Mas Luz, o que eu ainda não entendi foi o seguinte: isso tudo está acontecendo na Ciência -- em todos os campos dela, não só nas Exatas -- desde Popper. Como bem lembrou o Dantas, lá no princípio do Iluminismo o poder do Método Científico acabou subindo à cabeça das pessoas e o Popper ancorou essa gente no chão.
Agora, a Filosofia da Ciência tal como definida por Popper não é o Relativismo, não veio do Relativismo, e não foi influência, até onde sei, para o Relativismo! Aliás, este tópico inteiro é uma crítica ao mau Relativismo, que é aquela mania que alguns filósofos pós-modernos têm de afirmar que tudo é válido. Isso simplesmente não acontece.
Numa análise solta, os fatos parecem isolados, mas a história não acontece em saltos. Os fatos estão conectados. Até o século XIX a Filosofia, bem o mal, era quem ditava a “moda”. Ela determinava o comportamento, artes, costumes, mudança de direção e Ciências, inclusive. No século XX, isso não acontece, levando muitos a admitir que resta a Filosofia definir conceitos.
Quando ocorre essa ruptura o que vigora até então é o positivismo, nascido na Sociologia de Comte, contaminando o pensamento da época. Cabia ao observador, segundo essa corrente, coletar os dados de forma imparcial para não interferir na conclusão – o que até funcionaria, se a própria coleção não estivesse sujeita ao ponto de vista do observador.
O que causa essa ruptura? A Ciência. As implicações das Teorias científicas do início do século XX trazem profundas mudanças e não apenas na forma de fazer Ciência, mas também na forma de ver o mundo e se relacionar com ele.
O éter deixa de existir porque o tempo se torna uma medida relativa. O Universo deixa de ser aquele relógio descrito por Newton para se transformar nessa “insanidade” de Einstein: como assim o tempo é relativo? O relógio de Newton está com defeito.
Para quem faz Ciência hoje com esses conceitos já há muito introduzidos é tudo muito natural, mas para a Ciência da época isso significa uma ruptura. É preciso admitir que as coisas estavam no caminho errado e encontrar uma nova direção. O observador se dá conta, embora sua Filosofia não admita, que os dados sofrem a influência do seu ponto de vista e conseqüentemente suas verdades deixam de ser absolutas.
Não que o relativismo, aquele antigo conceito filosófico, ganhe espaço, mas a partir dessas implicações uma nova visão de mundo passa a vigorar. E não é a Filosofia quem determina a mudança de direção, ela corre a partir das Ciências Naturais. Essa é a nova Filosofia.
As idéias de Popper, entre outras, são frutos dessa nova realidade e não um fato isolado dentro do contexto. Elas não são as causas de uma nova mentalidade dentro da Ciência, são conseqüências dela.
Embora muito do que caracteriza a Relatividade Geral já viesse se desenvolvendo há muito tempo, em diversos trabalhos e Teorias anteriores, é ela quem faz essa compilação, causando a ruptura e mudando a direção das coisas.