Uma coisa que acontece é que tanto o budismo quanto o cristianismo (o cristianismo um pouco mais, mas o budismo não fica muito atrás) defendem uma ética de subconsumo para a maioria (digo isso porque no caso dos 10% mais ricos ou mais classe média alta dos com essas crenças, eles na verdade, na maioria, exceto alguns excêntricos e os profissionais como os monges, fora esses, os outros entre os 10% mais ricos nunca seguiram isso) e uma ética de julgar que é bom, que dá mais felicidade ter menos prazer físico, há textos budistas que falam praticamente que o prazer é que leva a infelicidade, está certo que falam isso um pouco menos do que ascetismo cristão tradicional, mas também há uma considerável parte assim nos textos budistas.
O fato deles dizerem que o objetivo é evitar o sofrimento, (deixando de lado agora as variantes pitorescas como o budismo tibetano sincrético com xamanismos anteriores e que tem crenças literais em vida após a morte, e reencarnação do tipo com recompensas pós-mortem) falando agora das versões mais duras e pequeno veículo do budismo, das em que praticamente não há crença na vida após a morte, ou mesmo não há mesmo essa crença, e em que o panteísmo original praticamente se transformou em ateísmo, no caso dessas, o foto de dizerem que o objetivo é evitar o sofrimento não se importando com os prazeres, pensando sempre que tanto os prazeres quanto a dor são passageiros, então não se deve dar tanta importância para a dor, não é claro, no sentido Opus-Dei flagelante, mas no sentido de não encucar muito com isso, na verdade não deixa de ser, embora de um modo mas sútil do que o cristianismo, mas não deixa de ser uma sútil forma de culpabilizar o prazer, sobretudo em relação a jogo de azar ou semi-de-azar (no caso de esse último um exemplo é o bridge) e a banquetes e refeições fartas e sexo fora do casamento e mais que um ou dois dias por semana dentro do casamento. (o tantrismo é outra coisa, e só uma minoria)
O fato de dizerem para não pensar muito no prazer nem procurar o prazer (mas também não procurar a dor, é nisso que se diferencia do estilo Opus-Dei flagelante), de dizerem para procurar não desejar o prazer, inclusive nesse caso, não desejar demais companhia para conversar e todo esse tipo de coisas, na verdade de um forma mais sútil que o cristianismo, leva a um sentimento de culpa por desejar essas coisas e por sentir falta delas quando não as conseguem mesmo, ou então de tentar se iludir achando de que está feliz sem elas quando não consegue, ou quando nem procura por elas.
Na verdade, só para pessoas sem mesmo quase nenhuma possibilidade de conseguir prazer e satisfação, é que isso pode ser alguma coisa vagamente consoladora, veio de uma época e lugar em que a maioria da população vivia uma vida miserável e tendo que ser submissa a forças sociais opressoras e num caso desses, se realmente não havia outras possibilidades, até que poderia ter algum lado bom, nessas extravagancias. Mas isso não tem a ver com o mundo de hoje, nem em pessoas mesmo naquela época, dos 10% mais ricos, nem, mesmo entre os fora dos 10% mais ricos do passado, entre os com bons amigos e boa situação familiar, Só que no caso desses, é que os lados destrutivos de no fundo, incentivar remorsos pelo prazer ou por querer companhia de amigos para conversar e se dar bem com a família, sempre puderam se apresentar, pois eles tinham possibilidade de ter coisa melhor.
Outro problema é falar de mais em perdão e em compreender demais os outros. Na verdade, no nível em que o budismo o exige, isso é impraticável etologia e biologicamente para o ser humano, para a maioria dos seres humanos, só que exigir isso leva a culpabilizações dos que não conseguem (a maioria). É claro que em se tratando do budismo duro, o castigo é o sofrimento nessa vida, mas isso também é um modo sútil de coação e tudo isso (tanto o citado no paragrafo anterior quanto o citado nesse) pode virar para o lado contrário em varias projeções nos outros e que podem levar a violências. Nesse sentido me parece que inclusive uma crença em vida após a morte e em recompensas após a morte e castigos para os maus e para os nossos verdugos no pós-mortem (como no pitoresco budismo tibetano sincrético com xamanismos anteriores ou no cristianismo ou no espiritismo etc...) podem sublimar mais essas coisas, do que uma coisa duríssima como o budismo pequeno veículo puro, absolutamente anti-etológico. Nesse sentido me parece que o budismo pequeno veículo duro, incentiva mais projeções nos outros, e violências para escapar de todo esse tipo de conflito interno, do que religiões pelo menos com a válvula de escape da crença em castigos ou recompensas pós mortem para sublimar essas coisas de um modo mais etológico.
Também há um problema de igualar os animais com os seres humanos nos direitos e na sensibilidade que se deve ter para com eles, na verdade, os animalistas que me desculpem, mas para mim, isso só leva é a insensibilidade para com o ser humano, para com os outros seres humanos.
Agora, no caso do budismo tibetano, ele é muitíssimo parecido com o espiritismo e a Nova Era, e a critica à esse tipo de crenças, os argumentos contra elas, poderiam perfeitamente se aplicar a eles. Só que muitos ocidentais budistas ou simpatizantes do budismo puro, pequeno veículo puro, não gostam de lembrar ou mesmo admitir, que uma grande proporção do budismo realmente aplicado e realmente acreditado nos seus países maioritários é só uma Nova Era vulgar, só que mais antiga, com muitos resíduos xamanistas.
E ainda há o budismo zen, na verdade ele me parece mais é uma tentativa de tentar neutralizar os lados humanísticos do budismo para tentar compatibilizá-la com a dureza e crueldade samurai, aí inventam aquela história da "lógica do absurdo".