Quanto as pessoas estariam dispostas a pagar por uma lâmpada que "não queimasse"?
Ou talvez, melhor dizendo, por toda a instalação de iluminação doméstica ou de um ambiente?
Eu certamente estaria disposto a pagar.
Você geralmente compra os modelos de lâmpada mais caros? Estes já são os que têm maior longevidade.
Eu só compro lâmpadas led. São mais caras porém mais econômicas e duram mais.
Mas o consumidor dificilmente vai fazer um cálculo exato para decidir se vale a pena. Se o produto for muito mais caro ele dificilmente vai adquirir, mesmo que a longo prazo represente vantagem. Nós compramos lâmpadas led porque a relação custo/benefício parece intuitivamente atraente. Se for caro demais, ainda que seja vantagem, desestimula a venda.
Posso dar um exemplo concreto, que é o dos sistemas de energia solar. Atualmente dizem que instalar energia solar, dependendo da região do Brasil onde a pessoa more, vale a pena. É um investimento que se paga ao longo do tempo. Mesmo assim muito pouca gente pensa em instalar painéis solares porque o custo inicial é elevado.
Não precisa ir tão longe... sistemas de aquecimento hidráulico utilizando painéis solares são bem mais baratos, e mesmo assim ainda é relativamente pouco difundido. Novamente porque o custo inicial de instalação é desestimulante.
O consumidor típico não é engenheiro fazendo contas com uma calculadora científica e planilhas, ele consome em parte por impulso e em parte usando a razão. Se a lâmpada incandescente que eu uso na minha sala custa 10 reais, e eu tenho que trocar de 6 em 6 meses, em 40 anos, só com a iluminação da sala o custo será de 800 reais. Fazendo
essa conta, comprar uma lâmpada que dure 40 anos e custe "só" 200 reais significaria uma economia (sem mencionar a economia de energia!) e mesmo assim ninguém daria 200 reais em uma simples lâmpada quando na mesma prateleira tem uma outra incandescente que custa só 10 reais. Mas se todos fizessem isso significaria que ao longo de 20 anos a indústria teria a longo prazo seus lucros reduzidos a bem menos que 20%. Ora, mas ela não conseguiria vender este produto a 200 reais, então na verdade pra colocar a nova lâmpada no mercado ( essa que dura 40 anos ) isso representaria uma diminuição ainda maior no faturamento da indústria.
Do ponto de vista do empresário não vale a pena. E se a obsolescência programada for uma solução então é difícil imaginar que não se use este recurso. Porque podendo determinar a vida útil desse produto, os engenheiros de produção podem também determinar quanto tempo pode durar a lâmpada ( nem mais, nem menos ) para que possa ser colocada no mercado e um preço vendável, que a faça mais atraente que a antiga tecnologia, e ainda assim não represente uma perda no faturamento. Não entra na minha cabeça que alguém vá desenvolver uma nova tecnologia só para perder dinheiro. Só para faturar menos do que
atualmente fatura, talvez pelo ímpeto de salvar o planeta...
A lógica de se projetar um determinado tempo de vida para um produto (seja por falhas programadas, seja por indução a desejos de novos consumos, etc... ) é o mesmo raciocínio do cálculo do lucro marginal, que é o lucro relativo a produção de uma unidade adicional do produto: se alguém fabrica poucas unidades de um produto, ele precisa ser muito caro para dar lucro, o que dificulta a venda e não maximiza o lucro. Mas se são fabricadas muitas unidades o preço de venda cai, diminuindo o lucro. Esta função (lucro em função do número de itens produzidos) tem um ponto ótimo, maximizado, que é o que os engenheiros de produção e economistas da empresa procuram calcular.
Não é diferente, essencialmente, do interesse que uma empresa teria de desenvolver modelos que indiquem que tempo de vida útil maximiza o lucro da produção de um determinado produto.