A decadência de um povo começa quando este troca o ideal de sobrevivência pelo ideal de riqueza.
E qual povo que tem (ou teve) o ideal de sobrevivência e se manteve não decadente?
Aí vêm exploração assalariada,
Equívoco de natureza marxista.
vem inveja, vem desejo de poder, opressão,
São inerentes ao seres humanos e, portanto, muito anteriores ao capitalismo.
ansiedade de status,
Em qualquer tipo de sociedade existem pessoas que sofrem disto.
estresse e depressão.
Somente pessoas sem qualquer tipo de responsabilidade não experimentam ou experimentaram isto.
Thoreau já alertava sobre isso em 1854 quando notara o forte desejo do povo americano em causar inveja nos demais através de status, riqueza e poder.
Se você ler com mais atenção o livro
Walden, notará que a observação supra de Thoreau ocorreu no bojo das mudanças que a sociedade estadunidense experimentava em meados dos anos 50 do século XIX. Ele reflete uma mistura de análise crítica das consequências do início da transição de uma sociedade agrária para uma urbana, com forte tom saudosista de um estilo de vida mais 'naturalista', refletido no próprio subtítulo do livro,
Life in the Woods. Enfim, Thoureau criticava muito mais o processo de industrialização do que o capitalismo propriamente dito.
Mas me espanta que você não perceba o quão complicado seria aplicar hoje o estilo de vida proposto por Thoureau. Haveria um aumento gigantesco na superfície ocupada, com grandes implicações na implantação de uma infra-estrutura, mesmo que simples, naquelas condições despojadas propostas por ele.
Alain de Botton é um dos poucos filósofos contemporâneos que alertam sobre a decadência do capitalismo e sobre o monismo que este criou na cabeça do ser humano.
O interessante é que de Botton faz uma critica contundente à busca de
statu, enquanto esta reflete uma insegurança pessoal, na medida em que algumas pessoas ficam em busca da opinião de outras, sobre características idiossincráticas.
"O homem tornou-se escravo dos seus ideais." Como disse Thoreau.
Exatamente.
O problema está no agente (ser humano) e não no processo/instrumento (capitalismo).
"Concedo que a maioria das pessoas é capaz de comprar ou alugar uma casa moderna dotada de todo conforto. Ao passo que a civilização vem melhorando nossas casas, não vem aperfeiçoando na mesma medida os homens que vão habitá-las. Tem criado palácios, mas criar nobres e reis não tem sido fácil. E dado que os objetivos do homem civilizado não valem mais que os do selvagem, e que emprega a maior parte da sua vida na simples obtenção de necessidades grosseiras e confortos, por que há de ter moradia melhor que a do selvagem?
O homem simples, nativo, é chamado de selvagem por Thoureau ao passo que ele dá a entender que pessoas de moral superior são os nobres e os reis.
Porquê?
Mas como se comporta a minoria pobre? Talvez venha a ser descoberto que, na exata proporção em que alguns, graças a circunstâncias exteriores, se colocaram acima do selvagem, outros foram degradados a nível inferior. O luxo de uma classe é contrabalançado pela indigência de outra. De um lado temos o palácio, do outro os asilos para mendigos. Os numerosíssimos operários que construíram as pirâmides, destinadas a túmulos dos faraós, alimentavam-se de alhos, e é bem provável que não tenham sido devidamente enterrados. O pedreiro que arremata a cornija do palácio, à noite talvez regresse a uma choça inferior às cabanas dos índios."
H. D. Thoreau
Ele busca um igualitarismo que nunca existiu e não existe.
https://www.youtube.com/v/dA3IUk5m11Y
“Quando a tecnologia e o dinheiro tiverem conquistado o mundo; quando qualquer acontecimento em qualquer lugar e a qualquer tempo se tiver tornado acessível com rapidez; quando se puder assistir em tempo real a um atentado no ocidente e a um concerto sinfônico no oriente; quando tempo significar apenas rapidez online; quando o tempo, como história, houver desaparecido da existência de todos os povos, quando um esportista ou artista de mercado valer como grande homem de um povo; quando as cifras em milhões significarem triunfo, – então, justamente então — reviverão como fantasma as perguntas: para quê? Para onde? E agora? A decadência dos povos já terá ido tão longe, que quase não terão mais força de espírito para ver e avaliar a decadência simplesmente como… Decadência. Essa constatação nada tem a ver com pessimismo cultural, nem tampouco, com otimismo… O obscurecimento do mundo, a destruição da terra, a massificação do homem, a suspeita odiosa contra tudo que é criador e livre, já atingiu tais dimensões, que categorias tão pueris, como pessimismo e otimismo, já haverão de ter se tornado ridículas.”
Texto de Martin Heidegger adaptado por Antônio Abujamra e Gregório Bacic
Hehehehe.
Heidegger ainda oscilava entre o teísmo e o agnosticismo quando escreveu o
Ser e o Tempo. Mas já era agnóstico e um crítico ferrenho daqueles que cultuavam a tecnologia e o cientificismo, quando publicou o
Introdução à Metafísica, que é de onde provém o excerto supra.