Quanto a mantê-los em tanques, você acha que eles teriam tanto a falar trancados aí do que se estivessem num ambiente diversificado e aberto?
Depende. Primatas criados em cativeiro podem aprender linguagem de sinais e se comunicar rudimentarmente com cientistas. Há muitas variáveis em questão, entretanto, mas eu vou reconhecer que eles merecem o benefício da dúvida.
Quanto "do ponto de vista legal", negros e judeus já foram considerados menos que humanos por alguns sistemas legais.
Meio falacioso esse seu comentário, não? Bom, alguma coisa nós temos que considerar menos do que humana, nem que sejam as pedras. Mas a decisão de extender a proteção da lei a todos de uma raça, todos da espécie, todos do mesmo filo ou todos os seres vivos é uma decisão de quem faz essas leis; já a questão da ética é se nós somos capazes de nos identificar o suficiente com essas pessoas para sermos capazes de nos colocarmos no lugar delas.
Mas a ética se aplica a criaturas não-humanas? Logo no começo dessa nossa discussão eu me defini como um pragmático, a ética para mim se resume ao conjunto das fórmulas de comportamento que viabilizam uma vida pacífica e produtiva, ou seja, como evitar conflitos e conseguir simpatia; cada ação é julgada pelos seus resultados. Dentro da minha visão particular de ética é quase impossível incluir outros seres vivos que não os seres humanos, minha abordagem a respeito deles é "como eles podem beneficiar a humanidade e por tabela a mim mesmo?" Talvez a sua interpretação da ética por ser muito diferente da minha te faça pensar de forma diametralmente diferente, e por isso te advirto que para essa discussão continuar talvez seja necessário analisá-la por seus pilares mais fundamentais, então, o que é ética para você e o que faz você pensar que os golfinhos merecem um tratamento análogo ao que oferecemos a outros seres humanos?
Golfinhos são uma das mais inteligentes espécies do planeta. Já foram registrados casos de golfinhos salvando pessoas de afogamento e ataques de tubarão. No RS os golfinhos cooperam com pescadores levando os peixes até suas redes e se alimentando dos que escapam.
É de se envergonhar que nós levemos estes seres, que usam sua limitada razão de forma tão benevolente, à extinção, apenas porque alguns pescadores tem preguiça de soltá-los quando esses se prendem na rede e o restante da humanidade seja indiferente a isto por "questões práticas".
São seres muito interessantes e têm minha simpatia, apesar de saber que você omitiu o fato de também haverem casos de golfinhos que matam pessoas desavisadas que chegam muito perto confiates no mito de que todos os flippers são bonzinhos. Mas se esse for o único motivo para preservar os golfinhos da extinção, então não que motivos nós teríamos para preservar criaturas estúpidas em extinção?
Eu acredito que tenho um motivo bem simples que, se não melhor, é mais sólido que esse para preservar a vida selvagem em geral e seres em extinção em particular, mas tenha paciência porque ainda vou chegar nele.
A extinção de uma espécie, como já disse antes, pode causar desequilíbrios ecológicos nocivos ao ser humano; entretanto, qual é a diferença entre meia dúzia de ursos pandas e nenhum urso panda? Se chegamos ao ponto de a existência de uma espécie estar por um fio, é porque o estrago já foi feito e a partir daí as coisas não podem piorar muito; entretanto espécies não ameaçadas exigem mais cuidado justamente por causa dos efeitos imprevisíveis que a redução de sua população pode significar, então em vez de se preocupar com os mico-leões que já estão muito perto da extinção, baseando-se no argumento do equilíbrio ecológico, os ambientalistas fariam um serviço muito melhor se concentrassem seus esforços em evitar que uma determinada espécie entrasse no caminho da extinção; ou seja, o equivalente ecológico da medicina preventiva.
Mas porque motivo então deveríamos tentar salvar uma espécie que está no fio da navalha? Simples: porque as pessoas se importam com elas. A vida deles de um ponto de vista ético não tem valor algum, entretanto por razões sentimentais as pessoas atribuem a eles um valor que deve ser considerado por um governo preocupado com sua imagem perante a opinião pública; portanto os animais não serão preservados pelo peso que essa variável tem na ética, mas pelo peso dos sentimentos que as pessoas em geral nutrem por ela.