Não pretendi sugerir que fosse. O capitalismo sozinho não gera resultados ótimos seja para o atendimento mais imediatista/hedônico ao consumidor, nem para a sociedade em larga escala, mesmo dentro do que seria possível em termos de custos. Na verdade, argumentavelmente aumenta os custos em alguns casos, mesmo que talvez geralmente de maneira indireta (barateando o custo financeiro).
O que seria possível em termos de custos depende do oportunismo econômico, não da benevolência. Num sistema concorrencial de mercado com boas leis de responsabilidade civil, dizer que não está sendo feito o possível em termos de custos é quase a mesma coisa de dizer que existe uma oportunidade de lucro não explorada. Portanto, quem não está tendo oportunismo suficiente está aumentando o risco da própria pele numa atividade já arriscada (o investimento em bens de capital visando o lucro).
Só recapitulando que o meu ponto inicial intencionava apontar que a realidade não é nem que "as empresas estão todas conspirando contra o consumidor", assim como também não é bem que "na verdade a iniciativa privada sempre traz o que é ótimo, e tudo que houver de moralmente questionável só pode ser atribuído ao estado." Dizer que "na verdade os produtos são tais como são porque é o que o consumidor realmente quer, o mercado só atende aos desejos das pessoas" é algo que se aproxima dessa última linha.
O oportunismo econômico não irá inerentemente trazer o melhor para o consumidor e para a sociedade em geral, mesmo que este "melhor" seja economicamente viável, pois pode ser menos lucrativo ao menos inicialmente.
Por isso são necessárias legislações impondo certos requerimentos de padrões diversos, e que vão evoluindo com o tempo. Se o mercado livre é algo análogo a evolução biológica, este vai criar mais eficientemente adaptações ótimas, mas na natureza produziu uma maioria de seres que são parasitas. O que é mais adaptativo não é para o "bem da espécie" e nem da ecologia ao todo, e é parecido com o que é mais lucrativo. Algum grau de "seleção artificial" aproveita o que melhor se desenvolveu naturalmente e que mais se adequa ao bem-estar da sociedade.
Para exemplos mais concretos e menos discutíveis, legislação contra CFCs, e agora teoricamente coisas como um "mercado de emissões de CO2." Proibição de chumbo na gasolina e em outros produtos (acho que principalmente tinta) sob risco de absorção por crianças em desenvolvimento. Limitações de agrotóxicos, de gorduras trans, sódio. Requerimentos de critérios e tecnologias de segurança em veículos.
Não são necessariamente coisas só estatais, acho coisas como padrões ISO9000 da vida talvez sejam uma aproximação privada e mais frouxa (dependendo de acato voluntário por vantagem percebida no mercado) desse tipo de coisa.
Mas em algum momento o desenvolvimento tecnológico (ou outro) é tal que fica aparentemente evidente uma ineficiência (no sentido de economia/ecologia/sociedade ao todo, e não para o bem "egoísta" duma empresa) na forma como as coisas tipicamente são feitas, é perceptível a possibilidade de alternativas que atenderiam melhor a população em geral, mesmo produzidas pela iniciativa privada. Então é benéfica alguma exploração em intervenção nesse sentido, tentando chegar a algum "pico adaptativo" mais elevado que é obstruído por um "vale" na topografia adaptativa espontânea da economia. Talvez essa analogia de pico adaptativo não seja tão adequada dentro da ótica de bem-estar social em vez de adaptatividade egoísta/individual, mas acho que deve ser possível pensar em algo assim, uma paisagem adaptativa em termos de bem-estar social coletivo, em vez de lucros de empresas.
Do lado mais liberal vai haver quem questiona isso, tanto dentro dessa ótica de que de alguma forma o estado vai sempre piorar tudo (e que é mais importante a Liberdade de se consumir algo que oferece maior risco à própria saúde, vida, de familiares, e até da coletividade em longo prazo), quanto por negacionismo científico mais específico pertinente.