Não sei se alguém vai concordar mas, na minha opinião, a maior dificuldade para os negacionistas climáticos é que eles precisam vender suas teses obrigatoriamente como uma teoria da conspiração.
Alguém, empresas, ONGs, ONU, governos, reptlianos... precisa estar por trás de toda essa propaganda, desse enorme esforço para enganar a população mundial e criar uma fantástica ilusão de que o planeta está aquecendo, de que o clima está mudando. Quando na verdade nada estaria acontecendo, e a natureza segue seu curso como há milhões e milhões de anos.
Essa conspiração precisa ser gigante e poderosa. Além de manipular a opinião pública em escala global, precisou ter enorme penetração na mídia, a ponto de se tornar uma crença hegemônica. Precisa manipular governos, organismos internacionais como a ONU, e ainda por cima ter no bolso quase a totalidade dos pesquisadores e da comunidade acadêmica.
Uau!, é muito poder.
Não importam as questões científicas e as filigranas técnicas, que com certeza não estão ao alcance de uma avaliação abalizada da maioria das pessoas, porque se eles não puderem explicar de maneira convincente quem, como e por quê estão fazendo isso, então nada vai fazer sentido.
E é realmente muito difícil, senão impossível, dar uma resposta plausível às indagações subsequentes:
1 - Quem tem o poder e o dinheiro e a influência para orquestrar uma conspiração dessa magnitude?
2 - Existiria motivação ( um ganho proporcional ) suficiente para fazer girar todas as engrenagens dessa máquina?
Essas duas questões são quase mutuamente excludentes, porque quem tem o poder não teria a motivação. E quem teria a motivação certamente não tem o poder.
A indústria do petróleo talvez tivesse o dinheiro e a influência necessária para financiar políticos e, como anunciantes que são, com contas publicitárias bilionárias, poderiam ter também certo poder de influência sobre a mídia. No entanto seria mais difícil marionetar o consenso na comunidade científica global. Além do mais as gigantes dessa indústria existem em um número relativamente pequeno, o que facilitaria um acordo em prol de uma agenda com interesses comuns.
Todavia ocorre que diminuir o consumo ( e consequentemente a comercialização ) de combustíveis fósseis é contrário aos interesses dessa indústria. Então estes que poderiam ter o poder jamais teriam a motivação.
É tão difícil encontrarem um titereiro plausível para manipular a grande conspiração que os negacionistas denunciam, que eles inventam na verdade dezenas de conspirações diferentes.
O cara aí do vídeo agora diz que são os governos. Todo esse esforço seria só para aumentar impostos da gasolina. Mas aqui no Brasil, pelo menos, governo nunca precisou de pretexto, muito menos de conspirações globais para aumentar impostos. Mas além disso, se é uma conspiração do interesse de governos poderosos, por que sucessivas administrações republicanas, no governo mais poderoso de todos, estão sistematicamente do lado dos negacionistas e contra a conspiração?
Mas este mesmo cidadão aí já justificou a suposta conspiração como sendo uma agenda da ONU com o objetivo de reduzir a população mundial.
E eu já vi, da parte dos negacionistas, as tentativas mais tresloucadas: ONGs de ambientalistas é que estariam marionetando toda a mídia, a comunidade científica, a ONU, governos... tudo com o intuito de lucrar com o grande negócio que seria o de receber financiamentos públicos e privados para ajudar na luta pela preservação ambiental.
Fizeram cálculos, as estimativas dos recursos recebidos por estas entidades chegariam a trilhões em todo o mundo... Tudo bem, trilhões é muita grana. Mas só faltou explicar como dezenas de milhares de ONGs espalhadas por todo o mundo conseguiram se articular para vender para a opinião pública uma fantasia como essa. Quer dizer, é o pessoal do Green Peace, que mancomunado com o projeto Tamar, mais aquela turma que tenta salvar o mico leão dourado, e mais uns 20 mil outros, que estão trocando emails criptografados e criaram essa onda toda...
Essa é a parte mais difícil pra eles: encontrar um vilão para essa história.
Mas necessariamente uma conspiração tem que existir nisso aí. Porque um dos lados está mentindo deliberadamente, está distorcendo e falsificando dados, está usando de falácias para iludir os leigos.
Ou existe uma conspiração alimentando a fantasia de um aquecimento global, ou há uma conspiração empenhada em desacreditar o que hoje é praticamente um consenso entre os pesquisadores dedicados.
Olhando agora para o outro lado nós vemos uma meia dúzia de super empresas petrolíferas, que, de uma forma muito semelhante a que já se viu por parte da indústria do tabaco, teria todo o interesse preservar e se possível até aumentar, os seus ganhos já estratosféricos. Conspiração por conspiração, a deles, dos negacionistas, vai sempre parecer muito menos factível.
Sem falar dos documentos e depoimentos já vazados comprovando as inciativas nesse sentido por parte dessa indústria.
A outra grande dificuldade para os negacionistas climáticos é que, ao contrário de outras teorias da conspiração populares, a deles precisa contradizer fatos que estão sendo ratificados cotidianamente pelas
experiências diretas, individuais, das pessoas.
Em todo o planeta, de diferentes formas, as pessoas estão sentindo já os efeitos das alterações climáticas. É preciso convencê-las de que elas não estão sentindo o que estão sentindo, que não estão vendo o que estão vendo.
Por exemplo, ninguém vai convencer um ilhéu lá da Polinésia que a sua ilha não está sumindo. Os turistas que procuram Bariloche todos os anos percebem que está cada vez mais difícil esquiar. Na Califórnia, até o governador republicano admite que está assustado com incêndios de ferocidade nunca antes vista. Aqui no Brasil, no nosso cerrado, já começamos a perceber problema semelhante. A mesma coisa para os moradores da Flórida e toda a América Central, que enfrentam a cada ano furacões mais violentos. Na Suíça, moradores locais e guias relatam que hoje é preciso caminhar muitos quilômetros a mais para encontrar uma pista de esqui. Mais pro norte relatam que a tundra também está retrocedendo, e camada frost cada vez mais fina.
Eu também posso falar da minha experiência pessoal, não só dos verões e invernos que parecem muito mais quentes do que há vinte anos. Porque aí se trata de sensação térmica, e eu poderia estar equivocado, muito embora eu não conheça ninguém não tenha esta mesma impressão. Mas, eu já contei aqui antes, que quando eu era criança e no inverno acordava para ir ao colégio de manhã, não era possível ver o morro do Cavalão que ficava a pouco mais de quarteirões da minha casa. Porque bem cedinho o morro se encontrava totalmente encoberto por uma cerração fechada.
Isso sempre era assim: quase todos os dias, todos os anos. Um detalhe nessa história é que nós morávamos em uma casa que foi construída pelo meu avô, e a minha mãe também tinha passado a própria infância dela nessa casa. E muito antes de mim, durante toda a infância de minha mãe e meus tios, os invernos eram iguais ao invernos do meu tempo.
Mas hoje eu posso dizer que há mais de 20 anos não vejo um único dia de cerração na minha cidade.
Pelo menos aqui alguma coisa mudou no clima.