6) Dado que a economia é wertfrei (livre de juízos de valor), então como os economistas do mainstream podem concluir a necessidade do estado a partir da hipótese dos bens públicos? Um dever pode seguir de um ser?
Isso é bem ridículo, meu deus. Confunde a ausência de juízo de valor do aspecto análítico com a realidade prática/humana. Cita ao fim a lei de Hume como se esta fosse uma espécie de "confirmação científica" do niilismo.
...é meio como para a física, não há "juízo de valor" numa cabeça ser esmagada ou não, e ainda assim a engenharia assume a "hipótese" disso ser algo indesejável e desenvolve capacetes, e concluem a necessidade da "indústria" para produção dos mesmos.
Essa me deixou pasmo mesmo. Fico pensando se é verdade, se tem gente que pensa assim mesmo.
O engraçado é que dá para questionar qualquer lei "legal"/criminal pelo mesmo motivo exato (a física não faz juízo de valor sobre nossas vidas), então se tem "anarquia" como "terra sem leis" mesmo, coisa que uma boa porcentagem dos auto-rotulados anarquistas vão dizer ser um espantalho.
"Dado que a economia é wertfrei (livre de juízos de valor), então como os economistas do anarquismo podem concluir a necessidade DE LEIS e tribunais privados a partir da hipótese dos bens públicos? Um dever pode seguir de um ser?"
Quem usou esse termo e defendeu isso de economia livre de valor foi Mises. A economia como ciência deveria ser livre de valores, mas a economia atual é o completo oposto disso, cheio de bobagens bem intencionadas como salário mínimo, assistencialismo, bens públicos-estatais, e vários outros.
Você está confundindo economia/teoria com política econômica baseada nessa teoria econômica. A economia diz o que vai acontecer, não o que "deve", muito embora sejam muito prevalentes certas preferências, como por baixa taxa de desemprego. Como na analogia que fiz, a física diz que bater com a cabeça parte o crânio, a engenharia/física aplicada projeta o capacete, ante a assunção de que isso é indesejável. É assim que se dá com a economia, o que incrivelmente deixa o autor das questões retóricas confuso.
Seu espantalho falhou mais uma vez, ancap não acredita em "bens públicos" no sentido estatal. A necessidades de leis e justiça é apenas um conjunto de demandas e serviços. O ponto 6 questiona que os bens públicos (públicos, não estatais) não justificam o estado, não justifica um super monopólio. A teoria econômica nunca iria concluir que há a necessidade de um monopólio porque existem bens públicos, é um juízo de valor sem sentido na ciência econômica.
Novamente, não há espantalho, ao menos não vindo de mim.
O autor da questão confunde (ou talvez seja tentativa de espantalho) teoria econômica com teoria política, e acha que a segunda deriva da primeira em suas equações (ou que estatistas suponham isso), e não é o caso.
A teoria econômica apenas informa a teoria e prática política, que levarão considerações de valores nas abordagens econômicas. Tal como na analogia que fiz -- a física (economia) diz que impactos podem quebrar a cabeça (mas não diz que isso é ruim, não tem juízo de valor), e então a "política"/economia normativa (que tem juízos de valor) pode decidir que capacetes são uma solução razoável, e usa economia aplicada (física/engenharia) para a solução. Não tem nada que diga que quebrar a cabeça/desemprego é "mal" na física/economia "puras" -- são valores externos à teoria, mas levados em consideração na análise do que a teoria mostra. É como matemática, adição e multiplicação não serão "bons", e subtração e divisão, "ruins".
Não tem fórmula keynesiana/outra que diga o tamanho ou atribuições do estado, quantos juízes devem ser privados ou funcionários do estado. É apenas teoria política que dirá, não baseada apenas em economia, mas também em outros em valores, inexistentes na análise econômica pura.
É irrelevante, na "lógica" do questionamento feito, se quem oferta serviços/bens públicos (ou quaisquer bens!) é o estado ou a iniciativa privada; se o ponto do autor é que "a economia não faz juízo de valor", e, estupidamente, supõe que nos baseamos apenas em modelos econômicos para nossas ações, nessa "inversão" niilista da lei de Hume, então esse questionamento, do "ser" implicar em "dever", vale para qualquer fornecedor de bens públicos (ou quaisquer bens), não só para oferta estatal deles.
Mas, como mesmo anarquistas podem perceber, há demanda por tais bens/serviços públicos. Os anarquistas capitalistas especificamente crêem que podem ser satisfeita pela iniciativa privada (e têm como juízo de valor que isso é preferível), enquanto outras ideologias políticas -- não teorias econômicas -- têm praticamente como atribuição que define o estado a prestação de alguns desses serviços. Elas podem até tirar isso de enxergar "falhas de mercado" ou problemas particulares nesses casos, mas isso ainda assim não "justifica" a pergunta, se não assumimos que "é certo" ser niilista porque a física é livre de juízo de valores.
A anarquia de mercado tem como base a propriedade privada, Somália anarquista não era conhecida pelo respeito à propriedade privada, numa ausência de governo gerada por guerras entre clãs. Todos os seus espantalhos se baseiam no próprio espantalho que vc fez sobre a teoria que tenta criticar.
Ou seja, a anarquia somali mostra como não é garantido que, sem o estado, surjam instituições privadas capazes de garantir os direitos à propriedade privada e assim a condições adequadas ao mercado. Muito mais comumente, o mercado prospera dentro de estados funcionais, que têm tal instituição. Em contraste com afirmações como:
Se continuar assim, vejo a Somália como uma grande país daqui a alguns anos... já mostra vantagens que o Brasil não tem.
Precisa mesmo de empresas de segurança, porque essas milícias são uma espécie de força estatal.
[...]
O ponto é a evolução economica, que como mostra a Somália, o Estado é desnecessário para o bom funcionamento do mercado. O Estado atrapalha o mercado.