 4ª feira
« Resposta #15 Online: 29 de Agosto de 2012, 17:14:37 »
Uma verdade inconveniente
(ou: por que o Brasil não cresce 5% ao ano...)

 

Durante a campanha presidencial de 2006, e nos dias que se seguiram à vitória do presidente-candidato, muito se falou sobre a intenção de fazer o Brasil crescer mais, isto é, de ser acelerado o crescimento econômico. Chegou-se a citar a cifra – não se sabe se mágica, ou apenas anódina, em vista de taxas bem maiores nos demais emergentes – de 5% anual como índice aceitável, ou até mesmo necessário, para o crescimento do PIB.

Com todo o respeito por promessas eleitorais ou mesmo por projetos de governo, uma verdade inconveniente precisaria ser afirmada: o Brasil, caso único entre os países emergentes, atende a todos os requisitos para, justamente, NÃO crescer. A intenção deste breve ensaio é a de demonstrar como e por que o Brasil não pode atender aos objetivos proclamados de uma taxa mais rápida de crescimento econômico, por uma razão simples: ele NÃO consegue crescer e a causa está nos níveis elevados de despesas  públicas.

Em economia não existem certezas absolutas, apenas relações matemáticas que podem apresentar algum grau de correlação com a realidade, ou seja, mesmo não sendo verdades científicas, elas podem ser comprovadas empiricamente. Entre essas correlações encontram-se as conexões entre taxas de investimento e taxas de crescimento, a relação capital-produto (que varia muito setorialmente), os vínculos entre a competitividade das exportações e a taxa de câmbio, efeitos inflacionários da paridade cambial, aqueles sobre a demanda agregada derivados das políticas monetária, fiscal e tributária, bem como variações nos níveis de emprego em função de encargos laborais compulsórios ou outras medidas (inclusive a taxação sobre o lucro das empresas e a renda dos agentes privados).

Não se sabe bem de onde foi tirada a cifra “mágica” de 5% de crescimento, mas o que pode, sim, ser afirmado, é que, com uma taxa de investimento anual inferior a 20% do PIB, é virtualmente impossível fazer a economia brasileira crescer mais do que 3% ao ano. Se o Brasil deseja crescer mais do que isso, vai ter de aumentar consideravelmente o nível dos investimentos, o que não quer dizer, necessariamente, a poupança doméstica – pois esta pode ser suplementada pela poupança externa, ou até aumentar no bojo do próprio processo de crescimento –, mas o certo é que o País precisaria diminuir, muito e rapidamente, o nível da “despoupança” estatal, que consome os recursos dos particulares no estéril jogo das despesas públicas.

Uma das evidências mais notórias da política econômica nas últimas décadas, tal como demonstrada por exercícios feitos a partir de estatísticas dos países da OCDE, é a que vincula o nível das despesas públicas nacionais com as taxas de crescimento anual. Em estudo sobre as causas dos diferenciais de crescimento entre as economias da OCDE ao longo de 36 anos a partir de 1960, o economista James Gwartney, da Florida State University (http://garnet.acns.fsu.edu/~jgwartne/), demonstra a existência de uma correlação direta entre crescimento econômico e carga tributária. A explicação para esse fenômeno é tão simples quanto corriqueira: quanto maior o nível da punção fiscal sobre a sociedade, menor é o incentivo para que os agentes econômicos se disponham a oferecer uma contribuição positiva para a sociedade; em contrapartida, quanto mais alta a carga tributária, mais e mais recursos fluem dos setores produtivos para o aparato do governo.

Para aqueles ainda não convencidos por esta simples correlação matemática, ou meramente empírica, recomenda-se uma consulta a este trabalho de Gwartney, junto com J. Holcombe e R. Lawson: “The Scope of Government and the Wealth of Nations”, The Cato Journal (Washington: vol 18, nr. 2, outono de 1998, p. 163-190; disponível no link: http://garnet.acns.fsu.edu/~jgwartne/scope_of_govt_gwartney.pdf). A figura 2, à p. 171, contém a evidência da correlação apontada: a taxa média anual de crescimento do PIB, entre 1960 e 1996, para os países de carga fiscal inferior a 25% do PIB foi de 6,6%, ao passo que o mesmo índice para os países com carga superior a 60% do PIB foi de 1,6%.

Recentemente, o economista Jeffrey Sachs, da Columbia University, enfatizou as supostas virtudes do “modelo escandinavo” de desenvolvimento: em um curto artigo, quase uma nota, “The Social Welfare State, beyond Ideology” (Scientific American, 16/10/2006, link: http://www.sciam.com/print_version.cfm?articleID=000AF3D5-6DC9-152E-A9F183414B7F0000), ele afirma expressamente que “Friedrich von Hayek was wrong” e que o modelo nórdico, baseado na forte presença do Estado, é superior ao modelo anglo-saxão (que produz mais crescimento do que o modelo econômico adotado na Europa continental). Para azar de Sachs, um economista efetivamente preocupado com a promoção do desenvolvimento na África, ele já tinha sido desmentido previamente por um trio de belgas, Martin De Vlieghere, Paul Vreymans e Willy De Wit, que assinaram conjuntamente o artigo “The Myth of the Scandinavian Model”, publicado no The Brussels Journal (25/11/2005; link: http://www.brusselsjournal.com/node/510).

Uma consulta à página do site da instituição que patrocinou o estudo que fundamenta esse artigo, o think tank belga Work for All (http://www.workforall.org/html/faq_en.html), traz comprovações aplastantes sobre o sucesso do modelo irlandês de crescimento econômico – baseado, justamente, em baixas taxas governamentais sobre o lucro das empresas e sobre o trabalho –, em contraste com o medíocre desempenho das economias escandinavas ou continentais, todas apresentando altos níveis de despesas. Ou seja, a existência de um grande Estado indutor e de redes generosas de proteção social estão, de fato, contribuindo para o lento declínio dessas sociedades, outrora bem mais prósperas.

A explosão de crescimento na Irlanda, a uma taxa superior a 5% ao ano nas duas últimas décadas, continuou sustentada, mesmo quando o desempenho econômico geral da UE começou a diminuir ao longo dos anos 1990. Alguns argumentos tendem a fazer crer que as altas taxas de crescimento experimentadas pela Irlanda, ou pela Espanha, em determinados períodos, são devidas aos abundantes subsídios comunitários, que irrigaram essas economias com pesados investimentos em infra-estrutura ou diretamente em setores produtivos. As evidências, porém, demonstram que a Irlanda – que efetivamente recebeu transferências de Bruxelas a partir de seu ingresso na então Comunidade Européia, em 1972, já que o país ostentava então metade da renda per capita da média comunitária – começou a crescer apenas a partir de 1985, quando ela reformou inteiramente sua estrutura tributária, no sentido de aliviar a carga sobre as empresas e o trabalho, e quando, justamente, os subsídios europeus começaram a diminuir.

Outras regiões deprimidas da Europa, como a Valônia belga, ou a Grécia, receberam igualmente, subsídios generosos, com efeitos muito limitados sobre as taxas de crescimento, em virtude, justamente, de aspectos negativos em outras vertentes, entre eles o nível das despesas governamentais. Um eloqüente gráfico comparativo entre o desempenho da Bélgica e da Irlanda, inserido no site do think tank (http://workforall.net/English/size_of_government.gif), ilustra à perfeição que a elevação da taxa de crescimento da Irlanda começou, precisamente, em 1985, quando o país reduziu sua carga fiscal.

Como evidenciado nesses trabalhos de pesquisa empírica, a conclusão de que governos desmesurados prejudicam o crescimento e que altas alíquotas tributárias sobre a renda e o trabalho são os impostos mais distorcivos de todos – em oposição aos impostos sobre o consumo – não está apoiada apenas na comparação entre dois únicos países, mas deriva de análises científicas de regressão múltipla com muitos países (o estudo está neste link: http://workforall.net/Tax_policy_and_Growth_differentials_in_Europe.pdf; o resumo neste aqui: http://workforall.net/EN_Tax_policy_for_growth_and_jobs.html).

No caso do Brasil, infelizmente, todos sabem dos níveis anormalmente elevados da carga fiscal e das despesas públicas, que nos colocam, inevitavelmente, na faixa dos países impossibilitados de crescer mais de 3% ao ano. Como vem demonstrando, desde longa data, o economista Ricardo Bergamini, o Brasil vive um verdadeiro “manicômio tributário” (http://www.rberga.kit.net/ap/pr/pr39.html), com uma profusão de impostos atingindo justamente os setores produtivos. Adicionalmente, uma parte significativa da renda dos não tributados diretamente, isto é, as faixas dos cidadãos mais pobres, também é extraída compulsoriamente pelo Estado sob a forma de impostos sobre os produtos e serviços, em níveis muito elevados no Brasil, em comparação com outros países. Como resume esse economista, o Brasil amargou sucessivas quedas no crescimento, desde as fases de alta expansão do PIB, nos anos 1950 a 1980, até os anos de relativa estagnação no período recente, como se pode verificar na tabela abaixo:

Taxa média anual de crescimento do PIB, 1952-2005 (%)
períodos    1952/63    1964/84    1985/89    1990/94    1995/02    2003/05
média-ano    6,99    6,22    4,39    1,18    2,33    2,60
Fonte: IBGE (elaboração Ricardo Bergamini: http://www.rberga.kit.net/)

Evidências adicionais sobre os problemas fiscais, tributários e de má alocação dos recursos coletados pelo Estado brasileiro junto aos únicos produtores de riqueza do país, que são os agentes econômicos privados – empregadores e trabalhadores –, estão contidas num livro que acaba de ser publicado sob a coordenação do economista Marcos Mendes: Gasto Público Eficiente: 91 propostas para o desenvolvimento do Brasil (Rio de Janeiro: Topbooks, Instituto Fernand Braudel, 2006). O capítulo 2 desse livro, assinado pelos economistas Cláudio D. Shikida e Ari Francisco de Araújo Jr. (do Ibmec-MG) – “Por que o estado cresce e qual seria o tamanho ótimo do estado brasileiro?”, p. 71-95 –, demonstra como o Estado vem crescendo exageradamente nos últimos vinte anos, no Brasil, um período de apenas 2,5% de crescimento médio anual do PIB (e de 1% de crescimento do PIB per capita). Durante o mesmo período, a maior economia do planeta, os EUA – que saíram de um PIB de 3 ou 4 trilhões de dólares para alcançar a casa dos 13 trilhões de dólares –, mantiveram-se, com algumas variações, em torno do mesmo patamar de carga fiscal, de aproximadamente 29% do PIB (contando ainda com encargos reduzidos sobre a folha de salários das empresas). A tabela abaixo resume alguns dos dados apresentados nesse trabalho:

Carga Tributária sobre o PIB, EUA e Brasil

(anos selecionados, % do PIB)

Anos/ EUA / Brasil



1964: 27 / 17


1970: 30 / 26

1980: 30 / 24

1985: 30 / 24

1988: 31 / 22

1990: 31 / 29

1993: 30 / 26

1995: 32 / 29
   
1998: 30 / 33

2000: 34 / 33

2002: 30 / 36

2004: 29 / 36


Fontes: EUA: Tax Foundation (2004); Brasil: diversas, in Shikida-Araujo Jr., op. cit., p. 94.

 

Com base nas evidências disponíveis, Shikida e Araújo Jr. chegam à conclusão de que o ponto “ideal” da carga fiscal, nas condições brasileiras, não deveria ser superior a 32% do PIB. Registre-se, apenas, que a média para os países emergentes situa-se em 28% do PIB, sendo que países de maior crescimento ostentam taxas de 17% (China) ou de 18% (Chile) do PIB, ao passo que os ricos países europeus, que crescem abaixo de 3%, estão na faixa de 38% do PIB (que é a ostentada atualmente pelo Brasil, mas com tendência a um crescimento ainda maior), com picos acima de 50% para os já referidos escandinavos (estes, que saíram de altos patamares de renda per capita, vêem declinando lentamente, alinhando-se com as médias “normais” dos países da OCDE).

Em síntese, a única conclusão possível a ser retirada dessa abundância de dados quantitativos e de análises qualitativas sobre as condições objetivas e os requerimentos do crescimento econômico seria mesmo esta: o Brasil é um país excepcionalmente bem preparado para NÃO CRESCER. Verdades inconvenientes como estas merecem ser repetidas, até que os principais decisores e a própria população tomem consciência dos fatores impeditivos ao crescimento brasileiro e resolvam contribuir para a construção de um consenso que se torna cada vez mais necessário para a definição de uma agenda de desenvolvimento nacional: ou o Brasil diminui o peso excessivo do Estado sobre os cidadãos ativos e as empresas, ou o Estado continuará a pesar sobre a taxa de crescimento do país. Não há como escapar a essa verdade inconveniente... 

Fonte: http://www.espacoacademico.com.br/067/67pra.htm
 
« Última modificação: 29 de Agosto de 2012, 17:19:18 por -Huxley- »

Offline _tiago

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Re:Impostômetro alcança R$ 1 trilhão na 4ª feira
« Resposta #16 Online: 29 de Agosto de 2012, 18:39:04 »
E como é confuso o pagar imposto? Céus...

Offline Rey-ctba

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Re:Impostômetro alcança R$ 1 trilhão na 4ª feira
« Resposta #17 Online: 30 de Agosto de 2012, 09:03:57 »
Olá Pessoal!

Será que não tá na hora de termos, também, um "Sonegômetro"?

Skorpios

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Re:Impostômetro alcança R$ 1 trilhão na 4ª feira
« Resposta #18 Online: 30 de Agosto de 2012, 09:51:54 »
Olá Pessoal!

Será que não tá na hora de termos, também, um "Sonegômetro"?

Taí uma boa idéia. Só quero ver de onde tirar as informações.... :biglol:

Offline _tiago

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Re:Impostômetro alcança R$ 1 trilhão na 4ª feira
« Resposta #19 Online: 30 de Agosto de 2012, 17:34:44 »
Eu ainda carrego comigo a convicção de que nem é a carga tributário dos maiores problemas do país, mas sim a gestão dos recursos. Não há continuidade, políticas dependem de convicções obscuras de partidos, os gastos me parecem negligenciados, mal planejados. E na imensa cadeia que sai do Planejamento e alcança as câmaras de vereadores em cidadinhas, só tenho evidências anedóticas das piores.

Offline Derfel

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Re:Impostômetro alcança R$ 1 trilhão na 4ª feira
« Resposta #20 Online: 30 de Agosto de 2012, 19:48:42 »
Existe um empregômetro que mede os empregos que o país perdeu por causa das importações. Para mim, esses ômetros são apenas estratégias de marketing.

Offline Geotecton

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Re:Impostômetro alcança R$ 1 trilhão na 4ª feira
« Resposta #21 Online: 30 de Agosto de 2012, 20:26:54 »
Existe um empregômetro que mede os empregos que o país perdeu por causa das importações. Para mim, esses ômetros são apenas estratégias de marketing.

O absurdo que eu pago de impostos diretos e indiretos mensalmente não é nenhuma estratégia de marketing.
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Offline _Juca_

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Re:Impostômetro alcança R$ 1 trilhão na 4ª feira
« Resposta #22 Online: 30 de Agosto de 2012, 23:29:38 »
Existe um empregômetro que mede os empregos que o país perdeu por causa das importações. Para mim, esses ômetros são apenas estratégias de marketing.

Também tenho essa sensação, embora o Brasil tenha de fato impostos altos. Ainda acho que não são tão determinantes no quesito desenvolvimento humano.

Offline Derfel

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Re:Impostômetro alcança R$ 1 trilhão na 4ª feira
« Resposta #23 Online: 31 de Agosto de 2012, 06:23:53 »
Existe um empregômetro que mede os empregos que o país perdeu por causa das importações. Para mim, esses ômetros são apenas estratégias de marketing.

O absurdo que eu pago de impostos diretos e indiretos mensalmente não é nenhuma estratégia de marketing.
Geo, não estou dizendo que o Brasil não tem uma alta carga de impostos (que são, inclusive, em cascata) ou que não tenha alcançado mais de 1 trilhão em recolhimento ou ainda que não deva ser feita uma reforma fiscal completa, apenas que o impostômetro possa ter uma metodologia falha e que o seu objetivo é simplesmente de marketing de um grupo que está defendendo seus interesses (que pode ser coincidentemente, no momento, interesse do restante dos contribuintes). O impacto de um relógio com a numeração crescendo  como em uma bomba de gasolina, plantado em uma avenida movimentada é muito grande psicologicamente.

Offline Zóio de Vidro

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Re:Impostômetro alcança R$ 1 trilhão na 4ª feira
« Resposta #24 Online: 31 de Agosto de 2012, 09:17:52 »
Quando "pisei" pela primeira vez neste clube, fiquei pensando porque clube, mas tá na cara a resposta, clubes reunem pessoas que tem preferências parecidas, geralmente times de futebol se associam em clubes, aqui não é muito diferente, há sempre uma ressonância do pensamento dos "associados" a este clube, mas deveria ser um eco cético, e não razões espelhadas nos que já são declaradamente anti-governo, no caso anti-petistas, ou mesmo, em raras exceções a favor deles.

Nunca vejo aqui alguém dar o braço a torcer em algumas questões de acerto do governo, as caras são as mesmas a criticar, o tom é o mesmo, realmente bem dado o nome CLUBE, só que o erro está no CÉTICO. Acho mesmo um clube dos que tem suas opiniões formadas de inabaláveis convicções, onde o ceticismo fica só por conta de se dizer cético.

Acho que deveríamos perguntar quem rouba mais os governantes ou os governados? Mas dá prá ter uma idéia, pois no caso roubar é não contribuir, individualmente rouba mais quem tem mais, e é do mesmo jeito roubado aqueles de posses mais elevadas que contribuem regularmente, estes últimos devem ser uns otários, uma minoria,  praticamente putas virgens.
A distribuição poderia ser perfeita nos impostos cobrados nos produtos, todos pagam as mesmas coisas. Mas o que se esquece é que ninguém compra a mesma coisa, a classe pobre não compra castanhas paraenses que tem a mesma taxa do arroz e feijão.
« Última modificação: 31 de Agosto de 2012, 09:46:25 por DEM_ostenes »
No porto, os navios americanos entravam os navios russos.

 

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