Rizk,
Eu concordo plenamente com o direito de mulheres que se achem oprimidas pela cultura ocidental de se reunir para tentar mudar essa cultura. Liberdade de expressão. Todos têm o direito de divulgar suas idéias de maneira pacífica.
Mas ao meu ver esse trecho é problemático.
Hoje em dia, o problema do direito é dar a cada um aquilo de que precisa.
Eu penso que ao invés de dar aquilo que as pessoas precisam, o que deve ser feito é permitir que elas consigam essas com seu próprio esforço.
Quanto as empresas de ônibus, por exemplo. Eu não acharia nenhum absurdo caso não houvesse lei alguma dando direito a reserva de vagas para idosos ou deficientes.
Acho que a empresa é que deveria determinar isso. Se os deficientes ou idosos se sentissem prejudicados por uma política empresarial que os negligenciasse, que procurassem pressionar a empresa a entrar num acordo, fazendo as adaptações, ou que procurassem outras empresas. Da parte do marketing social, fazer as adaptações talvez seja mais barato para empresa do que entrar numa disputa com aleijados e velhos. Ou talvez não.
Do mesmo modo, é necessário garantir às mulheres direitos relativos à sua condição feminina, em cada uma das áreas em que a mulher age.
E de que <<direitos>> estamos tratando?
Direito à licença maternidade? Também acho que isso deveria fazer parte da política da empresa. Tudo estabelecido no contrato. O poder judiciário tão somente deveria ser acionado se houvesse quebra no contrato.
Se a empresa não pudesse arcar com os custos de grávidas, que tivesse o direito de substituí-las, desde que no contrato não houvesse cláusula garantido a tal licença.
A gente vive sob uma lei relativamente liberal, onde muitos direitos, inclusive das "minorias" e dos "oprimidos", são garantidos - nem todos, infelizmente. No caso feminino, a maioria são - excetuando os direitos reprodutivos. Se tem pessoa legislando sobre determinado assunto, é porque o contrário dele é constante e/ou incomoda a classe dominante da sociedade em questão. A lei, muitas vezes, vem antes da opinião pública. Assim, o que é necessário para erradicar o machismo, e os preconceitos em geral, não é a lei em si. É aquele longo e árduo trabalho de conscientização... e/ou o apoio das classes dominantes e da mídia, muito mais garantido.
Aí é que está. Discordo da democracia que visa grupos de pressão e que termina por prejudicar a sociedade como um todo.
O trabalho de conscientização não deve ser imposto. Eu não devo sofrer prejuízos maiores que os de mercado se eu tiver uma política de contratação machista, por exemplo, colocando apenas homens nos cargos de chefia e mulheres bonitas de secretárias. As mulheres indignadas podem se organizar e boicotar minha empresa, mas não podem exigir uma intervenção governamental no modo que eu achei mais adequado de administrar. E se a minha empresa perder competitividade por ser chauvinista, significaria uma necessidade de uma adequação ao novo cenário.
Da mesma forma se eu tiver uma política de contratação de jovens, de brancos, de não-aleijados, de heterossexuais, de cristãos, de não-comunistas.
O mesmo deveria valer para universidades e empregos públicos. O estabelecimento de cotas politicamente corretas que visam mudar uma característica cultural, ou uma contingência história, ou um fator genético/físico que favoreça algum grupo é inócuo, e só gera mais discriminação.
O racismo politicamente correto também é racismo. O sexismo politicamente correto também é sexismo.
Num ambiente de plena liberdade e igualdade legal, cada indivíduo com as suas peculiaridades e talentos particulares tenderá a se estabelecer naturalmente, e pela sua própria capacidade. Agora qualquer interferência politicamente correta que vise acelerar a igualdade cultural só gera indignação e mais ressentimentos, que alimentam sentimentos de grupo nocivos.
Enfim, democracia é isso: nivelar por baixo e garantir boas condições de vida (objetiva e subjetivamente, pois, como já diziam laaaá atrás, nem só de pão vive o homem) a todos perante a lei, conforme a necessidade de cada grupo. Explicitamente o contrário do que você afirmou.
Garantir boas condições de vida nunca se mostrou uma política inteligente a longo prazo, isso quando não produziu miséria e morte, a curto prazo.
Democracia é estabelecer a igualdade de oportunidades e direitos fundamentais, não de resultados.
Quando a cultura favorece a determinados grupos, o que se deve fazer quando se é um desfavorecido, ou quando nos compadecemos deles, é agir no sentido de mostrar que a cultura está errada. E isso se faz através da obtenção de resultados, que serão ainda mais reconhecidos quando obtidos nas tais condições adversas. Se os conservadores obtiverem resultados piores que os inovadores, os primeiros terão de mudar, ou serão exterminados.
Ao Estado cabe apenas ver pessoas como indivíduos, e não como integrantes de grupos de pressão. O império deve ser da lei, nunca do politicamente correto.