Antes de falar de meu (melhor, meus) Bergman favorito, gostaria de contar como o grande diretor de cinema chegou à minha vida.
Eu estudava matemática, mas, quando dava, filava as aulas de filosofia do mestre Carlos Penha, autor de obras nessa área. Um dia, estava lá na sala de aula, em visita, outro professor de filosofia, amigo ou parente do Carlos Penha. Mais tarde, participei do grupo de alunos que acompanhando os dois professores foram encher a cara em um boteco. O mestre convidado era marxista, especialista em existencialismo e dizia não gostar mais de cinema. Todavia, foram as palavras dele tão brilhantes sobre o que eram realmente cinema, existencialismo e Bergman que, paradoxalmente, me conquistaram de uma vez por todas não só para a sétima arte, que eu já amava, como para Bergman.
Admiro o SÉTIMO SELO. A religiosidade ateia bergmaniana está lá, ecoando a visão sombria do LIVRO DO APOCALIPSE, o último livro da Bíblia. Gosto também muito de MORANGOS SILVESTRES, mas o filme me deprime muito. Tenho mais de 30 anos e menos de 40. O filme de Bergman me deixou com o medo de envelhecer - envelhecer com a mesma amargura do professor da história.
Agora, meus Bergman favoritos:
1. MONICA E O DESEJO, com a extraordinária Harriet Andersson; ninguém dirige melhor atores do que Bergman.
2. NOITES DE CIRCO, de novo, a imbatível Andersson;
3. A HORA DO LOBO, com um elenco de atores onde o menos talentoso dá banho em qualquer outro ator. Max von Sydow e Liv Ullmann fazem aquilo que disse um crítico todo ator deve fazer: interpretar, não representar.
4. A FONTE DA DONZELA, o elenco é tudo o que eu disse acima e muito mais.
Se J.P.-Sartre fosse cineasta, seria Bergman. Se este fosse filósofo, seria Sartre. Dois gênios, cada um em seu pedaço.
A lembrar: a FOLHA DE S. PAULO, um tempinho atrás, publicou caixas com quase toda a filmografia de Ingmar Bergman.[/font]