Idéias Errôneas Acerca
dos Superdotados
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A Superdotação é sinônimo de genialidade
O gênio é aquele que não apenas possui um talento relevante como também o utiliza de forma produtiva, gerando obras de valor. A superdotação intelectual, portanto, não pode ser tratada como sinônimo de genialidade, pois indica apenas um dado tipo de capacidade mental, enquanto que a genialidade resulta de uma combinação de intelecto, condições sócio-econômico-culturais, motivação e trabalho duro. Obviamente, seria mais do que desejável que superdotação e genialidade andassem sempre de mãos dadas, mas, infelizmente, isso nem sempre se verifica.
A boa dotação intelectual é condição suficiente para a alta produtividade na vida
A inserção de uma pessoa dentro de uma sociedade como indivíduo integrado e útil é um processo complexo que não depende exclusivamente da inteligência, mas também de fatores emocionais, motivacionais, econômicos, sociais, etc. Não é muito difícil encontrar pessoas de inteligência mediana que são bem mais produtivas do que algumas pessoas extremamente inteligentes devido à influência de variáveis não-cognitivas.
A criança superdotada continuará a demonstrar habilidade intelectual superior independentemente das condições ambientais
É bastante disseminada a noção de que, embora possam sofrer revezes ao longo de sua vida que tendam a impedir-lhes de expressar plenamente o seu talento, os superdotados sempre superarão todas as adversidades. Ocorre, porém, que, infelizmente, pesquisas tem mostrado que crianças submetidas a um meio extremamente hostil freqüentemente desenvolvem bloqueios, medos, recalques e traumas que as deixam quase que completa e permanentemente incapazes de apresentar quaisquer indícios de capacidade mental superior ou até mesmo de desenvolver trabalho intelectual aceitável a nível mediano.
Não se deve informar à criança ou ao jovem acerca de suas habilidades superiores
Esta noção surge da hipótese de que se uma criança ou adolescente for informado de que é superdotado ficará orgulhoso e, conseqüentemente, preguiçoso e pedante. Ocorre, porém, que o superdotado, até por efetivamente ser superdotado, logo percebe a si mesmo como diferente dos demais, e os demais também logo o identificam como diferente. Caso não seja adequadamente informado acerca dos seus talentos e suas implicações, ele tenderá a perceber-se como inferior, "esquisito" e anormal, o que levaria a problemas bem piores do que os do orgulho. Shakespeare sintetizou este pensamento numa única frase:
A auto-estima não é um pecado tão vil quanto a autodepreciação.
William Shakespeare (Henry V)
A conversa franca e explicativa com o superdotado acerca de suas capacidades e talentos e da influência destes na sua vida é o melhor modo de evitar tanto o problema do complexo de inferioridade quanto o da soberba presunçosa.
Não se deve comunicar à família que um dos seus membros é superdotado
Esta noção advém da idéia de que a família poderia exibir o superdotado e/ou exigir demais dele. São medos legítimos e válidos, porém é ético e necessário que os familiares, em especial os pais ou responsáveis, tomem conhecimento das habilidades dos seus filhos. Trata-se de um imperativo ético porque um educador ou psicólogo tem o dever de dividir com seu paciente e/ou seus responsáveis tudo o que puder averiguar acerca deste. É algo necessário porque existem necessidades específicas dos superdotados que precisam ser informadas para que possam ser supridas. Basta que também se alerte sobre os perigos da exibição ou exigência excessiva.
De um modo geral, os principais cuidados que pais de superdotados devem ter com a educação de seus filhos são aqueles que também deveriam ser tomados pelos pais de crianças normais, havendo apenas alguns aspectos aos quais os excepcionalmente bem-dotados são mais sensíveis.
A criança superdotada necessáriamente terá um bom rendimento na escola
É verdade que a superdotação intelectual poderá favorecer o rendimento escolar, dada a maior facilidade em lidar com o conhecimento do tipo formal. Contudo, isso não é o suficiente para garantir o sucesso acadêmico, tendo em vista que este último depende de múltiplos fatores e e não apenas da aptidão individual. Uma criança intelectualmente superior imersa num ambiente condicionado e preparado para crianças medianas provavelmente sofrerá pressões que tenderão a lhe prejudicar o rendimento escolar.
Os testes de inteligência não são adaptados à nossa realidade brasileira e, por isso, pouca utilidade tem para a identificação do superdotado
Este argumento costuma ser proferido por "profissionais" de psicologia que não tem boa formação em matemática e estatística, dois dos conhecimentos essenciais para se compreender os resultados de testes de inteligência. É verdade que a maior parte dos testes aplicados no Brasil sofrem de forte viés cultural que lhes prejudica a aplicação, e também que os grupos de padronização usados são limitados em alcance e quantidade, no entanto isso não significa que precisamos abandonar os testes, significa apenas que devemos tomar cuidados essenciais ao interpretá-los.
Obviamente necessitamos de testes adaptados à nossa realidade, no entanto não podemos permanecer totalmente isentos de instrumentos objetivos enquanto aguardamos que surjam exames mais adequados.
Todo o superdotado é franzino e tem um pouco de loucura
O esterótipo do superdotado como um indivíduo pálido e frágil não poderia estar mais distante do fenômeno observado. Diversos estudos tem demonstrado não haver qualquer diferença significativa no biotipo dos superdotados em relação ao dos demais indivíduos. É possível que esta idéia tenha sido assimilada devido ao fato de que muitas crianças excepcionalmente bem dotadas costumam estar adiantadas em uma ou duas séries escolares em relação aos colegas de mesma idade, o que as faz parecerem menores do que as outras por serem comparadas com crianças um ou dois anos mais velhas.
Já a noção do superdotado ser "meio louco" tem algum fundamento. Não há qualquer relação entre superdotação e a insanidade mental própriamente dita, todavia, o indivíduo de excepcional capacidade intelectual experimenta dificuldades de socialização por ser um indivíduo diferente dos demais. Assim, dificuldades de relacionamento e de compreensão podem levar a um retraimento e isolamento por parte do superdotado, e a preconceitos por parte da sociedade. Assim, o indivíduo supercapaz é propenso a desenvolver certos comportamentos excêntricos ou anticonvencionais.
Em todo o mundo existe um misto de admiração e medo em relação à figura do ser excepcionalmente muito inteligente. Na melhor das hipóteses, cria-se o estereótipo do "cientista maluco", um indivíduo excêntrico, desajeitado, misantropo, e mentalmente desequilibrado. Na pior das hipóteses, temos os "gênios do mal", ou seja, vilões como os personagens de Brainiac, Doutor Silvana e Lex Luthor, os quais são descritos como "cérebros brilhantes" ou "gênios criativos" com gana de poder e total ausência de preceitos éticos.
O superdotado é um fenômeno muito raro, sendo poucas as crianças e jovens de nossas escolas que podem ser de fato considerados superdotados
Talvez esta seja a maior de todas as falácias em relação aos superdotados. Utilizando-se o critério do resultado em testes de inteligência válidos e fidedignos, espera-se que cerca de 5% ou uma em cada 20 das pessoas da sociedade em geral apresentem a superdotação em inteligência ou em criatividade. Caso seja utilizado o critério de inteligência e/ou criatividade, este número sobe para 10% ou uma em cada 10 pessoas. Buscando nas classes sociais mais altas, esta proporção, devido à inluência do favorecimento educacional, médico e nutricional, tende a aumentar ainda mais.
Na prática, de um colégio que juntasse 400 crianças de todas as classes sociais, poderíamos esperar cerca de 40 alunos de intelecto excepcional. Estes alunos poderiam, por exemplo, compor uma turma especial dentro de um colégio.
De acordo com o CEPA, o percentual de superdotados em inteligência nas universidades brasileiras chega a 20% (um em cada cinco). Tal índice cria uma expectativa de haverem cerca de dois a três mil alunos de inteligência superior em uma única universade do tamanho da Universidade Federal de Pernambuco. Considerando-se proporção semelhante para a criatividade, poderíamos esperar uma proporção de até 35% (aproximadamente um em cada três) de alunos intelectualmente privilegiados, ou seja, em torno de 5.000 alunos.
A falsa noção de que o superdotado é um fenômeno raro pode ser bastante prejudicial tendo em vista que ele ela à conclusão de que os gastos com o estudo, a identificação e a educação especial de superdotados devem ser igualmente esparsos. Com a conscientização de que cerca de 20% dos jovens deste país apresentam superdotação intelectual, e que um percentual ainda maior apresenta talento excepcional em ciências, drama, música, artes visuais e psicomotricidade, talvez um investimento maior em termos de tempo e dinheiro possa ser realizado.
http://www.vademecum.com.br/sapiens/erroneas.htm