Acho que vão matá-lo na febem.
Ou não… Que fim levou o Champinha?
- Edit: A propósito, o crime foi no Rio, lá não tem Febem.
Champinha; o retrato do mal
MARICI CAPITELLI
Bastou a educadora de Febem se distrair no meio do pátio, e Roberto Aparecido Alves Cardoso, de 19 anos, o Champinha, passou a mão em sua genitália. Indignada, ela o esbofeteou. Ele tentou revidar, mas foi seguro por outros dois funcionários. Os demais adolescentes internos entraram em alerta. "A senhora não pode bater em vagabundo", berravam.
A confusão aconteceu há duas semanas na unidade da Febem em que o criminoso está internado. Mas essa foi só uma das muitas encrencas que ele já causou no sistema onde está há quase três anos.
Champinha foi levado para a Febem em novembro de 2003, depois de matar Liana Friedenbach, de 16 anos, com 16 facadas, e ter desfigurado seu corpo, após violentá-la durante quatro dias. Os seus comparsas ajudaram no estupro e executaram o namorado de Liana, Felipe Caffé, de 18 anos.
Depois do tapa, para acalmar os ânimos, a funcionária teve que "bater a fita" com os colegas de Champinha - ou seja, explicar o que tinha acontecido. Eles estavam indignados com a bofetada que o líder do grupo havia levado. Mas um dos internos tinha presenciado a cena e contou para os demais. Foi a sorte da educadora.
Os infratores foram, então, pedir para Champinha não fazer mais aquilo. "Os internos me respeitam porque não os chamo de vagabundos nem de ladrões. Tenho um bom relacionamento com todos eles", diz a profissional.
Champinha soube do julgamento em que seu bando foi condenado a penas máximas na madrugada de quarta-feira. E reagiu como está acostumado: debochou e riu muito. Usou a gíria dos infratores para mostrar seu descaso."Num tô nem vendo". Liana não foi a primeira vítima. Ele já havia matado um caseiro conhecido como Bin Laden.
Os funcionários que trabalham no módulo em que Champinha está internado - com outros 80 internos de alta periculosidade - souberam muito antes do julgamento todos os detalhes da violência sexual sofrida por Liana. Afinal, Champinha repete a história quase todos os dias, para quem quiser ouvir.
"Mesmo depois de morta, fiz de tudo com ela", costuma dizer. Essa é uma de suas frases preferidas diante de sua atenta platéia, a quem narra com minúcias o que fez durante os quatro dias em que violentou a jovem e desfigurou seu cadáver. "É muito nojento ouvir essas barbaridades", diz uma das funcionárias da unidade.
"E o chama a atenção é que ele faz questão de repetir a história sempre que está perto das mulheres. É como se quisesse nos dizer que gostaria de estar fazendo aquilo conosco. Quando esse demônio for para a rua, coitada da mulher que cruzar o caminho dele."
Segundo a funcionária, com outros infratores, mesmo perigosos, é possível ainda conversar. "Mas com o Champinha não tem jeito. Ele é uma pessoa sem escrúpulos. Sem noção do respeito ao próximo. Não tem a menor capacidade de viver em sociedade."
Prova disso é que vive fazendo ameaças às funcionárias. "Quando pegar você lá fora, acabo mesmo". Ele também não perde a oportunidade de manifestar a esperança, quase certeza, de voltar para as ruas. "A caminhada é longa, mas não é perpétua. Num tô nem vendo". Traduzindo: um dia saio daqui e nada tem importância.
Pela versão dos funcionários, Champinha é um líder nato. Quando esteve na unidade do Tatuapé, não conseguiu exercer a liderança, porque ficou no seguro, espaço reservado aos adolescentes que estão jurados de morte. Era o seu caso porque tinha cometido estupros.
Entretanto, quando chegou na unidade atual, onde estão os delinqüentes mais perigosos, rapidamente assumiu a liderança da "ala dos pilantras", como eles mesmo definem. Costumam também se chamar de "os menos", ou seja, a escória da Febem.
Por causa desse comportamento bizarro e incontrolável, Champinha fica onde quer. "Ninguém consegue controlá-lo", admite uma funcionária. "Tudo o que dizemos, ele ironiza. Está sempre rindo. Não aceita regras."
Mas costuma falar sério sobre dois assuntos: a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) e as rebeliões internas. Champinha costuma dizer que é do PCC. "Racionalmente, ninguém acredita, mas como ele é assustador e capaz de tudo, muitos funcionários ficam na dúvida e acham que pode ser verdade. Eu mesma tenho minhas dúvidas", ressalta a educadora.
Champinha costuma falar sério também para incitar as rebeliões. "Vamos botar fogo. Vamos para cima do telhado."
Os demais costumam seguir as orientações do menino que entrou franzino na Febem e em três anos tornou-se homem feito e forte.
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