Mas nada disso adianta se você não aprende a pensar na escola. É por isso que Filosofia deveria ser uma das disciplinas mais exigidas.
Peço esclarecimentos sobre esse trecho:
É para "aprender a pensar" SÓ na escola?
Qual seria a relação entre "aprender a pensar" e apensar filosofia na grade?... ... ... ? ... ...seria para demonstrar o sentido de contradição?... ...?
Essas são fáceis, não?!
Mais ou menos. É meio complicado porque nenhuma das questões tem ligação com o meu comentário. Daí, né, num dá pra elaborar repostas como "esclarecimentos" porque não havendo relação das perguntas com o trecho a ser esclarecido responder não vai esclarecer nada.
Quando muito eu poderia esclarecer o trecho e depois filosofar a respeito do que o senhor pretendeu filosofar com estas questões, que são assim, de repente, me apresentadas do nada. O que até me honra, porque sem um motivo imediatamente identificável alguém manifesta interesse em conhecer a minha opinião sobre estas filosofices.
Ou seja, quer saber da minha crença sobre estes assuntos, e quem sabe até da filosofia através da qual me convenci - talvez transitoriamente - desta própria crença.
[ Eu só fico com pena do Geo, coitado, que vai ter que ler estas bobagens e não recebe nada pra isso. ]
Olha, sobre o trecho o esclarecimento é bem simples. Se além das disciplinas citadas houvesse um reforço no ensino de Literatura, especificamente no treino da interpretação de textos, não existiria essa dificuldade em se perceber que o autor ( no caso, eu ) não pretendeu defender a inclusão de nenhuma destas disciplinas no currículo regular.
Não, foi exatamente o contrário.
O autor acredita que cada um tende a valorizar mais seus próprios interesses e campo de conhecimento, de modo que um músico acharia importante a educação musical, alguém com formação em Letras talvez sugerisse o retorno do Latim como essencial para o aprendizado da Língua Portuguesa, um astrônomo poderia achar relevante que os alunos tivessem algum conhecimento elementar de Astronomia, um chato enxergaria a importância da Moral e Civica... e assim por diante.
Não obstante, mesmo reconhecendo que estes e outros saberes podem ser altamente enriquecedores dos espíritos jovens, o autor entende que existem limites de ordem prática estabelecendo o que é - e o que não é - razoável de se incluir no currículo dos ciclos médio e fundamental.
Note-se que o comentário até inicia dizendo "É verdade!", expressando claramente sua concordância com a citação da colega Brienne. Sequentemente o autor ( que não é nenhum Machado de Assis mas tem consciência que dá pro gasto pra se fazer entender ), adota um estilo irônico, usando do contraditório, para, por redução ao absurdo, demonstrar seu ponto de vista.
Agora, a Filosofia.
A primeira questão não é um argumento estruturalmente equivalente ao argumento que intenta questionar. Quero dizer, àquilo que parece ter sido interpretado como um argumento a favor de se incluir Filosofia como disciplina regular.
Ainda que a minha pretensão fosse mesmo afirmar que de nada vale o acúmulo enciclopédico de conhecimento se o aluno também não for ensinado a pensar, não se poderia inferir disso que aprender a pensar só é importante na escola.
Imagine que alguém argumente: "De nada adianta ter um curso superior se depois não se arranja emprego."
Evidentemente esta pessoa não estaria querendo sugerir que ter trabalho SÓ é importante para quem fez alguma faculdade.
Taí a Lógica, Ciência que estuda a estrutura dos argumentos, demonstrando sua utilidade. A Lógica, que foi sistematizada pela primeira vez pelo filósofo Aristóteles, mas, dizem, a partir de trabalhos anteriores de outros filósofos como Parmênides e Platão.
No século 19 o FILÓSOFO e matemático George Boole viria a propor um sistema equivalente ao concebido por Aristóteles, que ficou conhecido como Álgebra Booleana. Equivalente porque capaz de formalizar o mesmo conjunto de argumentos formalizaveis na Lógica de Aristóteles, sendo todo argumento demosntrado válido neste sistema também demosntrável válido naquele outro.
E se não estou enganado foi na década de 1930 que um engenheiro da AT&T ( que agora me escapa o nome ), publicou um importante trabalho demonstrando como a álgebra booleana poderia ser utilizada na análise e projeto de redes de telefonia, a base do que hoje é aplicado em análise e projeto de circuitos digitais. E a eletrônica digital revolucionou nossas vidas, é hoje uma gigantesca indústria que emprega diretamente milhões de pessoas, o ganha-pão até de algumas que cospem no prato da Filosofia.
No tocante à segunda questão eu por acaso acredito, creio, sustento neste momento a crença, uma crença embasada em convincentes evidências e filosoficamente construída, de que uma das utilidades do estudo da Filosofia é o de ajudar a estruturar os processos de raciocínio do estudante e promover o pensamento crítico. Digo "por acaso" porque foi só uma coincidência mesmo. Ja quando escrevi que o estudo da Moral e Civica era importante para formar cidadãos só estava sendo irônico.
Basicamente sobre isso, em linhas gerais, penso como o Fzapp. Por que:
1 - Muitas vezes as perguntas é que são importantes. E difíceis. Muitas vezes, as respostas foram apenas consequências de terem sido feitas as perguntas.
2 - A busca do conhecimento pelo conhecimento é Filosofia, mesmo quando também é Ciência. "A Ciência sempre esteve lá"?, mas o que ocorreu por volta de 400 A.C. na Grécia? Milagre? Um milagre chamado Filosofia. Porque certos homens se debruçaram sobre perplexidades que não tinham nenhum interesse prático para o mundo da época, esse foi o milagre. Nós hoje não conhecemos os nomes dos ilustres gregos que souberam construir aquedutos ou sustentar lajes sobre colunas, mas daqui a mil anos as pessoas ainda vão saber quem foi Parmênides, Platão, Aristóteles, Sócrates... Aquedutos e colunas de pedra não têm mais nenhuma importância, nenhuma utilidade, nenhuma aplicação e jamais voltarão a ter. É curioso e inescapável filosofar sobre: mas parece que quanto menos se busca o conhecimento prático, utilitário, pragmático, mais se encontra a Ciência que vai produzir as aplicações práticas para o hoje e para o sempre. Por exemplo, pense em como a matemática "prática" dos sumérios e egípcios era limitada e permaneceu assim, limitada, por milênios. Por outro lado, quando um gênio como Euler se interessa por algo como Topologia é puramente pensar filosófico. Porque algo quase que totalmente desconectado do século 18 em que esse homem viveu.
3 - A Filosofia é um ( dos ) antítodo para esse "pensar sem receita", que na verdade, nesse contexto, está significando não pensar. Ou seja, aprender e repetir mecanicamente passos que chegam a um determinado resultado. Ora, isto é, quase que por decorrência direta da conceituação de Filosofia, um não-filosofar.
Mas eu só não concordo que se deva incluir Filosofia como uma disciplina do ensino médio porque se a gente for nessa progressão quantas matérias teria a grade dos pobres alunos que mal aprendem as que já estão aí?
Errata: Ops! Onde está escrito "pensar SEM receitas" leia-se "pensar por receitas".