Eu não entendo este ceticismo quanto à existência desse tipo de prática mercadológica, porque mesmo se não fosse bem documentado e com tantas evidências da indústria adotar esta estratégia, a simples hipótese deveria parecer bastante razoável.
Afinal, por que um fabricante não consideraria uma boa ideia a obsolência programada?
Um exemplo claro de como funciona esta mentalidade de mercado, e que não é negado nem pela indústria, é a moda. A indústria lança uma nova moda a cada ano, a cada estação, sem que isso esteja associado a nenhuma inovação tecnológica ou melhoria no aspecto funcional da vestimenta.
Em um ano as cores vivas estão na moda, no ano seguinte quem quiser estar na moda deve aderir aos tons pastéis. E é até cíclico: com as cores vivas podendo vir a suceder novamente a moda dos tons pastéis.
A indústria da moda é um exemplo claro de obsolência induzida para manter o consumo aquecido. Com exceção para as mulheres iranianas, a indústria da moda está sempre tornando o guarda-roupa das pessoas obsoletos. E o interessante é que essa também é uma estratégia de obsolência programada adotada pela indústria de automóveis, de eletro-eletrônicos e eletrodomésticos. Observem que não se trata apenas de fazer o produto durar menos do que poderia ( sem que isso muitas vezes implicasse em maior custo de produção ), mas também existe uma estratégia mercadológica de fazer o produto ficar "fora de moda".
Exemplo: todo ano as fábricas fazem alterações puramente "cosméticas" nos veículos, para as quais não pode haver nenhuma justificativa de avanço tecnológico. Todo ano a Ford lança o "novo" Ford Ka, o "novo" Ford Escosport, o "novo" Ford Focus... e na maioria das vezes as novidades nestes modelos são apenas um design diferente do farol ou da lanterna, ou qualquer coisa assim. Não só o carro antigo fica fora de moda, como aguça o desejo do consumidor de possuir o modelo novo. Mas há também outro inconveniente: estas alterações desnecessárias como de detalhes, ou de antigas cores substituídas por novas cores para um mesmo modelo, fazem com que depois de alguns poucos anos o consumidor já tenha dificuldade de encontrar peças originais para o seu carro. Mesmo quando é um modelo que ainda está em produção. O que também contribui para o consumidor não querer manter um carro mais antigo, mesmo em bom estado de conservação.
Notem que esta prática não é adotada apenas pela indústria automobilística, mas isso também acontece com geladeiras, máquinas de lavar, etc, etc, etc... Todo ano a Brastemp muda um pouquinho o design da sua geladeira, e geralmente são alterações que não fazem a nova geladeira ser nem melhor nem pior que o modelo anterior. Então, por que isso?