O que mais me entristece no caso é o pequeno alcance que ele tem, certamente não em números, mas em variedade e qualidade de opniões. Mais uma vez as opniões recicladas de casos como o do casal de namorados assassinado ou o da filha que matou os pais são requentadas para atender o gosto do freguês. A imprensa faz questão de ouvir as mesmas idéias simplistas que ouvimos dezenas (centenas?) de vezes.
- Sabiam/ Não sabiam:
Sinceramente, discutir se os assaltantes sabiam ou não que arrastavam o menino: De que importa? O fato é que ele foi arrastado, e a causa disso é o erro inicial dos acusados, que foi cometer um crime, não o tivessem feito tal absurdo não teria ocorrido.
- Pena de morte/ rigidez do sistema:
Pena de morte...

exatamente, dar ao Estado o direito de executar um cidadão é o melhor jeito de tornar a sociedade mais justa. Robespierre, Stalin, Mao, Castro, Kim Jong Ill, Hitler, Pinochet e cia., todos eles concordam com isso.

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Por outro lado tenho que concordar que o sistema penal brasileiro dá muita colher de chá para os acusados. Sou contra a redução da maioridade penal (que crime um garoto de 16 anos pode realizar que um de 15 não consiga?), mas só de imaginar que os maiores podem ser condenados a (de fato) no máximo 30 anos na cadeia e passar apenas cinco ou seis anos lá (com direitos a saídas em datas especiais e outras regalias), e que há os que defendam esse sistema apesar de sua óbvia inutilidade, fico preocupado. Afinal há sempre os que surgem para dizer como o aumento da rigidez da lei não resolve nada (aliás em geral esses são os que nós elegemos e pagamos dizer o que então, resolve), mas ninguém propõe uma solução realista.
- Causas sociais:
Justificar o ocorrido com base na pobreza, não apenas é simplificar ao extremo a questão das causas da violência como é extremamente preconceituoso. Além disso, desde quando faz sentido que o cidadão seja perdoado por seus crimes com base em sua condição econômica?
- Martirização/Indignação:
Transformar o garoto em mártir é revoltante, desrespeitoso no mínimo. Armar passeata de camisa branca, rosa, cor-de-burro-quando-foge com a foto do menino... tudo isso só esvazia o debate. Estamos sempre indignados (aliás, que me perdoem os cariocas mas me parece que o Rio é o paraíso para esse tipo de coisa), mas nunca o bastante para nos darmos ao trabalho de discutir de forma realista a questão.
- Polêmica ricos x pobres:
Nessa hora sempre surgem os que fazem questão de lembrar que o caso só recebe tal atenção por que a vítima é de classe média, e ressaltam tais e tais casos em que as vítimas são pobres, tecendo críticas ferrenhas à mídia. Pura hipocrisia, uma vez que eles também só se lembram de noticiar o caso das vítimas pobres durante a época de comoção. Como formadores de opnião, tais homens de mídia, se fossem minimamente coerentes (ou decentes) deveriam dar menos espaço em suas colunas para o perigo do "imperialismo ianque" e mencionar os casos de atrocidades contra os mais pobres. Usar a morte do rico
e do pobre ao mesmo tempo para polemizar e chamar a atenção é uma estratégia das mais deploráveis.
Poderia mencionar diversas outras aqui, mas a mensagem já se extendeu mais que o suficiente. Ainda assim em meio a esse caos de opniões sem sentido, ouvi uma que me faz ter alguma eperança: O deputado Fernando Gabeira disse que essa conversa de não decidir “sob emoção” faz supor que haverá uma normalidade depois. Não haverá, não no Brasil pelo menos.