Autor Tópico: Ciclovias paulistanas  (Lida 24126 vezes)

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Offline Gabarito

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Re:Ciclovias paulistanas
« Resposta #475 Online: 24 de Julho de 2016, 11:22:08 »
Pagar para incentivar o uso de bicicleta, uma proposta a ser analisada:

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Proposta nada séria
A nova iniciativa do prefeito Fernando Haddad no terreno da chamada mobilidade urbana levanta uma dúvida

24 Julho 2016 | 03h02

A nova iniciativa do prefeito Fernando Haddad no terreno da chamada mobilidade urbana levanta uma dúvida. O apoio do atual governo municipal ao projeto de lei do vereador José Police Neto (PSD) que estabelece recompensa financeira aos paulistanos que utilizam bicicleta para seus deslocamentos – com o objetivo de incentivar a troca do carro ou do ônibus por esse meio de transporte – é mesmo para valer ou não passa de mais uma pirueta demagógica de olho nas eleições, que Haddad corre sério risco de perder?

Em qualquer dos dois casos, é uma jogada infeliz, porque tal ideia – supondo-se que a proposta, pobrezinha, mereça esse nome – mal se sustenta de pé, como indicam as sugestões para implementá-la feitas por Police e o subsecretário do Tesouro Municipal, Luiz Felipe Vidal Arellano. Segundo a Prefeitura, como mostra reportagem do Estado, os percursos feitos de bicicleta pelos interessados em participar do projeto – calculados de acordo com a distância, o local e o horário – darão direito a créditos que poderão ser resgatados em dinheiro ou gastos com um certo número de serviços, como descontos em passagens de ônibus ou viagens compartilhadas de táxi ou Uber.

Para tornar isso possível, será criado o bilhete mobilidade, que substituirá o bilhete único. Para evitar eventuais fraudes, a checagem dos percursos será feita com a ajuda de novas tecnologias, como a utilização de aplicativos por meio de aparelhos celulares.

O vereador Police “acha” – porque certamente não se deu o trabalho elementar de providenciar estudos a respeito – que “oferecer de R$ 4 a R$ 8 por dia em créditos resolveria” o problema de motivar os ciclistas. Como nada sai de graça, a primeira questão é saber quem pagará a conta. O dinheiro sairia dos recursos repassados às empresas concessionárias do serviço de ônibus sob a forma de subsídios, que este ano deverão chegar a R$ 2 bilhões. Isso não dá para ser levado a sério. Se fosse tão fácil reduzir subsídios, por que a Prefeitura não fez isso antes? Ou seja, essa questão continua em aberto.

Outra questão na qual nem Haddad nem Police tocaram é: por que dar incentivo financeiro aos ciclistas, se a expansão das ciclovias – como sustentou o prefeito para explicar por que elas, até agora, vivem entregues às moscas – seria o melhor e natural estímulo ao aumento de seus usuários? Se for para levar a sério tal proposta, não haverá como escapar à evidência de que seu objetivo é na verdade tentar aumentar, à custa dos cofres públicos, o número de ciclistas para justificar as ciclovias.

Primeiro, Haddad encheu a cidade de ciclovias, sem planejamento, sem estudos de demanda. Tanto é assim que elas começaram pela região central, onde sua presença é mais chamativa, em prejuízo da periferia, embora lá, sim, tudo indica que a demanda é maior.

Pesquisa feita pelo Datafolha mostra que 53% dos consultados dizem usar as ciclovias menos de uma vez por semana; 35%, de uma a duas vezes; 1%, de cinco a seis vezes; e 2%, todos os dias. Não por acaso, a aprovação das ciclovias caiu de 80% em setembro de 2014 para 58% em julho deste ano. E a desaprovação subiu de 14% para 36% no mesmo período.

Esses números indicam que a população paulistana deseja que a Prefeitura crie condições para que a bicicleta seja usada mais intensamente como meio de transporte, mas desaprova a maneira como Haddad atacou o problema. Para responder a esse anseio da população é preciso agir com responsabilidade, o que significa planejar a implantação de ciclovias com base em estudos técnicos capazes de indicar a sua efetiva demanda e onde elas devem se localizar. É o que foi feito em grandes cidades dos países desenvolvidos que Haddad gosta de citar – como Nova York e Paris –, mas cujos exemplos não seguiu.

E não seguiu porque estava mais interessado em impressionar demagogicamente a população, em busca de votos, do que em dotar a cidade de uma boa rede de ciclovias. A proposta de incentivo financeiro aos ciclistas é apenas mais um capítulo dessa triste novela.

Reduzir os subsídios.
Como pergunta a matéria: por que não foi feito antes?

Mesmo assim, eu sou favorável às ciclovias e a um maior uso de bicicleta.
Pessoalmente, eu uso bicicleta sempre que possível e estimulo amigos e familiares a fazer o mesmo.
Seria muito bom se houvesse uma maior conscientização da população sobre os benefícios desse meio de transporte.

Mas em São Paulo, puseram a carroça na frente dos bois, começaram a construir a casa pelo telhado.
Não houve estudo prévio, não houve identificação de demanda, de quais áreas com mais vocação, a periferia não teve a atenção devida...

E tem também a pergunta que foi feita: apelar a dinheiro para "forçar" o uso de bicicleta como forma de justificar a construção das ciclofaixas (na verdade, a maioria delas são apenas pintura no asfalto) não seria inverter a ordem natural?

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Ciclovias paulistanas
« Resposta #476 Online: 24 de Julho de 2016, 11:48:37 »
Outra coisa: as pessoas tem uma tendencia psicológica a deixar de gostar de fazer algo a partir do momento em que são pagas para fazer, enquanto que, quando fazem de graça, fazem por gosto. Existem experimentos em que se sabotou essa motivação intrínseca das pessoas dessa forma. Não somos "Homo economicus zumbis".

Sem lembrar de algo científico relacionado, acho que talvez até pior que esse efeito seja que esse tipo de coisa deve associar bicicleta ainda mais a coisa "de pobre" (agora, esfomeado), o que não me surpreenderia ter o efeito de aumentar a rejeição.


Acho que incentivo econômico poderia ser algo nas linhas de estacionamento grátis ou talvez descontos adicionais para entrada em alguns locais ou eventos onde as pessoas pudessem ir de bicicleta.

Algo mais próximo ainda dessa proposta seria que as pessoas tivessem uma espécie de vouchers para transportes, mas pudessem abdicar desse uso como transporte, quando então presumivelmente estariam andando de bicicleta, desde que o esquema de vouchers fosse tal que reduzisse as chances da pessoa estar de carro ou moto em vez disso.



Mas bicicletas não devem ter muito potencial para substituir motorizados como transporte nas grandes cidades. Melhoras no acesso ao transporte público (incluindo taxi) deveriam ser prioridade como forma de melhorar o tráfego e poluição. Devendo até colateralmente incentivar mais pessoas a andar de bicicleta.



Engraçado que acho que não se leva em consideração projeções de aumentos de lesões por acidentes com mais pessoas andando de bicicleta, e o quanto isso custaria para a saúde pública e por dias de licença.

Offline Lakatos

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Re:Ciclovias paulistanas
« Resposta #477 Online: 25 de Julho de 2016, 04:41:11 »
Uma parte grande do problema é que, para o paulistano "típico" (não sei se é só aqui, mas é onde conheço), o carro não é apenas um modal de transporte, é uma parte relevante do estilo de vida. As pessoas passam anos desejando carros, comparam seu sucesso profissional e pessoal através dos carros que dirigem. Comprar o próprio carro é meio que um "checkpoint" obrigatório para a noção de sucesso e realização de vida, e um fator crítico para o pertencimento a grupos. O Maluf ainda é cultuado por milhões aqui porque "não se anda meia hora em São Paulo sem passar em uma obra que o Maluf fez". Túneis, viadutos, anéis viários, grandes rodovias, é esse o tipo de estrutura que associamos quase automaticamente a progresso.

A isso se soma obviamente a precariedade dos transportes públicos, provavelmente maior fonte de corrupção do governo paulista (o Metrô está para o governo de SP como a Petrobrás estava para o governo federal) e o estigma criado sobre conceitos modernos de uso do espaço (descentralização, migração do transporte individual para o coletivo, bicicletas como meio de transporte), vistos como coisa de "esquerdistas", e temos o cenário que temos.

 

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