Por favor, não consegui entender uma coisa - o problema todo foi criado pela intervenção estatal ou pelo mercado? porque, pelo que li, os preços atualmente flutuam com o valor do mercado e as entidades estão querendo que o governo reajuste e segure
https://catracalivre.com.br/geral/cidadania/indicacao/greve-caminhoneiros-brasil/
É mais complicado do que isso. O principal problema não é o valor do combustível, mas do frete. Tudo começa lá atrás, acho que no primeiro mandato Dilma, com o incentivo do governo ao setor - através do financiamento de caminhões via BNDES - o que gerou um aumento considerável da frota. Como seria de se esperar, com o excesso de mão de obra, o valor do frete caiu. Acrescente a isso outros quinhentos fatores no meio do caminho e por fim, a nova politica de preços dos combustíveis e temos a tempestade perfeita. A saída é o aeroporto internacional, se tiver combustível.
Este financiamento de caminhões via BNDES, que gerou um aumento considerável da frota, foi um ingrediente importante para desequilibrar um setor que já tinha problemas sérios (muitas estradas precárias, e muitos assaltos/roubos de cargas são dois outros problemas anteriores que não eram insignificantes).
Uma solução de mercado seria simplesmente deixar muitas transportadoras e muitos caminhoneiros irem a falência, mas quais seriam as consequências econômicas e políticas de deixar isto acontecer ?
Sim, tem muito mais fatores envolvidos nessa história, mas esse é fundamental para compreender como chegamos até aqui - pela mão do estado. Em torno de setenta por cento dos caminhoneiros hoje são autônomos, donos do próprio caminhão, geralmente financiado (e dos trinta por cento restante, boa parte trabalha na informalidade). Considerando a evolução do período, os juros que inicialmente eram quase negativos, com a queda da inflação abaixo da meta, passaram a pesar. Junte-se a isso o fato de que o país saiu de um longo período de ajuste artificial de preços dos combustíveis, para controle da inflação, que afundou a Petrobrás - gerando um efeito nefasto Brasil a fora, com o corte de investimentos para sanar a contas - para uma política de ajuste real dos preços. Inclusive, deixa eu fazer uma correção - não foi no governo Dilma, como eu supunha, mas no governo Lula, final de 2009, o lançamento do programa pró-caminhoneiro - marca daquele governo, aliás - o incentivo ao crédito. Já no final do primeiro governo Dilma, segundo estive lendo, o problema começou a ser percebido - houve, inclusive, propostas políticas no sentido de tentar reduzir a frota, para equilibrar o valor do frente, mas que foram frustradas pela pressão do setor. Tudo isso para dizer que, como temos aprendido na prática, por melhores que sejam as intenções (embora não seja o caso, sabemos que o move nossos governantes são sempre interesses próprios), não se pode prever as consequências desse tipo de planejamento econômico. O incentivo a certos setores, estratégicos, como os políticos adoram repetir, desregula o mercado, podendo gerar um efeito cascata, como o que estamos assistindo, afetando toda a economia. E aqui só estou citando algumas das muitas políticas
bem intencionadas dos governos petistas. Daí temos, 1) frete desvalorizado, devido a oferta de mão de obra, com 2) altos custos de manutenção devido a precariedade das estradas e insegurança e ainda 3) boa parte da frota financiada, 4) combustível nas alturas devido aos impostos, principalmente os estaduais, com 5) boa parte dos estados quebrados, 6) a Petrobrás ainda em fase de recuperação 7) com as ações derretendo novamente e 8) um governo que não inspira a mínima confiança. E, repito, essa é só parte da história, muito resumidamente.