A maior ameaça à democracia é o voto. Mentimos que o Ocidente é democrático tantas vezes que já virou verdade, mas a verdade é que nosso sistema é uma plutocracia informal. No congresso brasileiro, entre 513 deputados, 194 declaram ter patrimônio maior do que 1 milhão de reais.
[1]No congresso americano, de 435 deputados, 250 são milionáiros, sendo que 57 fazem parte dos 1% mais ricos do país.
[2]Não é à tôa que as classes que concentram poder econômico também concentram poder político, é preciso muito dinheiro e muita influência para progredir na carreira política. O voto é muito influenciado por cosmética publicitária, que custa dinheiro -- se você acha que um parlamentar é eleito pela qualidade das suas propostas, você é um idiota; um parlamentar é eleito pela qualidade e pelo alcance da sua propaganda. Para se eleger vereador em São Paulo você gasta em média 1 milhão de reais
[3]. O custo médio para se fazer uma campanha de deputado federal no Brasil é de 400 mil reais, mas há estados onde é mais barato e onde é mais caro do que isso
[4].
Alguns políticos são ricos o bastante para pagar de seu próprio bolso. Outros, a gente já sabe a quem têm que recorrer: empreiteiras, lobbistas, igrejas, traficantes... e esses têm o rabo preso com seus patronos ricos.
Os nossos representantes não são representativos da sociedade. Eles não representam os mais honestos, não representam os mais inteligentes, não representam os mais preparados. Eles representam pura e simplesmente os mais ricos.
A famosa democracia ateniense era baseada em sorteio, pois eles já sabiam que o voto beneficiava os mais poderosos e mais influentes. O ocidente também sabe disso, Montesquieu escreveu "O sufrágio pelo sorteio é natural à democracia assim como o pelo voto é à aristocracia"
[5], mas naturalmente os revolucionários burgueses que criaram o sistema que usamos não estavam interessados que o povo chegasse ao poder realmente.
Se houvesse esse interesse, viveríamos sob a demarquia
[6], uma forma de governo baseada na formação de júris escolhidos aleatoriamente entre a população para tomar decisões de consenso após os jurados ouvirem argumentos de especialistas de todas as partes interessadas. Sem mais políticos profissionais, sem mais partidos, sem mais rabos presos e sem mais predomínio de uma classe ou um gênero, mas um regime verdadeiramente igualitário.