Não é uma questão de hipótese simplista. São hipóteses baseadas nos fatos observados em outros organismos. Se estivéssemos falando de qualquer outro animal tais explicações valeriam, por que não valem para humanos? Apenas porque vai contra os princípios morais aos quais nossa sociedade está atrelada?
Não, primeiramente porque é uma generalização que, como outras, pode se mostrar incorreta. Um exemplo bobo seria que plantas são verdes porque tem clorofila, o que é atestado em praticamente todas plantas, mas répteis e insetos verdes, ou mesmo os que mimetizam plantas, não tem clorofila. Fogem à "regra" por suas características peculiares.
E de forma similar, os humanos tem características peculiares que podem explicar de forma um tanto diferente a variabilidade comportamental. Nem é algo tão exclusivo dos humanos, todas espécies mais inteligentes devem ter isso em algum grau, apenas levamos isso ao extremo, tanto que diferimos bastante comportamentalmente mesmo de nossos parentes mais próximos vivos. (talvez os mais próximos extintos tenham tido algum potencial de variação comportamental mais próximo ao nosso)
A variabilidade comportalmental humana simplesmente não se reflete numa variabilidade genética proporcional ao que seria esperado pelos padrões de determinismo genético do comportamento de outros animais. Muito provavelmente se tem espécies com variabilidade comportamental bem menor apesar de genomas maiores ou praticamente iguais e variabilidade genética maior.
Não significa que não tenha nada a ver com genes, temos alguns genes-chave que criam um cérebro mais versátil, com uma maior gama de comportamentos possíveis não diretamente atrelados a qualquer gene, do que os outros que existem por aí atualmente. Meio como a diferença entre planos para computadores como os PCs atuais, que podem ser usados para uma variedade enorme de tarefas, e computadores projetados para tarefas específicas.
Uma das diferenças-chave, causada por alguns genes, não sei quantos, foi mostrada naquela pesquisa recente cuja notícia foi publicada aqui, de chimpanzés diante de um mecanismo tal, serem mais analíticos e fazerem apenas o essencial para o funcionamento do dispositivo, enquanto que crianças tendiam a imitar o que era mostrado, e copiar mesmo ações inúteis para o funcionamento do dispositivo (que mesmo chimpanzés podiam entender como funcionava).
Também não necessariamente nos tornamos uma "tábula-rasa"; instintos mais básicos, antigos que fossem úteis, podem continuar a existir. Fome e sede talvez pudessem ser considerados instintos? Excitação sexual? E outras coisas, como aqueles tipos de comportamento de bando que parecem uma "teoria da mente" primitiva (mas que talvez tenham surgido independentemente em diversas espécies).
O fato é que somos diferentes de outros animais sociais pois temos consciência de nossos atos (não temos evidência desta consciência em outros animais, pelo menos não no nível da nossa). Para que a civilização progrida e a população aumente precisamos conter certos impulsos naturais ou biológicos. A sociedade humana se desenvolveu muito mais rapidamente do que nossos genes puderam acompanhar, o que explica, por exemplo, a taxa de obesidade, entre outros fatores. Neste desenvolivmento da sociedade, precisamos fazer várias concessões e restringir vários comportamentos que compromentem a estrutura social na qual vivemos.
Não acho correto isentar ninguém de seus atos pelo simples fato de dizer que tal ato é natural. Temos consciência e é nosso dever refrear tais atos em prol de uma vida comunitária adequada e justa. No entanto, uma imensa parte de tais atos são explicados biologicamente. Mas é claro que não é porque conhecemos uma causa que o ato se torna permitido.
De pleno acordo.... só acho que talvez haja margem de discordância sobre quais atos seriam explicados geneticamente. Acho que temos geneticamente apenas umas propensões gerais, que além do desenvolvimento poder ser desviado de forma mais brusca - como indução de cegueira permanente com vendas em recém nascidos (ao menos em gatos; talvez a plasticidade humana/desenvolvimento mais lento consiga recuperar isso, não sei), ou a maior propensão a se aprender idiomas durante a infância, e a dificuldade em se aprender qualquer idioma, mesmo um, passada a infância - apenas contam como pequenas variáveis iniciais para comportamentos mais específicos que "surgem" individualmente por uma espécie de "teoria de jogos" do desenvovimento psicológico.