É do acúmulo de propagação de mitos como esses que se constrói uma narrativa histérica de que o Brasil atual vive uma "ameaça fascista".
Pois igualmente se pode dizer que projetos como o ESP são parte da narrativa histérica de que o Brasil atual vive uma "ameaça comunista".
Não se tem qualquer medida do problema, apenas relatos pessoais, e partindo de pessoas cuja motivação explícita para o projeto é o incômodo com questões que vêem como atentando ao fundamentalismo religioso ou à condenação moral de homossexuais, e estes por sua vez devem estar também bastante correlatos a pessoas favoráveis ao ensino da teoria de que não houve ditadura no país. Isso torna as coisas objeticamente mais próximas a protocolos "fascistóides" (não tecnicamente fascistas) de educação.
Existem algumas objeções sérias ao programa ESP e elas decorrem justamente da falta de consciência anticomunista e/ou antitotalitarista. Como eu já disse anteriormente, o cerne do problema não é a doutrinação comunista, e sim a exclusão sistemática de tudo que a contraria e ela está representada pelo controle comunista das escolas e o controle ideológico e perseguição de discordantes.
O trecho da constituição que fala de "neutralidade ideológica do Estado" (e, dedutivamente, das instituições educacionais estatais) é equivocado. É um dever ético ser intolerante com os intolerantes - e suas ideias -, isto é, com aqueles seguidores de doutrinas que fazem apologia ao aniquilamento da liberdade de expressão ou outras liberdades básicas. Por exemplo, não existe "direito moral de ser comunista", assim como não existe "direito moral" de ser assassino, estuprador, molestador de crianças, etc. O discurso hipócrita da "neutralidade" acaba por fortalecer, em certa medida, os inimigos do ESP.
Ademais, o problema também reside no fato de que não é preciso um número majoritário de pessoas intolerantes para que essas imponham suas preferências a maioria. Basta uma minoria não-negligenciável, barulhenta e intransigente chegue a um nível minuciosamente pequeno, digamos, três ou quatro por cento da população total, para que toda a população possa ter que se submeter às suas preferências e um observador ingênuo ficasse com a impressão de que as escolhas e preferências seriam as da maioria. Portanto, diferentemente da abordagem da nerdeza platonizada que quer estimar a probabilidade daquilo que não é probabilizável, o foco no tamanho potencial das consequências é a verdadeira medida do problema no gerenciamento de riscos. A razão pela qual os teóricos da complexidade tem tanto medo do salafismo intolerante, a despeito do tamanho pequeno na composição de países ocidentais secularistas, é a mesma pela qual deveríamos temer os comunistas gramscianos, a despeito do número relativamente pequeno dos mesmos.
Claro, alguém que acredite que haja "zero comunismo (gramsciano)" na educação brasileira pode tentar usar essa crença para negar o problema da "regra da minoria" (dos intolerantes) e para dizer que existiria "zero ameaça comunista". Mas isso só seria possível de ser teorizado por gente do nível que acha que o lulopetismo e outras forças militantes similares foram ou são "zero ameaça comunista (gramsciana). O que obviamente dispensaria aprofundamento de discussões.