Para os deslumbrados com algumas marinhas e que acham que a marinha brasileira não vale nada, o episódio abaixo relatado mostra que não é bem assim.
Zebra na batalha naval
Submarino brasileiro "afunda" porta-aviões da Otan em guerra simulada nos mares europeus
HÉLIO CONTREIRAS
O submarino brasileiro Tamoio pôs a pique o porta-aviões Príncipe Astúrias, de bandeira espanhola, que integra a mais poderosa frota naval do mundo, a da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). A façanha ocorreu em maio deste ano, e só agora foi revelada em relatório inédito da Marinha brasileira. É bom que se esclareça: não houve derramamento de sangue. O feito foi apenas um episódio da Operação Link Seas, um conflito bélico simulado. Se não fosse apenas um exercício de treinamento, os mares Mediterrâneo e da Península Ibérica teriam sido palco de uma guerra naval histórica - algo como, consideradas as proporções, a Batalha de Midway, em que os Aliados surpreenderam os japoneses na Segunda Guerra Mundial. No tempo da guerra fria, havia a iminência de um conflito real. Hoje, na falta de um inimigo com poder de fogo igual ao da extinta União Soviética e seus antigos aliados do Pacto de Varsóvia, os europeus pedem ajuda a países como o Brasil. Apesar da penúria financeira que atinge as Forças Armadas, nossa frota não fez feio.
O desempenho dos navios de guerra brasileiros - o submarino Tamoio, a fragata União e a corveta Júlio de Noronha - na Link Seas surpreendeu alguns oficiais europeus. A expectativa era de que a Marinha brasileira tivesse uma participação de mero figurante. Alguns países desconheciam que o Brasil já domina a tecnologia de submarinos, inclusive nucleares. O comandante do submarino Tamoio, que participou da operação da Otan, o paraibano Paulo de Oliveira, 41 anos, está sendo considerado um herói. O sucesso nas manobras simuladas deve apressar sua promoção de capitão-de-fragata (equivalente a tenente-coronel na hierarquia do Exército) para capitão-de-mar-e-guerra (o "coronel" da Marinha). O Brasil também deve receber dividendos do exercício. Aumentaram as chances de a Marinha participar da próxima Operação da Otan, em 1998. Na avaliação feita pelos militares do maior arsenal do planeta, influíram também os desempenhos da corveta Júlio de Noronha e, especialmente, da fragata União, que conseguiu neutralizar os sofisticados radares de navios da Otan. Ou seja: o sistema de guerra eletrônica brasileiro igualmente marcou pontos.
Entre as três Forças Armadas brasileiras, a Marinha é a que menos sofre restrições financeiras, em boa parte graças aos recursos que recebe do Fundo Naval. Ao contrário do Exército e da Aeronáutica, a força naval não reduziu o expediente dos marinheiros por falta de recursos para o rancho. O Brasil acaba de adquirir quatro fragatas MK/22, inglesas, que participaram da Guerra das Malvinas (1982). Apesar dessas vantagens da Marinha em relação às duas outras Forças, estão atrasados projetos estratégicos como o do submarino nuclear, em desenvolvimento em Iperó (SP). Um documento reservado da Marinha menciona as duas principais deficiências: insuficiência de navios para o controle do mar patrimonial brasileiro e a tibieza da aviação naval, por falta de aviões.
Na manobra naval da Otan, foi adotado um cenário de guerra. As forças militares envolvidas foram divididas equanimemente, com a criação do "país ouro" e do "país prata". Até o final da década de 80 - no tempo em que a estratégia militar da Otan se baseava no confronto entre Estados Unidos e União Soviética -, o cenário era baseado no confronto entre os países "vermelho", representado pela União Soviética, e "azul" (Estados Unidos e seus aliados). O Brasil fez parte do "país ouro". O cenário foi de uma nação em crise cujo desdobramento poderia envolver outros países, semelhante ao que aconteceu na Guerra do Golfo. O capitão-de-fragata Pedro Vasconcellos, 43 anos, comandante da corveta Júlio de Noronha, explica que a preocupação da Otan é com a manutenção da segurança internacional. Um compromisso que o Brasil vem assumindo, diz Vasconcellos, citando a participação de fuzileiros navais brasileiros na Força Internacional da ONU, em Angola.
Apesar de o Brasil ter sido o único país latino-americano a participar das operações na Península Ibérica, o capitão Vasconcellos afasta qualquer tipo de disputa com a Argentina. "A Argentina já participou de um conflito - o do Golfo -, com tropas da Otan, e sua capacidade militar está mais do que comprovada", diz. Vasconcellos lembra, ainda, a cooperação entre as Marinhas do Brasil e da Argentina: "Recentemente, os pilotos argentinos fizeram treinamento no porta-aviões Minas Gerais. Se não há uma ligação carnal, há uma ligação estratégica."
-----------------------------------------
Vejam que não foi um navio da Somália ou da Papua Nova Guiné como jocosamente o Geotecton se referiu e sim um navio capitânia da Espanha. Mesmo com recursos limitados as forças brasileiras tem mostrado capacidade. Se tiverem um pouco mais de recursos eles poderão mostrar muito mais.
.