Autor Tópico: Meritocracia  (Lida 6289 vezes)

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Offline Fred

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Re: Meritocracia
« Resposta #25 Online: 12 de Março de 2007, 16:48:14 »
O capitalismo pode ser injusto e cruel...mas não burro.

Se o Ronaldo ganha 20 milhões por ano é pelo simples motivo que alguém está ganhando 40 graças a ele. E aos olhos de quem está de fora deste processo, parece muito dinheiro por pouco trabalho.

Daí surge o conceito ( equivocado na minha opinião ) de que alguns supostamente mereceriam ganhar mais ou menos do que outros. Indicações e apadrinhamentos existem aqui e em todo o mundo. A diferença é que em países mais desenvolvidos isto é mais raro e mal visto. Mas podem ter certeza de que as empresas sabem o que fazem. Se o diretor X não for eficiente, ele vai para a rua, escrevendo bonito ou não.

Eu tenho um Gerente de Obras na minha empresa que não tem nem o colegial e ganha mais do que muito Engenheiro Civil. Eu não estou preocupado em saber se ele escreve bonito e nem aceitaria substituí-lo por um Engenheiro formado em Boston, simplesmente porque para a função dele é extremamente eficiente e eu o remunero acima da média pois ganho muito mais com o trabalho dele.

Esta é a base do sistema liberal, conforme apontou o Procedure. Falha para alguns ideólogos...mérito para os pragmáticos !
“Não tenho medo das perguntas difíceis: tenho pavor das respostas fáceis.” A. Malcot

Offline JJ

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Re:Meritocracia
« Resposta #26 Online: 13 de Outubro de 2016, 07:54:29 »

Desvendando a espuma: o enigma da classe média brasileira
[Meritocracia]


ENVIADO POR RENATO SOUZA QUA, 30/10/2013 - 17:51
ATUALIZADO EM 01/01/2014 - 11:39
Autor:  Renato Santos de Souza (UFSM/RS)


Jornal GGN - Segundo artigo mais lido de 2013, "Desvendando a espuma: o enigma da classe média brasileira" também ficou em segundo lugar entre os mais comentados de 2013, com 542 opiniões. Análise de Renato Santos de Souza sobre o reacionarismo da classe média em função da supervalorização da meritocracia provocou elogios, críticas e até comentários nem pró, muito menos contra.


Desvendando a espuma: o enigma da classe média brasileira - Renato Santos de Souza


A primeira vez que ouvi a Marilena Chauí bradar contra a classe média, chamá-la de fascista, violenta e ignorante, tive a reação que provavelmente a maioria teve: fiquei perplexo e tendi a rejeitar a tese quase impulsivamente. Afinal, além de pertencer a ela, aprendi a saudar a classe média. Não dá para pensar em um país menos desigual sem uma classe média forte: igualdade na miséria seria retrocesso, na riqueza seria impossível. Então, o engrossamento da classe média tem sido visto como sinal de desenvolvimento do país, de redução das desigualdades, de equilíbrio da pirâmide social, ou mais, de uma positiva mobilidade social, em que muitos têm ascendido na vida a partir da base. A classe média seria como que um ponto de convergência conveniente para uma sociedade mais igualitária. Para a esquerda, sobretudo, ela indicaria uma espécie de relação capital-trabalho com menos exploração.


Então, eu, que bebi da racionalidade desde as primeiras gotas de leite materno, como afirmou certa vez um filósofo, não comprei a tese assim, facilmente. Não sem uma razão. E a Marilena não me ofereceu esta razão. Ela identificou algo, um fenômeno, o reacionarismo da classe média brasileira, mas não desvendou o sentido do fenômeno. Descreveu “O QUE” estava acontecendo, mas não nos ofereceu o “PORQUE”. Por que logo a classe média? Não seria mais razoável afirmar que as elites é que são o “atraso de vida” do Brasil, como sempre foi dito? E mais, ela fala da classe média brasileira, não da classe média de maneira geral, não como categoria social. Então, para ela, a identificação deste fenômeno não tem uma fundamentação eminentemente filosófica ou sociológica, e sim empírica: é fruto da sua observação, sobretudo da classe média paulistana. E por que a classe média brasileira e não a classe média em geral? Estas indagações me perturbavam, e eu ficava reticente com as afirmações de dona Marilena.


Com o passar do tempo, porém, observando muitos representantes da classe média próximos de mim (coisa fácil, pois faço parte dela), bem como a postura desta mesma classe nas manifestações de junho deste ano, comecei lentamente a dar razão à filósofa. A classe média parece mesmo reacionária, talvez não toda, mas grande parte dela. Mas ainda me perguntava “por que” a classe média, e “por que” a brasileira? Havia um elo perdido neste fenômeno, algo a ser explicado, um sentido a ser desvendado.


Então adveio aquela abominável reação de grande parte da categoria médica – justamente uma categoria profissional com vocação para classe média - ao Programa Mais Médicos, e me sugeriu uma resposta. Aqueles episódios me ajudaram a desvendar a espuma. Mas não sem antes uma boa pergunta! Como pode uma categoria profissional pensar e agir assim, de forma tão unificada, num país tão plural e tão cheio de nuanças intelectuais e políticas como o nosso? Estudantes de medicina e médicos parecem exibir um padrão de pensamento e ação muito coesos e com desvios mínimos quando se trata da sua profissão, algo que não se vê em outros segmentos profissionais. Isto não pode ser explicado apenas pelo que se convencionou chamar de “corporativismo”. Afinal, outras categorias profissionais também tem potencial para o corporativismo, e não o são, ao menos não da mesma forma. Então deveria haver outra interpretação para isto.


Bem, naqueles episódios do Mais Médicos, apesar de toda a argumentação pretensamente responsável das entidades médicas buscando salvaguardar a saúde pública, o que me parecia sustentar tal coesão era uma defesa do mérito, do mérito de ser médico no Brasil. Então, este pensamento único provavelmente fora forjado pelas longas provações por que passa um estudante de medicina até se tornar um profissional: passar no vestibular mais concorrido do Brasil, fazer o curso mais longo, um dos mais difíceis, que tem mais aulas práticas e exigências de estrutura, e que está entre os mais caros do país. É um feito se formar médico no Brasil, e talvez por isto esta formação, mais do que qualquer outra, seja uma celebração do mérito. Sendo assim, supõe-se, não se pode aceitar que qualquer um que não demonstre ter tido os mesmos méritos, desfrute das mesmas prerrogativas que os profissionais formados aqui. Então, aquela reação episódica, e a meu ver descabida, da categoria médica, incompreensível até para o resto da classe média, era, na verdade, um brado pela meritocracia.


A minha resposta, então, ao enigma da classe média brasileira aqui colocado, começava a se desvelar: é que boa parte dela é reacionária porque é meritocrática; ou seja, a meritocracia está na base de sua ideologia conservadora.


Assim, boa parte da classe média é contra as cotas nas universidades, pois a etnia ou a condição social não são critérios de mérito; é contra o bolsa-família, pois ganhar dinheiro sem trabalhar além de um demérito desestimula o esforço produtivo; quer mais prisões e penas mais duras porque meritocracia também significa o contrário, pagar caro pela falta de mérito; reclama do pagamento de impostos porque o dinheiro ganho com o próprio suor não pode ser apropriado por um Governo que não produz, muito menos ser distribuído em serviços para quem não é produtivo e não gera impostos. É contra os políticos porque em uma sociedade racional, a técnica, e não a política, deveria ser a base de todas as decisões: então, deveríamos ter bons gestores e não políticos. Tudo uma questão de mérito.


Mas por que a classe média seria mais meritocrática que as outras? Bem, creio que isto tem a ver com a história das políticas públicas no Brasil. Nós nunca tivemos um verdadeiro Estado do Bem Estar Social por aqui, como o europeu, que forjou uma classe média a partir de políticas de garantias públicas. O nosso Estado no máximo oferecia oportunidades, vagas em universidades públicas no curso de medicina, por exemplo, mas o estudante tinha que enfrentar 90 candidatos por vaga para ingressar. O mesmo vale para a classe média empresarial, para os profissionais liberais, etc. Para estes, a burocracia do Estado foi sempre um empecilho, nunca uma aliada. Mesmo a classe média estatal atual, formada por funcionários públicos, é geralmente concursada, portanto, atingiu sua posição de forma meritocrática. Então, a classe média brasileira se constituiu por mérito próprio, e como não tem patrimônio ou grandes empresas para deixar de herança para que seus filhos vivam de renda ou de lucro, deixa para eles o estudo e uma boa formação profissional, para que possam fazer carreira também por méritos próprios. Acho que isto forjou o ethos meritocrático da nossa classe média.

Esta situação é bem diferente na Europa e nos EUA, por exemplo. Boa parte da classe média europeia se formou ou se sustenta das políticas de bem estar social dos seus países, estas mesmas que entraram em colapso com a atual crise econômica e tem gerado convulsões sociais em vários deles; por lá, eles vão para as ruas exatamente para defender políticas anti-meritocráticas. E a classe média americana, bem, esta convive de forma quase dramática com as ambiguidades de um país que é ao mesmo tempo das oportunidades e das incertezas; ela sabe que apenas o mérito não sustenta a sua posição, portanto, não tem muitos motivos para ser meritocrática. Se a classe média adoecer nos EUA, vai perder o seu patrimônio pagando por serviços privados de saúde pela absoluta falta de um sistema público que a suporte; se advém uma crise econômica como a de 2008, que independe do mérito individual, a classe média perde suas casas financiadas e vai dormir dentro de seus automóveis, como se via à época. Então, no mundo dos ianques, o mérito não dá segurança social alguma.


As classes brasileiras alta e baixa (os nossos ricos e pobres) também não são meritocráticas. A classe alta é patrimonialista; um filho de rico herda bens, empresas e dinheiro, não precisa fazer sua vida pelo mérito próprio, portanto, ser meritocrata seria um contrassenso; ao contrário, sua defesa tem que ser dos privilégios que o dinheiro pode comprar, do direito à propriedade privada e da livre iniciativa. Além disso, boa parte da elite brasileira tem consciência de que depende do Estado e que, em muitos casos, fez fortuna com favorecimentos estatais; então, antes de ser contra os governos e a política, e de se intitular apolítica, ela busca é forjar alianças no meio político.


Para a classe pobre o mérito nunca foi solução; ela vive travada pela falta de oportunidades, de condições ou pelo limitado potencial individual. Assim, ser meritocrata implicaria não só assumir que o seu insucesso é fruto da falta de mérito pessoal, como também relegar apenas para si a responsabilidade pela superação da sua condição. E ela sabe que não existem soluções pela via do mérito individual para as dezenas de milhões de brasileiros que vivem em condições de pobreza, e que seguramente dependem das políticas públicas para melhorar de vida. Então, nem pobres nem ricos tem razões para serem meritocratas.


A meritocracia é uma forma de justificação das posições sociais de poder com base no merecimento, normalmente calcado em valências individuais, como inteligência, habilidade e esforço. Supostamente, portanto, uma sociedade meritocrática se sustentaria na ética do merecimento, algo aceitável para os nossos padrões morais.


Aliás, tenho certeza de que todos nós educamos nossos filhos e tentamos agir no dia a dia com base na valorização do mérito. Nós valorizamos o esforço e a responsabilidade, educamos nossas crianças para serem independentes, para fazerem por merecer suas conquistas, motivamo-as para o estudo, para terem uma carreira honrosa e digna, para buscarem por méritos próprios o seu lugar na sociedade.


Então, o que há de errado com a meritocracia, como pode ela tornar alguém reacionário?


Bem, como o mérito está fundado em valências individuais, ele serve para apreciações individuais e não sociais. A menos que se pense, é claro, que uma sociedade seja apenas um agregado de pessoas. Então, uma coisa é a valorização do mérito como princípio educativo e formativo individual, e como juízo de conduta pessoal, outra bem diferente é tê-lo como plano de governo, como fundamento ético de uma organização social. Neste plano é que se situa a meritocracia, como um fundamento de organização coletiva, e aí é que ela se torna reacionária e perversa.


Vou gastar as últimas linhas deste texto para oferecer algumas razões para isto, para mostrar porquê a meritocracia é um fundamento perverso de organização social.


a) A meritocracia propõe construir uma ordem social baseada nas diferenças de predicados pessoais (habilidade, conhecimento, competência, etc.) e não em valores sociais universais (direito à vida, justiça, liberdade, solidariedade, etc.). Então, uma sociedade meritocrática pode atentar contra estes valores, ou pode obstruir o acesso de muitos a direitos fundamentais.


b) A meritocracia exacerba o individualismo e a intolerância social, supervalorizando o sucesso e estigmatizando o fracasso, bem como atribuindo exclusivamente ao indivíduo e às suas valências as responsabilidades por seus sucessos e fracassos.


c) A meritocracia esvazia o espaço público, o espaço de construção social das ordens coletivas, e tende a desprezar a atividade política, transformando-a em uma espécie de excrescência disfuncional da sociedade, uma atividade sem legitimidade para a criação destas ordens coletivas. Supondo uma sociedade isenta de jogos de interesse e de ambiguidades de valor, prevê uma ordem social que siga apenas a racionalidade técnica do merecimento e do desempenho, e não a racionalidade política das disputas, das conversações, das negociações, dos acordos, das coalisões e/ou das concertações, algo improvável em uma sociedade democrática e pluralista.


d) A meritocracia esconde, por trás de uma aparente e aceitável “ética do merecimento”, uma perversa “ética do desempenho”. Numa sociedade de condições desiguais, pautada por lógicas mercantis e formada por pessoas que tem não só características diferentes mas também condições diversas, merecimento e desempenho podem tomar rumos muito distantes. O Mário Quintana merecia estar na ABL, mas não teve desempenho para tal. O Paulo Coelho, o Sarney e o Roberto Marinho estão (ou estiveram) lá, embora muitos achem que não merecessem. O Quintana, pelo imenso valor literário que tem, não merecia ter morrido pobre nem ter tido que morar de favor em um hotel em Porto Alegre, mas quem amealhou fortuna com a literatura foi o Coelho. Um tem inegável valor literário, outro tem desempenho de mercado. O José, aquele menino nota 10 na escola que mora embaixo de uma ponte da BR 116 (tema de reportagem da ZH) merece ser médico, sua sonhada profissão, mas provavelmente não o será, pois não terá condições para isto (rezo para estar errado neste caso). Na música popular nem é preciso exemplificar, a distância entre merecimento e desempenho de mercado é abismal. Então, neste mudo em que vivemos, valor e resultado, merecimento e desempenho nem sempre caminham juntos, e talvez raramente convirjam.


Mas a meritocracia exige medidas, e o merecimento, que é um juízo de valor subjetivo, não pode ser medido; portanto, o que se mede é o desempenho supondo-se que ele seja um indicador do merecimento, o que está longe de ser. Desta forma, no mundo da meritocracia – que mais deveria se chamar “desempenhocracia” - se confunde merecimento com desempenho, com larga vantagem para este último como medida de mérito.


e) A meritocracia escamoteia as reais operações de poder. Como avaliação e desempenho são cruciais na meritocracia, pois dão acesso a certas posições de poder e a recursos, tanto os indicadores de avaliação como os meios que levam a bons desempenhos são moldados por relações de poder; e o são decisivamente. Seria ingênuo supor o contrário. Assim, os critérios de avaliação que ranqueiam os cursos de pós-graduação no país são pautados pelas correntes mais poderosas do meio acadêmico e científico; bons desempenhos no mercado literário são produzidos não só por uma boa literatura, mas por grandes investimentos em marketing; grandes sucessos no meio musical são conseguidos, dentre outras formas, “promovendo” as músicas nas rádios e em programas de televisão, e assim por diante. Os poderes econômico e político, não raras vezes, estão por trás dos critérios avaliativos e dos “bons” desempenhos.


Critérios avaliativos e medidas de desempenho são moldáveis conforme os interesses dominantes, e os interesses são a razão de ser das operações de poder; que por sua vez, são a matéria prima de toda a atividade política. Então, por trás da cortina de fumaça da meritocracia repousa toda a estrutura de poder da sociedade.


Até aí tudo bem, isso ocorre na maioria dos sistemas políticos, econômicos e sociais. O problema é que, sob o manto da suposta “objetividade” dos critérios de avaliação e desempenho, a meritocracia esconde estas relações de poder, sugerindo uma sociedade tecnicamente organizada e isenta da ingerência política. Nada mais ilusório e nada mais perigoso, pois a pior política é aquela que despolitiza, e o pior poder, o mais difícil de enfrentar e de combater, é aquele que nega a si mesmo, que se oculta para não ser visto.


e) A meritocracia é a única ideologia que institui a desigualdade social com fundamentos “racionais”, e legitima pela razão toda a forma de dominação (talvez a mais insidiosa forma de legitimação da modernidade). A dominação e o poder ganham roupagens racionais, fundamentos científicos e bases de conhecimento, o que dá a eles uma aparente naturalidade e inquestionabilidade: é como se dominados e dominadores concordassem racionalmente sobre os termos da dominação.


f) A meritocracia substitui a racionalidade baseada nos valores, nos fins, pela racionalidade instrumental, baseada na adequação dos meios aos resultados esperados. Para a meritocracia não vale a pena ser o Quintana, não é racional, embora seus poemas fossem a própria exacerbação de si, de sua substância, de seus valores artísticos. Vale mais a pena ser o Paulo Coelho, a E.L. James, e fazer uma literatura calibrada para vender. Da mesma forma, muitos pais acham mais racional escolher a escola dos seus filhos não pelos fundamentos de conhecimento e valores que ela contém, mas pelo índice de aprovação no vestibular que ela apresenta. Estudantes geralmente não estudam para aprender, estudam para passar em provas. Cursos de pós-graduação e professores universitários não produzem conhecimentos e publicam artigos e livros para fazerem a diferença no mundo, para terem um significado na pesquisa e na vida intelectual do país, mas sim para engrossarem o seu Lattes e para ficarem bem ranqueados na CAPES e no CNPq.


A meritocracia exige uma complexa rede de avaliações objetivas para distribuir e justificar as pessoas nas diferentes posições de autoridade e poder na sociedade, e estas avaliações funcionam como guiões para as decisões e ações humanas. Assim, em uma sociedade meritocrática, a racionalidade dirige a ação para a escolha dos meios necessários para se ter um bom desempenho nestes processos avaliativos, ao invés de dirigi-la para valores, princípios ou convicções pessoais e sociais.

g) Por fim, a meritocracia dilui toda a subjetividade e complexidade humana na ilusória e reducionista objetividade dos resultados e do desempenho. O verso “cada um de nós é um universo” do Raul Seixas – pérola da concepção subjetiva e complexa do humano - é uma verdadeira aberração para a meritocracia: para ela, cada um de nós é apenas um ponto em uma escala de valor, e a posição e o valor que cada um ocupa nesta escala depende de processos objetivos de avaliação. A posição e o valor de uma obra literária se mede pelo número de exemplares vendidos, de um aluno pela nota na prova, de uma escola pelo ranking no Ideb, de uma pessoa pelo sucesso profissional, pelo contracheque, de um curso de pós-graduação pela nota da CAPES, e assim por diante. Embora a natureza humana seja subjetiva e complexa e suas interações sociais sejam intersubjetivas, na meritocracia não há espaço para a subjetividade nem para a complexidade e, sendo assim, lamentavelmente, há muito pouco espaço para o próprio ser humano. Desta forma, a meritocracia destrói o espaço do humano na sociedade.


Enfim, a meritocracia é um dos fundamentos de ordenamento social mais reacionários que existe, com potencial para produzir verdadeiros abismos sociais e humanos. Assim, embora eu tenda a concordar com a tese da Marilena Chauí sobre a classe média brasileira, proponho aqui uma troca de alvo. Bradar contra a classe média, além de antipático pode parecer inútil, pois ninguém abandona a sua condição social apenas para escapar ao seu estereótipo. Não se muda a posição política de alguém atacando a sua condição de classe, e sim os conceitos que fundamentam a sua ideologia.


Então, prefiro combater conceitos, neste caso, provavelmente o conceito mais arraigado na classe média brasileira, e que a faz ser o que é: a meritocracia.


https://jornalggn.com.br/fora-pauta/desvendando-a-espuma-o-enigma-da-classe-media-brasileira?page=7


« Última modificação: 13 de Outubro de 2016, 07:58:43 por JJ »

Offline Fernando Silva

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Re:Meritocracia
« Resposta #27 Online: 13 de Outubro de 2016, 08:19:13 »
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Embora a natureza humana seja subjetiva e complexa e suas interações sociais sejam intersubjetivas, na meritocracia não há espaço para a subjetividade nem para a complexidade e, sendo assim, lamentavelmente, há muito pouco espaço para o próprio ser humano. Desta forma, a meritocracia destrói o espaço do humano na sociedade.
Isto é idiota. Sim, não há espaço para subjetividades. Para incentivar as pessoas, as regras têm que ser claras, tipo "a promoção vai para o funcionário mais eficiente e mais esforçado, não para o puxa-saco, o filho do amigo ou a gostosona do departamento".

Critérios subjetivos, pessoais, tipo "o Fulano é o mais eficiente, mas eu acho que o Beltrano, apesar de todas as suas falhas, tem potencial e deve ser encorajado". só servem para desorientar e desmotivar.

Offline JJ

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Re:Meritocracia
« Resposta #28 Online: 13 de Outubro de 2016, 08:49:37 »
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O que é mérito para você? Os analfabetos que você citou têm mérito sim. Eles têm mérito pois são bons em fazer aquilo que o povo consome. Por isso são ricos. Não há tanta demanda na sociedade para livros de física quântica como há para CD's de axé e funk. Aquele que for bom em produzir coisas para as quais há demanda possui mérito. Isso é o mérito do que falamos.

Não que eu ache uma boa coisa não haver tanta demanda na sociedade para livros de física como há para funk, futebol e carnaval, mas não acho que devemos impor as coisas, devemos incentivar as pessoas a consumir coisas mais educativas.


Sim eu concordo, por isso eu disse que  Eu nunca teria postado algo sobre quaisquer deles (Ronaldo, Mel, Rodrguinho, Gisele Bündchen, Bispo Macedo) serem ricos, mesmo sendo analfabetos, em um sistema capitalista. Parece que neste ponto voc não discordou de mim, apenas não entendeu o que eu disse... :wink:


A questão não é a massa de analfabetos ricos, mas analfabetos que acabam bem sucedidos porque foram selecionados pelos critérios supostamente meritocráticos de grandes empresas capitalistas para exercer funções que têm como pressuposto exatamente o não ser analfabeto, como gerente de banco ou, repórter de jornal televisivo, advogado... E sobre a incoerência desta realidade com o discurso liberal de seleção darwinista dos mais bem preparados, dos mais capazes, dos mais sei lá o quê... 
 



Ter aprendido e saber  fazer política   (e politicagem),  muitas vezes dá melhores resultados do que saber  teorias de administração.

Quem ignora as artes da política (e da politicagem)  geralmente é passado para trás pelos que não a ignoram.





Offline Buckaroo Banzai

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Re:Meritocracia
« Resposta #29 Online: 13 de Outubro de 2016, 11:00:05 »

Desvendando a espuma: o enigma da classe média brasileira
[Meritocracia]

Esse texto e sua defesa/adendo já foram tratados mais exaustivamente do que merecido aqui:

../forum/topic=27892.10.html

Acho que dá para fazer um resumo de tudo que podeira ser útil dos textos em umas duas linhas:

  • Em alguns casos, pode-se ter como critérios utilizados para seleção algo que é argumentavelmente insuficiente, ou até mesmo contraproducente em algum grau.
  • O povo brasileiro, não só a classe média, talvez seja em boa parte, crente na falácia do "mundo justo", e isso pode ter uma série de conseqüências negativas, inclusive talvez a perpetuação de critérios seletivos que devessem ser revistos/ampliados.


Só.

Sem toda essa baboseira de tentar atacar meritocracia em si, que é praticamente como atacar a "justiça." E todo o contra-senso de depois falar de "mérito real", que não deveria ter mérito algum, não? Sem também esse declive escorregadio que iguala "meritocracia" a uma espécie de objetivismo anabolizado. "Se as pessoas acham que são as pessoas mais capacitadas que devem exercer os cargos, logo as mães estarão só amamentando os filhos que acharem que se comportaram direito."



É bem olavo-carvalhesco isso. Pega um cerne de verdade óbvia e acaba distorcendo a coisa em algo bizarro. E igualmente as vedetes vão ver como algo brilhante, genial, um retrato da realidade no Brasil...


Offline JJ

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Re:Meritocracia
« Resposta #30 Online: 13 de Outubro de 2016, 12:32:31 »

Desvendando a espuma: o enigma da classe média brasileira
[Meritocracia]

Esse texto e sua defesa/adendo já foram tratados mais exaustivamente do que merecido aqui:

../forum/topic=27892.10.html



Ok. Mas se alguém mais quiser acrescentar algo aqui mesmo certamente não há problema.




Offline JJ

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Re:Meritocracia
« Resposta #31 Online: 13 de Outubro de 2016, 12:34:07 »


OS MITOS DA MERITOCRACIA E DA BRASILIDADE A SERVIÇO DOS PRIVILÉGIOS NO BRASIL


Almir Albuquerque  economia politica e sociedade

meritocracia


Desmascarando o mito do mérito individual


O senso comum é uma faca de dois gumes. Ele é importante no nosso dia a dia, para criar os códigos necessários para se viver em sociedade. Por exemplo, por causa dele, se você esticar o braço num ponto de ônibus o motorista vai entender que você pretende que ele pare. Se você balançar a sua mão espalmada, todos vão saber que está se despedindo. Mas o senso comum tem um lado bem negativo também, que é o de fazer as pessoas terem ideias e opiniões sem refletir a respeito, apenas reproduzindo a ideologia dominante. Uma das maiores crenças irrefletidas que vingaram nas sociedades capitalistas – e que por isso, as pessoas aceitam como algo natural e verdadeiro – é o mito da meritocracia.


Acreditamos que o sucesso ou o fracasso são consequências diretas do esforço individual, ou da falta dele. Que todas as pessoas bem-sucedidas na vida chegaram lá porque batalharam muito para isso (“mérito”) e que qualquer pessoa, caso trabalhe duro e aceite as dificuldades da vida, também pode chegar lá. Esse é o mito que fundou o capitalismo dos Estados Unidos, o “sonho americano”, mas que hoje em dia, já não chega mais a iludir ninguém – os movimentos sociais nunca foram tantos naquele país, justamente contestando essa falsa ideologia. Acho que os brasileiros estão começando a cair na real também, e por isso vários protestos nas ruas, e várias reações violentas dos privilegiados que tem suas posições ameaçadas.




O mito da meritocracia foi decisivamente desvendado pelo professor Jessé Souza no seu altamente recomendado livro “A Ralé Brasileira – quem é e como vive”*. Ao focar o sucesso ou o fracasso no indivíduo, a sociedade brasileira comete a injustiça de ocultar as origens de classe que determinam, em grande medida, o quanto de facilidade e o quanto de dificuldade está reservado para nós. Mas não devemos pensar – e eis aqui a maior contribuição do autor para a discussão – que quando nos referimos a classe, estamos querendo dizer determinada faixa econômica. Os filhos das classes-médias têm maior taxa de sucesso não porque seus pais transmitem algum tipo de herança financeira, um bem material ou uma empresa; mais do que isso: eles têm sucesso porque os pais transmitem valores imateriais e exemplos de conduta social que são valorizados pela sociedade. Por exemplo, como falar em público, como se comportar num clube social, como se vestir bem, evitar sexualidade precoce, ter algum grau de cultura... Esses valores são difíceis de serem percebidos pela sociedade como determinantes para o indivíduo, porque além de serem imateriais, são transmitidos dentro de casa, com exemplos e o convívio diário. Isso é mais importante do que a herança material, e é o que determina o sucesso ou o fracasso, em grande medida, das pessoas em suas vidas. Nesse caso, a renda econômica que advém do  sucesso é a consequência, não a causa da desigualdade.


Ao focar o indivíduo e “esquecer” que a origem social determina o sucesso ou o fracasso, a sociedade ainda pode se auto-eximir de culpa pelo abandono de uma parcela enorme da população brasileira, que não possui essas ferramentas culturais adequadas para o sucesso. Afinal, se o mérito é individual, então os fracassados são os culpados pelo seu próprio fracasso, e não há nada que os governos poderiam ou deveriam fazer para corrigir isso. A pessoa escolheu o caminho errado, seja por preguiça, incompetência ou falha de caráter, e ajudá-la seria incentivar o comodismo... (Quantas vezes já ouvimos isso? É a voz do senso comum atuando completamente)



Mito da brasilidade: ocultar as diferenças sob um falso senso de igualdade



Para piorar ainda mais o nosso modelo no Brasil, o mito da brasilidade transmite duas ideias prejudiciais a qualquer tipo de mudança desse quadro: a de que somos todos iguais, brasileiros felizes e abençoados – o que ajuda a ocultar as enormes e indecentes desigualdades sociais – e outra, talvez bem pior: o “horror ao conflito”. Afinal, somos um povo pacato e cordial, cristãos que pregam o amor e a ordem, nada de reivindicações, porque isso não é coisa nossa... Quem quer que ouse lutar contra o Establishment, é logo tachado de desordeiro, terrorista, “vândalo”, ou algo que o valha (e tome senso comum). E isso teve como resultado séculos de conformismo e a ocultação de todos os conflitos sociais, seja de classe, de gênero ou de raça.



Não, não somos todos iguais, como quer fazer crer o mito da brasilidade. Nesse país, há privilegiados e abandonados, há poucos com muito e muitos com pouco. E não foi o mérito individual que determinou quem tem e quem não tem acesso aos bens culturais e materiais do país. Esse é um mito dos mais perversos e que precisa ser desconstruído o mais rápido possível, se quisermos atacar na raiz os verdadeiros problemas históricos do país. Poderíamos todos começar não dando crédito a tudo o que escutamos por aí. Existem interesses ocultos em cada discurso, e temos que aprender a desvendá-los. Uma reflexão antes de emitir opinião não faz mal a ninguém. [post_ads]



* SOUZA, Jessé. A Ralé Brasileira – quem é e como vive. Ed. UFMG. Belo Horizonte, 2011



http://www.panoramicasocial.com.br/2013/09/o-mito-da-meritocracia-e-o-mito-da.html


« Última modificação: 13 de Outubro de 2016, 12:36:12 por JJ »

Offline Skeptikós

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Re:Meritocracia
« Resposta #32 Online: 02 de Maio de 2017, 21:21:06 »
Estimativa interessante sobre o impacto das heranças na renda das pessoas nesta segunda década so século XXI. Pode ser usada para embasar argumentos críticos sobre meritocracia e desigualdade.

"[Entre] 2010-2020 (...) perto de um sexto de cada geração receberá uma herança maior do que o valor que metade da população ganha por meio do trabalho ao longo de toda a vida (em grande medida, essa é a mesma metade da população que não recebe praticamente herança alguma)."
  - Thomas Piketty, O capital no século XXI, Editora Intrinseca, 2014.

Os dados se referem a França. Em 2010 este número estava em 12%, e o autor acreditava que até 2020 poderia ultrapassar os 15%.
« Última modificação: 02 de Maio de 2017, 21:25:12 por Skeptikós »
"Che non men che saper dubbiar m'aggrada."
"E, não menos que saber, duvidar me agrada."

Dante, Inferno, XI, 93; cit. p/ Montaigne, Os ensaios, Uma seleção, I, XXV, p. 93; org. de M. A. Screech, trad. de Rosa Freire D'aguiar

Offline Sergiomgbr

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Re:Meritocracia
« Resposta #33 Online: 02 de Maio de 2017, 21:46:01 »
Herança é aquilo que foi conquistado por meritocracia de alguém deixada a favor de outrem, ou seja, não é por que o desfrute de um bem é outorgado a terceiros que deixa de haver meritocracia, muito pelo contrário. Pode se dizer que quem recebe uma herança herda a meritocracia de seu outorgante, de um modo geral uma civilização  moderna é herança da meritocracia dos antepassados.
Até onde eu sei eu não sei.

Offline Geotecton

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Re:Meritocracia
« Resposta #34 Online: 02 de Maio de 2017, 22:11:31 »
OS MITOS DA MERITOCRACIA E DA BRASILIDADE A SERVIÇO DOS PRIVILÉGIOS NO BRASIL
[...]
http://www.panoramicasocial.com.br/2013/09/o-mito-da-meritocracia-e-o-mito-da.html

O JJ é um cara fantástico. E estranho.

Se coloca contra o estado muitas vezes, mas desfralda muitas bandeiras esquerdistas, a maioria delas sendo uma imensa bobagem, como esta que quer, indiretamente, se posicionar contra as heranças e, diretamente, atacar o instituto da meritocracia.
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Offline Sposigor

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Re:Meritocracia
« Resposta #35 Online: 03 de Maio de 2017, 00:03:40 »
Na meritocracia há de errar então o selecionador, se subjetividade é um imperito e amizade é fator de seleção só sobra, um humano, talvez então uma máquina deveria julgar a condição do mérito.

Quem sabe, um outro animal, baseado em seu sentido do bem e do mal, se é tão injusto assim não entendo porque alguém com pouco estudo, claramente analfabeto está ganhado mais, é difícil engolir todo o esforço por alguém boçal.

Só gostaria de entender o porquê dos textos,

Citar
OS MITOS DA MERITOCRACIA E DA BRASILIDADE A SERVIÇO DOS PRIVILÉGIOS NO BRASIL
Citar
Desvendando a espuma: o enigma da classe média brasileira[Meritocracia]

Por favor colega, me esclareça tenho dificuldade em interpretar aquilo aquém da minha capacidade cognitiva.

Só uma pergunta, supondo que a especulação da reforma politica acontecesse. Qual(is) medida(s) efetiva(s) seria(m) necessário(as) para diminuir a aparente injustiça na meritocracia e como na prática ocorreria?

Offline Skeptikós

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Re:Meritocracia
« Resposta #36 Online: 03 de Maio de 2017, 01:16:24 »
A herança é um fator impactante nas sociedades desiguais, é o que defende Piketty em sua obra. E este impacto aumenta quando o crescimento econômico e densidade demográfica são baixos (algo caracterização em nações desenvolvidas). Quando a economia cresce pouco, o peso dos rendimentos do capital se elevam em comparação a renda do trabalho, que é a principal fonte de renda dos mais pobres, mas não dos mais ricos, que vivem principalmente de suas aplicações, muitas vezes iniciadas em gerações passadas. Se a densidade demográfica é baixa, isso significa também que a herança é dividida entre menos herdeiros. Se antes, uma herança gorda era dividida entre vários filhos, hoje ela pode ser dividida com poucos ou concedida a uma única pessoa. Piketty defende que se a tendência permanecer, pode ser que venhamos a viver no futuro próximo a era mais desigual da história.
« Última modificação: 03 de Maio de 2017, 01:18:54 por Skeptikós »
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Offline Sergiomgbr

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Re:Meritocracia
« Resposta #37 Online: 03 de Maio de 2017, 07:46:55 »
Desigualdade não é o problema, e sim iniquidade.
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Offline Fernando Silva

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Re:Meritocracia
« Resposta #38 Online: 03 de Maio de 2017, 08:21:34 »
Não há meritocracia que anule as diferenças de oportunidade entre o filho do milionário e o filho do mendigo.
Ou entre uma pessoa saudável e inteligente e um deficiente físico e mental.

O melhor para todos é que sempre se dê preferência aos mais capacitados e mais esforçados, que cada um assuma as funções para as quais está capacitado e que os que nasceram sem chance sejam ajudados para que um dia, talvez, consigam subir na vida.

A outra opção é nivelar por baixo, desencorajar o esforço individual e prejudicar a todos.

Offline Lorentz

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Re:Meritocracia
« Resposta #39 Online: 03 de Maio de 2017, 08:43:31 »

A outra opção é nivelar por baixo, desencorajar o esforço individual e prejudicar a todos.

Ah, mas isso seria deturpar Marx!
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Offline Geotecton

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Re:Meritocracia
« Resposta #40 Online: 03 de Maio de 2017, 08:54:25 »
[...]
"[Entre] 2010-2020 (...) perto de um sexto de cada geração receberá uma herança maior do que o valor que metade da população ganha por meio do trabalho ao longo de toda a vida (em grande medida, essa é a mesma metade da população que não recebe praticamente herança alguma)."
  - Thomas Piketty, O capital no século XXI, Editora Intrinseca, 2014.

Os dados se referem a França. Em 2010 este número estava em 12%, e o autor acreditava que até 2020 poderia ultrapassar os 15%.

Não li o livro mas um excerto dele me chamou a atenção:

Citar
[...]
Nas gerações nascidas entre os anos de 1970-1980, 12%-14% das pessoas recebem como herança o equivalente à renda do trabalho de toda uma vida dos 50% menos bem pagos.
[...]

Ou seja, o autor comete o mesmo erro de todo esquerdista, que é o de comparar o valor absoluto de propriedade de um grupo com o valor de proventos de outro.
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Offline Geotecton

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Re:Meritocracia
« Resposta #41 Online: 03 de Maio de 2017, 09:02:42 »
A herança é um fator impactante nas sociedades desiguais, é o que defende Piketty em sua obra. E este impacto aumenta quando o crescimento econômico e densidade demográfica são baixos (algo caracterização em nações desenvolvidas). Quando a economia cresce pouco, o peso dos rendimentos do capital se elevam em comparação a renda do trabalho, que é a principal fonte de renda dos mais pobres, mas não dos mais ricos, que vivem principalmente de suas aplicações, muitas vezes iniciadas em gerações passadas. Se a densidade demográfica é baixa, isso significa também que a herança é dividida entre menos herdeiros. Se antes, uma herança gorda era dividida entre vários filhos, hoje ela pode ser dividida com poucos ou concedida a uma única pessoa. Piketty defende que se a tendência permanecer, pode ser que venhamos a viver no futuro próximo a era mais desigual da história.

Aplicações financeiras não são, necessariamente, provindas de herança. Entre os vários casos que conheço, a maioria não é. Aliás, nos últimos 19 anos o que menos vi foram heranças compostas por dinheiro. A imensa maioria deixa bens nesta ordem: imóveis (não mais do que dois, em média), jóias, automóveis, objetos de uso pessoal e de decoração e, por fim, dinheiro.

Outro aspecto que observei é o elevado grau de despreparo dos herdeiros. Em mais de 30% dos casos, os herdeiros consumiram em menos de cinco anos o patrimônio deixado.
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Offline Skeptikós

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Re:Meritocracia
« Resposta #42 Online: 03 de Maio de 2017, 17:43:25 »
A herança é um fator impactante nas sociedades desiguais, é o que defende Piketty em sua obra. E este impacto aumenta quando o crescimento econômico e densidade demográfica são baixos (algo caracterização em nações desenvolvidas). Quando a economia cresce pouco, o peso dos rendimentos do capital se elevam em comparação a renda do trabalho, que é a principal fonte de renda dos mais pobres, mas não dos mais ricos, que vivem principalmente de suas aplicações, muitas vezes iniciadas em gerações passadas. Se a densidade demográfica é baixa, isso significa também que a herança é dividida entre menos herdeiros. Se antes, uma herança gorda era dividida entre vários filhos, hoje ela pode ser dividida com poucos ou concedida a uma única pessoa. Piketty defende que se a tendência permanecer, pode ser que venhamos a viver no futuro próximo a era mais desigual da história.

Aplicações financeiras não são, necessariamente, provindas de herança. Entre os vários casos que conheço, a maioria não é. Aliás, nos últimos 19 anos o que menos vi foram heranças compostas por dinheiro. A imensa maioria deixa bens nesta ordem: imóveis (não mais do que dois, em média), jóias, automóveis, objetos de uso pessoal e de decoração e, por fim, dinheiro.

Outro aspecto que observei é o elevado grau de despreparo dos herdeiros. Em mais de 30% dos casos, os herdeiros consumiram em menos de cinco anos o patrimônio deixado.
Aluguéis de imóveis, dividendos de ações, títulos e outras formas de rendimento do capital são as maiores fontes de renda dos mais ricos, que são deixado como herança depois de sua morte.

Segundo os dados apresentados por Piketty, nos Estados Unidos de 2007, os membros do 0,1% das pessoas mais ricas do país tinha os rendimentos do capital como a principal fonte de renda:


Fonte

Em 1929 isso era verdade também para os 1% mais ricos. Segundo ele, os impactos que o capital sofreu com a grande depressão e as duas grandes guerras mundiais diminuíram o poder do capital em relação as rendas oriundas do trabalho, mas que a tendência desde de então é de que o capital recupere e até ultrapasse a sua importância do passado.
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Offline JJ

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Re:Meritocracia
« Resposta #43 Online: 24 de Julho de 2018, 13:58:39 »
Crimes que Chocam

Caso Mary Bell a Criança assassina

23/07/2016 Published by: Hemerson Gomes Couto

Mary Flora Bell nascida em 26 de maio de 1957, em Newcastle, Inglaterra. Sua mãe Betty, era uma prostituta, sendo uma pessoa muito ausente na casa da família, pois ela constantemente viajava para Glasgow para trabalhar. Mary (apelidada de May) foi sua primeira filha, nascida quando Betty tinha apenas 16 anos de idade. Não se sabe quem é seu pai biológico, mas na maior parte de sua vida ela acreditou ser filha de Billy Bell, um criminoso que mais tarde foi preso por assalto à mão armada e que casou com sua mãe Betty algum tempo depois de seu nascimento.

Maryflorabell


Mary Flora Bell

Sua mãe tinha fama de desequilibrada, e alguns membros da família chegaram a afirmar que Betty tentou matar Mary, fazendo parecer morte acidental, mais de uma vez durante os primeiros anos de vida.

Durante a infância, Mary era constantemente humilhada pela mãe, devido ao fato de urinar na cama. Betty esfregava o rosto da filha na urina e pendurava o colchão molhado do lado de fora, para todos verem. Mary também havia sido levada para uma agencia de adoção, em 1960, porém não conseguiu que a filha fosse adotada. Em uma certa ocasião Mary foi levada ao hospital e precisou fazer lavagem no estomago, pois ela havia comido comprimidos misturados com doces.

Mary era obrigada pela a fazer sexo anal e oral com homens, quando ela tinha menos de cinco anos.

Com o passar dos anos Mary desenvolveu um hobby um tanto comum a outras pessoas que acabariam comentando crimes bárbaros depois de adultos: torturar animais. Mary havia desenvolvido um gosto muito especial por matar e torturar cães e gatos.

No início de 1968 Mary acabaria desenvolvendo uma forte amizade com Norma Joyce Bell (apesar do nome, Mary e Norma (13 anos) eram só amigas, não havendo parentesco entre elas). As duas brincavam com um primo de Mary, de 3 anos, em um abrigo em desuso. A criança aparentemente caiu e machucou a cabeça. Mais tarde se suspeitaria de que tal acidente tivesse sido provocado pelas duas amigas.


Norma Joyce Bell

No dia seguinte, três meninas de seis anos brincavam quando foram surpreendidas por Mary e Norma. Mary aproximou-se de uma delas e apertou seu pescoço com força. A polícia foi chamada. Em 15 de maio, policiais conversaram com Mary e Norma.


Crimes

Um dia antes de Mary Bell completar 11 anos, no dia 25 de maio de 1968, ela cometeria seu primeiro crime. Nesse dia Mary matou Martin Brown.

martinbrown
Martin George Brown

Mais tarde nesse mesmo dia, dois meninos procuravam pedaços de madeira em uma casa em ruínas, quando se depararam com um cadáver de um menino louro. O menino era Martin George Brown, 4. Ele estava deitado próximo a uma janela, com sangue e saliva escorrendo pelo rosto. Os garotos alertaram operários de uma construção perto dali a respeito do macabro achado. Um dos operários tentou reanimar a criança, mas o menino já estava morto.

Nesse momento Mary e Norma apareceram no local. Na verdade Mary estava levando a amiga para que ela visse seu “trabalho”. Os operários que estavam no local expulsaram as duas meninas, pensando que elas eram apenas curiosas. Eles não desconfiaram que uma das meninas era a autora do crime.

As duas então decidiram comunicar sobre o fato à tia de Martin. Elas disseram à mulher que uma criança havia sofrido um acidente fatal, e que acreditavam que Martin havia morrido.

A polícia chegou ao local. Martin tinha sofrido várias lesões na cabeça e não havia sinais de violência. A polícia acreditou que a causa da morte foi acidente e o caso permaneceu em aberto. A população exigiu das autoridades que se tomassem medidas para o caso do perigo que eram os prédios abandonados.

No dia 26 de maio, aniversário de Mary e um dia após matar Martin, ela resolveu comemorar seu aniversário apertando o pescoço da irmã de Norma, mas foi impedida pelo pai desta. Até então esses eventos eram tidos apenas como brincadeiras um tanto brutas entre as crianças, afinal de contas quem poderia imaginar que uma menina tão jovem pudesse cometer algum atentado violento contra a vida de outra pessoa?

No dia 27 de maio numa segunda-feira, pela manhã, professores de uma creche no final de Whitehouse Road a encontraram a mesma vandalizada. O material letivo estava jogado, produtos de limpeza foram espalhados pelo chão e haviam bilhetes com mensagens grosseiras e confissões de homicídios. As pessoas responsáveis pela depredação do local eram Mary e Norma.

No dia 30 de maio, Mary foi até a casa dos Browns, June Brown, mãe de Martin a atendeu. Mary disse querer ver Martin, June respondeu que Martin estava morto, ao que Mary respondeu: “Eu sei que ele está morto. Queria vê-lo no caixão.” June fechou a porta rapidamente. O comportamento de Mary Bell perante a morte de Martin era estranho, mas ninguém ligou isso à morte misteriosa de Martin.

No dia 31 de julho, Pat Howe procurava seu irmão, Brian de 3 anos de idade, quando Mary perguntou: “Você está procurando Brian?” E ofereceu-se para ajudar nas buscas. Mary, Pat e Norma seguiram para um terreno baldio, cheio de blocos de concreto, pois Bell disse que o menino poderia estar brincando ali. O corpo de Brian foi encontrado às 23:10 horas. Mary Bell conduziu Pat até ali para ver qual seria sua reação.

Brian Howe

brien
Brian Howe

O cadáver do menino estava coberto de grama. Ele havia sido estrangulado, havia cortes em suas pernas e uma perfuração no abdômen. Uma tesoura foi encontrada próximo ao local do crime.

Investigações

Mesmo antes do enterro de Brian a polícia começou a interrogar os moradores de Scots Wood, principalmente as crianças, pois eles acreditavam que uma das crianças poderia ter visto alguma pessoa com Brian. Até então a polícia não desconfiava que os crimes pudessem ter sido cometidos por outra criança. O primeiro ponto positivo da investigação da polícia foi o depoimento de Norma Bell. Ela disse ter estado presente quando Brian foi morto, e disse que um menino matou o garoto. Mary também disse que no dia do crime, ela viu um menino agredindo Brian aparentemente sem motivo. Ela também alegou que viu o menino brincando com uma tesoura quebrada. Tinha ficado claro que as duas meninas haviam visto Brian sendo morta. Antes do enterro de Brian, policiais interrogaram novamente Norma. Dessa vez ela entregou Mary, dizendo que ela havia matado Brian e que levou ela e Pat para o local do crime.

Mary e Norma foram presas no dia 7 de agosto, durante a noite.

Mary era uma menina inteligente, divertia-se esquivando das perguntas dos policiais. Durante o seu julgamento Mary chegou a declarar: “Eu gosto de ferir os seres vivos, animais e pessoas que são mais fracas do que eu, que não podem se defender”. Essas declarações acabaram influenciando para que a mesma fosse condenada à prisão por tempo indeterminado, mediante avaliações psiquiátricas.

“Ela não demonstrou remorso, ansiedade ou lágrimas. Ela não sentiu emoção nenhuma em saber que seria presa. Nem ao menos deu um motivo para ter matado. É um caso clássico de sociopatia,” disse o psiquiatra Robert Orton em seu laudo psiquiátrico.

Sociopatia e psicopatia são termos equivalentes na psiquiatria. Alguns especialistas defendem que ambos são transtornos diferentes, já outros dizem tratar da mesma coisa.

Julgamento

Mary e Norma foram a julgamento pelas mortes de Brian Howe e Martin George Brown no dia 5 de agosto de 1968, o julgamento durou dias. O promotor de acusação Rudolf Lyons comentou sobre o comportamento mórbido de Bell de caçoar da dor dos familiares da vítima; citou também o conhecimento de Bell sobre o estrangulamento de Brian, pois não foi publicamente comentado a causa da morte do garoto.

Peritos encontraram fibras de lã cinza nos corpos de Brian e de Martin, elas eram compatíveis com uma blusa de lã pertencente a Mary. Fibras marrons de uma saia de Norma foram encontradas em um dos sapatos de Brian. Peritos em caligrafia também analisaram os bilhetes deixados na creche vandalizada. Eles confirmaram que Norma e Mary haviam escrito os recados. A promotoria culpou Mary de influenciar Norma nos atos ilícitos.

O veredicto saiu em 17 de dezembro de 1968: Norma Bell, inocente de todas as acusações; Mary Bell, culpada, condenada por homicídio em função de redução de responsabilidade. Mary Flora Bell foi enviada para a Red Bank Special Unit, uma clínica altamente segura, e de certa forma, confortável. Ela ficou sob os cuidados de James Dixon, que de certa forma, lhe servil como um pai. Ela também recebia visitas da mãe, Betty; que ao perceber a aparência masculinizada de Bell disse: “Jesus Cristo, o que ainda vai ser? Primeira assassina, agora lésbica? ”

Mary foi transferida, em 1973, para a prisão de Moor Court Open. Essa mudança provocou certos efeitos negativos. Em 1977, Mary Bell fugiu, mas foi recapturada alguns dias depois. Ela afirmou que tentou engravidar, e seu companheiro vendeu sua história para jornais sensacionalistas ingleses.

Liberdade

Mary Bell ganha a Liberdade em 14 de maio de 1980. Ela seguiu para Suffolk, onde arrumou emprego em uma creche, mas oficiais locais acharam o emprego inadequado. Mary então arrumou outro emprego como garçonete. Ela voltou a morar com sua mãe, e engravidou de um rapaz. Houve controversas sobre sua possibilidade de ter um filho, mas ela conseguiu o direito de cuidar da criança que nasceu em 1984. De certa forma, os anos de tratamento surtiram efeito. Mary tornou-se uma mãe amorosa com sua filha.

Publicação do livro Gritos no vazio

Mary Bell solicitou o anonimato para ela e sua filha. Sua identidade foi mudada e seu local de moradia mantido em sigilo. A “Ordem Mary Bell” lhe foi concedida em 21 de maio de 2003. Alguns anos antes, a jornalista Gitta Sareny escreveu um livro sobre a vida de Bell. Cries Unheard (Gritos no Vazio) levou muita gente a acreditar que Mary deveria deixar o anonimato. Acredita-se que o livro rendeu um bom dinheiro à Bell, e tanto esse dinheiro, quanto o anonimato causaram controvérsias, principalmente entre os familiares de Martin e Brian. Aos 51 anos de idade, Mary Bell virou avó. Hoje, seu nome e paradeiro são desconhecidos.

Referência Bibliográfica

Mary Bell, Parte I: A mais jovem homicida da história. Publicado em 3 de abril de 2013, blog Paixão Assassina. <paixaoassassina.blogspot.com.br/2013/04/mary-bell-parte-i-mais-jovem-homicida.html>.  Acesso: 23/07/2016.

Mary Bell, Criança assassina. publicado em 17/12/2012 no Blog Famigerados, http://blogfamigerados.blogspot.com.br/2012/01/mary-bell.html

Autor: Hemerson Gomes Couto. Caso Mary Bell a Criança assassina.  Publicado em: (23 de julho de 2016 às 19:06:50).


http://jusro.com.br/category/crimes-que-chocam/

« Última modificação: 24 de Julho de 2018, 14:10:20 por JJ »

Offline Geotecton

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Re:Meritocracia
« Resposta #44 Online: 24 de Julho de 2018, 14:59:11 »
Qual é a relação desta última postagem com a discussão sobre meritocracia?
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Offline JJ

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Re:Meritocracia
« Resposta #45 Online: 24 de Julho de 2018, 15:54:38 »


Uma história de vida trágica como a do exemplo acima (mas nem precisa ser sempre exemplos tão trágicos),  mostra que faz pouco sentido a ideologia da meritocracia.

Offline JJ

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Re:Meritocracia
« Resposta #46 Online: 24 de Julho de 2018, 15:57:25 »


A ideologia da meritocracia esta ligada a ideia de que o ambiente não tem praticamente ou mesmo nenhuma importância no desenvolvimento das pessoas,  e é fácil observar (e possível testar)  que isso é falso.


Offline Arcanjo Lúcifer

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Re:Meritocracia
« Resposta #47 Online: 24 de Julho de 2018, 18:33:45 »
Era filha de uma psicopata e continuaria sendo em qualquer outro sistema.

Teria exatamente a mesma vida.

Offline Euler1707

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Re:Meritocracia
« Resposta #48 Online: 24 de Julho de 2018, 18:46:24 »
Meritocracia é o sistema em que as pessoas são julgadas pelo mérito, e não a negação de que o ambiente não é um fator de formação dos indivíduos (se isso não é verdade nem com animais, por que o seria com humanos?).

Mas OK, se o JJ disse que "A ideologia da meritocracia esta ligada a ideia de que o ambiente não tem praticamente ou mesmo nenhuma importância no desenvolvimento das pessoas", deve ser porque ele sabe do que está falando, e talvez traga pra nós um trecho de algum autor famoso que tenha defendido algo do tipo.

Offline Euler1707

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Re:Meritocracia
« Resposta #49 Online: 24 de Julho de 2018, 18:53:17 »
Citação de:  Da meritocracia de Mill
Mill (2002) é um árduo defensor de um sistema meritocrático no que tange as leis de mercado, pois afirma que ainda que alguns saiam frustrados com as derrotas na competição da vida esta sempre será saudável para a evolução do homem e da humanidade a longo prazo. Afirma: “em geral se admite que é melhor ao interesse comum da humanidade os homens perseguirem seus objetivos sem que os detenha essa espécie de consequência” (Mill, 2000, p. 42.). Assim é precursor do livre comercio, nã cabendo ao governo interferir para buscar condições igualitárias nas trocas ou mesmo nas condições do dia a dia, devendo tão somente garantir que estas ocorram livremente.

Quanto à distribuição das riquezas, porém, é considerado um reformador, pois apesar de entender que esta distribuição baseia-se em uma escolha da humanidade, nos costumes da sociedade, acredita que a injustiça na distribuição existente poderia ser modificada por meio da distribuição de renda e da educação. No pensamento milliano, a repartição da riqueza social não está relacionada com a contribuição incremental de cada indivíduo, mas com as leis e costumes de cada sociedade.

Citação de: Da meritocracia de Dworkin
O outro princípio do individualismo ético utilizado por Dworkin (2005) é o da responsabilidade especial, este relaciona a escolha à responsabilidade. Admite que justiça na distribuição dos bens em uma sociedade deve refletir a escolha de cada um. Assim, contanto que as pessoas tenham tido liberdade de fazer o que quiseram de suas vidas devem assumir a responsabilidade pelo que delas fizeram. Dworkin (2005) considera injusto retirar recurso de quem escolheu trabalhar e repassá-los a outra pessoa que preferiu uma vida sem maiores esforços. Assim, difere-se nesse ponto de sua teoria tanto da perspectiva igualitária liberal radical de Rawls, como da postura reformadora utilitarista de Mill (2002).

Reflete bem os valores da meritocracia americana, em que cada um deve ser beneficiado o responsabilizado por seus atos, isso desde que tenham tido igualdade inicial de recursos para alcançarem suas metas.

Visualizamos bem o princípio da responsabilidade especial de Dworkin (2005), como bem salientou Ferraz (2007), na fábula da cigarra e a formiga, na qual a formiga preferiu trabalhar e guardar alimentos enquanto a cigarra cantava e se divertia, ao final a formiga tinha estoques de alimento para o inverno enquanto a cigarra não tinha como alimentar-se, para Dworkin (2005) essa diferenciação de recursos é considerada justa, pois dependeu das escolhas e esforços dos envolvidos.

fonte

Das duas formas de meritocracia acima, nenhuma condiz com a definida pelo JJ ou têm relação com ela.
« Última modificação: 24 de Julho de 2018, 18:55:20 por Euler1707 »

 

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