Primeira observação: Obrigado, Gigaview!
Segunda observação: Peço que leiam meus textos inteiros, ao invés de apenas a resposta específica. Primeiro, porque outros pedaços que explicam melhor o que quis dizer estarão espalhados. Segundo, porque conversas paralelas e desconectadas não se tornarão tão desenvolvidas quanto se tivermos, todos, uma só conversa.
Se quiser inserir manualmente uma citação basta usar como abaixo
Valeu!
Okay, mas isso não responde minha pergunta, apenas reafirma sua posição. Eu sei da sua ade.rência a interpretação gnóstica, mas não sei porque escolheu ela ao invés de outras alternativas do mesmo tipo.
Imagine que nós aqui, humanos, somos todos míopes. Entretanto, nosso grau varia bastante. Para uns, o grau menor será eficiente, o maior seria terrível. Para outros, apenas o grau maior serviria. Com isso, quero dizer que foi por questão de afinidade - foi o que "encaixou" com a minha própria subjetividade. Para alguns, o caminho da espiritualidade precisa ser mais "colorido", outros recorrem à danças, mantras... alguns praticam o desapego, a meditação, enfim... e o gnosticismo, por sua vez, é a luva para minhas mãos, através da qual posso pegar minhas ferramentas e realizar a Grande Obra. Mas isso não significa, entretanto, que seja a luva universal, pois que as mãos são diferentes, tendo alguns, inclusive, mãos já resistentes e fortes o suficiente para não mais necessitar de luvas para o trabalho alquímico...
Qual interpretação gnóstica você é adepto?
Essa é uma pergunta que eu não queria responder, pois pode provocar muitas dúvidas e inquietações no pessoal, especialmente porque imagino que haverão muitos céticos de plantão dispostos a compreender tudo de forma absolutamente literal e me fazer perguntas absurdas sobre o que eles enxergarão como afirmações absurdas - mal sabem eles que o único absurdo foi a própria forma bizarra e superficial através da qual interpretaram. De maneira extremamente breve e superficial, tudo que existe é uma das manifestações do Absoluto, que é Uno, a eternidade por de trás de todos os véus da aparência e da mudança. Entretanto, somos livres para escolhermos entre o autoconhecimento ou a ilusão da separação, e, constantemente, escolhemos o segundo, tal como uma célula cancerosa que, ao invés de cooperar com o grande sistema que é o organismo do qual faz parte, resolve romper com a harmonia e multiplicar-se de forma anormal, não muito diferente do que fazemos com o planeta também. A mitologia gnóstica da tradição da qual faço parte conta a história de que aquele Uno manifestava emanações a partir de si e estas, por sua vez, também o faziam, levando o processo adiante em um grande sistema harmonioso. Todavia, uma destas emanações, Sophia, decide emanar por si própria, sem ressonar com O Todo, rompendo com o equilíbrio. Desta reprodução má sucedida surge um "aborto" - a matéria - uma emanação imperfeita, efêmera, dual, transitória, densa e escura. A consciência desta nova emanação, a que chamamos "Demiurgo", surge como princípio organizador e ordenador desta matéria, dando origem ao cosmos que habitamos. Nossa jornada, então, consiste em romper com os enganos, ilusões, imperfeições e apegos nossos e deste mundo, no anseio de reencontrarmo-nos com a sementinha da Eternidade que carregamos dentro de nós, por sermos, também, uma manifestação dA Fonte, ainda que nos encontremos neste estado tão denso e imperfeito.
a magia, especialmente em seu uso popular, é basicamente uma maneira de fazer o Cosmos se conformar à vontade e necessidade de alguém.
De fato. Porém, a ciência atua no mundo dos fenômenos, das experiências, da matéria. A magia, por sua vez, atua por intermédio das profundas forças psicológicas, emocionais, inconscientes, imaginárias, "astrais", entre outras, que compõem a "realidade invisível". São terrenos distintos. Por isso os controles, da mesma forma, têm meios distintos.
Como se diferencia uma experiência mística de um delírio ou de um surto psicótico?
Excelente pergunta. Podemos ressaltar todas estas características comuns presentes numa experiência mística e num delírio - experiências pessoais, intransferíveis, e com interpretação subjetiva. Com isso, posso fazer a analogia de que ambos os casos dizem respeito a um mesmo grande mar onde místicos nadam, lunáticos tropeçam e esquizofrênicos se afogam. Ah, e ateus e materialistas passam longe, sentados na praia. Para distinguir a experiência mística de um delírio, me servirei de quatro filtros. O primeiro filtro será o da biologia - como estava o organismo do indivíduo que experimenta, no momento em que diz ter presenciado o fenômeno? Estava entorpecido por alguma substância? Misticismo descartado. Estava afetado devido à negligência de alguma necessidade física? Misticismo descartado. Não estava em posse de suas plenas faculdades mentais? Misticismo descartado. Estava doente, ou sobre efeito de algum medicamento? Misticismo descartado. O primeiro filtro, então, descartará todas as experiências com pretensão de misticismo que possam ter sido desencadeadas devido a um mal funcionamento do organismo. O segundo filtro será o mental e psiquiátrico. Sofre, o indivíduo, de algum quadro psiquiátrico que coloca em dúvida sua relação com a realidade? Possui um histórico de fantasia, alucinações, abuso de drogas, ou qualquer outra condição que possa comprometer sua lucidez? Misticismo descartado. O terceiro filtro será o do contexto. A determinada experiência mística encontra-se em relação com o contexto, a cultura, a filosofia e/ou espiritualidade do experimentador? Se não, misticismo descartado, pois que, ainda que nosso sujeito tenha experimentado algo além da consciência comum e da realidade objetiva dos sentidos, esta "porta aberta" não trouxe algo coerente, o que é possível de se acontecer, pois pode se estar adentrando aleatoriamente no domínio dos sonhos e da imaginação. Por fim, o quarto filtro será o do significado. Ainda que o sujeito tenha uma experiência coerente com sua cultura, ela ainda pode ter sido meramente sugestionado justamente por suas vivências e sistemas de crença. A nova pergunta é - dentro daquele contexto, a experiência pode passar um significado coerente, de caráter transformador ou inspirador, de acordo com a cultura e com a mentalidade daquele povo? Se sim, então a experiência passou pelos quatro filtros e posso considerá-la uma experiência mística.
Você, como vários outros que se juntam em ordens como a rosacruz, são aquilo que chamamos de sujeitos bem sugestionáveis, com baixa taxa de criticidade, propensos a vivenciarem na realidade sensações alucinatórias e percepções distorcidas, enquanto o Alquimista questiona e critica, por isso é tão difícil cair nesses engodos da mente.
Minha presença na AMORC, assim como em outras fraternidades de cunho iniciático, é CONSEQUÊNCIA, e não CAUSA, de minhas experiências e crenças.
Ficava lá, junto com os outros no templo, fazendo aqueles exercícios de visualização. Só que o Alquimista nunca conseguiu visualizar nada.
Visualizar (chegando a enxergar mesmo em sua tela da mente) com os olhos fechados, não é nem algo sobrenatural, místico, ou bizarro... um cético pode aprender a fazer isso por pura diversão, visto que é uma mera possibilidade natural da mente, comumente ignorada e pouco treinada. Não, você não está sendo hipnotizado ou sugestionado caso consiga. É claro que, caso o sujeito só tenha conseguido através da AMORC e seus métodos, é possível que acredite que foi por algum poder especial rosacruz ou se sinta paranormal de alguma forma. Entretanto, estará apenas se iludindo. Com devido treino e método, qualquer um pode visualizar qualquer coisa... só não insisto mais porque realmente não tem nada de místico ou transcendental nisso.
para não dar ''criso de riso'' nessas ''reuniões''
Pois deveria ter comido um alquiMisto-quente antes...
Claro, são OUTROS. É brincar de se iludir, se autoenganar e dizer um monte de bobagens.
Assistir uma peça de teatro é se iludir, então. Você não admite o valor intrínseco das potencialidades culturais e integrais do ser humano? É isso que eu quis dizer com desligar o "modo ciência". O mundo não é feito apenas de ciência.
Desligar o cérebro, você quis dizer.
Não. Ao invés disso, saber quando e como usar o cérebro, de acordo com a experiência e o objetivo.
Aquela velha falácia de sempre: ''tem que experimentar para acreditar...'' Blá, blá, blá...
Discordo, até porque a experiência veio antes da crença para mim. O que eu quis dizer com aquilo é que isso impede o materialista de compreender a riqueza de uma experiência dentro do contexto em que ela se manifesta. Imagine, por exemplo, uma música clássica de piano e uma música de PUNK ROCK. Como você poderia comparar uma com a outra para dizer qual é melhor? Impossível, pois que se destinam a finalidades diferentes, são criadas com processos diferentes. Você precisa julgar cada uma conforme aquilo a que se propõe. Uma música clássica de piano pode não expressar a frustração de adolescentes suburbanos socialmente desajustados, assim como o PUNK ROCK pode não inspirar os ideais sublimes da sua alma. Se você julgar o PUNK pelo critério da música clássica, vai achar ridículo. Se julgar a música clássica pelo critério do Punk, o mesmo se dará. Por isso, é preciso julgar a ciência com o critério da ciência, a arte com o critério da arte, a cultura com o critério da cultura, e a espiritualidade com o critério da espiritualidade. Se você julgar a espiritualidade com o critério da ciência, é claro que colocará tudo como engano e superstição, porque está medindo MASSA (kg) com uma RÉGUA (cm).
Ah, não. Nem um pouco. Por que a AMORC e o espiritismo usurpam tanto a linguagem científica pra propagar suas bobagens???
Eu estava falando por mim. Se a AMORC e o Espiritismo têm pretensão de ciência, isso significa justamente que deveriam se transformar e constantemente mudar seus dogmas e paradigmas, acompanhando a evolução da consciência humana. Entretanto, a tendência parece ser o contrário - as ovelhas se agarram cada vez mais à tradição e seus dogmas. Não sabem que esse é o seu maior erro. Os rosacruzes foram, para o renascentismo, o que a maçonaria foi para o iluminismo. Estes ambientes foram preenchidos por artistas, intelectuais, filósofos, visionários, e pessoas como eu e você. Infelizmente, o tempo faz com que estes acabem se tornando apenas aquele clássico quadro dos "iniciados notórios", usado apenas para estimular o ego dos profanos, enquanto a maçonaria parece cada vez mais se tornar um mero clube social burguês desprovido de grandes ideais simbólicos, assim como a rosacruz pode correr o risco de se tornar um reduto de lunáticos e esquisotéricos. Entretanto, se eu sou um membro de uma ordem, e pego ela usando linguagem pseudocientífica para propagar bobagens esquisotéricas, é MINHA a responsabilidade de zelar pela Razão e impedir que se corrompa. É como Platão diz - o preço a pagar pela tua não participação na política é seres governado por quem é inferior.
Os superhomens de superpotencilidades estão é na Ciência, meurmão.
Os superhomens estão na ciência, na arte, na literatura, na filosofia, NO MISTICISMO também, estão por toda parte. Estas são algumas das grandes potencialidades do homem.
Ao contrário. A Ciência mostrou que ''domínio místico e espiritual'' não passa de pura bobagem.
Aí eu chego e fala "Ao contrário, o Misticismo mostrou que domínio científico não passa de pura bobagem". Claro que não. A ciência É UM DOMÍNIO. O misticismo é OUTRO. Você adentra um domínio com as ferramentas do domínio, para as finalidades daquele domínio específico. Se você adentra um domínio com as ferramentas do outro, é óbvio que não vai enxergar nenhum sentido, ainda mais quando pisa num domínio buscando uma finalidade que, nele, não existe.
Regredir a evolução??? Pra quê???
Ele não PRECISA adentrar o terreno da espiritualidade. Mas, se for adentrar, é bom que entre com o copo vazio. Regredindo? Não, simplesmente porque o copo dele REALMENTE ESTÁ vazio. O problema é esse - achar que temos um só copo, que somos obrigados a preencher ou com ciência, ou com misticismo, ou qualquer outra coisa. Na verdade, não. Temos o copo da ciência, o copo do misticismo, e outros. O cético pode estar transbordando com seu glorioso copo da ciência, mas não é este copo que pode encher com a água da fonte do misticismo. E é óbvio que o místico precisa fazer o mesmo com relação à ciência!
Quem foi que trabalhou e trabalha para a riqueza cultural da humanidade??? Os cientistas ou os místicos???
Os cientistas, os místicos, os filósofos, os escritores, os artistas, os grandes líderes, os visionários, os humanitários... Por que você pensa que só pode ser uma coisa ou outra? Eu mesmo tenho como grande sonho, profissional, algum dia ser reconhecido como um cientista renomado, por consequência de minhas pesquisas. Entretanto, não deixo que minha vida mística, nem minhas tradições iniciáticas ou, enfim, minha "cultura espiritualista", contamine meu trabalho acadêmico, que está comprometido com a objetividade, com o ceticismo, e com a produção científica de conhecimento legítimo. Quem declarou que o ideal do homem renascentista está morto? Agora a genialidade humana foi atrofiada ao ponto de se resumir a ser OU uma coisa OU outra? Eu sou um ser humano integral, e minha vida é composta de muitas áreas. Nós podemos ser músicos, filósofos, cientistas, visionários, místicos, e o que mais for necessário, pelo bem do progresso espiritual da humanidade.
Você não tem noção que está vivenciando uma autoilusão
Disse o cético para o pintor que jurava ter a bela moça em seu quadro...
Mais uma vez, agradeço pela oportunidade de discutir com vocês.