Para finalizar nas férias, li o volume de Vidas Paralelas dedicado a Demóstenes e Cícero. E, impulsionado por ele, li a oração de Cícero "Post Reditum ad Quirites" (algo como "após o exílio ao povo romano"). É uma tradução antiga de um volume da coleção Clássicos Jackson, de 1948. Confesso que é muito difícil, pressupondo bastante conhecimento de fatos políticos da época.
Não tem uma versão mais nova com notas de roda-pé explicativas? Quando li os livros de Ovídio e Propércio, se não fosse pelas notas não teria sido capaz de apreciar ou se quer entender metade da poesia deles.
Eu até cheguei a procurar alguma coisa mais nova (como essas coleções agora que saem como se fosse definitiva), mas infelizmente não achei nada... Essas do Plutarco que li eram desse gênero (editadas em Portugal), havia introdução, enquadramento histórico e inúmeras notas de rodapé explicando as passagens.
Um amigo meu leu Arte de amar de Ovídio na versão de bolso, sem notas ou introdução pra contextualizar a obra, e não entendeu quase nada, nem se quer terminou de ler o livro. Este tipo de obra faz muita referência a fatos históricos da época, locais e pessoas, ou a cultura como mitologia, costumes e etc. Tem que ter um conhecimento consistente pra entender sem notas ou introdução explicativas.
Uma curiosidade que tenho é se o pessoal da idade média e renascimento, sem o acesso a essas versões que temos mais facilitadas (biografias, introduções, comentários, etc.), conseguiam ler as obras e ter perfeito entendimento delas (isso sem falar na leitura dos originais em latim e grego).
Eu creio que a leitura destes autores clássicos da Roma e Grécia antiga na idade média era restringido a eruditos, intelectuais, estudiosos, e pessoas da alta sociedade (que teriam conhecimento e recursos suficientes para entender as obras). Não creio que a maioria das pessoas da época tivessem acesso a livros, não só pelo alto preço dos livros naquela época, mas também pelo fato da maioria esmagadora das pessoas da idade média não saberem ler, que dirá, lerem em outra língua (já que pelo que creio, nesta época a maioria das obras clássicas estavam mesmo no original em grego e em latim, ou em traduções do grego para o latim), ou então terem conhecimento de fatos históricos e culturais das civilizações antigas que os possibilitassem entender as obras dos grandes pensadores destas civilizações.
Eu pessoalmente fico frustrado com essa dificuldade, como se faltasse o conhecimento de um patrimônio cultural que anteriormente fosse sabido por todos (que estudaram nas respectivas épocas) e hoje infelizmente (segundo meu interesse) não temos. Posso citar Montaigne, por exemplo, que tem inúmeras notas de rodapé sobre praticamente tudo que é autor latino.
A explicação pode estar nos programas de estudos das universidades, que hoje obviamente seria impraticável com o desenvolvimento das ciências, mas mesmo assim fica algo de indigesto ao ler, em algumas biografias, que o filósofo tal dedicou-se inteiramente à leitura das orações de Cícero ou aos escritos de Aristóteles como se fosse algo simples de ser feito. Algo de preconceito moderno aqui talvez não seja descartado, sem falar no tanto de tempo que perdemos, no que talvez fosse a vantagem deles, com conhecimento inútil, afazeres domésticos (que muitos não tinham) e rotinas da vida moderna (filas).
Acho natural isso ocorrer, é comum que a maior parte do conhecimento do mundo antigo seja conhecido apenas por eruditos como Montaigne, que tinha formação, tempo, dinheiro, inteligência e interesse para dedicar em saber mais sobre os antigos (principalmente na sua época, onde era extremamente caro e difícil acumular erudição). A maior parte das pessoas precisam dedicar seu tempo e inteligência em trabalhar para sobreviver, buscando conhecimentos que sejam úteis neste sentido. E ao conviver com pessoas em igual condição, acabam se interessando por passa tempos mais acessíveis, como a cultura popular de sua época. Mas suas hipóteses sobre a grade curricular das universidades também parece pertinente.
Hehe, estava pensando em compra-lo no futuro, que bom que você nos avisou sobre isso André.
Nao esquentem, podem comprar de boa, é um bom deja vu.
O cara escreve bem, mas peguem em alguma promoção