Mises não foi o primeiro a "descobrir" que coisas causal ou logicamente impossíveis não podem ocorrer. Isso ainda não faz de praxeologia ciência. Se não há pretensão de ser "ciência como as ciências naturais", bem, então nem tem muito o que discutir. É uma forma de enaltecer o "método" de hipotetizar/entender as supostas causas fundamentais dos mercados. Infelizmente parece que a insistência em tal termo faz com que alguns pensem ser fundamentalmente mais do que isso, e portanto, algo que produz apenas verdades "por definição", não "dentro das suposições", mas sobre a realidade inclusive.
Em momento algum fiz essa afirmação (de que Mises foi o primeiro a descobria a casualidade). O que falei foi : Mises foi o primeiro a fundamentar filosoficamente o que os economistas já faziam a Séculos (antes da Escola de Chicago)!
Sim, são métodos diferentes; e a proposta preditiva da economia é BEM diferente da física e química (pelo menos da economia desenvolvida com a praxeologia, que SABE dos limites preditivos inerentes aos sistemas econômicos), e é aí que eu falo que a EA não é científica, como na física e química (e por isso a analogia com a evolução) na sua proposta de capacidade preditiva.
Mas repare que, em momento algum, eu afirmei que as descobertas da praxeologia não correspondiam a realidade. Correspondem. Isso é fato (comprovado empiricamente).
Todas as leis e teorias desenvolvidas pela EA, através da praxeologia, são válidas na Realidade. Uma coisa que talvez não tenha ficado clara: economistas observam a realidade. Conceitos como troca, poupança, gasto, investimento,etc vem direto da realidade. Não são imaginações, experimentos mentais, nem modelos. São conceitos derivados da experiência real, que nomeiam coisas reais; fazem parte da realidade.
Eu não me preocupo em submeter as leis e teorias da escola austríaca ao empirismo, pois TODAS passam!
Você já leu Teoria e História? Ou algum livro sobre a questão metodológica da EA? Ou sobre o desenvolvimento da EA, a sua TACE e seus resultados? Já postei aqui : até mesmo na "Mania das Tulipas", onde nenhuma outra escola explica o ocorrido, a não ser apelando para a "irracionalidade" do homem, a teoria de Mises se mantém, pois como ele explica na sua obra prima "Ação Humana", até mesmo a expansão monetária ocorrida com "dinheiro bom", poderá provocar distorções, bolhas e ciclos.
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=267Toda "lei" econômica deve obrigatoriamente corresponder ao que ocorre na economia real, a despeito de como quer que tenha sido inicialmente concebida.
Previsivelmente, muito do que ocorre na economia, como quer que se observe, poderá ser traçado até ações humanas que constituem o mercado, até mesmo de fenômenos emergentes que não pareçam tão óbvios de ocorrer se apenas imaginamos o que indivíduos fariam em escala individual.
Um sistema de imaginar o que as pessoas fariam, não é ciência, o que se imagina a partir dele também não é necessariamente ciência. Pode se verificar correto, e nesse caso se tornar, mas antes disso é só apenas formulação/imaginação de hipóteses.
Poderá não, tem de ser. Caso contrário, teríamos algum tipo de mágica, de emergencismo ontológico, o que é absurdo!
A afirmação que se faz é : as consequências das decisões econômicas, em uma dada condição, serão SEMPRE as mesmas. Por exemplo : em uma economia de livre mercado(laissez faire), mantendo-se tudo constante, inflacionando-se a moeda, o nível geral de preços irá subir (e nada além disso, pode ser falado com certeza )! Isso é uma consequência dedutível, da mesma forma que se trabalha com um problema de otimização em uma linha de produção , usando-se a matemática (o que é exatamente a Lei de Associação de Ricardo). A diferença é que, aqui, se usa a lógica verbal, ou : em uma economia de livre mercado, mantendo-se tudo constante, uma politica de salário mínimo irá causar desemprego na população menos qualificada, que em tese, é a que se quer proteger.
Não se trata de imaginar o que as pessoas fariam (como se a economia fosse um livro aberto em termos de decisões possíveis - a complexidade e a especificidade da história economica se originam nas diferentes combinações possíveis dessas decisões CONHECIDAS A PRIORI, e dos feedbacks que ocorrem nesse sistema fechado), como se isso fosse uma questão em aberto. As decisões econômicas são limitadas e conhecidas. O que se propõe é apresentar os resultados das diferentes decisões tomadas, e se analisar o porque de determinada história econômica ter ocorrido.
Deveriam recorrer ao empirismo para ver qual está mais provavelmente certo, e ver como a realidade se encaixa naquilo que imaginaram.
Pode inclusive ser que o aparentemente errado esteja certo quanto ao que acontece num nível "micro", mas não ter imaginado corretamente como as coisas se desenrolam a partir daí, e o aparentemente certo esteja apenas mais superficialmente certo, sem que a realidade esteja se desenrolando a partir daquilo que imaginou.
Só existe uma realidade, que não é descoberta apenas imaginando.
Não é que haja problema com imaginar, ou com sistematizar a imaginação de maneira que pareça mais lógica. Imaginar é até indispensável, já que a "observação pura" não confere entendimento imediato. Só que só imaginar não é "ciência" (nem necessariamente algo análogo a matemática), não importa o quão elegantemente você fraseie os seus "experimentos mentais".
Com já falei, não me preocupa que se recorra ao empirismo, eu até prefiro que assim o seja. E a realidade econômica é observável já faz muito tempo. As leis são deduzidas para explicar essa realidade observada (como por exemplo, a resolução do paradoxo do valor - água e diamante). A praxeologia não parte do zero, da imaginação. Ela explica, através da análise das consequências das ações, a realidade observada.
Eu não estou bem entendendo se você pretende dizer que praxeologia seria algo análogo a evolução por seleção natural, ou que evolução por seleção natural seria pseudociência como keynesianismo "e/ou" economia mainstream ("e/ou" porque parece que austrianistas sempre dão keynesianismo como sinônimo de economia mainstream, não que seja).
Já via analogias da "mão invisível" com darwnismo, que são OK (com a ressalva de que mais de 90% dos seres vivos são parasitas, que não é um quadro econômico/ecológico geral que os defensores de mercado desregulado idealizavam como analogia, mas sim adaptações "sob o microscópio"), mas não consigo bem enxergar analogia em seleção natural como teoria econômica que fosse capaz de prever crises, até porque não concebo bem o que seria o análogo a "crise" em evolução. Temo que qualquer coisa tende a ser analogia fraca demais para ser útil. Talvez "ecologia" já fosse algo talvez mais produtivo, mas ainda acho que foge do tópico de discussão.
A analogia é somente para deixar claro que a incapacidade de se fazer previsões exatas, como em física e química, não faz de algo uma pseudociência. Somente isso. Poderia colocar, nesse sentido, a própria meteorologia.
Não vejo como seria um "erro" não descrever o fenômeno "global" pelas supostas motivações individuais, que não serão necessariamente as imaginadas. O fato absoluto é a compra e venda/circulação.
Em última instância, o que teríamos seriam austrianistas faturando loucamente em seus investimentos, enquanto os demais ficam só se ferrando por se prender demais a padrões sem enxergar suas verdadeiras causas individual-coletivas. (E de fato existem umas tentativas quase místicas de prever o mercado, como achar que vai seguir algum padrão fibonnacci e coisas assim). Talvez até se beneficiando excepcionalmente dessa falta de percepção dos outros, como maior oportunidade para lucro pessoal.
Até acho que pode ser mesmo o caso, simplesmente não sei (talvez seja até vantajoso e desvantajoso em diferentes situações tentar prever os melhores investimentos a partir do que se imagina serem as motivações individuais coletivas). Mas isso novamente é algo que não dá à praxeologia status de ciência, senão por critérios particulares/cultistas de "ciência".
Seria interessante isso, ver como diferem investidores de acordo com suas escolas econômicas preferidas.
O fato "macro absoluto" NÂO nos dá um diagnóstico do que está ocorrendo; assim como uma equação matemática não nos dá as relações de causa-efeito e temporalidade que produzem essa equação (que é o que importa) e, por isso, muito menos nos permitem prescrever solução para os problemas identificados com essas equações ou nesse nível macro. É exatamente por acreditar nessas questões macro e matemáticas como ferramenta de diagnóstico e solução, que estamos vivendo um dos períodos mais idiotas da história econômica, com economistas modernos repetindo erros de 3.000 anos atrás! É dessa visão "científica" que se origina o mito so sub-consumo Keynesiano.
Em última instância não teríamos seguidores da EA faturando loucamente em investimentos. Como já falei, a EA não prevê valor de ações, de taxa de juros, quando uma crise irá ocorrer, ou qqer outra variável econômica que permita efetuar ganhos dia a dia, mes a mes. O que voce poderá observar é que, investidores que seguem a EA, identificam ciclos econômicos artificiais (manipulação monetária e juros) se posicionam (não necessariamente entram no ponto ótimo de ganho - aliás, muito raramente se consegue entrar nesses pontos) se proteger (as vezes manter o seu patrimônio já é um ganho em determinadas crises) e até mesmo lucram com a crise que está por vir.
Acho que químicos e físicos diriam que a ação de moléculas é bem mais previsível que a humana, "a priori". Até porque humanos são um arranjo muito complexo de um numero astronômico moléculas, no fim das contas.
Não que a previsão do comportamento humano seja tão fadado ao fracasso quanto tentar prevê-lo a partir dessa causalidade em nível "micro". Os "grandes padrões" algumas vezes são consistentes o suficiente para que se possa compreendê-los em algum grau independentemente de suas causas fundamentais... novamente.
É bem mais previsível, concordo! E isso é abordado em um dos capítulos do Teoria e História. Porém, o economista não pretende prever os comportamentos humanos (nem os econômicos), ou descrever as consequências de TODOS os possíveis comportamentos humanos. Apenas as consequências das decisões econômicas tomadas pelo homem, em uma dada circunstância.
A própria análise do intervencionismo (o Mises tem um livro excelente, que explica todo o ocorrido na Venezuela, no Brasil da década de 80 e em todos os países onde se tentou o mesmo) parte de uma situação de livre mercado para explicar como uma intervenção inicial causa distorção no sistema (beneficia uma minoria e prejudica a maioria) e acaba levando a necessidade de intervenções "corretivas " sucessivas, para se corrigir essa distorção inicial, o que pode acabar em um ciclo interminável de "solução" de problemas via novas intervenções, levando o país para o caos econômico.
http://www.mises.org.br/Ebook.aspx?id=32Mises não é considerado fundador da escola austríaca. Como disse, essas contribuições podem até ter sido "praxeologizadas", mas não me surpreenderia se outros economistas, de outras escolas, ou mesmo austríacos pré-praxeologia ou "apraxeológicos" tivessem inferido aproximações ou as bases dessas coisas sem considerar serem dotados de uma "ciência" de inferir o comportamento humano. Vejamos, seguindo os artigos da WP:
The subjective theory of value [...] While the modern version of this theory was created independently and nearly simultaneously by William Stanley Jevons, Léon Walras, and Carl Menger in the late 19th century[2] it had in fact been advanced in the Middle Ages and Renaissance but did not gain widespread acceptance at that time.
(Acho que Menger é o mais aceito como "fundador" da escola austríaca. Embora talvez ele mesmo já falasse em praxeologia, e/ou misesistas rotulem suas inferências sobre comportamento assim, sua linha de pensamento não era a de Mises)
Ele não é o fundador. Na realidade, as origens da Escola Austríaca remontam aos Escolásticos, em Portugal e Espanha. O nome EA foi dado pelos Historicistas alemães, numa tentativa de depreciação dessa escola econômica, pois os adeptos da época eram da Austria (considerada inferior), e estavam combatendo a visão historicista de que era impossível termos leis econômicas atemporais (eles achavam que para explicar a economia da época do imério romano, era necessário entender o período histórico da época - o livro Teoria e História, vem combater e "matar" essa visão Germânica)
E sim, pode-se ter chegado às mesmas conclusões que a EA partindo de outro método (cientifico), como a Escola de Chicago. Eu não nego isso, em momento algum. Só falo que os dados históricos não serão úteis para comprovar essas teorias; eles vão ter que usar essa teoria para interpretar dados históricos. E essa teoria é possível de ser derivada do axioma da ação e dos conceitos econômicos.
Você colocou aqui a questão da utilidade marginal decrescente. Olhe que interessante, a diferença das leis obtidas pela EA e pela Escola de Chicago (o homem não age por indiferença. Se eu me envolvo com você em uma troca, é porque eu valorizo algo nessa troca, nem que seja ajudar você).
https://mises.org/blog/austrian-and-neoclassical-concepts-marginal-ulitityAs premissas da Escola de Chicago são risíveis, são justamente a imaginação do mundo de Boby!
Não me surpreenderia se houvesse ainda outras críticas anteriores, ou insights com o mesmo cerne, se bobear, também antes até de comunismo propriamente dito. Tudo sem a "ciência" de Mises, mesmo que "imaginando o que pessoas fazem" em algum grau.
Sabe o que é mais legal : Não existia! Inclusive, para as outras escolas (como posteriormente, para a escola de Chivago e Keynesiana), a questão de socialismo e capitalismo era meramente uma escolha politica; no máximo algum problema de ineficiência decorrente da falta de incentivos. Mas essa questão fundamental, foi derivado por Mises, diretamente do Axioma da Ação aplicado a economia.
Tem um filme que relata problemas de alocação na URSS, onde o cara compra uma geladeira e encontra um escapamento de carro dentro dela. Não lembro o nome, mas é engraçado!
E a URSS só durou tanto com um relativo nível de subsistência, pois se descobriu que o que existia ali era mair próximo do fascismo, com grande parte da economia sendo tocada por campeões nacionais, escolhidos pelo partidão (que emergiram como Bilionários assim que a URSS caiu), e também contava com os preços internacionais para poder balizar minimamente os seus planos.
Bem, como disse antes, talvez seja possível entendimento e até algum poder preditivo sobre o que ocorre independentemente do que se imagina serem as causas fundamentais. Isso tem exatamente a mesma lógica de se imaginar poder prever o comportamento humano com algum grau de utilidade sem fazê-lo a partir da previsão da ação de seus constituintes físicos fundamentais.
Inclusive talvez acrescente fenômenos emergentes, que são difíceis de começar a se imaginar como se formularia ou poderia entender a partir do nível mais fundamental de análise, como psicologia mesmo; como "medo", ou "empolgação", de um animal. Muito provavelmente não é algo a que o fundamento físico elementar contribui significativamente no entendimento, sendo absurdamente inescrutável a diferença "física" fundamental de um animal nesses dois estados. Talvez algo similar possa ocorrer também com economia e indivíduo, ainda que em nível não tão distante.
Fórmulas matemáticas também devem de qualquer forma fornecer algo mais útil do que meramente essa noção textual de o que as pessoas fariam individualmente e etc. Imagino que os austrianistas que abraçaram essa abordagem devem então ter feito as mais significativas contribuições dessa escola de pensamento ao mainstream econômico, as com mais utilidade prática.
Não é equivalente. Os constituintes fundamentais não possuem intenção, não aprendem, não inovam, não evoluem (e até o momento não temos como reduzir as decisões humanas às reações do organismo ao meio, em nível molecular, ou mesmo celular). O medo, ou outra qualquer emoção vai se manifestar no momento da decisão econômica tomada. O economista não quer saber o que influenciou essa decisão, apenas que ela representa uma preferência (naquele momento, e que pode ser alterada ou mesmo se arrepender - mas o que importa são as manifestações momentâneas concretas e suas interações - e esse é o artifício metodológico que Mises cita) e que ela tem consequências!
Mas concordo que se pode chegar a descobertas com uma modelagem mais macro (apesar de considerar que a mesma poderia ser feita através da dedução). Porém, a matemática e o nível macro, em nada nos ajudam a entender as relações de causa-efeito e temporalidade.
Uma outra questão que parece não estar clara : quando se fala que a economia austríaca é baseada no indivíduo, está se falando que as ações e consequências das mesmas são estudadas da perspectivas do individuo. Mas as análises macro são realizadas em um nivel macro (porém redutíveis ao comportamento individual) : por exemplo, quando falamos que uma sociedade só se desenvolve de forma produtiva e sustentável através de poupança, estamos assumindo que uma parte da população não gasta tudo o que ganha, renunciando um consumo presente em favor de um consumo futuro (preferencia temporal - aliás, essa explicação do Mises para o Juros é muito legal), o que garante capital para investimento presente e a demanda futura. É interessante como isso pode ser deduzido através da análise econômica de Robson Crusoé;
Quando falamos que a manipulação de juros e expansão de crédito geram crises, estamos falando que a sinalização equivocada vai alterar as decisões de um grupo considerável da sociedade (empreendedores e investidores).
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=141